• Nenhum resultado encontrado

Banco de Dados

3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

3.2 DIAGNÓSTICO SOBRE A INVENTARIAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS EM ANGOLA

Vários estudos foram efetuados nas décadas de 1980 e 1990 sobre os recursos hídricos em países africanos, principalmente em áreas com carência de água. Angola é um país em que a informação disponível sobre os recursos hídricos é rara e desigual (FAO, 2003).

Para utilizar racionalmente os recursos hídricos, é fundamental conhecer o que se tem disponível em termos de qualidade e quantidade. Para tal, é necessário fazer a inventariação ou a coleta de dados e informações dos recursos hídricos para que se conheça o seu potencial (MENDES, 2005).

Além disso, Mendes (2005) afirma que para que haja uma gestão integrada dos recursos hídricos em Angola, é importante que se disponha de informações de base, com a criação de instrumentos que permitam a coleta de dados e o processamento dos dados hidrométricos em bases de dados utilizando programas adequados, que por sua vez estarão aptos para a sua disseminação e utilização.

A inventariação ou a coleta de dados dos recursos hídricos em Angola teve início na década de 50 e era feita por várias instituições, na época pertencentes ao antigo regime português (MINEA, 2009). A coleta de dados era feita por dois motivos: a observação de níveis de água e medições de vazão. Contudo, era realizado um pré-processamento manual e só depois é que os dados eram informatizados na base de dados, utilizando a primeira versão do software Hydata (MENDES, 2005).

Mas, infelizmente, em 1975, quando o país se tornou independente, as atividades de coleta dos dados sobre os recursos hídricos pararam porque os técnicos de hidrometria, que na época eram na sua maioria portugueses, decidiram deixar o país. A outra questão era a segurança dos técnicos que não podiam circular devido à situação de instabilidade que o país viveu (MENDES, 2008). A Figura 16 mostra como foi a evolução da rede hidrométrica entre os anos de 1950 a 2004 em termos de número de estações que estavam em operação.

Figura 16 - Evolução da rede hidrométrica de Angola de 1950 a 2004 (Adaptada de MENDES, 2005).

A coleta de dados sobre os recursos hídricos em Angola começou em 1951 com a construção da uma estação hidrométrica na bacia hidrográfica do Rio Kwanza. Os dados serviam para realização de estudos para a construção do aproveitamento hidroelétrico de Cambambe. No ano de 1967 já haviam sido instaladas 96 estações, quando foram criadas as Direções Provinciais dos Serviços Hidráulicos de Angola e Moçambique.

Segundo Mendes (2008), de 1967 a 1975, atingiu-se 200 estações instaladas. Foi possível fazer a coleta de dados e manter uma série de dados de 6 anos sobre 10 das 47 bacias hidrográficas que correspondem a cerca 30% da área do território angolano.

Sendo assim, na visão do MINEA (2009), o êxito desse alcance permitiu a regularidade de coleta de dados, que é a condição fundamental para obtenção de informações sobre os recursos hídricos para a avaliação do potencial hídrico do país.

Com a rede totalmente destruída pela guerra, em 1977, alguns técnicos tentaram assegurar as atividades onde fosse possível fazer a coleta de dados, mas sem êxito. As atividades foram retomadas no período entre 1978 a 1983, com 72 estações recuperadas, contudo, a coleta de dados era feita apenas nas estações em regiões menos perigosas, tendo sofrido, porém, uma segunda destruição.

Em 1996, uma nova tentativa foi levada a cabo, mas os resultados desejados não foram alcançados. Entretanto, em 2002, com o acordo que se efetuou entre os governos de Angola e da Noruega, cujo projeto se denominou NAWASMA, houve uma nova tentativa, foram instaladas 6 estações hidrometeorológicas no âmbito do projeto regional SADC-HYCOS.

Para o MINEA (2009) a situação atual é preocupante, porque a solicitação de dados e informações sobre os recursos hídricos acontece muitas vezes, quer por parte das instituições públicas, como privadas que desejam desenvolver projetos no país.

Com a proposta de Plano de Ação Estratégico para a Gestão dos Recursos Hídricos em Angola (2004-2016), essa situação pode ser resolvida. A Tabela 7 mostra como principais problemas: a falta de regulamentos e normas, a gestão fragmentada e a fraca coordenação institucional, a paralisia dos serviços responsáveis pela produção de informação sobre recursos hídricos, a gestão de bacias internacionais e os escassos recursos financeiros.

Por outro lado, com o programa de relançamento das atividades de inventariação dos recursos hídricos, o país poderá contar no futuro com uma base de dados relativa às características e ao regime hidrológico dos principais rios, em termos qualitativos e quantitativos.

O objetivo desse programa é realizar a inventariação dos cursos de água, coletar dados hidrométricos, por meio de medições sistemáticas de vazões, observações de níveis de água e processamento primário dos dados. Além disso, o programa prevê ainda a tramitação dos dados registrados para tratamento final, disseminação e arquivamento pelo Departamento de Recursos Hídricos (DRH) (MINEA, 2009).

Tabela 7 - Plano de Ação Estratégico do Setor de Águas, anexo à Resolução do Conselho de Ministros nº10/04, de 11 de Junho (PEREIRA, 2009).

Problemas Metas Ações a desenvolver

Quadro legal: falta de regulamentos e normas

Melhorar quadro legal e regulador Criação de instrumentos legais, regulamentares e normativos à utilização, qualidade e abastecimento de água, concessões e licenças, poluição e meio

ambiente. Quadro institucional e organizativo: Gestão fragmentada (águas superficiais e subterrâneas) e fraca coordenação institucional Implementar um modelo de gestão integrada dos

recursos hídricos Programa de desenvolvimento da capacidade de gestão: Criação de 25 Administrações de Bacias Hidrográficas, criação do Instituto de Recursos Hídricos e elaboração dos

Planos Integrados de Aproveitamento dos Recursos Hídricos das

Bacias Hidrográficas.

Gestão da Informação: sistema de informação sobre recursos hídricos

paralisados ou destruídos.

Melhorar a coleta, gestão e disseminação de

informação.

Desenvolvimento de capacidade para a gestão

conjunta e integrada das Bacias Internacionais, rede

de coleta de dados, promover elaboração de planos de desenvolvimento

de bacias em longo prazo, participação nas instâncias regionais e internacionais.

Gestão das "Águas partilhadas".

Assegurar a defesa dos interesses nacionais.

Desenvolvimento de capacidade para a gestão

conjunta e integrada das bacias hidrográficas, promover a elaboração de planos de desenvolvimento

de bacias em longo prazo. Recursos financeiros

limitados

Assegurar recursos financeiros para a promoção da utilização sustentada dos recursos

hídricos

Criação de um Fundo Nacional de Recursos