Nesta se¸c˜ao veremos o conceito de diferente juntamente com suas principais propriedades. Para isso, sejam A um dom´ınio de Dedekind, K seu corpo de fra¸c˜oes, L uma extens˜ao separ´avel de K de grau n, OL o anel de inteiros de L sobre A e O∗L o codiferente de OL. Defini¸c˜ao 3.2.1 O ideal de OL igual ao inverso do ideal fracion´ario OL∗ ´e chamado di- ferente de OL sobre A (ou de L sobre K) e denotado por ∆(OL|A) (ou ∆(L|K)). Em particular, se K = Q, o diferente de OL sobre Z ´e chamado de diferente absoluto.
Observa¸c˜ao 3.2.1 Como OL ⊆ O∗
L segue que ∆(OL|A) ´e um ideal inteiro de OL. Sendo
OL um dom´ınio de Dedekind, pelo Teorema (1.5.2) temos que ∆(OL|A) pode ser escrito de modo ´unico como ∆(OL|A) =
g Y i=1 psi i , onde p 0
is s˜ao ideais primos de OL e si ≥ 0 s˜ao inteiros,
Proposi¸c˜ao 3.2.1 Se L = K[α], onde α ∈ OL e se g(x) ∈ A[x] ´e o polinˆomio minimal de α sobre K, ent˜ao ∆(OL|A) = OLg
0
(α) se, e somente se, OL = A[α].
Demonstra¸c˜ao: Se OL = A[α], temos pelo Teorema (3.1.2), que OL∗ = 1
g0(α)OL. As- sim ∆(OL|A) = (O∗
L) −1 = 1 g0(α)OL −1
= g0(α)OL. Reciprocamente, se z ∈ OL, ent˜ao, existe um polinˆomio h(x) ∈ K[x], de grau menor que n = [L : K], tal que z = h(α). Na demonstra¸c˜ao do Teorema (3.1.1), vimos que
1 = n X k=1 g(x) g0 (αk)(x − αk) = n X k=1 Y i6=k x − αi αk− αi ,
onde α = α1, . . . , αn, s˜ao os conjugados de α sobre K. O polinˆomio h1(x) = n X k=1 h(αk) Y i6=k x − αi αk− αi
tem grau menor que n e h1(αj) = n X k=1 h(αk) Y i6=k αj− αi αk− αi
= h(αj), pois se k 6= j temos que
Y
i6=k
αj − αi
αk− αi
= 0. Assim, h(x) = h1(x), pois o polinˆomio h(x) − h1(x) tem n ra´ızes. Mas,
T rL|K zg(x) g0(α)(x − α) = T rL|K zY i6=k x − αi α − αi ! = n X k=1 h(αk) Y i6=k x − αi αk− αi = h(x). Como os coeficientes de g(x)
x − α pertencem a L e s˜ao inteiros sobre A, segue que g(x) x − α ∈ OL[x], e como z g0(α) ∈ OL ∗ segue que h(x) = T rL|K zg(x) g0(αk)(x − α) ∈ A[x]. Assim, z = h(α) ∈ A[α], e portanto, OL = A[α].
Exemplo 3.2.1 Sejam A = Z, K = Q e L = Q(√2). Pelo Exemplo (3.1.1) temos que OL∗ = 2√1
2OL. Assim, ∆(OL|Z) = (OL ∗
)−1 = 2√2Z[√2].
Exemplo 3.2.2 Sejam A = Z, K = Q e L = Q(ξ3), onde ξ3 ´e raiz c´ubica da unidade. O
polinˆomio minimal de ξ3 ´e g(x) = x2+ x + 1. Pela Proposi¸c˜ao (3.2.1) temos que ∆(OL|Z) =
g0(ξ3)OL = (2ξ3+ 1)Z[ξ3].
Observa¸c˜ao 3.2.2
1. Para corpos quadr´aticos L = Q(√d), com d livre de quadrados, temos:
• Se d ≡ 2(mod 4) ou d ≡ 3(mod 4), pelo Teorema (2.1.1), temos que OL = Z[√d] e pela Proposi¸c˜ao (3.2.1) temos que ∆(OL|Z) = Z[√d]g0(√d), onde g(x) ´e o polinˆomio minimal de √d sobre Q.
• Se d ≡ 1(mod 4), pelo Teorema (2.1.1), temos que OL = Z[1+√d
2 ] e pela Proposi¸c˜ao
(3.2.1) temos que ∆(OL|Z) = Z[1+
√ d 2 ]g 0 (1+ √ d
2 ), onde g(x) ´e o polinˆomio minimal
de 1+
√ d
2 sobre Q.
2. Se ξm ´e uma raiz m-´esima primitiva da unidade, ent˜ao pela Proposi¸c˜ao (3.2.1) temos
que ∆(OL|Z) = Z[ξm]g(ξm), onde g(x) ´e o polinˆomio minimal de ξm sobre Q.
Exemplo 3.2.3 Seja L = Q(√5) = Q(1+
√ 5
2 ). Pela Observa¸c˜ao (3.2.2), ∆(OL|Z) =
Z[1+ √ 5 2 ]g 0 (1+ √ 5
2 ), onde g(x) ´e o polinˆomio minimal de 1+√5
2 sobre Q. Fazendo as contas
obtemos ∆(OL|Z) = Z[1+ √ 5 5 ] √ 5.
Proposi¸c˜ao 3.2.2 Seja B um ideal fracion´ario de OL. Ent˜ao T rL|K(B) ⊆ A se, e somente se, B ⊆ OL∗ = ∆(OL|A)−1.
Demonstra¸c˜ao: Se B ⊂ OL∗ ent˜ao T rL|K(B) ⊆ A. Por outro lado, se x ∈ OL e y ∈ B, temos que xy ∈ OLB = B. Como T rL|K(B) ⊆ A, segue T rL|K(xy) ∈ A. Portanto, B ⊂ O∗
L.
Lema 3.2.1 Sejam A, B ideais fracion´arios de L. Se para todo M ideal fracion´ario de L tem-se que M ⊆ A se, e somente se, M ⊆ B, ent˜ao A = B.
Demonstra¸c˜ao: Se x ∈ A ent˜ao M = hxi ⊂ A. Assim, M ⊂ B, ou seja, x ∈ B. Logo, A ⊆ B. De modo an´alogo, temos que B ⊆ A. Portanto, A = B.
Proposi¸c˜ao 3.2.3 Seja N uma extens˜ao separ´avel de L de grau finito. Se ON e OL e A s˜ao os an´eis de inteiros de N, L e K, respectivamenete, ent˜ao
∆(ON|A) = ON∆(OL|A)∆(ON|OL).
Demonstra¸c˜ao: Seja M um ideal fracion´ario de ON tal que M ⊆ ∆(ON|OL)−1. Pela Proposi¸c˜ao (3.2.2), temos que T rN|L(M) ⊆ OL. Assim,
∆(OL|A)−1 ⊇ ∆(OL|A)−1T rN|L(M). Como M = MON segue que ∆(OL|A)−1 ⊇ T r
N|L(ON∆(OL|A)
−1M). Temos tamb´em que
A ⊇ T rL|K(∆(OL|A)−1) ⊇ T rL|K(T rN|L(ON∆(OL|A)−1)M) = T rN|K(ON∆(OL|A)−1M). Novamente, pela Proposi¸c˜ao (3.2.2), temos que
ON∆(OL|A)−1M ⊆ ∆(ON|A)−1 e que M ⊆ TN|K(∆(OL|A)∆(ON|A)−1). Pelo Lema (3.2.1) segue que ∆(ON|OL)−1 = ON∆(OL|A)∆(ON|A)−1. Portanto,
Defini¸c˜ao 3.2.2 Sejam K um corpo de n´umeros, L uma extens˜ao finita de K de grau n, e OK e OL os an´eis de inteiros de K e L, respectivamente. Sejam p um ideal primo de OK, S = OK− p, O0 K = S −1O K e O 0 L = S −1O L. O diferente ∆(O 0 L|O 0 K) ´e chamado de diferente
de L|K sobre p e ´e denotado por ∆p(L|K).
Proposi¸c˜ao 3.2.4 Com as nota¸c˜oes da Defini¸c˜ao (3.2.2), temos que OL0∆(OL|OK) = ∆(O0L|O0K). Demonstra¸c˜ao: Se x ∈ O0
L∆(OL|OK) ent˜ao x ´e da forma
y
s, com y ∈ ∆(OL|OK) e s ∈ S. Seja z ∈ (OL0)∗, onde (O0L)∗ ´e o codiferente do OK0 -m´odulo O0L. Assim, T rL|K(zO0L) ⊂ OK0 . Sendo OL um OK-m´odulo finitamente gerado, ent˜ao considere {t1, . . . , tm} um sistema de
geradores. Seja T rL|K(zti) =
ai
si
, com ai ∈ OK e si ∈ S. Se s0 = s1. . . sm ∈ S ent˜ao
T rL|K(zs0ti) = s0T rL|K(zti) ∈ OK,
para i = 1, 2, . . . , n. Assim, T rL|K(zs0OL) ⊆ OK e portanto zs0 ∈ OL∗, isto ´e, yzs0 ∈ OL, pois
y ∈ ∆(OL|OK). Logo, xz = yz s = yzs0 ss0 ∈ O0L o que implica que x ∈ ∆(O0
L|A 0 ). Assim, O0 L∆(OL|OK) ⊆ ∆(O 0 L|O 0
K). Por outro lado, seja
x ∈ ∆(O0L|O0K). Sendo O∗L um ideal fracion´ario de OL, segue que O∗L ´e um OK-m´odulo finitamente gerado. Seja {z1, . . . , zm} um sistema de geradores do OK-m´odulo O
∗
L. Temos
que T rL|K(ziOL) ⊆ OK, para i = 1, . . . , n. Como S ⊆ K, segue que T rL|K(ziO
0 L) ⊆ O 0 K, ou seja, zi ∈ (O 0 L) ∗. Assim, xzi ∈ O 0 L, ou seja xzi = bi si com bi ∈ L e si ∈ S.
Se s = s1. . . sm ∈ S, ent˜ao sxzi ∈ OL, para todo i = 1, . . . , m e assim sxO ∗
L ⊆ OL.
Portanto sx ∈ ∆(OL|OK) e x ∈ O0L∆(OL|OK). Logo, ∆(O0L|O0K) ⊆ O0L∆(OL|OK). Portanto, OL0∆(OL|OK) = ∆(O0L|O0K).
Lema 3.2.2 Sejam p um ideal primo n˜ao nulo de OK, S = OK − p, OK0 = S−1OK e OL0 = S−1OL. Se {x01, . . . , x0n} ´e uma base do O0K-m´odulo O0L ent˜ao O0KDL|K(x01, . . . , x0n) = O0
KN (∆(OL|OK)).
Demonstra¸c˜ao: Pelo Teorema (1.7.1) temos que O0
L ´e um dom´ınio de Dedekind. Pela
Proposi¸c˜ao (1.7.2), temos que OL0 tem somente um n´umero finito de ideais primos e pela Proposi¸c˜ao (2.3.4) temos que O0L´e um dom´ınio de ideais principais. Se (O0L)∗ ´e o codiferente
do O0K-m´odulo O0L livre temos que (OL0)∗ ´e um ideal fracion´ario de OL0. Logo, existe y ∈ L, y 6= 0, tal que (OL0)∗ = OL0y. Assim, pela Proposi¸c˜ao (3.2.4), temos que
O0Ly−1 = ∆(OL0|O0K) = O0L∆(OL|OK).
Se {x01, . . . , x0n} ´e uma base de O0K-m´odulo OL0 ent˜ao {yx01, . . . , yx0n} ´e uma base de (O0L)∗. Pela Proposi¸c˜ao (3.1.2), temos que (O0
L)
∗ tem uma base complementar {(x0
1)
∗, . . . , (x0
n) ∗}
sobre OK0 . Pela Proposi¸c˜ao (1.1.2) e pelo Lema (1.4.2), temos que DL/K((x01)∗, . . . , (x0n)∗) = D(O L 0 )∗/O0 K ((x01)∗, . . . , (x0n)∗) e DL/K(yx01, . . . , yx0n) = D((O0 L) ∗/O0 K)
(y(x01)∗, . . . , y(x0n)∗) s˜ao elementos associados de OK0 . Mas
DL/K(x01, . . . , x0n)DL/K((x01)∗, . . . , (x0n)∗) = 1
e DL/K(yx01, · · · , yx0n) = [N (y)]2 DL/K(x01, . . . , x0n). Portanto, [N (y)]2[DL/K(x01, . . . , x0n)]2 ´e uma unidade de OK0 . Portanto, OK0 DL/K(x10, . . . , x0n) = O0KN (y−1). Seja y = z
a onde z ∈ OK, a ∈ S. Como OL0y−1 = OL0∆(OL|OK) segue que
O0L(OLa) = OL0(OLz∆(OL|OK)).
Logo, OLa = OLz∆(OL|OK). Assim, N (OLa) = N (OLz)N (∆(OL|A)), e portanto anO K =
OKN (z)N (∆(OL|OK)). Assim, anO0 K = O
0
KN (z)N (∆(OL|OK)) e portanto N (a)O
0
KN (z −1)
=O0KN (∆(OL|OK)). Logo, N (az−1)O0K = O0KN (∆(OL|OK)), e assim, N (y−1)OK0 = OK0 N (∆(OL|OK)).
Portanto, OK0 DL/K(x01, . . . , x0n) = O0KN (∆(OL|OK)).
Teorema 3.2.1 Com as mesmas nota¸c˜oes do Lema (3.2.2), temos que N (∆(OL|OK)) = DL/K.
Demonstra¸c˜ao: Sejam {x1, . . . , xn} uma K-base de L contida em OL e {x
0
1, . . . , x
0
n} uma
base do OK0 -m´odulo OL0. Assim xj = n
X
i=1
a0ijx0i, com a0ij ∈ OK0 , para j = 1, . . . , n. Assim, DL/K(x1, . . . , xn) ∈ O 0 KDL/K(x 0 1, . . . , x 0
n). Pelo Lema (3.2.2), temos que
DL/K(x1, . . . , xn) ⊆ O
0
KN (∆(OL|OK)),
e isto implica que DL/K ⊆T O0KN (∆(OL|OK)). Pela Proposi¸c˜ao (1.7.3), temos que DL/K ⊆ N (∆(OL|OK)).
Reciprocamente, sejam DL|K = psA e N (∆(O
L|OK)) = p
s0B, onde A, B s˜ao ideais de O K, n˜ao
m´ultiplos de p. Devemos mostrar que s ≤ s0, pois se ´e verdadeiro para todo ideal primo p 6= 0 de OK, temos que DL/Kdivide N (∆(OL|OK)), ou seja, N (∆(OL|OK)) ⊆ DL|K. Para todo ideal primo p 6= 0 de OK, escolhemos uma base {x01, . . . , x0n} do O0
K-m´odulo O
0
L. Multiplicando
por um elemento conveniente de S temos que cada x0i ∈ OL. Seja OKDL/K(x01, . . . , x0n) = prI, onde I ´e um ideal OK n˜ao m´ultiplo de p. Pelo Corol´ario (1.7.2), temos que
OK0 DL/K(x01, . . . , x0n) = (OK0 p)r
e pelo Lema (3.2.2), temos que OK0 DL/K(x01, . . . , x0n) = OK0 N (∆(OL|OK)) = (O0Kp)s
0
. Assim, s0 = r. Como DL/K⊃ OKDL/K(x01, . . . , x0n) = ps0I segue que D
L/Kdivide ps 0 I, e ent˜ao s ≤ s0. Assim, N (∆(OL|OK)) ⊆ DL/K. Portanto, N (∆(OL|OK)) = DL/K.
Proposi¸c˜ao 3.2.5 Se K ´e uma extens˜ao c´ıclica de grau primo n > 2 e p > n ´e o ´unico primo que ramifica em K, ent˜ao o discriminante de K ´e DK = p
n−1.
Demonstra¸c˜ao: Como p ´e totalmente ramificado em K segue que pOK = pn. Como
p - n, segue que pn−1 | ∆(OK|Q), mas pn
- ∆(OK|Q). Agora, como ∆(OK|Q) = p n−1 e
Cap´ıtulo 4
Reticulados e ideais reticulados
Intuitivamente, entende-se por reticulado um subconjunto discreto do Rnque tem a estrutura
de um Z-m´odulo de posto finito n. Neste cap´ıtulo apresentamos as defini¸c˜oes de reticulado, empacotamento esf´erico, densidade de empacotamento, densidade de centro e homomorfismo canˆonico. Atrav´es do homomorfismo canˆonico obtemos um m´etodo para gerar reticulados no Rn. Os reticulados obtidos desta maneira dependem diretamente do anel de inteiros do
corpo de n´umeros. Apresentamos tamb´em o conceito de ideais reticulados. Usando esta teoria, veremos formas de se obter reticulados rotacionados no Rn que s˜ao t˜ao bons quanto os j´a conhecidos. Os resultados aqui mencionados podem ser encontrados nas referˆencias [8], [9], [11], [12], [13], [14] e [15].
4.1
Reticulados
Nesta se¸c˜ao apresentamos o conceito de reticulado, enfocando suas principais propriedades. Defini¸c˜ao 4.1.1 Sejam V um espa¸co vetorial de dimens˜ao finita n sobre um corpo K, A ⊂ K um anel e v1, . . . , vmvetores de V linearmente independentes sobre K, com m ≤ n. Chama-se
reticulado com base β = {v1, . . . , vm} ao conjunto de elementos de V da forma
( x = m X i=1 aivi, com ai ∈ A ) , que ser´a denotado por Hβ.
Defini¸c˜ao 4.1.2 Seja Hβ ⊂ Rn um reticulado, com Z-base β = {v1, . . . , vm}. O conjunto
Pβ = ( x ∈ Rn: x = m X i=1 λivi, 0 ≤ λi < 1 ) ,
´e chamado de regi˜ao fundamental de Hβ, com rela¸c˜ao a base {v1, . . . , vm}.
Se Hβ ´e um reticulado com base β = {v1, . . . , vm} e se e1, . . . , em s˜ao elementos quaisquer
de Hβ, ent˜ao ei = m
X
j=1
aijvj, com aij ∈ Z. Uma condi¸c˜ao necess´aria e suficiente para que
{e1, . . . , em} seja uma base de Hβ ´e que det(aij) seja um elemento invers´ıvel de Z.
Exemplo 4.1.1 Hβ = Z2 ´e um reticulado gerado pelos vetores e1 = (1, 0) e e2 = (0, 1) com
regi˜ao fundamental descrita na figura abaixo.
t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t - 6 - 6 e1 e2 Z2
Defini¸c˜ao 4.1.3 Um subconjunto H do Rn ´e discreto se para qualquer subconjunto com- pacto (fechado e limitado) K do Rn, tivermos H ∩ K finito.
Exemplo 4.1.2 Zn ´e um exemplo de subconjunto discreto do Rn.
Pelo pr´oximo teorema temos que um reticulado ´e gerado sobre Z por uma base do Rn. Teorema 4.1.1 Se H ´e um subgrupo discreto do Rn, ent˜ao H ´e gerado como um Z-m´odulo por r vetores linearmente independentes sobre R, com r ≤ n.
Demonstra¸c˜ao: Seja β = {e1, . . . , er} um conjunto de vetores de H que s˜ao linearmente
independentes sobre R, onde r ´e o maior poss´ıvel, com r ≤ n. Considere o paralelep´ıpedo Pβ = ( x ∈ Rn : x = r X i=1 αiei, 0 ≤ αi ≤ 1 )
, constru´ıdo a partir destes vetores. Como Pβ ´e
x ∈ H, ent˜ao pela maximalidade de r, segue que {x, e1, . . . , er} ´e linearmente dependente.
Logo, existem λi ∈ R, para i = 1, . . . , r, n˜ao todos nulos, tal que x = r X i=1 λiei. Para cada j ∈ N, seja xj = jx − r X i=1 [jλi]ei ∈ H, (4.1)
onde [k] denota o maior inteiro menor ou igual a k. Assim, xj = j r X i=1 λiei − r X i=1 [jλi]ei = r X i=1
(jλi − [jλi])ei ∈ Pe ∩ H. Dessa forma, tomando j = 1 na Equa¸c˜ao (4.1), temos que
x1 = x − r X i=1 [λi]ei, ou seja, x = x1+ r X i=1
[λi]ei. Assim, como x1 ∈ Pe∩ H e este ´e finito, segue
que H ´e finitamente gerado como um Z-m´odulo. Por outro lado, como Pe∩ H ´e finito e como
N ´e infinito, segue que existem inteiros j e k, tais que xj = xk. Da Equa¸c˜ao (4.1), segue que
xj = xk ⇒ jx− r X i=1 [jλi]ei = kx− r X i=1 [kλi]ei ⇒ (j −k)x = r X i=1 [jλi−kλi]ei ⇒ (j −k) r X i=1 λiei = r X i=1 ([jλi] − [kλi])ei ⇒ (j − k)λi = [jλi] − [kλi] ⇒ λi = [jλi] − [kλi] j − k , ou seja, λi ∈ Q. Assim, como H ´e gerado como um Z-m´odulo por um n´umero finito de elementos, segue que s˜ao combina¸c˜oes lineares com coeficientes racionais dos e,is. Seja d 6= 0 um denominador comum destes coeficientes. Consideremos o conjunto dH. Temos que dH ⊂
r
X
i=1
Zei. Da´ı, pelo
Teorema (1.1.1) segue que existe uma base {f1, . . . , fr} do Z-m´odulo r
X
i=1
Zei e inteiros αi,
tal que {α1f1, . . . , αrfr} gera dH sobre Z. Como o Z-m´odulo dH tem o mesmo posto de H
e como
r
X
i=1
Zei ⊂ H, segue que o posto de dH ≤ r. Pela maximalidade de r, decorre que o
posto de dH ´e r e os α,is s˜ao n˜ao nulos pois, caso contr´ario dH n˜ao teria posto r. Assim os fi,s s˜ao linearmente independentes sobre R e, consequentemente, H tamb´em ´e gerado por r vetores linearmente independentes sobre R.
Observa¸c˜ao 4.1.1 Segue do Teorema (4.1.1) que qualquer subgrupo discreto do R ´e um reticulado.
Defini¸c˜ao 4.1.4 Seja H ⊂ Rn um reticulado, v = {v1, . . . , vn} uma base de H e Pv a regi˜ao
fundamental Pv como o m´odulo do determinante da matriz v11 v12 · · · v1n v21 v22 · · · v2n .. . ... . .. ... vn1 vn2 · · · vnn ,
que denotamos por Vol(Pv).
Proposi¸c˜ao 4.1.1 O volume da regi˜ao fundamental Vol(Pv) independe da base v de H.
Demonstra¸c˜ao: Se {f1, . . . , fn} ´e outra base de H, ent˜ao fi = n
X
i=1
αijvj, com aij ∈ Z.
Assim, Vol(Pf) = |det(αij)| Vol(Pv). Como a matriz de mudan¸ca de base (aij) ´e invers´ıvel,
segue que det(aij) = ±1. Portanto, Vol(Pf) = Vol(Pv).
Note que, sendo β0 uma outra base de Hβ, segue que Vol(Hβ) = Vol(Hβ0), pois β e
β0 diferem pelo produto de uma matriz invers´ıvel com entradas inteiras. Dessa forma, faz sentido definir o volume de Hβ como sendo o volume de uma regi˜ao fundamental.
Defini¸c˜ao 4.1.5
1. Um empacotamento esf´erico, ou simplesmente um empacotamento no Rn, ´e uma distribui¸c˜ao de esferas de mesmo raio no Rn de forma que a interse¸c˜ao de quaisquer duas esferas tenha no m´aximo um ponto. Pode-se descrever um empacotamento indi- cando apenas o conjunto dos centros das esferas e o raio.
2. Um empacotamento reticulado ´e um empacotamento em que o conjunto dos centros das esferas formam um reticulado Hβ de Rn.
3. Dado um empacotamento no Rn, associado a um reticulado Hβ, com Z-base {v1, . . . , vn},
definimos a densidade de empacotamento como sendo a propor¸c˜ao do espa¸co Rn coberto pela uni˜ao das esferas.
Estamos interessados no empacotamento associado a um reticulado Hβ em que as esferas
tenham raio m´aximo. Para a determina¸c˜ao deste raio, observe que fixado k > 0, a interse¸c˜ao do conjunto compacto {x ∈ Rn; |x| ≤ k} com o reticulado Hβ ´e um conjunto finito, de
onde segue que o n´umero Hβmin = min{|λ|; λ ∈ Hβ, λ 6= 0} est´a bem definido e (Hβmin)
2
poss´ıvel distribuir esferas centradas nos pontos de Hβ e obter um empacotamento. Dessa
forma, estudar os empacotamentos reticulados equivale ao estudo dos reticulados.
Denotando por B(ρ) a esfera com centro na origem e raio ρ, temos que a densidade de empacotamento de Hβ ´e dada por
∆(Hβ) =
volume da regi˜ao coberta pelas esferas volume da regi˜ao fundamental =
Vol(B(ρ)) Vol(Hβ) = Vol(B(1))ρ n Vol(Hβ) .
Portanto, o problema se reduz ao estudo de um outro parˆametro, chamado densidade de centro, que ´e dado por
δ(Hβ) =
ρn Vol(Hβ)
.
Exemplo 4.1.3 Se Hβ = Z2 com base (1, 0) e (0, 2), temos que ρ = 1/2, Vol(B(1)) = π1 =
π, o volume do reticulado ´e Vol(Hβ) = 1 × 2 = 2, a densidade de empacotamento ´e
∆(Hβ) = Vol(B(1)). ρ2 Vol(Hβ) = π1 4. 1 2 = π 8 e a densidade de centro ´e δ(Hβ) = 1/8.
Um dos problemas de empacotamento esf´erico de um reticulado Hβ do Rn ´e encontrar
um empacotamento com maior densidade.