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O uso da agrobiodiversidade como estratégia de produção de alimentos em assentamento de reforma agrária

2. Material e Métodos

2.2. Passos da pesquisa participante

2.2.2 Levantamento de campo

2.2.2.2 Devoluções parciais

As visitas aos lotes foram realizadas em quatro etapas. A cada etapa, os dados eram sistematizados em reuniões da equipe de pesquisadores. Os pesquisadores que haviam ido ao campo se reuniam com a equipe de professores coordenadores do projeto e com os colaboradores, sendo eles outros professores da universidade, estudantes parceiros e membros da brigada do assentamento. Entretanto, nem todos participaram de todas as reuniões.

Nestas ocasiões, primeiramente era relatado quais famílias haviam sido visitadas e os respectivos pesquisadores das visitas. As informações e observações obtidas em campo eram categorizadas e sintetizadas, gerando um conjunto de dados, seguindo uma adaptação da metodologia do círculo de cultura proposta por Paulo Freire (Freire, 1967). Todos se sentavam em disposição de círculo. Cada pesquisador participante, segundo sua própria percepção das vivências, escrevia em um papel duas palavras que expressavam questões centrais referentes à respectiva etapa de visitas. Cada palavra desta é definida como palavra geradora, pois resume um significado maior sobre as observações realizadas no campo. Se necessário, eram realizadas outras rodadas até que as contribuições esgotassem. Todas as palavras eram anotadas no quadro negro e no segundo momento, todos explicavam os motivos pelos quais haviam escolhido as duas ou mais palavras.

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Estas palavras foram classificadas formando diferentes grupos (Franco, 2007). Os agrupamentos formados de acordo com as semelhanças e complementariedade compunham temas ou categorias mais amplas de análise (Deliberali, 2013). Estes temas e categorias foram base para as devoluções parciais. O objetivo destas devoluções era retornar ao grupo de famílias dados sistematizados, informações e impressões sobre cada etapa de entrevistas. Foram realizados quatro encontros em diferentes lotes visitados. As devoluções seguiram a metodologia utilizada nos intercâmbios agroecológicos e basearam-se em adaptações do Movimento de Camponês a Camponês (Sosa et al., 2011). Os intercâmbios favorecem o encontro de culturas entre agricultores e demais atores sociais, e o diálogo entre diferentes expressões e entendimentos. Podem ser realizados em instituições diversas ou em agroecossistemas e permitem a observação das práticas, experiências e melhorias obtidas por agricultores, ou também a vivência no ambiente universitário. Os intercâmbios são marcados pela motivação e socialização do conhecimento (Alves et al. 2011; Sosa et al., 2011).

Como forma de devolução dos dados nos intercâmbios foram utilizadas instalações pedagógicas que representam intervenções através do discurso e da exposição de elementos conjugados, maquetes, situações ou mesmo determinados ambientes que permitem a observação e o despertar da percepção dos participantes (Alves et al., 2011).

Os intercâmbios para devoluções parciais consistiram em uma reunião entre as famílias agricultoras visitadas durante a etapa de visitas, com o grupo de pesquisa e os parceiros da universidade. A opção por organizar o processo de visitas em repetidos ciclos de coleta, sistematização de dados e devoluções serviu para contar com a maior participação das famílias a cada devolução parcial. A devolução para grupos com menor número de famílias facilitou a participação de todos e proporcionou mais espaço para a contribuição de cada participante.

Os intercâmbios ocorreram das 14 às 18 horas dos dias combinados. Para a escolha dos lotes para a devolução dos resultados, levou-se em conta a maior diversidade das atividades agrícolas, práticas de manejo mais sustentáveis e um local que pudesse receber as outras famílias. Os intercâmbios eram abertos à participação de outros interessados e por isso, contou-se com a presença de professores e estudantes da UFV que não haviam participado do processo de pesquisa, porém se interessavam pela atividade.

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Para preparar as instalações, a equipe chegava mais cedo à propriedade e utilizava materiais, objetos e diversos elementos locais para compor a intervenção. As instalações ocupavam locais físicos da propriedade e retratavam o grupo de palavras sistematizadas. Tinham como objetivo despertar nos participantes uma reflexão a respeito dos conteúdos apresentados. As instalações pedagógicas pretenderam não somente transmitir uma informação previamente formulada através de objetos materiais, mas incentivar o olhar crítico e a reflexão entre os participantes. Segundo Freire (1967), situações-problemas funcionam como desafios para os observadores através de elementos que serão decodificados por grupos com a colaboração de atores facilitadores.

Encontros

No momento inicial das devoluções, era realizada a mística de abertura e com todos posicionados em círculo ocorria a apresentação dos participantes. A facilitação dos encontros de devolução era realizada pelos integrantes do grupo de pesquisadores. Após as apresentações um dos pesquisadores explicava quais atividades seriam realizadas, inclusive qual o tempo que seria despendido em cada uma delas. Em seguida solicitava-se que a família residente no domicílio contasse sua história de vida. Onde haviam constituído o grupo familiar, por quais lugares passaram e quais atividades haviam realizado, como acessaram a terra, como era o lote quando chegaram ao assentamento e o que foi feito nele até aquele momento.

Após o discurso da família, solicitava-se aos agricultores que visitassem as instalações pedagógicas, interpretassem e discutissem através do que percebiam acerca do exposto. Para isso, os participantes se organizavam em grupos menores que participariam de cada instalação. Antes do início, era definido um tempo de contato de cada grupo em cada instalação de aproximadamente 15 minutos. Em cada instalação permanecia um estudante para dinamizar as participações. Ao final do tempo, os grupos seguiam para a próxima instalação. Para cada encontro eram preparadas, em média, três instalações pedagógicas.

Após as visitas às instalações, a família residente no lote levava todos os participantes as áreas mais próximas do quintal e discorriam sobre a organização das subunidades produtivas, técnicas de manejo e sobre a pluriatividade agrícola, principalmente sobre questões relacionadas à agrobiodiversidade. Como forma de socializar as observações feitas durante a

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caminhada, todos participantes coletavam algum elemento que lhes chamasse atenção no lote.

Logo após, em roda, todos explicavam porque haviam escolhido tal elemento e expressavam suas interpretações sobre as instalações pedagógicas. Para dinamizar as discussões, prosseguia-se resgatando o que havia ocorrido nas instalações pedagógicas e depois o diálogo era construído de acordo com a contribuição dos participantes presentes. Ao final de cada encontro de devolução parcial, já no final da tarde após o encerramento formal das atividades, um café da tarde era servido. Neste momento o clima de descontração tomava conta após uma tarde de intenso contato entre famílias agricultoras e pesquisadores.