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Realiza análise diagnóstica, planeamento, intervenção e avaliação na formação dos pares e de colaboradores, integrando a formação, a investigação, as

3 ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS DE MESTRE EM ENFERMAGEM DE SAÚDE MENTAL E PSIQUIATRIA

6. Realiza análise diagnóstica, planeamento, intervenção e avaliação na formação dos pares e de colaboradores, integrando a formação, a investigação, as

políticas de saúde e a administração em Saúde em geral e em Enfermagem em particular Em contexto profissional, recorrendo à observação e reflexão crítica das intervenções rotineiras ao nível da intervenção com a pessoa com necessidades ao nível da saúde mental, verificámos o desconhecimento dos profissionais de saúde relativamente a esta área de intervenção, muitas vezes com práticas e ideias estigmatizantes.

Muitas vezes a pessoa com doença mental é olhada pelos outros com incompreensão, desagrado e até mesmo desprezo pelo comportamento disruptivo, criando- se um ambiente propício ao estigma. Percecionando os olhares que a rodeiam, a pessoa com doença mental pode muitas vezes sentir-se marginalizada e os “ (...) seus sentimentos mais profundos sobre o que ele é podem confundir a sua sensação de ser uma “pessoa normal”, um ser humano como qualquer outro, uma criatura, portanto, que merece um destino agradável e uma oportunidade legítima.” (Goffman, 1961, p. 16)

Estes aspetos assumem especial importância, na medida em que se preconiza que o cuidados a prestar à pessoa com doença mental sejam desenvolvidos na comunidade, com o objetivo de evitar o afastamento do meio habitual e facilitar a sua inserção a nível social. (Assembleia da República, 1998)

Reconhece-se a nível da União Europeia que a saúde mental é um direito humano, que permite às pessoas usufruir de bem-estar, qualidade de vida e saúde, promovendo a formação, o trabalho e a participação ativa em sociedade, sendo o nível de saúde mental e de bem-estar da população um componente chave para o sucesso de sistema económico e social baseado no conhecimento. Ao mesmo tempo, constata-se que as doenças mentais são uma das causas mais frequentes de incapacidade com implicações significativas ao nível dos sistemas sanitário, educacional, económico laboral e social. (Organização Mundial de Saúde , 2008)

Sendo a saúde mental encarada como uma direito humano, com notáveis e desastrosas implicações a vários níveis na sociedade, torna-se imperativo desenvolver atitudes políticas por forma a considerar a saúde mental e o bem-estar como uma prioridade. As ações em prol da saúde mental e bem-estar das comunidades devem ser desenvolvidas em conjunto com os agentes políticos e parceiros da área da saúde, educação, setor social, justiça, organizações da sociedade civil e associações de pessoas com problemas de saúde

mental, aumentando o conhecimento sobre saúde mental e implementando intervenções específicas sensíveis à diversidade da população. (Organização Mundial de Saúde , 2008)

Importa aqui definir a saúde mental, e assumimos que esta

traduz a vida social, emocional e o bem-estar espiritual na sua relação com a saúde em geral e com os estilos de vida adotados no quotidiano de cada indivíduo. A saúde mental proporciona aos indivíduos a vitalidade necessária para uma vida ativa, atingir metas e interagir uns com os outros num contexto de cidadania responsável e participada. (Gomes & Loureiro, 2013, p. 40)

A formação dos profissionais de saúde ao nível de intervenções culturalmente sensíveis continuam a ser tarefas desafiantes, principalmente no que diz respeito à saúde mental e bem-estar psicológico, tendo em conta que estes são conceitos pouco usuais ou revestidos de forte estigma em algumas culturas. (Moleiro & Gonçalves, 2010)

Concordámos que “as práticas de cuidar precisam de ser apresentadas e recuperadas (tornadas públicas por forma a que possam ser legitimadas e valorizadas) porque elas sustêm as relações de confiança que tornam a promoção da saúde, a sua restauração e a reabilitação possíveis.” (Benner, 2001, p. 16)

Neste sentido, e tendo em conta que o ingresso no Curso de Mestrado em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria suscitou curiosidade na equipa multidisciplinar, munimo-nos de estratégia para combate ao estigma. Dada a curiosidade e desconhecimento, vimo-nos inúmeras vezes na condição de palestrantes informais aquando das passagens de turno, das intervenções com as pessoas e até mesmo nas pausas para café. Disseminámos as temáticas lecionadas e os dados da evidência, promovendo a literacia em saúde mental na equipa multidisciplinar.

Aquando das comemorações do Dia do Enfermeiro 2013 na ULS na qual desenvolvemos a nossa atividade profissional, foi-nos possível realizar uma comunicação oral na qualidade de preletor (Anexo III), aceitando o convite realizado pelo Enfermeiro Supervisor e comissão organizadora das comemorações, na qual demos a conhecer o nosso PDA e disseminámos os resultados da evidência científica encontrada aquando da revisão de literatura relativa à temática “Problemática da Tentativa de Suicídio em contexto de Serviço de Urgência Geral”. (Apêndice VII)

Ao mesmo tempo, esta comunicação permitiu-nos divulgar o nosso trabalho e viabilizou o darmo-nos a conhecer, tanto a nível hospitalar com ao nível dos responsáveis

dos Centros de Saúde, oferecendo-nos como recurso para a avaliação, intervenção e referenciação da pessoa com necessidades identificadas ao nível da saúde mental.

CONCLUSÃO

O documento escrito apresentado em forma de relatório de Trabalho de Projeto pretendeu aglomerar aquilo que foi a nossa formação, reflexão e aquisição de competências ao longo da caminhada pelo Curso de Mestrado em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria, sistematizando e evidenciando as aprendizagens e competências adquiridas e incorporadas.

Tendo por base uma problemática vivenciada no dia-a-dia profissional geradora de angústia e inquietação e com recurso à metodologia de Trabalho de Projeto, definimos a questão de partida e delineámos os objetivos, procurámos a evidência, implementámos as intervenções com a pessoa em crise suicida aos três níveis de prevenção e enraizámos a curiosidade e ânsia pela busca incessante de novos conhecimentos e novas competências teórico-práticas, comunicacionais, relacionais e sociais, para agora nos considerarmos aptos a afirmar que adquirimos as competências específicas do EEESM e de Mestre em Enfermagem.

Algumas foram as dificuldades mas também muitos foram os facilitadores neste processo de aprendizagem. Algumas de ordem pessoal, outras de ordem profissional e outras, quem sabe, uma mistura que não se consegue bem delimitar onde acabava o pessoal e começava o profissional, porque o ser enfermeiro envolve tudo o que em nós existe. Apesar de alguns contratempos e do esforço físico e psíquico que projetos desta natureza exigem, sobressai a gratificação pela busca do conhecimento e pelo desenvolvimento pessoal e profissional.

Considerando o Modelo de Sistemas de Betty Neuman, no qual a pessoa é definida enquanto cliente/sistema (pessoa, família, grupo, comunidade ou questão social) não podemos deixar de olhar para a pessoa como existindo em inter-relação com a comunidade. Sobressaiu a importância de manter a pessoa com necessidades identificadas ao nível da saúde mental inserida na sua comunidade, com a finalidade de manter a integridade do seu sistema de relações, bem como o seu ambiente familiar e social. A saúde é então considerada como um contínuo dinâmico entre bem-estar e mal-estar.

Sendo o suicídio considerado, a nível mundial, um problema de saúde pública reconhecido, com importantes repercussões ao nível socioeconómico na sociedade, torna-se

pertinente a implementação de intervenções ao nível da prevenção primária, secundária e terciária, no sentido de oferecer respostas ao nível dos cuidados de saúde, baseadas na evidência científica.

A vida em sociedade, a coesão familiar, a ocupação laboral, o sentido de pertença a grupos bem como um papel ativo na comunidade onde se habita promove a autoestima e fomenta a elaboração de cognições positivas que potenciam o bem-estar inerente à saúde mental das pessoas. Tendo em conta que em muitas sociedades e muitas culturas o suicídio ainda é encarado com uma denotação negativa e estigmatizante, reforça-se o secretismo, aumentando os sentimentos de solidão, culpa e autodepreciação que muitas vezes se encontram por detrás das ideias de morte.

Para dar resposta à nossa questão de partida – Como intervir com a pessoa em crise suicida aos três níveis de prevenção – prevenção primária, prevenção secundária e prevenção terciária? – encontrámos, após a realização da revisão de literatura com recurso aos princípios da revisão sistemática de literatura, respostas baseadas em evidência científica que possibilitam a prestação de cuidados de enfermagem de qualidade às pessoas em crise suicida. Contudo, concluímos que tendo em conta a natureza do fenómeno, as suas causas múltiplas e a natureza única de cada pessoa que vivencia uma crise suicida, as intervenções que podem ser válidas e eficazes para uma pessoa poder-se-ão revelar completamente ineficazes para outra.

A crise suicida é descrita na literatura como resultado de desajustes ao nível social, e considerado como um fenómeno social geral, determinado por fatores biológicos, sociais, psicológicos, familiares, culturais e religiosos que afetam não só a pessoa mas tudo o que a rodeia, o que nos permite concluir que urge com a pessoa em crise suicida uma abordagem multidisciplinar, multiprofissional e sistémica, possibilitando uma resposta efetiva atendendo à complexidade de um fenómeno que se revela multifacetado.

No sentido de darmos resposta a uma inquietação que surgiu no decorrer da elaboração dos projetos – Que legitimidade temos nós de tentar impedir o suicídio de uma pessoa, que deliberadamente e em consciência decide por termo à própria vida? – baseámo-nos nos pressupostos legais, éticos e deontológicos descritos na Lei Constitucional n.º1/2005, de 12 de Agosto, na Lei n.º 48/90, de 24 de Agosto, Lei de Bases da Saúde, na Lei n.º36/98, de 24 de Julho, Lei da Saúde Mental, no Decreto-Lei n.º161/96, de 4 de Setembro, Regulamento do Exercício Profissional do Enfermeiro e no Código Deontológico

do Enfermeiro, e encontrámos fundamento para desenvolver intervenções com a pessoa em crise suicida, sem prejuízo dos seus direitos fundamentais enquanto ser humano.

Pelo exposto, e em época de grandes alterações nacionais ao nível do sistema macro, com todas as repercussões que podem daí advir, cogitamos que o EEESM, pelas suas competências e pela possibilidade de, na relação com a pessoa baseada na confiança, compreensão empática, relação de ajuda efetiva e pelo contacto com as necessidades ao nível dos cuidados que interferem com a saúde mental e bem-estar da pessoa, se encontra em posição privilegiada para intervir com a pessoa, família, grupos sociais e comunidade, no sentido de dar uma resposta abrangente e adaptada às necessidades em termos globais, em colaboração com outros profissionais, entidades e parceiros.

Explanámos assim as competências adquiridas e as atividades desenvolvidas no sentido da aquisição das competências de EEESM e de Mestre em Enfermagem. Construímos uma base sólida que nos permitirá percorrer novos caminhos e olhar novos horizontes, agora com conhecimentos mais sólidos e sistematizados.