O diálogo entre poder público e população é importante para a
promoção da troca de
conhecimentos e para que as propostas de ações na cidade sejam mais eficientes. O planejamento democrático, segundo a equipe técnica responsável por essa etapa do Planejamento Urbano Interativo
do Centro de Vitória
(PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2006, p. 4), gera
envolvimento e
corresponsabilidades das partes integrantes. Deve-se atentar, porém, para a necessidade desse processo ser realimentado constantemente e levar a ações
práticas para o cotidiano das pessoas para que ele não fique desacreditado perante a população. A figura 34 apresenta a etapa denominada de Diagnóstico Rápido Participativo.
A equipe aponta a primordialidade da participação popular em todas as etapas do processo de gestão e de planejamento para que ela não ocorra apenas num último momento de forma que seja meramente apresentada como um produto final no aguardo da aprovação da comunidade. O Planejamento Urbano Interativo apresentou uma pretensão de mudança de postura na gestão do Centro de Vitória
Figura 34: Fluxograma Metodológico do Planejamento Urbano Interativo do Centro de Vitória – Diagnóstico Rápido Participativo
Fonte: adaptado de PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2006
para que o aspecto humano seja mais valorizado. As técnicas do Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) são então apresentadas pela equipe como ferramenta de leituras comunitárias (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2006, p. 4-5). As etapas metodológicas do DRP são apresentadas no texto referente a essa etapa da seguinte maneira:
Divisão do Centro em microrregiões e identificação de segmentos sociais para a convocação das reuniões;
Reunião preparatória para a capacitação da equipe;
Capacitação da equipe;
Reunião preparatória da equipe;
Reunião preparatória com as lideranças para articular a aplicação do DRP1;
Aplicação do DRP;
Sistematização do DRP;
Retorno do DRP – Seminários Temáticos (próxima etapa). (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2006, p. 5)
O treinamento de equipe e o acompanhamento do processo participativo foram realizados através de consultoria e as reuniões aconteceram com a comunidade dividida em 6 áreas, conforme figura 35, e contou com a participação dos seguintes seguimentos sociais: ambulantes, proprietários e inquilinos de imóveis de interesse histórico-cultural, instituições de saúde, grupos de movimentos culturais, grupo técnico e agentes de segurança. Os comerciantes não compareceram à reunião e não houve participação de instituições de ensino e religiosas em virtude do período de férias. A divulgação das mesmas foi feita através dos líderes comunitários com o uso de panfletos e anúncios em carro de som. As reuniões aconteceram nos meses de novembro e dezembro de 2005. Pela data, percebe-se que a pesquisa de opinião foi realizada posteriormente ao DRP e nele são incluídos apenas os dados do diagnóstico preliminar.
Figura 35: Mapa divisão de bairros – Reuniões DRP. Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória (2006, p. 7)
Quanto à metodologia das reuniões quando havia poucas pessoas, eram realizadas entrevistas cuja técnica realizada contava com questionários semiestruturados, isto é, realizados a partir de temas levantados pelo facilitador ou pelos próprios participantes da reunião. Quando a reunião contava com um número de pessoas maior, era realizada o que a equipe denomina de técnica das tarjetas, na qual eram registrados através das tarjetas os sentimentos relacionados a:
O que gostam no Centro;
O que não gostam no Centro;
O que gostam fora do Centro;
O que não gostam fora do Centro;
Causas da situação atual do Centro;
Propostas para manter o que gostam e melhorar o que não gostam;
Os sonhos. (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2006, p. 9)
Ainda ocorreu, no início de algumas reuniões, a técnica do mapa, no qual eram registradas as impressões do imaginário da comunidade sobre o lugar e a apreensão por parte dela do que considera os limites físicos do Centro de Vitória. O resultado do DRP é apresentado ao final do trabalho iniciando com os pontos positivos e negativos (Quadros 1 e 2) observados nas atas das reuniões, nos mapas e tarjetas desenvolvidos (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2006, p. 20).
As etapas preliminares o DRP contaram com a preparação e a capacitação da equipe técnica e a relevância dessa fase está na conscientização por parte dela sobre os graus de participação e a importância da imparcialidade e menor influência possível nas manifestações públicas. Um fato que também merece atenção é o não comparecimento de alguns seguimentos sociais por causa do período de férias ou por outro motivo relacionado ao tempo. Tal fato ressalta que o ideal seria que o processo participativo fosse continuado, para que as lacunas de uma etapa fossem preenchidas com outras.
As técnicas aplicadas nas reuniões demonstram a preocupação da equipe responsável com a utilização de um grau maior de participação efetivando-a ainda no início do método com a escolha dos temas por exemplo. As questões levantadas dentro da técnica das tarjetas levam o participante a olhar para dentro de si e a se analise, procedimento elogiável para o fazer entender suas próprias lembranças e para a construção de suas próprias memórias e identidades.
Quadro 1: Pontos Positivos – DRP
Quadro 2: Pontos Negativos – DRP
O Quadro 1 aponta que os pontos positivos apontados pelos usuários do Centro se relacionam em grande parte com os monumentos históricos e os marcos da região. A maioria desses pontos se referem às edificações de interesse de preservação ou de modo geral ou de cada um específico. A localização, a paisagem, a diversidade e a harmonia entre seus moradores (espírito de vizinhança) também foram bastante citados. Esses dados fortalecem a crença no potencial do Centro como depositário de identidade e da memória coletiva de Vitória, como patrimônio cultural e territorial, nos moldes dos estudos feitos nesta dissertação. Os pontos negativos apresentados no Quadro 2 trazem justamente itens ligados a falta de cuidado com os pontos apresentados como positivos anteriormente. Expressões como “falta de cuidado...”, “falta de comprometimento com...”, “abandono de...”, “desmotivação...”, “descaso...”, “poluição...” são recorrentes. Essa é uma análise relevante já que expõe o desejo da população de ver um maior cuidado por parte do poder público com as potencialidades de sua cidade.
Esses pontos positivos e negativos posteriormente foram divididos pela equipe em temas para serem discutidos com a comunidade e, a partir daí, gerarem propostas nos Seminários Temáticos, apresentados no item 4.4.1 nesta dissertação. Os temas relacionados foram “Desenvolvimento Econômico e Ação Social”; “Infraestrutura, Acessibilidade e Mobilidade Urbana”; “Paisagem, Meio Ambiente e Preservação do Patrimônio”; “Cultura, Esporte e Lazer”; “Educação e Saúde” (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2006, p. 22).
Nas considerações finais sobre o DRP, a equipe mencionou fatores limitadores da etapa:
Pouco tempo disponível para as reuniões e avaliação de seus resultados;
Dificuldades na divulgação, pela falta de integração entre o município e a comunidade, escassez de recursos e até a falta de articulação entre a liderança e a comunidade;
Equipe reduzida, com disponibilidade para reuniões fora do horário de expediente;
Falta de credibilidade e resistência de algumas comunidades para com a prefeitura. (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2006, p. 28)
A troca de experiências entre os técnicos ligados a prefeitura e a abertura de um canal de participação foram apontados como fatores positivos do Planejamento Urbano Interativo do Centro de Vitória pela equipe técnica. Além disso, é relatada a
esperança de perpetuação do processo participativo dentro da prefeitura e de fortalecimento das associações de bairro para que essas possam agir ativamente frente às ações referentes à região central. Porém, as ações relacionadas à preservação do patrimônio devem ser ampliadas incluindo ações contínuas de educação patrimonial e devem estar no cerne dos interesses políticos, afinal as reuniões tem por objetivo discutir os problemas e não para “dar uma ar de participação” ao planejamento. O planejamento deve ser efetivamente participativo e contar com tempo hábil para as etapas necessárias. O Planejamento Urbano Interativo poderia representar os primeiros passos de uma mudança de postura dentro da administração municipal. A equipe termina o texto com as seguintes considerações:
Importante ressaltar que este ato de reflexão realizado nas reuniões leva a comunidade a repensar o seu papel no exercício da cidadania e impulsioná- la para exercer o seu papel social dentro da articulação entre poder público e população em busca do desenvolvimento sustentável. (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2006, p. 28)
O desafio das formas participativas de planejamento está na busca pela interação solidária entre municipalidade e comunidade e entre os seus próprios atores para que se resgate a memória coletiva frente a uma realidade de desinteresse e apatia pelos temas comunitários e de interesse por temas relativos a individualização e ao consumo.