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médico

o psicólogo para conseguir as hormonas e, claro, assinei com o meu nome, e é irónico”.

“É difícil. (…) Temos de ter noção que os humanos são muito influenciáveis. Eu acho que também temos de nos proteger uns aos outros. Mas por outro lado também acredito que toda a gente deve ter toda a informação no que toca a educação sexual, no que toca à própria sexualidade, no que toca ao sexo, no que toca à morte, no que toca ao aborto, no que toca a esta porcaria toda. Porque acho que há uma falta de informação enorme”.

“(…) consentimento informado! (…) Um papelinho de consentimento informado para cada cirurgia e para cada intervenção, e uma consulta. Uma consulta para perceber quais é que são as intenções da pessoa (…) porque também há transtornos psicológicos, e ser trans e ser doente mental são duas coisas separadas, que muitas vezes estão juntas por ocasiões da vida, porque há pressão social (…) mas, por exemplo, pode haver pessoas com transtornos de personalidade autodestrutivos que queiram hormonas ou cirurgias”. “Eu estou parcialmente a mentir. Ora, visto que o que eu quero são hormonas tipicamente masculinas, testosterona, eu vou tendencialmente dizer que o que eu quero são aspetos masculinos, sem dizer que na verdade eu não me identifico como um homem”.

Em relação ao diagnóstico médico, Jay compreende a sua necessidade, embora não concorde com a sua imposição. Considera que deve haver conhecimento para que se possa tomar a decisão de alterar o sexo. Deve haver informação em relação a tudo na vida.

A solução passaria por uma consulta em que o médico esclareceria todas as questões antes de ser dado qualquer passo. Assim, o papel do médico seria o de informar e não o de impor uma decisão.

No que toca ao seu próprio caso, Jay admite que está a esconder do médico o facto de ser uma pessoa não-binária, pois isso poria em risco a continuação de todo o processo.

Evolução da lei Lei nº. 7/2011 “(…) passámos de pessoas que põe o Estado em tribunal para pessoas doentes, para pessoas um bocadinho menos doentes…”

“Pôr um processo em tribunal (…) é um Grito do Ipiranga. Ir a uma consulta do Júlio de Matos, eu penso que será uma coisa mais um a um. É o meu problema, eu estou a tratar o meu problema. (…) Por isso sim, esta lei veio mudar muita coisa”.

Esta lei veio mudar muita coisa porque pôr um processo contra o Estado é algo muito “pesado”, que envolve muitas coisas e muitas pessoas. Ser trans é um problema de cada um, não deve ser necessário envolver tantas pessoas e passar por um processo tão complicado e demorado. Falhas nos cuidados de saúde públicos para pessoas trans Falta de informação / abertura por parte

dos médicos

“Ter de esconder isso, e não aparecer nas consultas com verniz, não aparecer nas consultas com um sutiã normal ou com maquilhagem é uma censura que temos de fazer um bocadinho a nós próprios. É pena”.

Para conseguir obter o diagnóstico, uma pessoa trans tem de ter sempre o cuidado de como é que vai para a consulta, o que é que vai dizer, como é que se vai comportar, porque se o médico achar que aquela pessoa não é trans,

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“(…) é demorado e é cheio de transfobia e é cheio de as pessoas te tentarem convencer a não o fazer”.

termina ali todo o processo.

Jay diz que os médicos do SNS não estão preparados para lidar com estas situações.

Motivações para a discriminação

“As pessoas não são só transfóbicas. (…) são sempre outra coisa. Quem é xenófobo é xenófobo. Dificilmente é só transfóbico. E se tem a necessidade de mandar assim tanto ódio em relação a um determinado grupo de pessoas, esse ódio não deve existir só ali, porque também não é uma pessoa que está equilibrada, de certeza. De longe, não está equilibrada”.

“Tem um ódio por pessoas que mudam de género? Porquê? «Porque a minha religião não permite». Vá lá! Religião não permite, essa está velha. É como dizer que o terrorismo acontece porque os muçulmanos e o Corão dizem isso. Não, não. São pessoas que querem fazer mal que usam a religião como desculpa. E as pessoas xenófobas são pessoas que querem fazer mal com um x desculpa. E isso não é desculpa nenhuma e de facto o que precisam é de ajuda”.

Para Jay, as pessoas discriminam porque sentem ódio pelas pessoas que são diferentes, e sentem ódio porque não estão mentalmente equilibradas.

Considera que o argumento da religião é apenas uma desculpa que as pessoas usam para fazer mal umas às outras.

Desenvolvimen to da Identidade

de Género

“E se eu dissesse qualquer coisa como: «eu acho que toda a gente é um bocadinho trans»? Porquê? Eu parto do princípio que o género não existe, que é uma mentira (…). E que na verdade não há homens e mulheres. (…) Porque eu acho que se não houvesse pressão social (…) muita gente manifestaria interesses ou aspetos físicos ou inclinações ou o que quer que seja do outro género, entre aspas”.

“Portanto eu acho que a disforia tem a ver com o ambiente em que nasces, mas que, na verdade, nós, biologicamente, todos temos tendência a fazer coisas independentemente do nosso género social e cultural”.

Na sua opinião, o género não existe. As pessoas comportam-se de acordo com o sexo que lhes foi atribuído à nascença devido à pressão social para agirem dessa forma.

Todas as pessoas agem e comportam-se de acordo com o ambiente em que vivem – um meio mais conservador leva as pessoas a retraírem mais as suas diferenças, enquanto um meio mais aberto leva as pessoas a agirem com mais liberdade. Embora muitas pessoas sintam e pensem de forma diferente daquilo com que convivem durante a vida.

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PÊNDICE

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Categorias

de Análise Subcategorias de Análise Excertos da entrevista Análise Definição

identitária

“Transexual ou Género Masculino”. Andreo identifica-se como uma pessoa transexual ou como pertencente ao género masculino.

Processo de descoberta

“(…) a consciência do que aquilo que eu sentia significava só chegou realmente aos 18”.

“Com cerca de 18 anos já sentia e pensava muitas coisas (tal como quando tinha 10, 11, 12), no entanto tinha consciência de que falar sobre isso ia gerar confusão”.

“(…) queria mudar a todo o custo, queria perceber o que se passava comigo, queria rotular-me, para poder também dizer aos outros o que eu era”.

“Estava a atravessar uma fase muito complicada na minha vida, sentia-me em baixo, sem vontade para nada, descontente com a vida, muito agressivo, cheguei a praticar violência doméstica e a pensar em suicídio”.

“Fui a um psicólogo normal, que, felizmente, me soube encaminhar logo para os médicos em Lisboa da especialidade”.

Apenas aos 18 anos teve consciência do que sentia em relação à sua identidade de género. Porém, desde os 10 anos sentia que não se idenificava com o seu corpo.

Embora desde cedo tenha começado a pensar em muitas coisas em relação ao seu género, não falava com ninguém porque sabia que isso não seria bem aceite.

Durante esta fase sentia-se mal com o seu corpo e tinha uma grande necessidade de mudar, também para poder dizer aos outros que é um homem.

Essa falta de identificação com o seu corpo e com o seu sexo fê-lo adotar comportamentos

depressivos e violentos, consigo próprio e com os outros.

Com a ajuda da namorada na altura procurou ajuda de um psicólogo, que o encaminhou para médicos especializados em questões trans. Foi aí que deu o primeiro passo para a transição de sexo. Processo de afirmação (“Coming Out”) Núcleo familiar Núcleo de amigos

“Achavam que eu não precisava de mudar nada. Diziam que me amavam como eu era, perguntavam porque é que eu pensava aquelas coisas… se eu não gostava de mim. No entanto, apesar de tudo, sempre me apoiaram”.

“Alguns diziam coisas como «mas hoje em dia a homossexualidade já é aceite, para que queres mudar de sexo?» ou

Os pais na altura tiveram

dificuldade em

compreender a sua decisão, mas, apesar de tudo, sempre o apoiaram.

Havia uma grande falta de informação por parte dos amigos, o que fez com que

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