CAPÍTULO 1 - A PESSOA COM HIPERTENSÃO ARTERIAL
1.2. DIAGNÓSTICO DE HIPERTENSÃO ARTERIAL
Em geral, quanto mais idosa for a pessoa, maior a probabilidade de desenvolver HTA,
pois cerca de dois terços das pessoas com idade superior a 65 anos são hipertensas, (DGS,
2011).
Segundo a CIPE®, (2005)
a HTA é um tipo de pressão sanguínea com as seguintes características
específicas: bombagem do sangue através dos vasos sanguíneos com
pressão superior à normal; sendo a função vascular um tipo de circulação
com as seguintes características específicas: fluxo do sangue através das
artérias e veias centrais e dos vasos sanguíneos capilares periféricos. (p.23)
Para a DGS (2011) a HTA “pode ser definida, com medição de consultório, como a
elevação persistente, em várias medições e em diferentes ocasiões, da PAS igual ou superior a
140 mmHg e/ou da PAD igual ou superior a 90 mmHg” (p.1).
A PA classifica-se como HTA, quando os valores médios de duas medições, realizadas em
pelo menos três consultas, após a detecção inicial de valores elevados de PA.
A HTA classifica-se em três graus, correspondendo o grau 1 a hipertensão arterial ligeira,
o grau 2 a hipertensão arterial moderada e o grau 3 a hipertensão arterial grave. (Anexo I)
Para a DGS (2011) esta classificação é válida para adultos com 18 ou mais anos de idade
que não tomem fármacos anti-hipertensores e não apresentem nenhum processo patológico
agudo concomitante. Quando a PA sistólica e diastólica, se encontre em diferentes categorias
considera-se a categoria do valor mais elevado.
Uma vez diagnosticada a hipertensão, tem de ser monitorizada a PA, durante toda a
vida. Tal como o preconizado pela DGS (2011), todos os adultos, em particular os obesos, os
diabéticos e os fumadores ou com história de doença cardiovascular na família, devem avaliar
a sua PA pelo menos uma vez por ano.
Efectivamente, a HTA é o factor de risco cardiovascular modificável mais frequente, e o
seu tratamento e controlo assume importância central nas estratégias preventivas.
Assim, ao “colocar em prática as novas orientações é possível diagnosticar mais doentes,
tratá-los e controlá-los, contribuindo para a melhoria do prognóstico dos doentes com
hipertensão” (DGS, 2011, p.2).
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1.2.1. Fisiopatologia da HTA
A função do sistema cardiovascular pode ser quantificada por meio de grandezas físicas.
Uma destas é a pressão que o sangue exerce sobre a parede das grandes artérias, denominada
PA.
O aumento persistente da resistência vascular periférica é o factor mais importante na
HTA primária, condição onde ocorre um desequilíbrio entre os elementos vasoconstritores e
vasodilatadores. Nos factores de maior impacto na vasoconstrição (contracção da musculatura
que regula o lúmen do vaso) e também no crescimento vascular (espessura do vaso) estão o
sistema nervoso simpático e o sistema renina-angiotensina, (Wenger, 2008).
De acordo com a literatura, o rim possui um papel central na fisiopatologia da HTA.
Um exemplo disso, ocorre quando o rim necessita elevar a PA acima do normal para
manter o volume de líquido extracelular dentro de valores limites.
Também a sensibilidade ao sal pode resultar de várias alterações que afectando as
proteínas do citoesqueleto, o transporte de iões ou factores endócrinos que controlam o
sistema renal de sódio. Tem origem num desequilíbrio entre a componente hormonal, ou
hemodinâmica que afecta o balanço de sódio através de mudanças na filtração glomerular ou
reabsorção tubular.
Como a PA depende do delicado equilíbrio entre os inúmeros mecanismos responsáveis
pela sua regulação, as causas da HTA podem ser muito variadas.
1.2.2. Causas da Hipertensão Arterial
Encontra-se descrito na literatura que na grande maioria dos casos, não se pode precisar
com exactidão o motivo concreto, enquanto apenas numa reduzida parte das situações se
pode determinar com clareza a sua origem, sendo por isso possível diagnosticar duas formas
de HTA: a primária e a secundária.
Cerca de 90 a 95% dos casos de HTA não têm uma origem clara, ou seja, desconhece-se
a sua causa o motivo inicial que desencadeia a falha global do conjunto de mecanismos
reguladores e que determina a subida crónica dos valores da PA, por isso considera-se HTA
primária ou essencial.
A hiperactividade simpática, factores ambientais (como ingestão de sal ou stress), a
resistência periférica à insulina, associada ou não à obesidade, e o sistema renina-
angiotensina-aldosterona são alguns dos elementos que levam à hipertensão primária (Mancia
et Grassi, 2008).
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Convém realçar que a coincidência de dois ou mais factores de risco - excesso de peso,
elevado consumo de sal, tabaco, álcool e stress - aumenta significativamente o possível
desenvolvimento de HTA primária, sendo por isso que predomina nas sociedades
industrializadas, o que justifica a sua inclusão nas denominadas "doenças da civilização".
Pode ainda considerar-se uma predisposição hereditária para a HTA, como demonstra a
elevada incidência da doença em determinadas famílias, significativamente mais elevada e
constante do que na população em geral.
Existem doenças que, ao incidirem directamente sobre algum dos mecanismos
reguladores da PA, provocam a sua subida. Apenas em cerca de 5 a 10% dos casos, se
consegue identificar uma patologia responsável pela HTA, considerando-se para efeitos de
diagnóstico como HTA secundária.
Destacam-se a doença renal, alterações endócrinas ou de catecolaminas
(feocromocitoma), patologias funcionais das glândulas tiróide e paratiróide, ou ainda
malformação ou defeito da artéria aorta, problemas neurológicos como tumores cerebrais,
hemorragias cerebrais, traumatismos cranianos.
Por último, embora a lista pudesse ser mais ampla, existem casos em que a HTA se
associa à administração de determinados medicamentos (contraceptivos hormonais,
antidepressivos, corticóides), à ingestão de tóxicos (chumbo, mercúrio) e à gravidez.
1.2.3. Complicações na Hipertensão Arterial
Por ser inicialmente assintomática, na maioria das vezes a pessoa portadora de HTA não
consulta o médico, não avalia a PA, embora saibamos que pequenas reduções da PA reduzem
de forma significativa os riscos de insuficiência cardíaca, acidentes vasculares cerebrais e de
enfarto do miocárdio.
A ausência de quaisquer sintomas durante a fase inicial da doença faz da medição
regular da PA um hábito a seguir.
Assim, na literatura emergem as principais complicações situadas a 4 níveis, a saber:
• Complicação a nível cardíaco – o aumento da PA conduz ao espessamento ou
hipertrofia do miocárdio;
• Complicações a nível cerebral – uma emergência hipertensiva pode, para além do
estado de coma, provocar acidentes vasculares cerebrais, quer de tipo isquémico,
devido a um fenómeno tromboembólico, quer de tipo hemorrágico;
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• Complicações a nível ocular – retinopatia hipertensiva, caracterizada pela
diminuição da acuidade visual que, nos casos mais graves, pode conduzir à
cegueira;
• Complicações a nível renal - caso a HTA não seja devidamente controlada, pode
conduzir a insuficiência renal crónica.
Para Garrido (2007), uma elevada percentagem destas complicações coloca em risco a
vida da pessoa portadora de HTA, verificando-se a permanência de sequelas com forte
impacto negativo na sua qualidade de vida e nos gastos nos serviços de saúde.
Nos primeiros anos, a HTA não provoca quaisquer sintomas, à excepção de valores da de
PA elevados, os quais se detectam através da sua avaliação.
1.2.4. Manifestações da Hipertensão Arterial
É consensual que os sintomas representam a razão mais frequente pela qual as pessoas
procuram os cuidados de saúde, pois constituem a sua principal preocupação bem como dos
prestadores de cuidados. Caso os sintomas não sejam efectivamente controlados ou geridos
podem ter consequências devastadoras na pessoa, na família e no próprio sistema de saúde,
como é o caso da HTA.
Quando origina manifestações, a mais comum são as cefaleias. Também podem ocorrer
náuseas, sobretudo ao adoptar a posição vertical, alterações do equilíbrio, por vezes
acompanhadas de vómitos. Noutros casos, a pessoa demonstra uma particular sensação de
cansaço e debilidade muscular, ocasionalmente aliada a alguma dificuldade respiratória.
Uma classificação possível dos factores de risco cardiovasculares é a tradicional
perspectiva “clássica”.
Os factores de risco são um conceito moderno, que articula o conceito clássico de causa
directa de doença com conceitos mais recentes: o da probabilidade, da predição e do
prognóstico.
Pode-se definir factor de risco como elemento mensurável da cadeia de causas de uma
doença e um indicador seguro, significativo e independente do risco futuro (Simões, Gama &
Contente, 2000)
Neste enquadramento destacam-se habitualmente duas formas de agrupamento de
factores de risco, com base na possibilidade da pessoa os modificar. São eles os factores
“modificáveis” e os “não modificáveis” que adiante serão analisados.
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Assim, a detecção atempada da HTA, com introdução de medidas farmacológicas e não
farmacológicas em especial quando está aumentado o risco cardiovascular, deve ser uma
prioridade dos CSP.
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No documento
Viver com Hipertensão Arterial
(páginas 32-37)