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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ESPECÍFICAS

No documento DISLEXIA E DISORTOGRAFIA: UM ESTUDO DE CASO (páginas 35-39)

2. DEFINIÇÕES DE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

2.1. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ESPECÍFICAS

Enquanto as DA agrupam os problemas de aprendizagem, sejam eles consequência de fatores intrínsecos ou extrínsecos ao indivíduo, como por exemplo as metodologias de ensino desadequadas; as DAE referem-se a perturbações com causas próprias e caraterísticas muito particulares (Coelho, 2013).

No ano de 2008, em Portugal, Correia apresenta uma definição que compreende os aspetos mais relevantes das definições aceites internacionalmente. Adiciona o termo “específicas” na sua definição de DA, com a finalidade de as singularizar e dissipar a confusão que o termo provoca no nosso país. Assim:

(…) as DAE dizem respeito à forma como o indivíduo processa a informação – a recebe, a integra, a retém e a exprime –, tendo em conta as suas capacidades e o conjunto das suas realizações. As dificuldades de aprendizagem específicas podem, assim, manifestar-se nas áreas da fala, da leitura, da escrita, da matemática e/ou da resolução de problemas, envolvendo

défices que implicam problemas de memória, percetivos, motores, de linguagem, e/ou metacognitivos. Estas dificuldades, que não resultam de privações sensoriais, deficiência mental, problemas motores, défice de atenção, perturbações emocionais ou sociais, embora exista a possibilidade de estes ocorrerem em concomitância com elas, podem ainda, alterar o modo como o indivíduo interage com o meio envolvente (Correia, 2008, citado por Cruz, 2009, p. 51).

Para Correia (2011), apesar das definições para DA / DAE divergirem em alguns aspetos, as que são mais consensuais por parte dos especialistas e das associações que estudam e defendem esta problemática, assentam numa série de critérios comuns, que seguidamente se destacam.

- Origem neurológica: perante situações de DAE, a análise do sistema nervoso central (SNC), permite concluir que há variações no funcionamento cerebral que afetam um ou mais processos relacionados com a aprendizagem. As variações devem-se a uma série de fatores, como por exemplo: displasia (mudança de células nervosas para partes incertas do cérebro); dimensão dos neurónios (menor); número de neurónios (menor); metabolização da glucose (mais demorada em certas partes do cérebro) e irrigação cerebral (mais lenta) (Fiedorowics, 1999; Fiedorowics et al., 2001; Joseph, 2001, citados por Correia, 2011)

As investigações levadas a cabo por Bennett e Sally Shaywitz, especializados no estudo das DAE, também sustentam estes resultados. Estes autores realizaram estudos de cariz longitudinal e da imagiologia por ressonância magnética e concluíram que as DAE têm, irrefutavelmente, uma origem neurobiológica (Shaywitz, 2005, citado por Correia, 2011).

Consequentemente, a possível origem neurobiológica das DAE reflete-se num conjunto de problemas no processamento de informação.

As dificuldades resultam não de incapacidades intelectuais, sensoriais, motoras ou emocionais, mas provavelmente de uma disfunção do SNC. A este respeito, Cruz (2009) menciona que “(…) as DAE são, cada vez mais, relacionadas com uma disfunção ao nível do sistema nervoso central, a qual afeta funções cerebrais específicas, necessárias para executar determinadas tarefas” (p. 81).

Assim, nas DAE existe:

- Discrepância académica: há um desfasamento entre as suas capacidades e o seu nível de desempenho. Funcionamento intelectual versus realização escolar atual.

Fonseca (2004) esclarece que o funcionamento intelectual tem sido testado por testes aferidos que avaliam o quociente de inteligência (QI) e a realização escolar, por testes estandardizados de leitura, escrita e matemática. Neste sentido, existem diferenças consideráveis entre o funcionamento intelectual (QI > ou = 80) e o aproveitamento escolar (resultados abaixo das expetativas).

- Padrão desigual de desenvolvimento: em que o desenvolvimento de áreas como a da linguagem, as percetivas e a motora, não ocorre de igual forma (Cruz, 2009). - Envolvimento processual: para Hammill (citado por Correia, 2011), registam- se implicações nos processos psicológicos responsáveis pela obtenção e progresso de competências.

- Dificuldades numa ou mais áreas académicas e de aprendizagem: as dificuldades não se manifestam em todas as áreas escolares (como em situações de deficiência mental), mas numa ou mais áreas (Lerner & Kline, 2005; Fonseca, 1999 e Correia, 1991, citados por Cruz, 2009). Segundo Correia (2011), as dificuldades têm mais incidência na leitura, escrita e/ou matemática.

- Exclusão de outras causas: a maior parte das definições de DAE compreende o fator de exclusão, que exclui a hipótese das DAE serem causadas por problemas sensoriais e motores, problemas intelectuais generalizados, perturbações emocionais ou influências ambientais (Correia, 2011).

- Comportamento socio emocional: para Correia (2011), as DAE podem ter implicações na forma de os indivíduos se comportarem no meio envolvente (quer seja familiar, escolar, recreativo, etc.). Em termos sociais, a maneira como se estrutura as aptidões, se entende as diversas situações sociais, se relaciona com os outros e perspetiva as suas atitudes, parece não ser a mais adequada. Ainda que não seja verificado em todos os indivíduos com DAE, um grande número de indivíduos pode experimentar problemas graves no que diz respeito à sua socialização.

- Condição vitalícia: por serem intrínsecas ao indivíduo, acompanham-no ao longo da sua vida. Poderão deixar de ser um problema com intervenções eficazes, especialmente quando o indivíduo atinge a idade adulta (Correia, 2011).

Também Citoler (1996, citado por Serra, Nunes & Santos, 2010), apoiado em vários estudos, postula que uma inteligência normal, a disparidade entre o rendimento e a capacidade, os maus resultados escolares, as alterações ao nível psicológico e o critério de exclusão são indicadores comuns em crianças com DAE.

Nas DAE, de entre todos os critérios anteriormente apresentados, há a referência de que são fundamentalmente três os que reúnem consenso e surgem com mais regularidade. A saber, especificidade, exclusão e discrepância (Fonseca, 1999; Citoler, 1996 e Grobecker, 1996, citados por Cruz, 2009).

Fonseca (1999) ainda faz referência ao critério de ausência de dispedagogia, isto é, é fundamental existirem adequadas condições pedagógicas para se definirem DAE. Este autor considera que é fundamental usar estratégias diversificadas para superar as dificuldades e avaliar se a pedagogia utilizada é adequada. Na presença destas condições, se as dificuldades permanecerem, efetivamente estamos perante DAE.

Relacionadas com as áreas académicas, as DAE podem ser classificadas em quatro principais tipos: dificuldades específicas da leitura – dislexia; dificuldades específicas da escrita, que se subdividem nas dificuldades ao nível da ortografia e da expressão escrita – disortografia e nas dificuldades ao nível da caligrafia – disgrafia. Por último, as dificuldades específicas da matemática – discalculia. As dificuldades nestas três áreas académicas têm implicações nas diversas disciplinas curriculares.

Correia (2011), considera que as DAE mais frequentes são: a dislexia; a disgrafia; a discalculia; a dispraxia (apraxia); os problemas de perceção auditiva; os problemas de perceção visual e os problemas de memória (de curto e longo prazo).

Alguns investigadores defendem que o despiste e a identificação precoce de casos de DAE são fulcrais para que se delineie um plano de intervenção adequado, e desta forma, se ultrapasse o insucesso escolar (Cruz, 2007; Kirk, Gallagher, Anastasiow & Coleman, 2005 e Fonseca, 1999, citados por Cruz, 2009).

Correia (2011) também entende que é urgente que os alunos que manifestam DAE, independentemente das suas características, sejam sujeitos a observações e avaliações, sendo este o ponto de partida para a inclusão das DAE numa das categorias das NEE. O autor afirma ainda que a não inclusão destes alunos na educação especial leva ao insucesso escolar prolongado, provocando sérios danos nesses alunos.

No documento DISLEXIA E DISORTOGRAFIA: UM ESTUDO DE CASO (páginas 35-39)

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