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CAPÍTULO I – O ENFOQUE MARXISTA: UMA ORIENTAÇÃO PARA A PRÁXIS DA

1.2 DIALÉTICA E MÉTODO: ENCONTRANDO OS FUNDAMENTOS PARA A

Armado pelo fundamento essencial que determina como base de uma pesquisa efetiva na área do conhecimento a necessidade da existência de um problema e um objeto de pesquisa, o investigador bebeu das fontes de um método de pesquisa para a investigação do objeto e a possível solução da problemática configurada, esse método acolhido orienta a percepção do pesquisador proporcionando uma compreensão do fenômeno.

Para o pesquisador Silvio Gamboa (2007, p.24) “do ponto de vista da epistemologia o método tem a ver com os caminhos e instrumentos de fazer a ciência”. Define-se como uma passagem para o conhecimento. O autor ainda enfatiza que diferentes concepções de realidade determinam diferentes métodos e destaca seis tipos específicos de abordagens metodológicas acordando com os escritos que foram anteriormente elaborados por Demo (1995). Essas abordagens são: empirista, positivista, funcionalista, sistêmica, estruturalista e dialética.

Essa investigação nunca teve como fundamento descrever todas essas abordagens metodológicas apresentadas, mas o pesquisador reconhece que é de suma importância o conhecimento das mesmas para a eleição de um método. Das seis abordagens metodológicas, aquela que se mostrou mais apropriada para o desenvolvimento da pesquisa foi a da dialética ou mais especificamente o

materialismo dialético formulado por Karl Marx, sendo assim um estudo mais amplo destes conceitos fez-se necessário. O materialismo dialético embasa a filosofia marxista, na busca por explicações lógicas, racionais e coerentes para acontecimentos relacionados aos fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento.

A dialética sugerida no pensamento de Marx nasce de uma proposta de superação da dicotomia entre sujeito e o objeto, baseado na interpretação dialética do mundo. No materialismo dialético, as raízes do pensamento humano unem-se para construir uma concepção científica da realidade, relacionada à prática social humana. Entretanto, o conceito de dialética surgiu na história do pensamento humano bem antes de Marx e se transformou de acordo com o contexto histórico de sua inserção:

Esse termo, que deriva de diálogo, não foi empregado, na história da filosofia, com significado unívoco, que possa ser determinado e esclarecido uma vez por todas; recebeu significados diferentes, com diversas inter-relações, não sendo redutíveis uns aos outros ou a um significado comum. ABBAGNANO (2007 p. 269).

Se o termo, “dialética” não possui apenas um significado, discorrer generalizando-o, sem situá-lo em um espaço temporal predispõe ao erro, visto que o conceito de dialética é dependente do seu contexto histórico. Tendo como recorte a Grécia Antiga, a primeira civilização a conceituar a o termo, nela a dialética foi reconhecida como a arte da conversa. Platão (427 - 347 a.C.), discípulo de Sócrates (469 - 399 a.C.) utilizou muito o termo dialética em seus diálogos. Para ele o verdadeiro conhecimento é atingido através da relação do diálogo entre os iguais partindo do mundo sensível e chegando ao mundo das ideias.

Para Abbagnano (2007, p. 269) a dialética de Platão é uma técnica da investigação conjunta, de forma colaborativa entre duas ou mais pessoas, representando o ponto mais alto a que se pode chegar à investigação conjunta. Apesar de Platão defender a filosofia como ocupação de um ser privado, considerava- a uma obra de homens que “vivem juntos” e “discutem com benevolência”. É atividade própria de uma comunidade de educação livre.

Uma das características que chama muita atenção nos escritos de Platão, provem do modo que o autor escreve sobre a dialética como uma força do diálogo entre os iguais. Essa ótica fundamenta outras visões que, posteriormente, são

pontuadas por Heráclito (530 - 428 a.C.) e, mais tarde, reorganizadas por Aristóteles (384 - 322 a.C).

Diferentemente de Platão, para Heráclito a conversa existia somente entre os diferentes e essa diferença constitui a contrariedade e o conflito. As discrepâncias conduzem ao diálogo. Ao analisar a natureza, Heráclito constatou que os contrários estão em eterno conflito, em uma mudança constante de um estado para outro.

No pensamento de Heráclito “todas as oposições da vida cósmica se transformam continuamente umas nas outras e reciprocamente se apagam os prejuízos que causam” (JAEGER, 2001, p. 227). Compreende-se claramente os contrários em morte e vida, sol e lua, verão e inverno, guerra e paz, entre tantas outras.

Heráclito denomina essas relações de antítese como a ordem do mundo e da natureza, a lógica cósmica, a qual o homem se inclui e vive segundo as suas leis. “A morte de uma vida é sempre a vida de outra. É um eterno caminho, ascendente e descendente” (JAEGER, 2001), assim em nossas mentes as ideias são limitadas pelos seus contrários. A ideia de vida está próxima e é limitada pela morte por exemplo.

Foi Aristóteles que difundiu a acepção de Heráclito a respeito da contraditoriedade e o conflito. Para Aristóteles atribui-se a dialética o sentido de um procedimento racional não demonstrativo, qualquer inferência racional ou silogismo que parta de premissas prováveis (ABBAGNANO). Então se entende a dialética como lógica do provável, do processo racional que não pode ser demonstrado. Provável é tudo o que parece aceitável a todos.

Aristóteles discorda da ideia de Platão que o mundo sensível é mera aparência e busca integrar a observação das coisas que se apresentam aos sentidos, ao conhecimento científico e filosófico (ABRÃO, 1999). Para o filósofo o conhecimento é um processo de abstração pelo qual o intelecto produz conceitos universais, sendo que estes não poderiam existir separadamente das coisas e do intelecto. Dando extremo valor à percepção do mundo sensível o autor discorre sobre a evidência de que tudo se transforma num espaço contínuo.

Com base nesses argumentos percebe-se que a lógica dialética compreende a realidade dentro das contradições em permanente transformação se contrapondo a lógica formal, estática e constatando que uma das suas ideias básicas está na

mutabilidade do mundo e na transformação de toda propriedade em seu contrário, reconhecido na filosofia como um aspecto contraditório do ser.

É partir de Hegel (1770 - 1831 d.C.), filósofo alemão que o princípio da contraditoriedade toma um novo fôlego, discípulo de Kant (1724 -1804 d.C.), o pensador tratou da elaboração da dialética como método, afirmando que uma coisa é e não é ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. O autor discorreu sobre a dialética como o “momento negativo de toda realidade, aquilo que tem a possibilidade de não ser, de negar-se a sim mesma” (GADOTTI, 2004 in MALAGODI, 2010 p. 4).

Hegel indicou o princípio da contradição, da totalidade e da historicidade, porém a dialética foi tratada no campo do espírito, das ideias. No entanto, a visão filosófica de Hegel, atribuindo a dialética um conceito de método, fez-se muito relevante, pois proporcionou estudos posteriores que incorporaram novas direções. Nesse contexto destacou-se Karl Marx e o Materialismo Dialético.

1.3 MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO: RECONHECENDO O MÉTODO