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4 O COMÉRCIO DO VINHO DO PORTO E OS AGENTES NO BRASIL

4.2. Dificuldades no comércio com o Brasil

O último quartel do século XIX foi marcado pelo aparecimentos de novos problemas que afligiram o comércio internacional e, muito em especial, o comércio de vinhos do Porto para o Brasil, como foi o caso do aumento quase proibitivo das pautas aduaneiras, do aparecimento da peste bubónica no Porto e do ácido salicílico nos vinhos.

a) A Peste Bubónica

Devido ao aparecimento da Peste Bubónica no Porto, em 1898, foram suspensas as carreiras das linhas de vapores para o Brasil, obrigando os comerciantes portugueses a fazerem quarentena, chegando o próprio estado do Pará ao ponto de fechar os seus portos aos vinhos em caixas.

O aparecimento da peste levou o governo português a tomar medidas drásticas, que Adriano Ramos Pinto terá no entanto considerado excessivas, levando as pessoas ao pânico. Este mal estar geral prolongou-se durante bastante tempo,

trazendo muitos dissabores e incertezas a todos os comerciantes, principalmente aos exportadores de vinhos para aquele país.

O Governo brasileiro, por seu turno, proibiu a entrada de todas as mercadorias procedentes de Leixões, passando os seus embarques a serem feitos via Lisboa100 (

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ou outro porto ), tanto para o Brasil como para a índia, Africa e Europa, estando mesmo cortadas as comunicações com a Madeira e os Açores, resultando igualmente desta situação o caos no comércio externo.

Entretanto, os seus vinhos eram enviados por caminho de ferro para Lisboa e deste porto para o Rio de Janeiro, sendo depois os seus vinhos distribuídos a partir desta Capital para os restantes estados, municípios e capitais do Brasil.

Porém, em Dezembro de 1899, foram abertos alguns portos daquele país às procedências de Leixões, à excepção dos mercados do Pará e Manaus, que ainda não possuíam vapores, continuando por isso os embarques a serem feitos no Rio de Janeiro, com desinfecção na Ilha Grande.

1 ° O envio das carregações passaram a ser feitas por caminho de ferro para Lisboa, seguindo depois para o Brasil.

Esta concessão obrigava os exportadores a perfurarem as caixas de vinho a fim de sofrerem a desinfecção na Estação do Porto de Leixões,o que segundo Adriano Ramos Pinto, não agradaria muito ao comprador, pois iriam rotular a mercadoria como proveniente " de um país que dizem afectado da peste. Além disso as despesas aumentam e a mercadoria tem só a sofrer com tantas e repetidas descargas" , Carta de Ad.Ramos Pinto, enviada a Otero Gomes & C, agente no Rio Grande do Sul, (Brasil), Arquivo Histórico, Cop. 17, 09 Novembro de 1899, 507/508.

Mas tudo levava a crer que, com as mudanças climatéricas, como o frio e a chuvas do Inverno, a peste começasse a diminuir progressivamente. Para aquele comerciante, a peste era o terror da exportação, pois a epidemia tinha causado mais problemas ao comércio do que propriamente à população em geral, devido, principalmente, às medidas sanitárias adoptadas pelo governo, pois dizia ele que " tudo leva a crer que os embaraços sem conta que o comércio portuense tem sorrido nestes longos 5 meses, com o infundado isolamento a que o votaram, vão desaparecer a breve trecho, pois que há já 12 dias que os boletins oficiais não registam caso algum novo"101.

b) Pautas Aduaneiras

O aumento das tarifas aduaneiras iria provocar, segundo Adriano Ramos Pinto, um aumento dos preços nos seus vinhos. Por isso, aconselhava os seus agentes a prevenirem desde já a clientela sobre tal possibilidade. Para aquele comerciante, tratava-se, no entanto, de quase uma proibição à entrada de vinhos engarrafados naquele país, apenas tendo em vista a protecção das suas fábricas de cerveja, ou

101 Carta de Ad.R.P., enviada a Fernandes Neves & C3, agente no Desterro ( Brasil ), Arquivo Histórico, Cop. 18, 18

então só explicado pelo desejo de fomentar as falsificações dos vinhos naquele país. Advertia-os ainda para terem em atenção que tal projecto, a ser transformado em lei, iria destruir a importação de vinhos " com perda não só desse comércio, mas ainda do grande público brasileiro".102

Finalmente, a 14 de Novembro de 1899 foram aprovados pelo Congresso Nacional Brasileiro as seguintes medidas : vinhos em cascos até 14 graus, 240 a 245 reis; vinhos em caixas, 220 a 300 reis, entranda em vigor em 1900. Estas taxas, felizmente para os comerciantes portugueses que exportavam para o Brasil, não foram as mesmas que estavam estipuladas no projecto inicial, que apontava para preços mais elevados. Mas isso não impediu que Adriano Ramos Pinto se visse obrigado a aumentar os preços aos seus vinhos.

c) Acido salicílico nos vinhos

A acrescentar àqueles dois obstáculos, o comércio dos vinhos portugueses, nomeadamente para o Brasil, via-se também a braços com um outro problema não

102 Carta de Ad.R.P., enviada a Pinto Alves & C, agente no Pará ( Brasil ), Arquivo Histórico, Cop. 17, 13 de Outubro

de 1899, 377/379.

Adj. (quím.) diz-se de um acido de um aldeído de um álcool derivados do benzendo contendo a função fenol em posição orto, acido - : àcido-orto - hidroxibenzóido de propriedades anti-sépticas, usado na preparação de várias substâncias de importância industrial e medicinal, designadamente a aspirina." ( Dicionário da Língua Portuguesa, Vol.XXVI, 193 )

menos grave, que foi o de terem encontrado no Laboratório da Alfandega do Rio de Janeiro traços de ácido salicílico nos vinhos das principais casas exportadoras portuguesas de vinho do Porto, pondo em causa o crédito das mesmas.

Constatou-se, no entanto, que o ácido salicílico não terá sido posto de propósito, uma vez que não havia interesse nisso, apenas havendo quantidades naturais muitíssimo reduzidas. Não sabiam, no entanto, ainda a sua origem e, por isso, foi convidado o Dr. Ferreira da Silva, um dos maiores químicos da Europa oitocentista, para fazer estudos sobre tal composto, de preferência em Portugal.

De todos os estudos realizados, concluiu-se que o método então em uso no Laboratório do Rio de Janeiro induzia as análises dos vinhos em erro, tendo o próprio autor do método francês em uso naquele laboratório louvado o procedimento daquele cientista português.

Tal conclusão levou-os a pedir ao Director do Laboratório para ser utilizado o método alemão, considerado o mais credível