• Nenhum resultado encontrado

85 necessário na hora de dormir, em momentos de solidão, ou quando um humor

depressivo ameaça manifestar-se […] constituindo uma defesa contra a ansiedade”. Esta necessidade da menina talvez se deva ao facto de os momentos de repouso constituírem aqueles em que a criança sente maior dificuldade de ultrapassar necessitando, por isso, do conforto e da segurança que estes objetos tão importantes transmitem. Assim, nestes momentos, a minha educadora fazia questão de ir buscar sempre um objeto da menina e não outro da instituição. E mesmo nos dias em que a criança não trazia nenhum objeto, a educadora não corria o risco de eventualmente faltarem um brinquedo dessa criança no momento do repouso, uma vez que, recorria a um dos trazidos em dias anteriores. Prosseguindo com a descrição e análise das observações, considero ser relevante referir o episódio do D quando este voltou para a instituição, depois de um período em casa devido a problemas de saúde, como é possível constatar na nota de campo que se segue:

Ao chegar perto da porta da sala, o D, saltou do colo da mãe e começou a rir, a pular e a gritar de entusiamo. Quando a mãe abriu a cancela da entrada da sala, o menino dirigiu-se, sorrindo e vocalizando, a todas as crianças que se encontravam em diferentes cantos da sala. Assim que encontrava cada criança, o D, fazia uma festinha na cara ou beijava o seu rosto. De seguida dirigiu-se a cada adulto e fez o mesmo. (Nota de Campo, 1 de dezembro de 2014 às 9:45).

De acordo com as observações que realizei durante as minhas primeiras semanas de estágio, em que este menino chorava compulsivamente durante os vários momentos do dia, esperava, tal como cheguei a comentar com a equipa pedagógica, que o D quando viesse, tivesse que passar novamente por um processo de adaptação, pois considerava que quando voltasse não iria sentir-se confiante e confortável naquele espaço, como já se encontrava antes do período em que esteve em casa. Numa das reuniões entre o acompanhante de estágio, a educadora cooperante e a estagiária, o meu professor explicou-me que todos os dias, num contexto educativo, ocorrem diferenças nos comportamentos das crianças, porque elas podem passar por problemas ou situações que levem a períodos de estagnação e regressão durante a adaptação. Antes de observar esta situação julgava que quando a criança voltasse, ela iria passar por uma situação de regressão, uma vez que, como afirmam Rossetti-Ferreira, Vitória e Goulardins (1998:

86

44) “são os pequenos acontecimentos […] que vão influenciando” o processo de

adaptação.

Felizmente a minha conjetura estava completamente enganada; quando regressou à instituição, a criança demostrava ter sentido saudades das restantes crianças e dos adultos sendo que a sua atitude provou que aquelas pessoas já não eram desconhecidas para si, bem como, contrariando o que pensávamos, ele provavelmente já se encontrava adaptado àquele meio.

1.2. A minha intervenção

Ao longo do estágio em creche procurei ajudar e auxiliar a equipa pedagógica intervindo com os seus elementos, com as crianças e com as famílias em todos os momentos da rotina.

Como já referi anteriormente, a minha intervenção no contexto educativo de creche não foi sistematizada como foi no contexto educativo de jardim-de-infância devido às razões que mencionei. Contudo, mesmo sem ter planeado antecipadamente acabei por intervir, especificamente, em alguns momentos em que as crianças manifestavam sofrimento no decorrer da sua adaptação.

Prosseguindo com o exemplo da minha intervenção com o D durante estes momentos, refiro o investimento na relação afetiva com a criança e a minha disponibilidade física, assim como emocional para com ela quando se encontrava a chorar. Este exemplo pode ser verificado nas seguintes notas de campo:

O D rindo e vocalizando explora um brinquedo que produz vários sons e luzes. Passado cerca de 5 minutos, larga o brinquedo no chão, senta-se e começa a chorar.

(Nota de Campo, 27 de outubro de 2014, 11:05).

No momento da refeição, o D comia a sopa, sozinho. Passado algum tempo, larga a colher, deita a cabeça na mesa e começa a chorar.

87

(Nota de Campo, 22 de outubro de 2014, 11:45).

No momento de repouso o D, após ser deitado no catre começou a chorar. O D adormeceu cerca de trinta minutos depois. Pareceu-me exausto pelo choro.

(Nota de Campo, 21 de outubro de 2014, 12:20).

Ainda sobre os momentos de sofrimento desta criança, em que ela se manifestava chorando, refiro o discurso de uma das assistentes operacionais da equipa pedagógica quando a questionei sobre este assunto, na seguinte nota de campo:

Assistente operacional: “é normal a criança chorar, nos primeiros dias e é natural que te faça confusão ouvir a criança chorar desta forma, mas com o passar do tempo habituas-te”.

(Nota de Campo, 27 de outubro de 2014, 10:40).

No que diz respeito ao comentário da assistente operacional, não concordo com a sua opinião, uma vez que, considero que apesar dos anos de serviço, os profissionais de educação devem procurar dar o seu melhor para que as crianças se encontrem confortáveis, seguras e, principalmente, felizes quando estão na instituição. Questiono- me: como é possível um profissional conseguir partilhar o seu dia com uma criança que chora profundamente e não tomar uma atitude para a reconfortar? Muitos adultos, quando passam por momentos de sofrimento também sentem necessidade de serem amparados pelas pessoas mais próximas. Então porque não se deve amparar uma criança, quando esta sofre?

As crianças que ainda não conseguem comunicar verbalmente manifestam os seus sentimentos através do seu corpo. Quando vivenciam momentos de separação, insegurança e sofrimento expressam os seus sentimentos e dificuldades como conseguem, muitas vezes recorrendo ao choro (cf. Rossetti-Ferreira, Vitória & Goulardins, 1998). Um exemplo deste tipo de situação encontra-se sob a forma de

88