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Após o levantamento e análise dos dados obtidos no diagnóstico preliminar, foi realizada uma pesquisa de opinião no período de 14 a 21 de janeiro de 2006 que contou com a participação de 811 pessoas de todas as faixas de renda e etárias acima de 18 anos (Figura 33). Entre os entrevistados estavam moradores do Centro, trabalhadores e usuários do local encontrados no momento da pesquisa em outros bairros – Enseada do Suá, Jardim Camburi, Jardim da Penha e Praia do Canto. Além desses, foram entrevistados moradores de outros municípios vizinhos e próximos – Vila Velha, Cariacica,

Serra e Viana (CPS PESQUISAS, 2006, p. 3).

As questões tiveram caráter de pesquisa quantitativa, sendo abertas e fechadas e com o intuito de levantar os seguintes aspectos:

 Principais atividades realizadas no Centro de Vitória;

 Avaliação geral da situação de Vitória e de pontos relacionados à habitabilidade da região, explorando de forma mais específica ambientes como praças e jardins, principais ruas de comércio, parques e prédios históricos, entre outros;

 Principais pontos positivos e negativos do Centro;

 Principais problemas do Centro de Vitória, para elaboração de soluções;

 Conhecimento e avaliação da população do Programa de Revitalização do Centro de Vitória;

 Avaliação dos aspectos culturais e históricos presentes no Centro;

 Hábitos de mídia da população, para subsidiar as ações de comunicação do Programa de Revitalização do Centro. (CP2 PESQUISAS, 2006, P. 39)

Figura 33: Fluxograma Metodológico do Planejamento Urbano Interativo do Centro de Vitória – Pesquisa de Opinião Pública

Fonte: adaptado de PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2006

As questões abertas propiciam um grau de participação maior, visto que é a própria população que levanta as questões a serem discutidas. Essa parte da pesquisa deve conter a menor interferência possível por parte dos técnicos. As questões fechadas, por sua vez, também são necessárias ao passo que algumas questões não levantadas ou pouco levantadas pelos participantes da pesquisa também precisam ser discutidas. Por esse motivo, as questões fechadas devem ser aplicadas após as abertas.

Entre os pontos listados estão aqueles cuja preocupação está na análise do grau de conhecimento dos usuários do Centro tanto sobre si mesmos quanto sobre assuntos da coletividade como o Programa de revitalização do local. O levantamento dos hábitos de mídia é relevante para que se possam propor ações mais efetivas de educação patrimonial. Os questionários aplicados não foram apresentados no CD do Planejamento Urbano Interativo disponibilizado pela prefeitura, o que não é interessante para a transparência dos processos para a população interessada.

Do ponto de vista dos entrevistados, as principais atividades do Centro apontadas por eles estavam relacionadas ao comércio e a serviços e apenas 4% deles citaram a moradia como principal uso das edificações da região, sendo que a maior parte da área estudada é ocupada por residências. Numa avaliação geral, a região foi considerada regular tendo como principais pontos positivos, segundo a opinião pública, o comércio concentrado e bem diversificado, e como pontos negativos predominantes a falta de segurança e os problemas relativos ao trânsito. Os espaços públicos importantes foram considerados bem conservados como o Parque Moscoso, praças e jardins e a rodoviária. Já a conservação das calçadas foi avaliada como péssima e a dos prédios de valor histórico considerada regular. Em relação a esses últimos, apenas 4% os apontaram como principal ponto positivo da área central. A maioria dos entrevistados consideram que os monumentos atraem visitantes e turistas, mas os desconhecem em sua maioria. Dos 20 monumentos abordados na pesquisa, 12 são conhecidos por, no máximo, 213 dos participantes da pesquisa e 8 são conhecidos por metade deles. Os mais conhecidos são os mais conservados. Exemplo desses monumentos são a Catedral Metropolitana, o Palácio Anchieta e o Teatro Carlos Gomes.

Esse fenômeno acontece quando o monumento é pensado unicamente como ponto turístico, relacionado exclusivamente ao valor de mercado e desligado da vida cotidiana da cidade. Ele acaba não participando da memória ou da vivência do lugar. Os monumentos mais “conhecidos” não são necessariamente os que as pessoas identificam em suas lembranças contidas em suas memórias individuais ou na memória coletiva, mas aqueles que são mais propagados pelos meios midiáticos, os que recebem maior atenção e são ditados por uma parcela da população detentora do conhecimento.

Apesar de existirem espaços para atividades culturais, mais da metade dos entrevistados afirmaram não participar de nenhuma delas. Para eles, revitalizar o Centro e conservar os prédios de valor histórico são atitudes essenciais para formar uma sensação de segurança, mas apenas 12% afirmaram conhecer o Programa de Revitalização do Centro e 45% ouviram falar (CP2 PESQUISAS, 2006, p. 4).

Alguns dados apresentados pela empresa contratada para a realização da pesquisa são questionáveis como quando o objeto de pesquisa era o Shopping Centro. Segundo o texto apresentado pela empresa, o shopping era visto pelos inquiridos como possibilidade de revitalização econômica para a área central por gerar empregos e atrair pessoas ao centro. Pode-se questionar, neste ponto, se um não- lugar, como definido por Augé (1995), confere uma vida cotidiana compatível com a construção do patrimônio. A forma como os entrevistados foram abordados é motivo- chave para tal questionamento: não foram eles que levantaram as questões relacionadas ao shopping, mas foram inquiridos sobre o que pensavam sobre a implantação do mesmo no Centro. Contesta-se o grau participativo neste caso, visto que, segundo os graus apresentados por Lacaze (1993, p. 64), a consulta a população sobre o shopping aparece como uma simples informação de uma ideia preconcebida, com intuito de legitima-la. Nesse caso, a resposta positiva em relação a construção do shopping não pode apontar que a sua implantação foi uma decisão da população. Outro dado questionável é que nem sempre os resultados da pesquisa foram apresentados no texto de forma completa, optando-se, segundo a equipe (CP2 PESQUISAS, 2006, p. 5), pelos dados “mais significativos”. O que ocorre é que a definição desses dados também não foi realizada de forma

participativa. As informações que deveriam ser as mais relevantes para a população foi definida pelo corpo técnico da prefeitura.