• Nenhum resultado encontrado

OS DIFERENTES CONTEXTOS DE MATO GROSSO DO SUL E O FINANCIAMENTO DO ENSINO MÉDIO

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver, Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens Perante as cousas, Perante as cousas que simplesmente existem.

(Fernando Pessoa)

Este estudo se inicia pela necessária visão dos contextos social, econômico, político e educacional de Mato Grosso do Sul, palco onde se desenvolvem as políticas e ações do financiamento do Ensino Médio na Rede Estadual. O objetivo é o de apreender, no interior desses contextos, o movimento no qual se materializa a oferta dessa etapa de ensino. Embora, no período de 1996 a 2006, as políticas não determinassem valores exclusivos para o Ensino Médio, nas diferentes mediações desses contextos foi possível apreender o seu financiamento por vias indiretas, como, por exemplo, pelo movimento de matrículas, número de funções docentes e escolas. Já a partir do FUNDEB, conforme já se analisou no capítulo anterior, torna-se possível visualizar de forma direta que existe uma fatia de recursos exclusiva para o Ensino Médio.

1O contexto social, econômico e educacional de MS

O Estado de Mato Grosso do Sul situa-se na região Centro-Oeste brasileira e foi criado no governo do presidente Ernesto Geisel (1974-1979), pela Lei Complementar nº 31, de 11 de outubro de 1977, a partir da divisão do Estado de Mato Grosso, fazendo divisa ao norte com Mato Grosso e Goiás (Rio Itiquira e Rio Aporé); ao Sul com o Paraguai e o Estado do Paraná (Rio Paraná); ao leste com os Estados de São Paulo e Minas Gerais (Rio Aporé e Rio Paranaíba); e no Oeste com Paraguai e Bolívia (Rio Paraguai). Possui 78 municípios distribuídos numa área de 358.158,7 km² e conta com uma população de 2.075.275 de habitantes (IBGE, 2000), já a população estimada em 2006 é de 2.303.888 (IBGE, 2007), um crescimento de 11% em relação à população do ano 2000.

Mato Grosso do Sul tem localização privilegiada, pois se integra aos corredores de exportação de São Paulo e do Paraná. Também apresenta potencialidades no setor agropecuário, devido às boas condições climáticas e ao bom manancial hídrico, que garantem condições para seu desenvolvimento a curto e médio prazo.

Instalou-se, oficialmente, em primeiro de janeiro de 1979, com a posse do primeiro governador do Estado, Harry Amorim Costa, indicado pelo presidente da República. O seu governo encerrou-se em 12 de junho de 1979, quando, sem respaldo político, foi exonerado pelo presidente da República, João Batista Figueiredo (1979-1985). Em seu lugar foi designado governador Marcelo Miranda Soares, então prefeito de Campo Grande, que foi destituído do cargo em 30 de outubro de 1980. Pedro Pedrossian assume o governo até 1983.

Nas eleições diretas de 1982, como parte do processo de abertura democrática no país, elege-se governador de Mato Grosso do Sul Wilson Barbosa Martins, pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB. Na seqüência, elegem-se governadores do estado: Marcelo Miranda Soares (1987-1990), Pedro Pedrossian (1991-1994), Wilson Barbosa Martins (1995-1998) e, em 1998, José Orcírio Miranda dos Santos, Partido dos Trabalhadores, reeleito em 2002, com mandato até 2006.

O Estado ocupa posição de destaque em extensão territorial, com uma área de 357.124,96 km2, representando 22,23% da Região Centro-Oeste e 4,19% do Brasil. O território estadual conta com 4 mesorregiões geográficas, 11 microrregiões geográficas, 78 municípios e 86 distritos, sendo capital do estado a cidade de Campo Grande. O Pantanal de Mato Grosso do Sul abrange 89.318 km2, cerca de 25,01% da área total do estado e compreende 9 municípios: Corumbá, Ladário, Porto Murtinho, Miranda, Bodoquena, Aquidauana, Rio Verde de Mato Grosso, Coxim e Sonora.

O Estado de Mato Grosso do Sul caracteriza-se por uma economia de base agropastoril. O Censo Agropecuário/IBGE/1996 constatou que o Estado conta com 49.423 propriedades rurais em uma área de 30.942.772 ha. Dessa área, 70,5% está ocupada pela atividade pecuária, 4,5% pela agricultura, 13,5% pela atividade mista, pecuária e agricultura. As demais atividades como a pesca, o carvão vegetal, a silvicultura e a exploração florestal, ocupam 11,5% da área.

Do ponto de vista fundiário, Mato Grosso do Sul caracteriza-se como um estado dominado pela grande propriedade rural conforme pode se comprovar da Tabela abaixo.

Tabela nº 4 - Estrutura Fundiária - 1996

Grupo de área total (ha.) % de estabelecimento Área ocupada %

0 – 20 28,8 0,3 20 – 100 25,6 1,8 100 – 1 000 31,2 19,3 1 000 – 5 000 11,7 39,0 5 000 – 10 000 1,3 15,1 Mais de 10 000 9,2 24,5 Sem declaração 3,5 -

Tabela elaborada a partir de dados do documento Diagnóstico Sócio-econômico de MS - Secretaria de Estado de Planejamento e de Ciências e Tecnologias, 2003. p. 36.

As propriedades, representadas na estratificação acima, estão assentadas numa área de 30.942.772 ha., da qual as propriedades acima de 1.000 ha. ocupam 78% e somam 22,2% do número geral de estabelecimentos (49.423); comprovando assim, a presença do latifúndio no Mato Grosso do Sul.

Sobre essa questão, o Plano Plurianual do Governo do Estado – 2004 a 2007 (p.4) deixa claro que a concentração dos meios de produção em um estado com economia eminentemente agrária transparece, sobretudo, na estrutura fundiária em que a propriedade rural tem um tamanho médio de 626 hectares, muito superior à média nacional, que é de 72 hectares. O mesmo documento (p.5) aponta que, em 1996, “os pequenos proprietários representavam 28,8% da população rural sobre 0,4% das terras. Na outra ponta, diz o IBGE, os grandes produtores eram 13% e detinham a posse de 54% das terras”.

De acordo com o documento: PIB/MS: Produto Interno Bruto – Nova Série – 2002 – 2005, (2007, p. 14-15), as contas de produção de Mato Grosso do Sul geraram em 2005, R$ 21,6 bilhões e renda per capita de R$ 9.557,14 (nove mil, quinhentos e cinqüenta e sete reais e catorze centavos) contra R$ 7.091,98 (sete mil, noventa e um reais e noventa e oito centavos) em 2002; o que, segundo o documento, resulta um crescimento nominal de 14,28% contra 3,1% de aumento na população estadual. Esses valores conferem ao estado o 10º maior PIB

per capita em comparação com os estados da federação e Distrito Federal. Já pelo desempenho econômico em 2005, Mato Grosso do Sul manteve o 17º lugar no ranking das economias estaduais em nível nacional, e sua contribuição é de 1,01% na composição do PIB nacional.

Cabe observar que a composição do PIB do estado de Mato Grosso do Sul, conforme dados de 2005, é obtida pelos setores: primário, com 15,45% (parte da economia que inclui agropecuária, pesca e outros); secundário, com 17,25% (referente às atividades industriais) e

terciário, com 67,30%; pesando, assim, a parte da economia que inclui serviços como as ocupações de comércio, corretagem de valores, seguro, transportes, serviços de consultoria, intermediação financeira /atividades bancárias. Aqui, coloca-se, também, a educação.

Gráfico nº 1 - Composição do PIB/MS - 2005

Fonte: PIB/MS: Produto Interno Bruto – Nova Série – 2002 – 2005, (2007

Em relação ao número de população, a tabela abaixo permite maior visualização da situação do Estado no contexto da região Centro-Oeste e do Brasil63. Na série histórica de 1996 a 2006 houve um crescimento populacional bem ritmado alcançando nesses dez anos 19,2% no Brasil, 26,7% no Centro-Oeste e 19,5% em Mato Grosso do Sul. Observa-se que o crescimento populacional de MS absorve 14,4% da população ampliada do Centro-Oeste no ano de 2006. Constata-se, também, que a população urbana do Brasil, do Centro-Oeste e do Mato Grosso do Sul tem aumentado gradativamente, ficando sempre acima dos 80%. No entanto, os percentuais de população urbana do Centro-Oeste e de Mato Grosso do Sul estão um pouco acima da média brasileira. Em Mato Grosso do Sul, do ano de 2005 para 2006, houve um ligeiro declínio.

63 O corte de análise (1996 a 2000) é porque são dados foram obtidos por meio da Contagem da População em

1996 e censo Demográficoem 2000 e os demais anos, os dados são oriundos de Pesquisas Nacionais de Domicílios – PNADs.

Documentos relacionados