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CAPÍTULO III ARTE DIGITAL: NOVOS OLHARES DA PRODUÇÃO

3.1 O COMPUTADOR E A ARTE: MÚLTIPLAS PERCEPÇÕES

O computador desenvolvido a partir da década de 1940 (Figura 10) foi “uma máquina destinada fundamentalmente a solucionar de forma rápida e fiáveis experiências científicas e complexas operações de cálculo”. (LIESER, 2009, p.18). Esses computadores não possuíam relação alguma com a arte, eram demasiadamente pesados e para se utilizar de seus feitos encontrava-se uma necessidade ampla de conhecimento em programação, algo extremamente específico e dificultoso no contexto da época.

Fonte: Internet 29

É a partir da década de 1960 que os primeiros gráficos foram elaborados pelos cientistas e a ascensão dessa criação imagética por meio de pixels deu origem aos primeiros passos do que hoje denominamos Arte Digital.

Vindouras de uma curiosidade natural dos cientistas por descobrir o que uma máquina poderia realizar é que foram criados os primários desenhos produzidos no computador, estes feitos eram impressos como plotter30. Os “primeiros trabalhos

artísticos em um computador exemplificados na Figura 11 eram realizados por meio de algoritmos, ou melhor, um conjunto de regras de operação executáveis e calculadas pelo computador, obedecendo ao princípio permutacional”. (ARANTES, 2005, p.63).

29 Disponível em: https://historiasobreossitesdebusca/Historia-da-tecnologia/historia-do-primeiro-

computador.

30 Plotter: traçadores que imprimem linha a linha a imagem fazendo deslizar uma pena na superfície de

um papel. (LIESER, 2009, p.55).

FIGURA 10 - ENIAC Computador (Electrical Numerical Integrator and Calculator)

Fonte: http://dada.compart-bremen.de/item/artwork/639

Incentivado pelo Professor Max Bense, que lecionava Filosofia e Teoria Científica na Escola Superior Técnica de Estugarda, o pesquisador matemático Georg Nees realizou em fevereiro de 1965 a primeira exposição sobre gráficos feitos no computador em Estugarda (Alemanha). Também nesse mesmo ano Frieder Nake (Alemanha) e Michael Noll (Estados Unidos) realizaram as suas exposições na Alemanha e Estados Unidos, respectivamente. Esses três autores são considerados os primeiros artistas digitais. (LIESER, 2009, p. 18-19):

Desta forma, colocava-se a primeira pedra para levar a cabo um novo desenvolvimento na arte contemporânea destinada a mudar o conceito da estética na vida quotidiana e a cultura posterior ao pós modernismo, tal como fizera a fotografia no século XX. (LIESER, 2009, p.19).

Em dois de agosto de 1968, no Instituto de Arte Contemporânea na cidade de Londres, aconteceu a primeira exposição coletiva de obras de arte criadas com o auxílio do computador, a Cybernetic Serendipity (Figura 12). “A exposição cuja comissária era Jasia Reichardt, apresentava realizações internacionais de caráter

contemporâneo, feitas com o apoio do computador, nos campos da arte, na música, da literatura, da dança, da escultura e da animação”. (LIESER, 2009, p.22). Essa exposição é considerada o marco fundamental para o reconhecimento da Digital.

Fonte: http://www.medienkunstnetz.de/exhibitions/serendipity

É a partir da década de 1970 que o computador consegue projeção mundial atingindo seu primeiro momento de clímax como um instrumento a serviço da arte. Na mesma década é publicado o primeiro livro com o tema específico de arte produzida no computador. Escrito por Herbert W. Franke, intitulado Computer Grafik, Computerkunst (Gráficos por computador, arte por computador) abarcava todo o desenvolvimento artístico em ambiente digital de 1950 até 1970. (LIESER, 2009).

Pautada no interesse econômico a empresa americana IBM impulsionou o aparecimento da Arte Digital e publicou o livro “Arte por Computador” em Paris (1975) e Estugarda (1978). Nesta obra incluíam-se importantes pioneiros nesta nova disciplina artística como, por exemplo, Csuri, Franke, Knowton, Molnar, Nake, Nees, Noll e Zajec. (LIESER, 2009, p.29).

Muitos textos em matérias de revistas foram produzidos ao longo do tempo para as massas, mas, somente em 2000, a partir da concepção da revista Artbyte: Digital Art & Culture (Figura 13) é que a Arte Digital foi veiculada de forma imponente

para o amplo público. Para Lieser (2009, p.27) “constituía uma prova da solidez com que este meio estava a impor”.

Fonte: Internet31

Outra grande revista, mundialmente reconhecida no que concerne à arte foi a ArtNews, que em abril de 2001 assentou a maturidade da Arte Digital. Nessa publicação foi exposta de forma precisa por Carly Berwick à produção digital em Nova York, cidade ícone das grandes produções artísticas contemporâneas. Posteriormente em fevereiro de 2008 a mesma ArtNews abordou a temática da Arte Digital ampliando a discussão sobre a realidade virtual presente no Second Life (Figura 14). Essas considerações sobre a arte digital certamente “dão um passo à frente no processo de consolidação da arte digital”. (LIESER, 2009, p.27).

31 Disponível em: http://www.eiu.org/orig/press/artbyte_files/artbyte00A.jpg.

FIGURA 13 - Artbyte Capa de revista

Fonte: Internet32

Como afirmado anteriormente é na década de 1970 que a arte no computador é disseminada mundialmente. Neste mesmo período aquilo que em sua gênese era produzido primordialmente por cientistas é abraçado por uma parcela de produtores de arte. Mas grande parte dos artistas possuíam restrições quanto a esse tipo de produção artística. Como tudo que diz respeito à arte e a natureza humana, existiam contradições. Para Lieser (2009, p. 28):

Durante muito tempo foi um dado negativo e provocado desprezo que um artista dissesse que os seus trabalhos tinham sido executados com a 77fonte de um computador. No início dos anos de 1970, Manfred Mohr, que apresentou em 1971, no Museu de Arte Moderna de Paris, a exposição Intitulada de “Une Esthétique Programmée”, a primeira mostra de arte gerada por um computador apresentada num museu, viveu uma má experiência quando durante uma conferencia na Sorbonne lhe atiraram tomates porque utilizava uma ferramenta de guerra capitalista. Numa época em que as drogas estavam na moda e florescia a arte psicodélica, a carga conceptual da arte por computador proposta por Manfred Mohr constituía uma provocação ao subjectivismo de outras direções artísticas.

32 Disponível em: http://www.aimeeweber.com/Prs/uploaded_images/ArtNewsCover.

FIGURA 14 – ArtNews, fevereiro, 2008.

No final dos anos 1960 e início dos anos 1970 que Harold Cohen desenvolveu algoritmos que permitiam ao computador pintar obras de arte. Seu programa, batizado de Aaron (Figura 15), controlava um pequeno braço robótico que, em um plotter, produzia desenhos que poderiam ser atribuídos aos homens.

Fonte: http://www.kurzweilcyberart.com/aaron/hi_essays.html

Foram essas técnicas de numerização da imagem que permitiram aos artistas realizar, pouco a pouco, imagens mais complexas, diferentes daquelas criadas pelos primeiros trabalhos em Arte Digital. (ARANTES, 2005, p.63).

O início das experiências mais elaboradas com pintura digital desenvolveu-se por Charles Csuri, nos Estados Unidos. Seu conhecimento na execução de obras de arte configurou-se numa importante respeitabilidade por seus trabalhos dentro do âmbito artístico. Uma de suas produções mais conhecidas é Sine Curve Man (Figura 15), um desenho modificado de um homem velho. Já as primeiras animações por computador são atribuídas a Michael Noll a partir de 1965 e o seu desenvolvimento a John Witney Senior, que tem por obra prima Arabesque33 (1975) realizada com o

patrocínio da empresa IBM. (LIESER, 2009).

33 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=s8oZ4KE8868

FIGURA 15 - Aaron

Foi também nos anos 1970 que Lilian Schwartz, artista plástica e videasta, realizou um dos primeiros filmes em computador. “Em Pixillation (1971)34, inventa uma técnica de edição que permite misturar as imagens calculadas pelo computador com as imagens animadas manualmente”. (ARANTES, 2005, p.64).

Fonte: http://dada.compart-bremen.de/item/artwork/96

A década de 1970 foi extremamente importante para o desenvolvimento da Arte Digital, dentro desse período temporal três direcionamentos básicos foram brotados: a arte como pintura digital, as animações digitais e os filmes em computador. Essas concepções darão origem a ramificações muito características no que comtempla a produção em ambiente virtual, ora fundindo-se ora desmembrando-se. Essa relação depende de uma série de fatores que consistem na própria produção em arte.

Nos anos seguintes de 1980 figura-se na facilitação do processo de desenvolvimento artístico digital. Com a disseminação de computadores pessoais com uma interface fácil de ser compreendida, como o Commodore C64 da IBM e o primeiro Macintosh produzido pela Apple, a acessibilidade ligada a esse sistema facilitador “introduziu uma inovação que permitiu que os artistas também pudessem experimentar”. (LIESER, 2009, p.32).

34 Disponível em: http://vdownload.eu/watch/9198375-lillian-schwartz-pixillation.html

FIGURA 16 -Charles Csuri, E.U.A., Sine Curve Man, 1967. Pintura Digital.

Outro direcionamento básico da Arte Digital se configura na década de 1980, o Software 3D (Figura 17). Foram os japoneses que deram o pontapé inicial para esse tipo de produção destacando Yochiro Kawaguchi e Yoshiyuki Abe. Lieser (2009) afirma que ambos desenvolveram trabalhos artísticos que tem como temática o crescimento e mutações, respectivamente, durante mais de duas décadas foram esses seus principais temas.

Fonte: Internet35

Apesar da popularização dos computadores na década de 1990 marcou-se na Arte Digital um período de transição. Com o surgimento da Word Wide Web em 1994 e a possibilidade de avanços tecnológicos o que se configuraria numa ampliação e ascensão da Arte Digital implicou-se num desdém por muitos. Para Lieser (2009, p. 35):

As instalações interactivas fracassavam nas exposições. Por outro lado o mercado artístico continuava fechado à maioria dos artistas desta nova tendência, e os preconceitos face a uma exposição que se afastava claramente da tradição enraizada determinavam a percepção que tanto o público como a crítica especializada tinham da arte por computador, como se denominava a arte digital naquela época.

35 Disponível em: https://design.osu.edu/carlson/history/tree/kawaguchi.html

FIGURA 17 - Yochiro Kawaguchi , Japão.

Mesmo assim muitos artistas se encantaram com as possibilidades que a “Word Wide Web” (www) poderia proporcionar. A partir de 1994 um grupo internacional precursor do que viria a ser chamada de “Net.art” composto por artistas de Vuc Cósic (Internet), Alexei Shulgin (Rússia), Olia Lialina (Rússia), Heath Bunting (Reino Unido) e jodi.org (países Baixos, Bélgica) vislumbraram a capacidade dessa nova plataforma. “Rapidamente os artistas se apoderaram desse meio e, de uma forma inovadora e crítica, analisaram as suas possibilidades, debilidades e características”. (LIESER, 2009, p.38).

Assim como a “teia” da Internet expandiu claramente na década de 2000 a Arte Digital conseguiu também se disseminar. A partir daí se fizeram importantes exposições dentro dessa temática.

No mesmo período nos Estados Unidos surgiram as primeiras galerias de arte comerciais dedicadas a Arte Digital. Na Alemanha em 2001 realizou-se a exposição “natürlichkünstlich” (Arte Virtual) recheada de trabalhos incluindo animações em 3D. Para Lieser (2009, p.42) “desde então pode ver-se regularmente arte digital em importantes feiras de arte”.

3.2 GÊNEROS DA ARTE DIGITAL: CARACTERÍSTICAS COMUNS NAS