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Mapa 1 Mapa da Região Metropolitana de Belém (RMB) Pará

7. PRINCIPAIS RESULTADOS E DISCUSSÕES DA PESQUISA DE CAMPO

7.2 DIFICULDADES NA OPERAÇÃO DA EMPRESA

Na tabela 6, pode-se observar em seis aspectos as dificuldades encontradas pelas empresas mediadas por seus índices de percepção positiva em dois momentos de sua trajetoria, no início de sua implantação e atualmente. Esses são pontos que podem ampliar a compreenção da situação atual do arranjo produtivo da confecção do vestuário na RMB e são descritos logo após a tabela.

Tabela 6 - Dificuldades na operação da empresas.

Dificuldades na operação da empresa Inicio Micro Micro 2007 Pequena Inicio Pequena 2007 1. Contratar empregados qualificados

1 0,9 1 1

2. Produzir com qualidade

0,45 0,45 0,83 0,63

3. Vender a produção

0 0 0 0

4. Custo ou falta de capital de giro

0,73 0,5 1 0,63

5. Custo ou falta de capital para aquisição de máquinas e equipamentos

0,3 0,48 0,83 0,55

6. Custo ou falta de capital para

aquisição/locação de instalações 0,2 0,33 0,73 0,48

Fonte: pesquisa de campo, 2008.

Contratar empregados qualificados

É considerada de um modo geral importante para as empresas pesquisadas a dificuldade de contratar empregados qualificados, tanto para a microempresa (1,0; 0,9) quanto para a pequena empresa (1,0; 1,0), seja no início da operação, seja na atualidade. Isso decorre do pequeno número de empresas

existentes no arranjo, como também da inexistência de instituições que ofereçam cursos que formem mão-de-obra específica para essa indústria. O primeiro centro de treinamento industrial - Centro de Ensino Tecnológico para a Indústria de Confecção -CETIC/SENAI - para o setor de confecção em Belém foi inaugurado em 2006. Pode-se identificar alguns cursos de corte e costura presentes na RMB, mas focados no treinamento para atuação doméstica e artesanal da profissão de costureira. Foi também constatada empiricamente uma carência generalizada de quadros intermediários e superiores, como gerentes de produção, supervisores, modelistas, cronometristas e mecânicos, entre outros. Segundo informação dos entrevistados, não são realizados em Belém cursos com a finalidade de formar esses profissionais.

Em algumas empresas visitadas foi identificado o auto-treinamento interno, o que poderia se chamar de Learn by doing ou on job training. Como exemplo, foi identificada, em visitas às empresas, a presença de profissionais ocupando cargo de gerente industrial ou gerente de produção, os quais estavam naquele momento tendo sua primeira experiência em fábricas de confecção do vestuário. Trata-se de profissionais com formação superior em engenharia da produção ou administração que, sem conhecimento específico do funcionamento de uma confecção, enfrentam grande dificuldade de permanecer nos postos de trabalho ofertados. Esse aspecto é evidência de importante dificuldade que as empresas enfrentam para seu desenvolvimento.

Outro fator que comprova essa dificuldade é a baixa indicação nas entrevistas da ocorrência de terceirização de mão-de-obra. Em outras regiões onde se encontra maior disponibilidade de oferta de mão-de-obra treinada, as empresas operam fortemente utilizando a terceirização. A subcontratação pode ocorrer como forma negativa, ou seja, leva à precarização do trabalho e à exploração do trabalho domiciliar, mas também como forma positiva quando se torna meio de difusão do conhecimento e do know-how que poderá resultar na formação de novas micro e pequenas empresas, ou seja, modo de transferência de tecnologia.

As microempresas pesquisadas declararam um índice baixo (0,45%) em relação à dificuldade de produzir com qualidade e que permanece constante desde a fundação até a atualidade (0,45). Já as pequenas empresas declararam índices de dificuldade significativamente mais altos (0,83) no início das atividades e menores (0,63%), atualmente. A menor dificuldade percebida pelas microempresas entrevistadas pode referir-se à sua menor complexidade organizacional. O contato face-a-face na microempresa é facilitador, pois favorece a transmissão de conhecimento tácito e tem resultados positivos no acompanhamento da qualidade, além de favorecer a possibilidade de evitar erros que podem ser mais dificilmente detectados em um grupo de trabalho mais complexo. Essa diferença de percepção entre as duas categorias de empresa para esse fator pode residir tanto na complexidade da tarefa de administrar um maior número de pessoas e informações na pequena empresa, pois opera com número de 20 até 99 funcionários, como da necessidade de contratar mão-de-obra mais qualificada, com certa experiência e maior escolaridade para as funções que devem ser desempenhadas por quadros intermediários, que, como já comentado anteriormente, é mão-de-obra (conhecimento) não disponível no mercado de trabalho local. O conhecimento e o aprendizado são fundamentais para a operação dos processos de inovação nas empresas e esses definem seus padrões de desenvolvimento.

Vender a produção

Vender a produção não constitui problema para as empresas locais, isso pode ser entendido como ampla oportunidade decorrente da pouca exploração da atividade, mais procura que oferta. No caso das empresas de confecção de uniformes, há uma demanda crescente advinda da expansão industrial na região, quanto às empresas de moda, o foco nas especificidades locais foi mencionado como vantagem da localização, além da proximidade dos clientes.

Deve-se considerar que o fato de a exploração do mercado local representar vantagem para as empresas entrevistadas não significa que as empresas estejam obtendo grandes lucros, muito menos garantindo crescimento. Muitas vezes, as empresas vendem seus produtos com margens pequenas que

apenas garantem sua sobrevivência imediata. A indisponibilidade de recursos que permitam investimentos em inovação as coloca em situação de risco.

Custo ou falta de capital de giro

Tanto as microempresas (0,73; 0,50) como as pequenas empresas (1,0; 0,63) tiveram maior dificuldade no início das operações, e, posteriormente, à medida que se estabeleceram no mercado, viram essa dificuldade reduzida. As diferenças de percepção entre as duas categorias podem novamente ser atribuídas à decorrência da dificuldade na contratação de mão-de-obra qualificada, o que compromete a eficiência e o desempenho de ambas.

Custo ou falta de capital para aquisição de máquinas e equipamentos

As microempresas pesquisadas declararam ter baixas dificuldades para a aquisição de máquinas e equipamentos, isso certamente está relacionado ao atualmente reduzido preço das máquinas básicas de costura que permitem a operação de uma pequena empresa ou oficina. Porém, isso pode mascarar uma falta de conhecimento das inovações tecnológicas do setor, como CAD/CAM, ou sistemas de gestão da informação, como o uso do código de barra. Essas tecnologias facilitam sobremaneira a tomada de decisão, reduzem o tempo de trabalho na realização das tarefas e facilitam enormemente o controle dos estoques. A média empresa tem maior conhecimento das tecnologias atualmente disponíveis para o setor. No entanto, outra vez, a dificuldade de quadros intermediários, assistência técnica para os equipamentos e mecânicos especializados, pode desestimular investimentos em tecnologia.

Custo ou falta de capital para aquisição/locação de instalações

Há diferença entre as duas categorias. A microempresa inicia com menor dificuldade nesse aspecto (0,2), mas tende a ter dificuldades posteriores (0,33). Seu desenvolvimento gera necessidade de mais espaço, tanto para organizar de forma mais racional o fluxo de atividades, como para ampliar seu campo de ação. Como exemplo, se pode citar a necessidade de espaço para organizar a comercialização. O showroom, onde se possa expor seus produtos, tanto melhora a

comunicação com os clientes, como permite ao empresário trabalhar mais claramente a construção de sua oferta, ou seja, trabalhar a diferença que garante sua sobrevivência no mercado. As mesmas observações são válidas para a pequena empresa.

Pode-se destacar o alto custo para localização e adequação do espaço para o trabalho na RMB. O valor dos alugueis são altos e as condições ambientais são dificuldades a vencer para se encontrar um bom ambiente de trabalho. As altas temperaturas, a alta umidade do ar e as constantes chuvas implicam uma estruturação propícia ao enfrentamento dessas condições no ambiente de trabalho. Instalações inadequadas podem trazer sérios prejuízos. Essas condições climáticas podem ser altamente prejudiciais aos materiais e produtos finais, bem como podem influir na produtividade dos empregados. Por exemplo, para algumas pequenas empresas, é imprescindível refrigerar o salão de produção. O termo “fábrica sauna” é bastante conhecido para descrever as condições de insalubridade a que muitas vezes são submetidos os operários da confecção, que, apesar de se submeterem a essas condições, certamente, terão produtividade prejudicada e consequentemente pouca motivação para o trabalho.

7.3 PRODUÇÃO EMPREGO E MERCADO