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2 O ACESSO DE JOVENS COM DEFICIÊNCIA AO MERCADO

2.2 A dialética inclusão/ exclusão

Diante do exposto anteriormente, cabe uma indagação: o que significa incluir ou excluir? Utilizamos largamente esses termos, e, inúmeras vezes, empregamo-los erroneamente. Assim, explicitamos que, de acordo com o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (2010), incluir significa abranger, conter, envolver, pôr ou estar dentro, inserir em ou fazer parte de um grupo. Excluir corresponde a pôr fora; pôr de parte; não incluir, tirar, não admitir, privar da posse de alguma coisa, não deixar tomar parte.

Etimologicamente, a palavra excluir vem do Latim excludere que significa tomar algo ou alguém de um conjunto, deixar de fora, rejeitar. O prefixo ex significa o movimento de saída do interior para fora, e o verbo claudere corresponde a trancar, fechar. A palavra incluir vem do latim includere que quer dizer fechar em, inserir, rodear. O prefixo in significa em, dentro.

Explicitado o significado e a etimologia destes termos, destacamos que neste tópico discorreremos sobre a inclusão e a exclusão enquanto processo dialético inserido

na sociabilidade do capital. Ao abordar a inclusão no modo de produção capitalista, Bertini afirma se tratar de uma inclusão perversa, envolta por mecanismos de alienação de um sistema que, paradoxalmente, inclui para excluir.

A maneira de o sistema capitalista incluir faz parte dos mesmos mecanismos de reproduzir e sustentar a servidão, a passividade, a miséria e, principalmente, a alienação do trabalhador. Essa máscara da inclusão (...) provém da produção de ideias imaginativas, feitas pelo próprio sistema nos indivíduos. Eles passam a perceber que as apropriações materiais ou simbólicas os levam a “fazer parte” do todo, finalmente correspondendo adequadamente ao que a sociedade cria a cada instante. Esse sistema inclui para excluir, ou seja, para manter os homens na dependência de um estado de coisas que não diz respeito à sua própria liberdade e potência (...). (BERTINI, 2014, p. 61).

Nesta direção, Rocha, Luiz, & Zulian (2003) declaram que a dialética exclusão/ inclusão gera um sofrimento, situado nos conflitos característicos de uma sociedade marcada pela luta de classes, que produz manifestações emocionais, preconceitos ou medo do desconhecido. “A dialética inclusão/ exclusão gesta subjetividades específicas que vão desde o sentir-se incluído até o sentir-se discriminado ou revoltado”. (Sawaia, 2000, p. 09). Tal processo é compreendido como sendo dialético, na medida em que altera a imagem do indivíduo na coletividade e vice-versa.

Sawaia ao se referir ao sofrimento elencado acima, denomina-o como ético- político, e, ao abordar sobre a exclusão gerada nas relações, defende que “o excluído não está à margem da sociedade, mas repõe e sustenta a ordem social, sofrendo muito neste processo de inclusão social (...)” (2000, p. 09).

Seria possível haver inclusão no sistema capitalista, cuja exclusão é intrínseca a sua reprodução? Como promover inclusão social de segmentos historicamente alijados como as pessoas com deficiência? Sassaki (1997, p. 41) afirma que a inclusão social corresponde ao

o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos.

Faz-se necessário ressaltar que a inclusão e ou a exclusão de PcD foi e é reforçada pelos modelos de deficiência que se construíram no decorrer do tempo. Todavia, Sassaki (1997, p. 47) considera que o Modelo Social da Deficiência é o pano de fundo do processo de inclusão. Este autor defende que “para incluir todas as pessoas, a

sociedade deve ser modificada a partir do entendimento de que ela é que precisa ser capaz de atender às necessidades de seus membros [e não o contrário]” (grifo nosso).

A inclusão social, na nossa concepção, é entendida como um processo que contribui para a construção de uma nova sociedade, por meio de modificações na mentalidade e nos comportamentos das pessoas e através das adaptações nos ambientes físicos (espaços, equipamentos, mobiliário, meios de transporte), entre outros.

Ao discorrer acerca da exclusão, Sawaia (2000, p.07) afirma se tratar de um “conceito que permite usos retóricos de diferentes qualidades, desde a concepção de desigualdade como resultante de deficiência ou inadaptação individual, falta de qualquer coisa (...), até a de injustiça e exploração social”.

Salientamos que o conceito de exclusão remete a René Lenoir, na década de 1974, cuja ideia advém do pensamento liberal, contudo, sua conceituação é inovadora na medida em que busca compreender a exclusão como um fenômeno de âmbito social e não individual. Esta noção se trata de um conceito dinâmico e não estático, que foi se modificando ao longo do tempo. Ela deve ser apreendida considerando, portanto, o tempo e o espaço em que está inserida e não de maneira aleatória. A autora supramencionada se refere à exclusão como algo multifacetado e complexo, com dimensões políticas, materiais, subjetivas e relacionais. Sobre isso, temos que

É processo sutil e dialético, pois só existe em relação à inclusão como parte constitutiva dela. Não é uma coisa ou um estado, é um processo que envolve o homem por inteiro e suas relações com os outros. Não tem uma única forma e não é uma falha do sistema, devendo ser combatida como algo que perturba a ordem social, ao contrário, ele é produto do funcionamento do sistema. (SAWAIA, 2000, p. 09).

A autora supramencionada pontua que a exclusão social não atinge apenas os países pobres, mas está presente nas diversas sociedades, atingindo as mais variadas camadas sociais. Assim,

(...) ela sinaliza o destino excludente de parcelas majoritárias da população mundial, seja pelas restrições impostas pelas transformações do mundo do trabalho seja por situações decorrentes de modelos e estruturas econômicas que geram desigualdades absurdas de qualidade de vida (ibid., p. 16).

Ao considerar as causas da exclusão, destacam-se alguns fatores, como “o rápido e desordenado processo de urbanização, a inadaptação e uniformização do sistema escolar, o desenraizamento causado pela mobilidade profissional, as desigualdades de renda e de acesso aos serviços” (SAWAIA, 2000. p. 16).

Reiteramos que a exclusão é um fenômeno que atinge uma variedade de sujeitos, dentre eles, PcD e jovens, conforme verificamos abaixo

Muitas situações são descritas como de exclusão, que representam as mais variadas formas e sentidos advindos da relação inclusão/exclusão. Sob esse rótulo estão contidos inúmeros processos e categorias, uma série de manifestações que aparecem como fraturas e rupturas do vínculo social (pessoas idosas, deficientes, desadaptados sociais; minorias étnicas ou de cor; desempregados de longa duração, jovens impossibilitados de ascender ao mercado de trabalho; etc.) (ibid., p. 17).

Ao abordar a exclusão, a autora supramencionada defende que além da exclusão que conhecemos no que concerne aos segregados material, física ou geograficamente, há uma exclusão do mercado, de suas trocas e de suas riquezas espirituais, nas quais seus valores são desprezados, havendo, portanto, além de uma exclusão social e econômica, uma exclusão cultural presente em nossa sociabilidade.

A mesma autora pondera que, a partir da década de 1990, acentua-se a exclusão de alguns grupos sociais, envolta por uma nova concepção de pobreza e de precariedade. Os segmentos excluídos não vivenciariam a situação de exclusão como algo temporário, mas como algo estrutural que se agrava na sociedade moderna, ao passo que estes não são absorvidos pelo mercado. Neste período em que o Brasil adere ao ideário neoliberal, a pobreza se acentua e reproduz os

(...) desempregados de longa duração que vão sendo expulsos do mercado produtivo e os jovens que não conseguem nele entrar, impedidos do acesso ao “primeiro emprego”. Ou seja, são camadas da população consideradas aptas ao trabalho e adaptadas à sociedade moderna, porém, vítimas da conjuntura econômica e da crise de emprego. Assim, os excluídos na terminologia dos anos 90, não são residuais nem temporários, mas contingentes populacionais crescentes que não encontram lugar no mercado. (ibid., p. 19).

Nesta compreensão, a noção atual de exclusão diverge da concepção anterior relacionada à segregação e à discriminação, pois “tende a criar, internacionalmente, indivíduos inteiramente desnecessários ao universo produtivo, para os quais parece não haver mais possibilidades de inserção. Poder-se-ia dizer que os novos excluídos são seres descartáveis” (ibid., p.25).

Concluímos este eixo, evidenciando como grupos passíveis de serem descartáveis, os jovens com deficiência, os quais encontram entraves para acessar o mercado do trabalho, endossando os excluídos atingidos pelo desemprego. Ao destaca- los, pontuamos que, no Brasil, a desigualdade e a concentração de renda convivem com

os efeitos do desemprego estrutural que atinge os incluídos e os excluídos em graus distintos, de modo que “se, de um lado, cresce cada vez mais a distância entre os ‘excluídos’ e os ‘incluídos’, de outro, essa distância nunca foi tão pequena, uma vez que os incluídos estão ameaçados de perder direitos adquiridos” (SAWAIA, 2000. p. 25).

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