• Nenhum resultado encontrado

Dificuldades e Problemáticas Observadas

No documento PR LUANA DE OLIVEIRA (páginas 110-113)

3. Exploração SexualIinfanto juvenil: como estamos trabalhando?

4.4 Dificuldades e Problemáticas Observadas

Quando questionado sobre fato de o município de Foz do Iguaçu- PR estar preparado para trabalhar com a exploração sexual infanto-juvenil, a psicóloga Carla afirmou:

"Eu acredito que não, sabe. A gente tá iniciando agora que eu vejo assim, tá mais focado nisso, mas muita coisa tem que ser feita de orientação, informação, capacitação, constante em todos os sentidos, esse é um aspecto também, mas eu acho que tem que ser muito trabalhado, muito... mais falado sobre esse assunto né, que fica meio um tabu né, essas questões". Compartilhamos com essa visão de que o município no período em que realizamos a pesquisa não estava preparado para trabalhar com este fenômeno da exploração sexual. Algumas problemáticas já foram apontadas anteriormente, como a dificuldade em distinguir o abuso sexual e a exploração sexual de crianças e adolescentes e a inexistência de instrumentos, como a referência, a contrarreferência e o fluxo de atendimento. Além destes, percebemos três aspectos que dificultavam ainda mais o trabalho que deveria ser desenvolvido com essas vitimas e suas famílias, os quais são: número reduzido de funcionários, rotatividade de funcionários e estrutura física.

Foz do Iguaçu é classificada como um município de médio a grande porte, com 5.000 famílias referenciadas, segundo a Norma Operacional Básica de Recursos

Humanos do SUAS - NOB-RH/SUAS os seus CRAS deveriam contar com 4 técnicos de nível superior, sendo 2 assistentes sociais, 1 psicólogo e 1 profissional que compõem o SUAS e, 4 técnicos de nível médio. Quando entramos em contato com o Assistente Social de um dos CRAS, este nos informou:

"a equipe praticamente não existe hoje que no CRAS, seria pelo menos a equipe técnica com dois assistentes sociais e uma psicóloga, e eu sou só a assistente social, não tem uma assistente social não tem psicóloga não tem outra assistente social a gente ta praticamente sem educador, uma educadora e a outra está de férias então são duas educadoras me parece que deveriam ter 4 ou 5 no mínimo"

Tivemos relatos como este que apontavam equipe mínima em vários locais. O relato de Helena, psicóloga de uma casa abrigo nos chama a atenção; segundo ele:

"Eu vejo que assim, o município como um todo teria que se... é, se adequar, tanto o CRAS que é equipe reduzida pra Foz do Iguaçu, sabe. Então já a demanda do CRAS, aí o CRAS não da conta, aí manda no CREAS, aí o CREAS tem que fazer um trabalho profundo mesmo e aí sim o Conselho Tutelar sabe, então já tem que ter um embasamento, um estudo das famílias que estão em risco, que tem os problemas pra que aí em última instância mesmo venha pro acolhimento".

E a nossa observação vai ao encontro da fala desses profissionais: o poder executivo deveria dar maior atenção a Política da Assistência Social, porque os profissionais estão tentando dar conta de uma demanda utópica.

Além da falta de profissionais percebemos que no ano de 2013, houve um remanejamento de vários profissionais que estavam atuando na área da Assistência Social. Segundo observações e as falas dos profissionais, isso ocorreu sem um estudo com os técnicos, sem uma escuta para compreender se todas estas modificações seriam benéficas para o serviço. Assim, percebemos vários profissionais desmotivados, que gostavam do seu antigo local de trabalho e alguns até mesmo ainda desorientados com o serviço que deveriam desempenhar. Segundo a Assistente social Martina, "com a implantação do CRAS eu fui para o CRAS, 2008, onde eu fiquei até o mês passado, onde de uma forma conflitante nós fomos transferidas e eu to no CRAS, no CREAS, há somente um mês, então tenho pouquíssima experiência desse trabalho". E, ele ainda complementa afirmando sobre o remanejamento:

"Porque foi feita de uma forma aleatória, todos os técnicos foram mudados, né, de lugar e de trabalho sem ser consultado, e foi feito assim, numa sexta-feira foi avisado e numa segunda-feira tinha que se apresentar

no outro lugar de trabalho, então nesse período que estou aqui, que vai fazer um mês já, então eu tive que passar por uma base de estudos, uma série de coisas for ao conflito interior, da forma como foi feito".

No decorrer da pesquisa, não tivemos contato com nenhum membro da Secretaria de Assistência Social. Tentamos marcar um horário com a atual secretária, mas isso não foi possível. Até mesmo para conseguirmos a carta de anuência tivemos contato com cinco funcionários diferentes. O que ficou responsável por conseguir a assinatura da secretaria para a nossa carta, não foi o mesmo que nos entregou posteriormente, devido ao período de férias.

Mas pessoas que tiveram seus direitos violados, como no caso de crianças e adolescentes, precisam de uma vinculação, para que não haja novamente o processo de revitimização, ou seja, ter que contar o que ocorreu para mais um profissional. Assim, a questão mais relevante nessa perspectiva é a formação de vínculos, a possibilidade de interagir com o sujeito, acessar a sua subjetividade, estabelecer relação (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2009). Vale ressaltar que o público que frequenta estas instituições já está com as suas relações fragilizadas, muitos não conseguem mais confiar no profissional que está atendendo, visto que já tiveram seus direitos violados inúmeras vezes. Assim, se um profissional conseguiu estabelecer uma relação com aquele usuário e ocorre o remanejamento de funcionário todo um processo em construção é perdido; mesmo que o antigo funcionário deixe relatórios, há a probabilidade de aquele usuário não interagir com o novo técnico.

Podemos exemplificar essas situações através da fala do psicólogo Helena, segundo ele:

"Essa menina fugiu do acolhimento. A gente teve a saída de uma mãe social aqui e ela gostava muito dessa mãe social. Essa é uma dificuldade que a gente tem também, porque um a mãe social fica aqui em média seis meses, um ano, cria um vínculo com quem tá aqui aí depois sai, essas saídas são constantes e depois da saída dessa mãe ela fugiu"

Outra problemática que encontramos em relação às instituições públicas do município de Foz do Iguaçu - PR são as condições físicas dos estabelecimentos. Já foi apontada anteriormente a situação do Conselho Tutelar, sem acessibilidade, bebedouros, salas em que possam ser realizados atendimentos de forma sigilosa, entre outros. Percebemos que em outras instituições esse problema também acontece. No CREAS com que tivemos contato não havia uma sala grande para realizar os

atendimentos individuais, e também não observamos um ambiente propício para a realização de grupos.

4.5 Formação e Capacitação dos Profissionais da Rede Socioassistencial do

No documento PR LUANA DE OLIVEIRA (páginas 110-113)

Documentos relacionados