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108 dificuldade em entender como pode uma criança encontrar-se feliz numa instituição se

não tem amigos para brincar. Como afirma Cavaco (2002: 16) “as amizades que as crianças estabelecem entre si, desde a primeira infância, desempenham um papel

fundamental na adaptação social das crianças ao mundo que as rodeia”. Esta autora

também afirma que as amizades desenvolvem as capacidades, sociais e cognitivas e podem ser vistas como potenciais reforços de segurança, em situações nas quais o equilíbrio emocional da criança é quebrado (cf. Howes in Cavaco, 2010).

O Vs também disse que não procurava as outras crianças para brincar porque tinha receio que o magoassem. Contudo, por vezes também o observei a ter atitudes menos corretas para com as outras crianças, batendo, empurrando, etc.

Nestas entrevistas ainda perguntei às crianças quais as coisas que elas mais gostavam de fazer na instituição e quais as coisas que menos gostavam de fazer. A maioria das crianças referiu que gostavam de brincar e de fazer trabalhos:

Ds: Divertir-me. […] Faço coisas novas e depois gosto. Também gosto de brincar (entrevistas, 11 de maio de 2015).

Ir: Gosto de fazer trabalhos novos. Gosto quando nós vamos passear e gosto de estar muito nesta escola (entrevista, 11 de maio de 2015).

Lç: Trabalhar, gosto muito de fazer trabalhos. Só de vez em quando é que faço os trabalhos male’. […] Gosto de brincar na rua. […] Não brinco muito na sala porque ando sempre a trabalhar (entrevista, 11 de maio de 2015).

Em relação a esta questão, a maioria das crianças referiu, como aspetos que menos gostam a existência de conflitos entre elas.

LL: É que eu gosto tudo de fazer nesta escola. Eu não gosto quando os amigos ficam assim chateados uns com os outros e depois fazem confusão uns com outros, mesmo que quando aconteça comigo também não gosto. Eu penso melhor e depois peço desculpa ao amigo (entrevista, 11 de maio de 2015).

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Mr: Quando os amigos fazem barulho. Quando os amigos batem. Quando os amigos se empurram (entrevista, 12 de maio de 2015).

Do mesmo modo que as crianças se referiram às situações de conflitos como sendo aquelas de que menos gostavam, também revelaram sensibilidade para resolver essas situações demostrando conhecer as melhores atitudes a ter no relacionamento entre si. A

LL diz: “[…] eu penso melhor e peço desculpa[…]”; o TJ refere que “[…] deve-se

perceber é o que os amigos dizem aos outros amigos. Não se deve chamar nomes, deve- se ouvir o que os amigos sentem e querem dizer a nós. Deve-se fazer brincadeiras com os amigos. Os adultos às vezes também brincam connosco, e tu simplesmente brincas connosco. E até os amigos querem que os amigos apanhem eles todos”.

No seguimento, perguntei às crianças sobre as maiores dificuldades que sentiram na instituição. A maioria das crianças referiu-se às dificuldades encontradas na realização de atividades, enquanto outras referiram que nunca sentiram dificuldades.

JN: Foi a trabalhar os trabalhos mais difíceis. Fazer trabalhos de matemática. Às vezes são um bocadinho difíceis (entrevista, 11 de maio de 2015).

MS: A primeira vez que fiz os trabalhos tive um bocadinho de dificuldades, porque nessa altura, foi um trabalho fácil para outros meninos, mas para mim foi difícil. Mas depois perguntei à M (educadora). Eu só tinha percebido uma parte. […] Eu de vez em quando eu zango-me e quero ir para casa, mas depois peço brincadeira com os meninos e sinto-me melhor (entrevista, 12 de maio de 2015).

Rg: Tabalhare com as aguarelas. Não sei tabalhare. Porque temos que por tintas que acabam muito rápido e depois eu tenho que pintar, molhar por na tinta, pintar, molhar por na tinta, pintar, molhar, por na tinta! (entrevista, 12 de maio de 2015). Sg: Tinha dificuldades nos trabalhos. Não conseguia perceber muito bem como se faziam os trabalhos. Também quando eu tinha dificuldades também tremia (entrevista, 12 de maio de 2015).

Ao que tudo indica, algumas crianças tiveram dificuldade em adaptar-se ao tipo de

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difíceis”. É natural que tal tenha acontecido, uma vez que ao iniciar o ano letivo em

outra instituição, a criança terá que fazer uma adaptação ao novo espaço, às novas pessoas e crianças, mas também ao método de trabalho da educadora que pode, por vezes, ser totalmente diferente daquele a que a criança estava acostumada. É de salientar que o Sg referiu que chegava a tremer perante as dificuldades na realização das atividades.

Ainda perguntei às crianças se elas já tinham chorado na escola e quais os motivos que as levaram a isso.

TC: Foi quando eu fiquei triste, quando os amigos dizem que não querem brincar comigo e quando o T me empurrou do pneu. Eu tenho medo que digam algum dia que não querem ser meus amigos. Eu chorei quando me empurraram do pneu (entrevista, 12 de maio de 2015).

Rf: Sim. Quando eu estou sentado de castigo. Quando estou sentado às vezes, quando a M (educadora) ralha comigo e quando eu me aleijo. Quando eu estou a brincar e aleijo um menino e depois eu estou triste porque eles depois já não querem brincar comigo (entrevista, 12 de maio de 2015).

Vs: Eu já te contei a parte que às vezes sinto saudades do pai e da mãe. Mas eu às vezes também choro quando me aleijam. Às vezes eu não gosto quando eles arranham-me, eu também choro (entrevista, 12 de maio de 2015).

Relativamente a esta questão, as respostas foram diversas; umas crianças responderam

que choram quando “os amigos” se chateiam ou se magoam e já não querem brincar

com elas; outras referem que choram quando estão de castigo e quando ralham com elas.

Durante uma entrevista, uma criança referiu que a primeira vez que chorou foi quando eu ralhei com ela.

Sl: Já. Não gosto que ralhem comigo. Fiquei triste quando ralhaste comigo. (entrevista, 12 de maio de 2015).

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