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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 Diagnóstico ambiental em bacias hidrográficas

O uso indiscriminado dos recursos naturais e a ocupação desordenada tem provocado severas modificações na paisagem das bacias hidrográficas, que se refletem na alteração do seu comportamento hidrológico, no desencadeamento de processos erosivos, no

assoreamento dos corpos hídricos, na redução da capacidade produtiva dos solos, na redução da vazão dos corpos hídricos, dentre outros processos associados.

A mensuração dos impactos ambientais e a identificação do estágio de conservação/degradação em que uma bacia hidrográfica se encontra, representa um importante passo no processo de gestão ambiental, pois permite reconhecer as fragilidades e potencialidades do ambiente, como também apresentar modelos de ocupação e alternativas de uso dos recursos naturais.

É nessa perspectiva que se enquadra a proposta metodológica do Diagnóstico Físico-Conservacionista (DFC) apresentada e adaptada, no Brasil, por Beltrame (1994), que fundamentou-se nos trabalhos desenvolvidos pelo Centro Interamericano de Desenvolvimento de Águas e Terras (CIDIAT), da Organização dos Estados Americanos (OEA), sediado em Mérida na Venezuela, e pelo Ministério do Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (MARNR) da Venezuela.

Essa metodologia sugere quatro grandes fatores potenciais naturais de degradação física (vegetação, clima, característica geológica-pedológicas e geomorfológicas), a partir dos quais são definidos sete parâmetros que compõem a fórmula descritiva do estado físico- conservacionista de uma bacia hidrográfica. Originalmente, a fórmula do DFC é expresso por (EQUAÇÃO 1):

E(f) = COa + CAb + DMc + Ed + PEe + DDf + BHg ( 1 )

Onde:

E(f): é o estado físico-conservacionista da bacia (ou setor) que é proporcional aos parâmetros:

COa: grau de semelhança entre a cobertura vegetal original e atual; “a” é o índice específico do

parâmetro CO, que varia entre 1 (altamente semelhante) e 5 (nenhuma semelhança)

CAb: proteção da cobertura vegetal atual; “b” é o índice específico do parâmetro CA, que varia

entre 1(máxima proteção) e 7 (nenhuma proteção).

DMc: declividade média; “c” é o índice específico do parâmetro DM, que varia de 1 (plano a

suave ondulado) e 6 (escarpado).

Ed: erosividade da chuva; “d” é o índice específico do parâmetro E, que varia de 1 (erosividade

débil) e 5 (erosividade excessiva).

PEe: potencial erosivo dos solos; “e” é o índice específico do parâmetro PE, que varia de 1 (nulo a ligeiro) e 4 (muito forte).

DDf: densidade de drenagem; “f” é o índice específico do parâmetro DD, que varia de 1 (baixa

densidade) a 4 (muito alta densidade).

BHg: balanço hídrico; “g” é o índice específico do parâmetro BH, que varia de 1 (balanço

hídrico muito alto) a 4 (balanço hídrico baixo).

A aplicação dessa metodologia pode ser descrita em três etapas. Inicialmente, Beltrame propõe que a bacia hidrográfica seja setorizada com base nas suas características morfométricas (divisor topográfico, hipsometria, declividade, perfil longitudinal do canal principal), ou qualquer outro elemento que facilite a execução do planejamento conservacionista. A setorização permite a comparação do risco de degradação para diferentes regiões da bacia.

Na segunda etapa ocorre o levantamento, sistematização e análise dos parâmetros constituintes da fórmula do DFC e obtenção do somatório dos índices com a aplicação da Equação 1.

Na terceira etapa, calcula-se o risco de degradação dos setores da bacia como uso da equação da reta (y = ax + b). Para tanto, faz-se necessário somar os valores mínimos (x1)

máximos (x2) dos parâmetros que representam o melhor (y1 = 0) e o pior (y2 = 100) estado

físico-conservacionista da bacia, respectivamente. Esses valores são plotados nos eixos cartesianos de onde se obtêm, a partir do ângulo de inclinação da reta, os valores dos parâmetros de ajuste “a” e “b” da equação. Em seguida, os somatórios dos índices obtidos na segunda etapa são plotados no eixo x para se obter, por meio da reta, as unidades de risco de degradação física da bacia expressas no eixo y. Aplicando-se a equação da reta obtém-se o resultado com maior precisão (BELTRAME, 1994).

A metodologia do DFC tem sido largamente utilizada no Brasil no diagnóstico de bacias hidrográficas. Cronemberger (2009) adaptou e aplicou a metodologia do DFC no diagnóstico ambiental da bacia do Rio Santana, no Rio de Janeiro, visando à elaboração de diretrizes e estratégias de preservação ambiental.

Rocha, Silva e Camacho (2009) utilizaram o DFC para a determinação do potencial de degradação ambiental do município de Luís Gomes, no estado do Rio Grande do Norte. Em trabalho semelhante, Paz (2013) aplicou a metodologia do DFC com o objetivo de identificar os fatores potenciais de degradação dos recursos naturais presente na bacia hidrográfica do Ribeirão Lajes, em Aragominas, no estado do Tocantins.

No estado do Ceará, Lourenço (2013) promoveu algumas adaptações na proposta metodológica do DFC com o objetivo de avaliar o nível de degradação ambiental no médio curso da bacia hidrográfica do rio Aracatiaçu. No Piauí, o DFC foi utilizado por Santos e

Aquino (2017) no estudo da análise de risco de degradação/desertificação nos municípios de Castelo do Piauí e Juazeiro do Piauí.

Ferreira e Morais (2017) adaptaram a metodologia do DFC para avaliação de um ambiente cárstico da bacia do córrego Canabrava, no município de Aurora do Tocantins (TO), demonstrando a versatilidade e eficiência desta metodologia na identificação do potencial de degradação física em bacias hidrográficas.

Em todos os casos mencionados, a proposta inicial do DFC sofreu modificações, seja em função de necessidade de adequação da metodologia às condições geoambientais da área de estudo, da disponibilidade de dados, ou ainda em função da utilização de novas técnicas de processamento e análise dos dados como as decorrentes do uso do sensoriamento remoto e geoprocessamento. No entanto, o modo como o índice é calculado permaneceu constante, ou seja, todos os parâmetros foram considerados de igual importância na definição do DFC, fato no mínimo improvável de ocorrer na natureza.

Nesta linha de análise, o presente trabalho apresenta modificações na proposição original do DFC ao fazer uso de novas técnicas de análise espacial decorrentes do uso do geoprocessamento, novas bases de dados derivados de sensoriamento remoto, bem como o uso de métodos de análise multivariada, o método Analytic Hierarchy Process (AHP).