• Nenhum resultado encontrado

Diferenças entre os Cromititos de Mumbuca e Petúnia: Estruturas, Mineralogia e

7. QUÍMICA MINERAL DOS CROMITITOS

8.3. Diferenças entre os Cromititos de Mumbuca e Petúnia: Estruturas, Mineralogia e

Os cromititos de Mumbuca e Petúnia apresentam diferenças relacionadas às suas estruturas predominantes, assim como à sua composição em termos mineralógicos (especialmente dos minerais da matriz) e à composição química. As diferenças da composição química da cromita entre os dois cromititos refletem condições particulares de formação da cromita e, consequentemente, ambientes tectono-magmáticos e/ou histórias pós-magmáticas diferentes para esses cromititos.

Os cromititos de Mumbuca exibem um predomínio da estrutura schlieren que, microscopicamente, é definida pela alternância de bandas compostas exclusivamente por cromita com bandas onde o teor desse mineral é mais baixo e predomina a matriz. Nos domínios maciços a variação do tamanho dos cristais de cromita é inequigranular seriada. Cromita geralmente é idiomórfica a subidiomórfica e apresenta aparência homogênea; localmente pode conter inclusões de tamanho reduzido.

Em relação à matriz, os cromititos de Mumbuca apresentam predomínio de clorita, provavelmente clinocloro, incolor a levemente pleocróica. Serpentina geralmente é subordinada à clorita na matriz. O rutilo, em cristais idiomórficos amarelos, pode ocorrer nestes cromititos, porém numa proporção menor que nos cromititos de Petúnia. Análises semi-quantitativas (EDS) realizadas em inclusões da cromita permitiram identificar a possível existência de minerais PGE (minerais do grupo da platina), possivelmente anduoita, um arseneto de Ru reportado na literatura como fase inclusa em cromitas de depósitos de cromo.

A composição química da cromita dos cromititos de Mumbuca mostra que esse mineral apresenta conteúdos maiores de Al em relação aos cromititos de Petúnia, relacionados à reação entre cromita cumulática e o liquido intercumulus; maiores conteúdos de Fe3+, que

refletem ambientes de formação mais próximos à superfície, onde fO2 é mais variável e

geralmente maior; maiores teores de Ti, como consequência do aumento deste elemento junto com a razão Fe/Mg no fundido, durante o processo de cristalização fracionada; e

91

baixas razões Fe2+/Mg, já que a cromita concentrada em camadas tem interação limitada ou

nula com o fundido durante o processo de cristalização fracionada, preservando composições próximas à da cromita liquidus primária. A distribuição das análises dos cromititos de Mumbuca no diagrama ternário dos cátions trivalentes,desde a base em direção ao vértice de Fe3+, a relação positiva entre Ti e Fe3+/(Fe3++Cr+Al), e a relação

levemente negativa entre Fe2+/(Fe2++Mg) e Cr/(Cr+Al) (e também Cr/(Fe3++Cr+Al))

configuram a tendência Fe-Ti de Barnes e Roeder (2001), predominante para estes cromititos. A distribuição das análises da cromita dos cromititos de Mumbuca também configura a tendência tipo Rum, já que no diagrama ternário de cátions trivalentes tal distribuição amplia progressivamente o intervalo das análises entre os vértices Cr e Al, partindo desde a base do diagrama em direção ao vértice de Fe3+ (fig. 34). Adicionalmente,

a ampla variação da razão Al/(Fe3++Cr+Al) e a relação positiva entre esta e a razão

Fe2+/(Fe2++Mg) definem também a tendência tipo Rum.

A concordância da distribuição das análises da cromita de Mumbuca com as tendências Ti- Fe, predominante, e de tipo Rum, menos acentuada, é coerente com a ocorrência destas análises dentro dos campos composicionais definidos para cromititos de complexos estratiformes (Figura 41). A correspondência bastante razoável das análises da cromita dos cromititos de Mumbuca com os contornos definidos para cromititos de complexos estratiformes é ratificada nos diagramas de ambientação tectono-magmática generalizada de Baumgartner et al (2013 - Figuras 40a e b), onde as análises se posicionam no campo composicional dos cromititos estratiformes. Perfis composicionais feitos em grãos maiores, com contornos idiomórficos, dos cromititos de Mumbuca mostram a ausência de ferricromita, sugerindo que a composição da cromita é preservada, hipótese que encontra sustentação no aspecto homogêneo dos grãos, tanto ao microscópio óptico de luz refletida, como nas imagens de elétrons retroespalhados obtidas por MEV.

Os cromititos de Petúnia apresentam predomínio de estrutura lenticular, que microscopicamente é definida por domínios maciços com formas lenticulares que configuram bandas ou faixas de cromita com espessura maior, e que podem estar mais ou menos espaçadas. Nos domínios maciços os cristais de cromita apresentam-se com um empacotamento denso e uma variação de tamanho bimodal, onde os cristais menores são interpretados como produto da cominuição por recristalização dinâmica. Os cristais maiores de cromita geralmente são poiquilíticos idiomórficos a subidiomórficos, localmente xenomórficos com contornos arredondados, enquanto os cristais menores são xenomórficos a idiomórficos. A maioria das inclusões nos grãos de cromita maiores corresponde a

92

cavidades deixadas pelos minerais que estavam inclusos, raramente preservados nestas amostras.

A matriz dos cromititos de Petúnia apresenta predomínio de talco, que ocorre comumente em agregados aleatórios; subordinadamente ocorrem ainda antofilita e serpentina. O rutilo está associado aos domínios maciços dos cromititos, ocorrendo com proporções maiores em relação aos cromititos de Mumbuca. Pode ocorrer quartzo na matriz, mas comumente em proporção baixa.

As análises de química mineral mostram que a cromita dos cromititos de Petúnia apresenta conteúdos maiores de Cr, em relação aos cromititos de Mumbuca. O maior conteúdo de Cr dos cromititos de Petúnia e a tendência em direção a Al2O3 das análises na base do

diagrama ternário de cátions trivalentes concordam com as considerações de Evans e Frost (1975) para espinélios afetados por metamorfismo progressivo. A tendência em direção a Al2O3 no diagrama ternário de cátions trivalentes, descrita acima, é evidenciada na ampla

variação da razão Cr/(Cr+Al) para os cromititos de Petúnia (fig. 34c). Os valores da razão Fe2+/(Fe2++Mg) para estes cromititos ocorrem num intervalo restrito, próximo a 1,

representando conteúdos maiores de Fe2+ em relação a Mg. As análises com Fe3+=0 e alto

conteúdo de Ti representam a eventual substituição de Ti por Fe no retículo cristalino da cromita.

As características petrográficas dos cromititos de Petúnia são coerentes com as características composicionais destes cromititos que, para Evans e Frost (1975) seriam relacionadas ao metamorfismo progressivo do Cr-espinélio, fato que encontra sustentação na concordância razoável das análises de Petúnia com os campos composicionais de espinélios de rochas metamórficas de alto grau apresentados por Barnes e Roeder (2001). É provável que os efeitos do metamorfismo de alto grau nos cromititos de Petúnia sejam responsáveis pela não concordância das análises destes cromititos com os campos definidos para os dois principais tipos de cromititos - estratiformes e podiformes. Os perfis composicionais realizados em grãos maiores dos cromititos de Petúnia constatam a ausência de ferricromita, como ocorre com os cromititos de Mumbuca.