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Diagnóstico dos Fatores Tecnológicos e de Inovação com foco na Capacitação Tecnológica

DIAGNÓSTICO DOS FATORES DE COMPETITIVIDADE DA CADEIA PRODUTIVA DO BIODIESEL NA BAHIA: ESTRATÉGIAS E

6.4 Análise Conjunta dos Fatores de Competitividade dos Sistemas de Produção das Oleaginosas para o PNPB com foco na Bahia

6.4.3 Competitividade da Cadeia Produtiva do Biodiesel: Avaliação dos Fatores Tecnológicos e de Inovação

6.4.3.1 Resultados e Discussões

6.4.3.1.2 Diagnóstico dos Fatores Tecnológicos e de Inovação com foco na Capacitação Tecnológica

Os resultados dos questionários aplicados aos agentes especialistas presentes cadeia do biodiesel com relação aos elementos temáticos do Fator Tecnológico e de Inovação com foco na Capacitação Tecnológica são apresentados na Figura 31, seguida por uma discussão das percepções dos entrevistados e de uma revisão bibliográfica.

Figura 31 – Avaliação dos Fatores Tecnológicos com foco na Capacitação Tecnológica de acordo com a percepção dos agentes especialistas em biodiesel

Fonte: Dados da pesquisa

13% 18% 21% 0% 11% 24% 39% 36% 7% 14% 21% 25% 25% 18% 14% 27% 18% 11% 43% 36% 16% 0% 7% 32% 25%

Avaliação Geral do Fator Tecnológico e de Inovação: Capacitação Tecnológica

A atuação do governo do estado da BA como fonte de informação e disseminação de conhecimentos esta sendo considerado ______ para

o setor.

A atuação do governo do estado da BA no desenvolvimento de pesquisa e extensão visando à minimização dos gargalos da produção

da agricultura familiar voltada à produção de biodiesel esta sendo considerado ______ para o setor.

Uso da parcela do faturamento das empresas ligadas ao setor em P&D constitui num ponto ______.

O investimento em P&D é _____ para a competitividade do biodiesel na Bahia.

Conforme os dados apurados, sob a avaliação dos agentes especialistas, com relação ao Fator Tecnológico e de Inovação, com foco na Capacitação Tecnológica em uma análise geral foi considerada moderada, representando 43% (favorável/muito favorável) e 37% (desfavorável/muito desfavorável). Os resultados detalhados são discutidos na sequência. Os resultados das percepções dos agentes especialistas, nos pontos sobre o investimento em P&D e a utilização da parcela do faturamento das empresas ligadas em P&D foram considerados todos favoráveis, tendo uma avaliação geral de 61% e 75% (favorável/muito favorável), respectivamente, para a melhoria da competitividade do biodiesel na Bahia. Por outro lado, observou-se que os pontos ligados à atuação do governo da Bahia no desenvolvimento de pesquisa e extensão visando à minimização dos gargalos da produção da agricultura familiar e a sua atuação do governo da Bahia como fonte de informação e disseminação de conhecimentos, foram considerados desfavoráveis tendo uma avaliação geral de 61% e 75% (desfavorável/muito desfavorável), respectivamente, para a melhoria da competitividade do biodiesel na Bahia.

Em 2004, um ano após a criação da Comissão Executiva Interministerial do Biodiesel e o Grupo Gestor do Biodiesel (CEIB), o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) estabeleceu e implantou uma nova Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (PNCT&I) tendo como finalidade específica o estabelecimento e a concretização de um novo aparato institucional para a promoção de ciência, tecnologia e inovação, a partir da adoção de novos marcos regulatórios e do fortalecimento de mecanismos, instrumentos e programas.

Os recursos empregados para financiar as ações da PNCT&I são provenientes sobretudo do orçamento do MCT, nele compreendidos os do CNPq e os do Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientítifico e Tecnológico (FNDCT/Fundos Setoriais).

A PNCT&I está baseada em quatro eixos estratégicos: I) Eixo Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE); II) Eixo Objetivos Estratégicos Nacionais; III) C&T para a Inclusão e Desenvolvimento Social; IV) Investimentos em C,T&I.

Com relação ao Eixo III, dentre as principais áreas de atuação definidas pelos formuladores da estratégia, têm-se (LAPLANE et. al., 2007):

arranjos produtivos locais; incubadoras de cooperativas populares; programa

nacional de produção e uso de biodiesel; inclusão digital; tecnologias

apropriadas e tecnologias sociais; extensionismo tecnológico; centros vocacionais tecnológicos; novas tecnologias de habitação; C&T no nordeste e semi-árido; além da pesquisa em saúde e em saneamento básico (grifo nosso).

A necessidade de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para adequação de oleaginosas à produção de biodiesel foi notória para tornar o biodiesel mais competitivo. A organização e o fomento da base tecnológica do PNPB é parte da atuação do MCT no campo das energias renováveis. Desde 2003 estão sendo destinados recursos dos Fundos Setoriais (CT-Energ e CT-Petro) e FINEP no PNPB, via encomendas e/ou edital, para projetos de parcerias com Estados; Implantação e gestão da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel; Projetos unidades demonstrativas de produção de biodiesel; Estruturação de um programa de ensaios e testes com motores, com o objetivo de validação técnica por pelos fabricantes de motores e autopeças do uso do biodiesel; entre outras pesquisas na área (LAPLANE et. al., 2007).

Para Santos (2009), os aportes federais na área de pesquisa foram sofrendo descontinuidade ao longo do PNPB e os aportes de fundações estaduais de fomento à pesquisa são cada vez mais esporádicos e não sistematizados. Neste contexto, a participação das universidades nesta área é de grande relevância, até pela natureza multidisciplinar das pesquisas.

Paralelamente a essas questões de aportes financeiros implementados e o alvoroço do PNPB, foi criado centenas de grupos de pesquisas no Brasil afora à busca por patentes, por trabalhos acadêmicos inéditos e outros aspectos tecnológicos. Isto pode-se demonstrado no trabalho de Rocha et al. (2013).

Segundo Rocha et al. (2014)32, desde o início do PNPB o governo vem investindo em P&D e de 1975 até junho de 2013 o número de grupos de pesquisa certificados relacionado ao biodiesel saltou para 370, sendo que 132 grupos estavam localizados na região Sudeste, seguido do Nordeste com 109 grupos, o Sul com 72, o Centro-Oeste com 37 e o Norte com 20 grupos como mostra a Tabela 4.

Tabela 4 - Grupos de pesquisa em Biodiesel de 1975 a junho de 2013

Ano de formação

Número de grupos de

pesquisa

Frequência relativa Frequência acumulada De 1975 a 1980 5 1,35% 1,35% De 1981 a 1885 5 1,35% 2,70% De 1986 a 1990 13 3,51% 6,22% De 1991 a 1995 27 7,30% 13,51% De 1996 a 2000 48 12,97% 26,49% De 2001 a 2005 61 16,49% 42,97% De 2006 a 2010 163 44,05% 87,03% De 2011 a 2013 48 12,97% 100% Fonte: DGP/CNPq (2013)

Existem dois momentos de euforia em pesquisa de pesquisa sobre biodiesel no Brasil. O primeiro de 2001 a 2005 com a criação de 61 grupos que pode ter ocorrido em decorrência da instituição do PROBIODIESEL pela Secretaria de Política Tecnológica do Ministério da Ciência e Tecnologia. Junto com o PROBIODIESEL, uma rede de pesquisa foi organizada com o intuito de promover a competitividade técnica, econômica e ambiental do biodiesel em relação ao diesel disponível comercialmente (RAMOS e WILHELM, 2005).

O segundo momento coincide quando o PROBIODIESEL foi descontinuado por não contemplar aspectos sociais e em seu lugar foi instituído o PNPB. Assim, de 2006 a 2010, foram credenciados 163 grupos junto ao DGP/CNPq, englobando diferentes áreas do conhecimento que não faziam parte do escopo original (dominado pelas engenharias), o que mostra a boa receptividade e o aumento da importância da temática biodiesel no cenário científico brasileiro.

Rocha et. al. (2014) também observaram: (i) o número de grupos de pesquisas atualmente cadastrados e sua distribuição nas cinco regiões do Brasil; (ii) a interação dos grupos com o setor produtivo; (iii) o número de linhas de pesquisa exploradas pelos grupos; (iv) as áreas do conhecimento e; (v) o quantitativo de pessoas alocadas em cada grupo. Apesar do aumento de números de grupos de pesquisa no Brasil em biodiesel, apontaram como principais resultados, que a pesquisa científica e tecnológica no Brasil no tocante ao biodiesel se concentra nas

Universidades, sendo ainda incipiente para interações com o setor produtivo, sugerindo que a expressiva produção de biodiesel ainda não seja indutor fundamental para o setor de PD&I em biocombustíveis no Brasil.

Na Bahia, Rocha et al. (2013)33 pesquisaram os indicadores científicos e tecnológicos sobre o biodiesel no estado da Bahia, a partir de análise dos Grupos de Pesquisa cadastrados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Foram identificados 26 grupos de pesquisa com a palavra-chave “biodiesel”, aplicando-se como filtro de seleção o estado da Bahia, com anos de criação variando de 1994 a 2011, na base textual do DGP/CNPq. Foi observado também que e a instituição com maior número de grupos de pesquisa é a Universidade Federal da Bahia (UFBA), que é também a mais antiga e com maior histórico em pesquisas. Em seguida, vem o Instituto Federal da Bahia (IFBA), com forte tradição na área de Química e Energia, seguidas da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB), Universidade Salvador e demais na sequência, conforme Figura 32 a seguir.

Os Grupos concentram-se nas áreas de Química e Engenharia Química, conforme Figura 33 abaixo. Isso pode ser explicado pelo fato das verbas do PNPB nas temáticas de Caracterização/ Controle e Produção serem as que possuem mais valores para pesquisas.

Os grupos do DGP/CNPq investigados possuem, no total, 232 pesquisadores, 319 estudantes e 65 técnicos.

Os pesquisadores pertencem a diversas áreas do conhecimento, uma vez que o tema biodiesel assim como o PNPB é essencialmente interdisciplinar, com

Para os entrevistados os investimentos em P&D são importantes em todo elo da cadeia produtiva do biodiesel, mas o que se percebe nos argumentos dos pesquisados é que as empresas situadas nas regiões pesquisadas, tantas as esmagadoras e usinas não tem interesse em fazer pesquisas, em desenvolver novos métodos e estão totalmente desarticuladas dos centros de pesquisa e desenvolvimento do estado. Isto é demonstrado no trabalho de Rocha (2013) com relação a parceria com o setor empresarial. Salvo exceção a PBIO, pois a Petrobras investe maciçamente em novas pesquisas através do fundo obrigatório que toda empresa do ramo energético deve investir em P&D.

Com relação ao uso da parcela do faturamento da empresa para investir em P&D, foi observado que nenhuma empresa do município de Valença e Irecê utiliza este tipo de instrumento no seu planejamento. O que foi observado que as empresas investem em pesquisa

33 O trabalho completo de Rocha et al. (2013)

Figura 32 - Grupos do DGP/CNPq por ICTs

Fonte: Rocha et al. (2013)

0 2 4 6 8 UESC INIVASF SENAI UESB UNIFACS UFRB UFBA

Figura 33 - Área de Concentração dos Grupos de Pesquisa

Fonte: Rocha et al. (2013)

0 5 10 15 Agronomia Biologia Eng.Elétrica Ciência e… Química

quando observam que aquela ideia poderá gerar alguma lucratividade. Por outro lado, as empresas desconhecem sobre os procedimentos de registro de patente, caso tenha algum tipo de inovação. Na região de Irecê, têm uma figura conhecida com “procurador de patentes” que quando descobre que alguém tem uma inovação, ele escreve a patente e faz o registro junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

Os entrevistados também destacaram que o uso de tecnologia de informação para a maioria dos elos não são prioridades e que as cooperativas utilizam o computador para simples controle das informações, sem utilização e conhecimento de software de gestão operacional e administrativo.

O que se percebe é que, nas regiões da Bahia, precisa-se desenvolver um mecanismo de promoção tecnológica em toda a cadeia produtiva e a presença do governo do estado para a disseminação e difusão de tecnologias e de novas práticas agrícolas é de fundamental importância para melhorar a competitividade do estado com relação ao aumento e as novas ofertas de matérias-primas para o fomento do PNPB. Contudo, os entrevistados argumentaram que a atuação do governo da Bahia com relação ao desenvolvimento de novas pesquisas e na disseminação de conhecimento para o fomento dos elos da cadeia produtiva tem sérias dificuldades de gestão política e técnica e segundo Silva et al. (2014)34 os programas energéticos no estado estão totalmente desarticulados entre as diversas secretarias. Foi destacado pelos entrevistados que na região de Valença existe forte carência quanto à questão da tecnologia de extração do óleo de palma, e a falta de tecnologia adequada para este tipo de trabalho (tanto mecânica, quanto química) resulta em um baixo rendimento de óleo por tonelada processada, o que se torna uma desvantagem competitiva para a região. Outro ponto, que envolve uma mudança tecnológica e consequentemente aumento da competitividade é a questão do melhoramento genético, que precisa chegar até as propriedades dos agricultores familiares junto com uma capacitação técnica, cujo objetivo é alcançar melhores índices de qualidade da matéria-prima e de produtividade. O que se pode constatar que existem inúmeras invenções (patentes) e que a maioria destas ainda não saiu do papel, e não podem ser consideradas em inovação, pois a sonhada difusão tecnológica para todos ainda não existe na prática.

Segundo Bispo (2012), afirma que no semiárido baiano, exceto em áreas com agricultura irrigada ou no agronegócio, são grandes as dificuldades de desenvolvimento de uma atividade agrícola rentável, devido à inexistência de soluções tecnológicas adequadas. Contudo, percebe-se que, mesmo com as dificuldades encontradas os agricultores familiares em sua maioria não aceitam a incorporação de novas tecnologias. O que se pontua nesse sentido, é que os produtores das regiões pesquisadas se posicionam com desconfiança e aversão em relação às novas tecnologias, mas relatam que têm conhecimento de algumas tecnologias, bem como da possibilidade de ganhos na produ'tividade, isto é o caso dos agricultores de palma que não querem a mudança da “palma dura” para a “palma tenera”.

Outros pontos foram destacados pelos entrevistados que tanto os governos quanto as instituições de pesquisa precisam desenvolver mais pesquisas para: a área de sub-produtos da produção do biodiesel; o desenvolvimento de novos sistemas de produção envolvendo o consorcio de oleaginosas e alimentos (ex. soja e mamona); o desenvolvimento de máquinas