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No Capítulo 2 ressaltou-se a importância atribuída à dinâmica da inovação nas relações comerciais internacionais. Possas (1999) chama de inovação, à tentativa de criação de um espaço novo para valorizar o capital, espaço que necessita permanecer como monopólio da firma inovadora por algum tempo (elevada apropriabilidade) para garantir uma lucratividade extraordinária. Isso pode ocorrer por meio de um novo produto, processo, mercado, forma de organização, etc. Um dos caminhos para se construírem vantagens competitivas são as inovações, embora nem sempre estas signifiquem uma ruptura radical com formas anteriores de produzir (ID., 1999). Na pesquisa empírica, buscou-se identificar onde está a principal fonte de inovação de produto e de processo das empresas de beneficiamento de mármore e granito da Bahia (Quadro 15).

Os resultados da pesquisa demonstram que as inovações tecnológicas provêm de agentes externos às firmas, sobretudo do fornecedor de equipamentos e que o aprendizado se dá na própria empresa (Quadro 15 e 16). Constata-se que 100% dos entrevistados apontaram “em cooperação com fornecedores de equipamentos”, como fator muito importante para incorporação de novas tecnologias (Quadro 15).

Embora na incorporação de novas tecnologias o fator “em cooperação com fornecedores de insumos” tenha sido considerado muito importante por apenas 40% das firmas, a empresa que está implantando o tear importado da Itália, declarou que um fornecedor de insumo (segmentos diamantados) da Bélgica levou a amostra do mármore bege para este país, e lá fez pesquisas para melhorar a qualidade dos

insumos, o que concorreu para a melhoria da qualidade de seu produto. Pelo porte e características, as firmas em estudo não têm condições de investir em P&D, pois 100% delas consideraram inovações provenientes de seus laboratórios de P&D sem importância (Quadro 15).

QUADRO 15

Incorporação de Novas Tecnologias (%) Sem Importância Pouco Importante Importante Muito Importante Total Aquisição de máquinas compradas no

mercado nacional

20,0 80,0 100,0

Aquisição de máquinas compradas no mercado internacional

80,0 20,0 100,0

(PFRRSHUDomRFRPIRUQHFHGRUHVGH

HTXLSDPHQWRV  

Em cooperação com fornecedores de insumos

40,0 20,0 40,0 100,0

Em cooperação com empresas usuárias 60,0 20,0 20,0 100,0 Em cooperação com outras empresas

concorrentes

80,0 20,0 100,0

Em cooperação com outras organizações (ensino e pesquisa)

80,0 20,0 100,0

Nas unidades de produção da empresa 40,0 40,0 20,0 100,0

Em laboratórios de P&D da empresa 100,0 100,0

Via licenciamento ou -RLQW9HQWXUH 100,0 100,0

FONTE: Pesquisa de campo Elaboração Própria

Com base na taxonomia sistematizada pelo economista Pavitt em 1984 (POSSAS, 1988) no que se refere a processos de geração e difusão de inovações, pode-se deduzir que as serrarias de Jacobina-Ourolândia enquadram-se no tipo GRPLQDGDVSRUIRUQHFHGRUHV (VXSSOLHUGRPLQDWHG . Na classificação fundamentada em difusão de inovações tecnológicas, Pavitt aponta quatro tipos de setores produtivos:

'RPLQDGRVSRUIRUQHFHGRUHV As inovações são basicamente de processo, impulsionadas exogenamente pelos fornecedores de máquinas e bens intermediários mais avançados. A indústria de rochas ornamentais pertence a esta categoria (Quadro 16). As indústrias têxtil, de vestuário, editorial e gráfica, de couro e madeira, também se enquadram neste grupo.

,QWHQVLYRV HP HVFDOD. Onde tanto as inovações de produto como as de processo envolvem o domínio de sistemas complexos de fabricação. As economias de escala internas (Capítulo 2) estão presentes em empresas de grande porte, com altos gastos em P&D e freqüente integração vertical. Exemplo: indústrias de material de transporte, bens eletro-eletrônicos duráveis, metalurgia, produtos alimentícios, vidro e cimento.

)RUQHFHGRUHV HVSHFLDOL]DGRV (VSHFLOL]HG VXSSOLHUV  As inovações, geralmente de produtos, envolvem contato íntimo das firmas (na maioria pequenas) com usuários e domínio específico de tecnologia de projeto e construção de equipamentos. Exemplos: indústria de engenharia mecânica e de instrumentos.

,QWHQVLYRV HP FLrQFLD (VFLHQFH EDVHG). O processo de inovação está diretamente vinculado a um paradigma tecnológico, viabilizado por um paradigma científico. Apresenta oportunidades tecnológicas1, elevados investimentos em P&D, grande porte de empresas (exceto nichos altamente especializados), e difusão tecnológica predominantemente por seleção. Exemplos: indústrias eletrônicas e químicas.

Posteriormente, em 1989, Pavitt indentificou um quinto tipo de empresa/setor, basicamente associado à área de serviços, caracterizado como “intensivo em informação” (BATISTA, 1997)

Nos setores intensivos em ciência há elevada apropriabilidade. As oportunidades tecnológicas são cientificamente determinadas e economicamente exploradas a partir de investimentos maciços em P&D, através dos quais opera o mecanismo de aprendizado típico (POSSAS, 1988).

1

2SRUWXQLGDGHWHFQROyJLFD refere-se a ganhos esperados de produtividade, qualidade (ou em termos gerais, de competitividade) que podem ser obtidos a partir de uma certa inovação (SCATOLIN et al., 2002).

No extremo oposto, ou no primeiro caso, ao qual pertence a indústria de rochas ornamentais, há baixa apropriabilidade e oportunidade exógena de inovação. A difusão das inovações eventualmente introduzidas pelas empresas se dá por aprendizado junto aos fabricantes de máquinas ou de insumos, e é afetada pela interação entre as firmas, dominada por fornecedores especializados. O aumento da adoção de novas tecnologias leva à sua crescente rentabilidade, quer pelos custos decrescentes, quer por economias de escala, ou ainda por efeitos de GHUUDPDPHQWR (VSLOORYHU), resultantes da difusão estimulada por fornecedores (ID., 1988). De fato, o gerente da empresa que havia importado equipamento de tecnologia mais avançada, declarou que trocava muitas informações com a outra empresa, a qual acabava de implantar um tear de lâminas diamantadas. Este é um exemplo de aprendizado por interação (OHDUQLQJ E\ LQWHUUDFWLQJ), característica dos arranjos produtivos maduros. O fator “em cooperação com outras empresas concorrentes” ainda foi considerado sem importância por 80% dos entrevistados (Quadro 15).

5.10 RELAÇÕES DE COOPERAÇÃO DAS EMPRESAS COM OS DEMAIS