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UM DIA PARA A CELEBRAÇÃO

No documento IGREJA É PARA OS DOENTES EJF ÁZARA (páginas 107-114)

"Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo." (Col. 2:16-17 - NVI)

Desde que a suposta profetisa, ainda no século XIX, fez a falsa acusação de que os cristãos guardam o domingo por ordem do imperador Constantino, há uma árdua batalha em defesa do dia certo a ser guardado.

Ainda que existam provas bíblicas de que o domingo foi adotado já no início da igreja (At. 20:7; ICo.16:1-2) e também foi defendido por vários pais da igreja, antecessores ao imperador, como: Justino, Inácio, Tertuliano e Eusébio de Cesárea, o dia não é, de fato, a questão central, tudo está centrado nas alianças de Deus com seu povo.

Obviamente, não desprezo o AT, quero começar assim minha reflexão para evitar um mal entendido. O

AT é de um valor inestimável, é Palavra de Deus, eu gosto de ler e pregar no AT, sempre podemos encontrar histórias maravilhosas que exaltam a grandeza, e a graça de Deus. Isso mesmo, Graça, está muito enganado quem pensa que a graça de Deus encontra-se apenas no NT, o AT é repleto de demonstrações da graça de Deus nas histórias de seus servos fiéis, como Moisés, Davi, Daniel, entre outros.

É maravilhoso o AT sim, mas, é antigo, é ultrapassado, é ineficaz. Não consigo entender porque muitos "cristãos" insistem em viver no passado, parece que ainda não acordaram, não compreenderam a mensagem do Evangelho, poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm. 1:16), seja judeu, grego, americano, brasileiro, coreano, iraquiano...

Paulo não despreza o AT, de forma alguma, antes diz que foi glorioso, contudo o Antigo Pacto, feito graciosamente e unilateralmente pelo Pai com Moisés e o povo judeu, veio a tornar-se o ministério da morte (IICo.3:6,7) por quê? Por que a Lei é injusta? Jamais, o próprio apóstolo vai dizer que a Lei é santa, justa e boa (Rm. 7:12). O que torna o Pacto Antigo ministério de Morte? Obviamente, nosso pecado, quantos justos você

conhece? Não há um sequer, Paulo diz (Rm. 3:10) e, certamente quando olhamos para nós mesmos, percebemos que é a mais pura verdade. A Lei mostra a justiça de Deus, é pela Lei que fica mais claro o quanto estamos distante da justiça.

Paulo deixa claro em Romanos que a Lei apenas serviu para encerrar a todos debaixo do pecado (Rm.

11:32) para ser misericordioso com todos, judeus, possuidores e conhecedores da Lei, e gentios, desconhecedores. O argumento de Paulo de que a Nova Aliança é completamente superior à Antiga não pode ser contestado por ninguém, nem pelos judeus, pois a ideia de ter a Lei gravada não em pedras, mas na carne do coração não é dele, Deus não revelou a ele primeiramente essa promessa, mas a um respeitado profeta da Antiga Aliança, Jeremias (31:31-34), assim como também Paulo não é o autor da frase: "o justo viverá pela fé" (Rm.

1:17), ele cita Habacuque (2:4).

Paulo sempre deixou claro, que seu Evangelho não era uma invenção moderna, mas uma promessa de Deus, promessa pela qual obtiveram vida: Abraão, Isaque, Jacó, Moisés e todos que vieram depois, todos os judeus piedosos, sabiam que a Lei era incumprível, todos

dependiam da graça, todos viveram pela fé, é incrível que ainda haja alguns que queiram viver pela Lei, que mata.

Deus enviou seu Filho, o Verbo se fez carne para ser o único a cumprir toda justiça, para que por meio do seu sangue este Novo Pacto, extremamente superior ao Antigo e eficaz fosse concretizado (Hb. 9:11-15).

E ao cumprir todo seu ministério, Cristo afirmou que iria para o Pai, para que o Consolador, o Espírito Santo viesse para, exatamente, escrever em nossos corações sua Palavra (Jo. 14:26). Por isso, Paulo não titubeia em dizer: "a letra (LEI) mata, mas o Espírito vivifica". Fixar-se na Lei é buscar a morte, depender do Espírito é viver.

Atentemo-nos às palavras de Calvino em relação ao quarto mandamento: "Mas, não há dúvida de que pela vinda do Senhor Jesus Cristo o que era aqui cerimonial foi abolido. Pois ele é a verdade, por cuja presença se desvanecem todas as figuras; o corpo, a cuja visão são deixadas para trás as sombras. Ele é, digo-o, o verdadeiro cumprimento do sábado. Com ele, sepultados por meio do batismo, fomos enxertados na participação de sua morte, para que, participantes de sua ressurreição, andemos em novidade de vida [Rm 6.4]. Por isso,

escreve o Apóstolo em outro lugar que o sábado tem sido uma sombra da realidade futura, e que o corpo, isto é, a sólida substância da verdade, que bem explicou naquela passagem, está em Cristo [Cl 2.17]. Esta não consiste em apenas um dia, mas em todo o curso de nossa vida, até que, inteiramente mortos para nós mesmos, nos enchamos da vida de Deus. Portanto, que esteja longe dos cristãos a observância supersticiosa de dias". (Institutas da Religião Cristã, Livro II, Capítulo 8, seções 28-33.Disponível no site:

https://resistireconstruir.wordpress.com/2012/07/12/oqua rto-mandamento-joao-calvino/)

O que mais chama atenção nas palavras do grande reformador, refere-se a seu lúcido entendimento do ensino de Paulo. Assim como o apóstolo, Calvino angustiava-se com o legalismo presente na igreja entre aqueles que insistiam (e ainda insistem) em prender-se, e prender a outros, a jugos alheios ao Evangelho da graça.

O teólogo francês (assim como Paulo) defendia que o dia do Senhor, domingo (o termo tem origem no latim, Dominus: Senhor), primeiro dia da semana, fosse adotado para as reuniões, celebrações, reflexões nas obras de Deus e descanso dos trabalhos da semana,

afinal, ninguém é de ferro. Este descanso vai além do físico, pois é também um descanso nAquele que cumpriu toda a Lei, e cumpriu fielmente o sábado cerimonial, dando-nos o descanso esperado. Calvino continua:

"Contudo, não foi sem alguma razão que os antigos escolheram o dia do domingo para pô-lo no lugar do sábado. Ora, como na ressurreição do Senhor está o fim e cumprimento daquele verdadeiro descanso que o antigo sábado prefigurava, os cristãos são advertidos pelo próprio dia que pôs termo às sombras a não se apegarem ao cerimonial envolto em sombras. A tal ponto, contudo, não me prendo ao número sete que obrigue a Igreja à sua servidão, pois não haverei de condenar as igrejas que tenham outros dias solenes para suas reuniões, desde que se guardem da superstição. Isto ocorrerá, se se mantiver a observância da disciplina e da ordem bem regulada."

(op.cit.).

Sim, Calvino nunca foi radical em sua posição, se Cristo cumpriu toda a Lei e o descanso, não devemos nos aferrar na austeridade de cerimoniais, ainda que mudemos o dia da semana. A preocupação do reformador era com o fato que muitos continuavam com a mesma teologia judaica do rigor da Lei, tendo mudado apenas o

dia. Reforçando suas palavras: "...que esteja longe dos cristãos a observância supersticiosa de dias".

O domingo, dia do Senhor, deve ser visto por nós cristãos como um dia especial sim, pois foi o dia mais glorioso da história, deve ser para nós um dia de reflexão, contrição e louvor, mas o radicalismo da Lei não deve ser sua padronização. O dia do Senhor é para louvá-lo, engrandecê-lo, mas também é dia para médicos e enfermeiros cristãos em plantão salvarem vidas, bombeiros cristãos em plantão resgatarem feridos, motoristas de ônibus e condutores de trens e metrôs cristãos transportarem outros, inclusive os cristãos para suas igrejas, também é dia para almoçarmos em família e ter comunhão com os nossos.

Obviamente, muitos não concordarão e poderão até dizer: "Seis dias apenas podemos trabalhar, mas nunca no domingo." Não tenho outra resposta senão perguntar-lhe: "Se o seu filho adoecer gravemente no domingo, você vai esperar a segunda para levá-lo ao hospital, só para evitar ser o responsável por fazer o médico e os atendentes "pecarem" no dia santo?" (Lc.

13:14-15). Também posso lhe dizer: "Nosso Pai e Jesus trabalham sempre, e em qualquer dia que se faz

necessário, então nossos irmãos médicos, enfermeiros, motoristas, bombeiros podem também trabalhar, se necessário". (Jo. 5:17) O trabalho compulsório aos domingos não faz de ninguém menos santo que os demais. E ainda que fizesse, qual seria a diferença entre os que trabalham e os que não trabalham? Acaso é a

"santidade perfeita" que justifica? Obviamente que não.

Sola Scriptura, Solo Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria!

O Velho já morreu, celebremos o Novo!

No documento IGREJA É PARA OS DOENTES EJF ÁZARA (páginas 107-114)

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