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CAPÍTULO 1 – A COMUNIDADE DE PLÂNTULAS DE UM FRAGMENTO DE FLORESTA

3.2. Diferenças na estrutura, riqueza e diversidade nos dois ambientes: borda e interior

Dos 6.134 indivíduos amostrados no banco de plântula, 2.236 estavam nas parcelas da borda e 3.898 nas parcelas do interior do remanescente florestal. Assim como o número de espécies (respectivamente 81 e 102 para as parcelas da borda e interior), os valores do índice de diversidade de Shannon (H’) e de eqüidade (J) foram superiores para a comunidade de plântulas do interior do remanescente (Tabela 2).

Porém o número de indivíduos da borda e do interior não diferiu significativamente pelo teste de Mann-Whitney (p>0,05). Os valores estimados de número de indivíduos.ha-1 (densidade absoluta) corresponderam a 243.625 (± 142.945) para o interior do remanescente e 139.750 (± 90.307) para a borda, sendo os valores contidos entre parênteses referentes ao intervalo de confiança dos valores estimados (α = 0,05). Ambos os valores de intervalo de confiança foram consideravelmente elevados e ocasionados pela grande variância no número de indivíduos entre as parcelas.

Para a riqueza específica, a curva de acúmulo médio de espécies demonstra que a partir de aproximadamente 1.300 indivíduos amostrados o interior passa a ter um número significativamente maior de espécies. Esta diferença se acentua ainda mais à medida que o número de indivíduos aumenta (Figura 7).

Tabela 2. Síntese dos parâmetros gerais de estrutura e diversidade da comunidade de plântulas de trechos de Floresta Estacional Semidecidual, Fazenda Santa Terezinha, Bofete, São Paulo.

Parâmetros Borda Interior Geral

Nº de indivíduos 2.236 3.898 6.134 Densidade1 (Nº ind.ha-1) 243.625 139.750 191.688 Nº espécies 82 102 118 Nº gêneros 62 78 83 Nº famílias 32 40 41 Nº espécies exclusivas 16 37 652 Nº espécies com 1 indivíduo (%) 17 (20,98) 18 (17,68%) 19 (16,10%)

Diversidade H’ (nat.ind.-1) 2,174 2,308 2,349 Eqüidade (J) 0,495 0,499 0,492

1

Estimativa

2

Número de espécies comuns às duas áreas

Curva de acúmulo médio de espécies

0 20 40 60 80 100 120 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 Nº de indivíduos am ostrados R iq u ez a ( n º d e esp écies) Borda Interior

Figura 7. Curva de acúmulo médio de espécies (1.000 interações) com os intervalos de confiança (barras verticais) para os ambientes de amostragem da comunidade de plântulas, Fazenda Santa Terezinha, Bofete, São Paulo.

A comunidade de plântulas apresentou como famílias mais ricas, em ordem decrescente de número de espécies, Myrtaceae (20 espécies), Fabaceae (14), Rubiaceae (13) e Lauraceae (7). Estas quatro famílias juntas representaram 45,76% do total de espécies amostradas. Quando analisadas separadamente, borda e interior do

remanescente apresentaram também essas quatro famílias como as mais ricas. Na borda Myrtaceae (10), Fabaceae (8), Rubiaceae (8) e Lauraceae (6) representaram 39,52% do total de espécies e no interior Myrtaceae (17 espécies), Fabaceae (14), Rubiaceae (11) e Lauraceae (6) corresponderam a 47,52% do total de espécies amostradas.

Tanto na borda como no interior, Protium spruceanum apresentou valores de densidade bem superiores aos das demais espécies. Respectivamente na borda e no interior do remanescente, do total de indivíduos, 1.327 (59,34%) e 2.155 (55,28%) eram de P. spruceanum. Em algumas parcelas ocorriam aglomerados de plântulas com indivíduos apenas desta espécie (Figura 8).

Os dados de P. spruceanum proporcionaram ainda a família Burseraceae os maiores valores de densidade relativa nos dois ambientes (borda e interior). Para o parâmetro de densidade relativa, Burseraceae é seguida de Euphorbiaceae, Fabaceae e Rubiaceae na borda e Myrtaceae, Celastraceae e Rubiaceae no interior.

Quanto ao parâmetro freqüência relativa para espécies, os “indeterminados” apresentaram os maiores valores, tanto na borda quanto no interior do remanescente. Ressalta-se que o grupo denominado “indeterminados” agrupou todos os indivíduos em que não foi possível a separação em morfo-espécies. Na borda, Tabernaemontana catharinensis e Rapanea cf. umbellata, ambas iniciais na sucessão ecológica, aparecem também como as mais freqüentes. Já para as famílias, Myrtaceae e Rubiaceae, com várias espécies características do sub-bosque florestal, além de Fabaceae, ocorreram em todas as parcelas de amostragem e apresentaram os maiores valores de freqüência relativa nas parcelas instaladas no interior. Myrsinaceae, Sapindaceae e Rubiaceae, também com representantes em todas as parcelas, foram as mais freqüentes na borda do remanescente florestal.

Figura 8. Plântulas de Protium spruceanum em parcela de amostragem no interior de remanescente de Floresta Estacional Semidecidual, Fazenda Santa Terezinha, Bofete, São Paulo.

Com relação ao número de indivíduos, as 10 espécies de maior densidade relativa na borda e no interior do remanescente florestal representaram respectivamente 77,86% e 79,01% do número total de indivíduos amostrados. Na borda 17 espécies (20,98%) foram amostradas com apenas um indivíduo e no interior 18 espécies (17,64%) tiveram um único indivíduo como representante. No geral, sem a distinção entre borda e interior, a amostragem apresentou 19 espécies (16,10%) com apenas um indivíduo. Do total de espécies amostradas na comunidade de plântulas, 65 espécies foram comuns a borda e ao interior, 16 espécies foram exclusivas da borda e 37 exclusivas do interior do remanescente. Das espécies exclusivas oito na borda e 10 no interior foram amostradas por um único indivíduo.

Quando analisadas de forma conjunta, das 10 espécies de maior densidade na comunidade de plântulas, apenas três (Protium spruceanum, Palicourea marcgravii, e

“indeterminados”) são comuns às áreas de borda e interior, exceção (Tabela 3). Os demais parâmetros obtidos para as plântulas (borda, interior e os dois juntos) podem ser vistos respectivamente nos anexos 1.2, 1.3 e 1.4.

Tabela 3. Dez espécies de maior densidade, listadas em ordem decrescente, em levantamento da comunidade de plântulas de remanescente de Floresta Estacional Semidecidual, Fazenda SantaTerezinha, Bofete, São Paulo.

Borda Interior Geral (borda e interior)

Protium spruceanum Protium spruceanum Protium spruceanum Croton floribundus Maytenus salicifolia Maytenus salicifolia

Palicourea marcgravii Eugenia ligustrina Eugenia ligustrina

Tapirira guianensis Palicourea marcgravii Palicourea marcgravii

Indeterminada Matayba elaeagnoides Croton floribundus

Tabernaemontana catharinensis Indeterminada Indeterminada

Dalbergia frutescens Myrcia fallax Matayba elaeagnoides Psychotria vellosiana Rapanea cf. umbellata Myrcia fallax

Copaifera langsdorffii Esenbeckia febrifuga Rapanea cf. umbellata Trichilia pallida Roupala brasiliensis Tapirira guianensis

3.3.Classificação sucessional e nos grupos de plantio

A classe sucessional não pioneiras (secundárias tardias/clímax), com 52 espécies (44,07%), foi a classe mais encontrada na comunidade de plântulas, seguida das pioneiras (pioneiras e secundárias iniciais) com 35 espécies (29,66%). Do total, 31 espécies (26,27%) não foram caracterizadas por falta de dados na literatura ou ainda por serem características e/ou exclusivas de formações paludosas, onde esta classificação talvez não se justifique.

Tanto para a borda quanto para o interior do remanescente, a distribuição das espécies nas classes sucessionais manteve a ordenação acima. Na borda, as não pioneiras com 32 espécies, representaram 39,51% do total de espécies, enquanto que no interior o número de espécies não pioneiras foi de 47 espécies (46,08%). As pioneiras representaram respectivamente na borda e no interior 27 (33,33%) e 33 espécies (32,35%). Já as não caracterizadas apresentaram em ambas as áreas 22 espécies, o que corresponde a 27,16% do total de espécies da borda e 21,57% do total de espécies do interior.

Considerando não mais o número de espécies, mas o número de indivíduos, a comunidade de plântulas apresentou 1.163 indivíduos não pioneiros (18,96%), 916 pioneiros (14,93%) e 4.055 não caracterizados (66,11%). O elevado número de indivíduos não caracterizados se deve ao fato de Protium spruceanum, espécie de maior densidade relativa na área, ser típica de formações paludosas, não se enquadrando, portanto na classificação sucessional proposta.

Analisadas separadamente, borda e interior apresentaram padrões distintos de distribuição dos indivíduos entre as classes sucessionais. As não caracterizadas foram as mais representativas com 1.551 (68,37%) e 2.504 (64,25%) indivíduos respectivamente na borda e no interior. Entretanto, enquanto na borda as pioneiras foram após as não caracterizadas, a classe mais representativa com 429 (19,18%) plântulas, no interior as pioneiras foram a classe de menor freqüência, com 487 (12,49%) indivíduos. Já as não pioneiras no interior correspondem a 907 (23,26%) indivíduos, contra apenas 256 (11,45%) dos indivíduos na borda.

Tanto na comunidade de plântulas de uma forma geral, como para as áreas de borda e interior, o grupo de plantio de diversidade foi o mais freqüente entre indivíduos e espécies amostradas. O grupo diversidade foi representado respectivamente na borda e no interior por 71 e 91 espécies, contra apenas oito e 10 espécies de preenchimento. Duas espécies na borda e uma no interior não foram caracterizadas. Quanto ao número de indivíduos, borda e interior têm respectivamente 1.919 e 3.691 plântulas do grupo de diversidade, contra apenas 267 e 132 indivíduos de preenchimento. Cinqüenta na borda e 75 indivíduos no interior não foram caracterizados.