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5. POSSIBILIDADES DE COOPERAÇÃO ENTRE AS EMPRESAS DO APL

5.1 DIFUSÃO, TRANSFERÊNCIA E COOPERAÇÃO

O receio de que seus investimentos em inovação beneficiarão seus concorrentes é uma preocupação recorrente em quase todas as empresas do APL participantes da pesquisa. Porém, existe uma vantagem significativa entre a empresa que inova e as que posteriormente se apropriam dessa inovação. Tidd, Bessant e Pavitt (2008) destacam que as inovações são utilizadas primeiramente por seus inventores. Estes são os primeiros adotantes e este fato se torna um diferencial competitivo em relação aos demais adotantes, definidos por estes autores como adotantes retardatários.

Dada esta explicação sobre as vantagens que as empresas denominadas “inventoras” poderão ter em relação às demais empresas que porventura vierem a se beneficiar das inovações desenvolvidas, também convém destacar a importância de buscar a inovação por meio de cooperação. Por meio dela as empresas podem conseguir reduzir custos e tempo investido em desenvolvimento de inovações, bem como adquirir novas habilidades que impactarão positivamente nos processos e produtos da empresa (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008).

No processo de difusão da inovação nas empresas participantes da pesquisa, é compreendido que ele ocorre internamente, de forma mais clara nas empresas que possuem um setor de P&D mais estruturado ou em estruturação, onde existe a elaboração de um planejamento do processo de pesquisa e desenvolvimento com o foco em resultados. Dessa forma, os investimentos em inovação buscam um objetivo claro a ser alcançado e que

geralmente tem como enfoque principal entregar resultados positivos para a empresa. O entrevistado R10 destaca que na empresa EP10 deve estar muito claro no planejamento a

aplicação prática da inovação a ser desenvolvida para que os investimentos sejam aprovados. Esse fato, de ter uma obrigatoriedade de entregar resultados positivos, cria uma ocorrência maior da difusão da inovação desenvolvida, ou seja, uma ocorrência mais frequente da adoção da inovação. Para Tidd, Bessant e Pavitt o fato da inovação ser utilizada ou adotada é o que a caracteriza como difundida (2008). Sendo assim, nas empresas que possuem um setor ou equipes dedicadas à pesquisa, a inovação desenvolvida possui mais chance de ser utilizada, impactando no desenvolvimento e na competitividade dessas empresas.

Foi apurado que nas empresas EP1, EP2, EP4, EP6 e EP10, nas quais existe um setor de

P&D já formado ou em estruturação, e onde os retornos dos investimentos em inovação são identificados, ou seja, a inovação desenvolvida foi adotada e isto impactou em retornos positivos para elas. Como exemplo, as empresas EP1 e EP2 citam que os investimentos em P&D

resultaram em um produto diferenciado em relação aos de seus concorrentes. A empresa EP4

destaca que os investimentos em P&D resultaram em melhorias em seus produtos e o desenvolvimento de um produto que se tornou referência mundial em termos de capacidade. Para a empresa EP6 os investimentos em P&D resultaram em novos processos que foram adotados na montagem de seus equipamentos e também a criação de novos produtos que tiveram patentes registradas. Já para a empresa EP10, o resultado dos investimentos em P&D

possibilitou a adoção das inovações em vários setores e produtos, pois esse processo já se tornou algo comum dentro da empresa.

No entanto, nas empresas, que não possuem um setor ou equipe dedicada para P&D, o processo de inovação ocorre intrinsecamente em seus processos e geralmente depois que a demanda ou dificuldade já esta instalada, ou seja, ela ocorre no modelo descrito por Moreira e Queiroz (2007) como demand pull (a demanda puxa a inovação). O processo de inovação é iniciado para atender uma demanda já existente e talvez, se não existisse a demanda, o processo para inovação não seria iniciado. Pelo fato da inovação já nascer com o objetivo específico de atender uma necessidade, ela é difundida quando é desenvolvida. Essas empresas não possuem registros claros sobre melhorias em seus processos e produtos resultantes de alguma ação de inovação. Geralmente a percepção é subjetiva baseada na boa aceitação dos produtos pelos clientes e no impacto nos resultados da empresa.

Nos processos de terceirização existentes entre as empresas não é percebida a difusão da inovação. Conforme destacado pelos entrevistados R2 e R4 existe uma preocupação grande

Esta preocupação também foi percebida de forma subjetiva nas falas dos demais entrevistados. Desta forma, as inovações que ocorrem dentro de uma empresa são pouco utilizadas pelas demais empresas do APL, não sendo possível identificar de forma objetiva a difusão deliberada das inovações e outros adotantes delas.

Porém, a difusão e transferência da inovação também podem ser percebidas de outra forma dentro do APL. A característica de ser um polo metal mecânico faz com que existam localmente várias empresas com semelhanças em seus processos produtivos, por isto a mão de obra formada e qualificada pode ser utilizada em várias delas. A proximidade local das empresas possibilita um fluxo de mão de obra entre elas e este fluxo ocorre naturalmente. Os processos de demissão e contratação fazem com que localmente, de forma não controlada, ocorra uma difusão e transferência da inovação entre empresas, pois quando um funcionário se desloca de uma empresa para outra acaba levando consigo experiências adquiridas na empresa antiga. Estas experiências possibilitarão que a nova empresa possa melhorar os seus processos e produtos por meio dessa nova mão de obra.

Conforme R4 essa transferência de conhecimento não ocorre por uma má fé do

funcionário em levar algo de uma empresa para outra, nem pode ser considerado uma copia ou plágio, pois o mesmo está usando o seu conhecimento adquirido e não algum projeto ou produto da empresa onde ele trabalhava anteriormente. Assim sendo, pode ser constatado que o fluxo de mão de obra entre as empresas é um agente importante da difusão e transferência da inovação entre as empresas locais.

Outro fato também percebido dentro de algumas empresas pesquisadas é que o processo de inovação também possui um envolvimento de instituições de ensino para apoio na pesquisa básica. Os entrevistados R2, R3, R4, R6 e R10 observam que em determinado momento do

processo de inovação, existe um relacionamento com instituições de ensino técnico e superior, inclusive do exterior, para complementarem etapas da pesquisa que não são possíveis de serem realizadas dentro das empresas, seja por falta de pessoal qualificado ou por falta de laboratórios adequados. É compreendido que para essas empresas a transferência de inovação e de conhecimento que ocorre nessas parcerias possibilita que a as mesmas avancem em seus processos internos de forma mais rápida e em alguns casos, com custos mais acessíveis. Contudo acreditam que essas parcerias entre as instituições de ensino e empresas ainda são muito fracas e poderiam melhorar muito.

Indo contra um dos motivos da existência do APL, o de promover uma cooperação entre as empresas locais, os processos de cooperação entre as empresas são muito limitados. Os entrevistados relatam raros casos de aproximação entre as empresas e uma grande resistência

delas trabalharem em conjunto, independente do tipo de trabalho. A pouca cooperação que pode ser percebida entre as empresas se dá por relacionamentos entre alguns de seus donos ou diretores, mas esse fato quase não pode ser considerado uma cooperação, pois ocorre de maneira muito informal e não acompanha as relações empresariais, ou seja, não depende da formalidade entre as empresas e sim da cordialidade nas relações pessoais existentes entre donos, sócios, diretores e gerentes.

Os entrevistados não conseguem perceber de forma clara como ocorre ou se ocorre o processo de difusão, transferência e cooperação entre as empresas participantes do APL. No entanto destacam que um avanço na cooperação entre as empresas é algo muito importante para que a região se desenvolva de forma mais eficiente, fazendo com que as empresas tenham acesso à inovação ou criem condições internas de inovar para se tornarem mais competitivas. O Comitê Gestor do APL também visualiza como extremamente importante haver cooperação entre as empresas locais com foco em inovação, contudo admite que existem grandes dificuldades em desenvolver ações em conjunto e vencer a resistência à cooperação.

Essa visão dos entrevistados está totalmente de acordo com o destaque que Tidd, Bessant e Pavitt (2008) dão às alianças com foco em colaboração para a inovação, visando reduzir custos, onde os investimentos podem ser rateados entre as empresas e acelerando o tempo de desenvolvimento da inovação, pois em conjunto estarão envolvidos mais recursos. Essas alianças dão condições de criar um aprendizado compartilhado que posteriormente as empresas utilizarão individualmente em seus processos.

Esses fatos observados pelos autores citados, já são grandes justificativas para que as empresas do APL intensifiquem trabalhos relacionados à inovação de forma cooperada, pois a diversidade de tamanho das empresas e o distanciamento entre as posições atuais de desenvolvimento que as mesmas possuem, podem contribuir para que empresas com menos recursos e com menos capacidades de inovação possam se beneficiar com aquelas que estão mais à frente e que já passaram por esse processo inicial de aprendizado. As empresas maiores e mais desenvolvidas podem se beneficiar, no médio prazo com o desenvolvimento das empresas menores, tornando a região mais forte e competitiva, possibilitando que as empresas encontrem soluções locais com qualidade e com custos competitivos.

O quadro 6 sintetiza o pensamento predominante nos participantes da pesquisa sobre a cooperação das empresas em relação a inovação, podendo ser encontrado nele o que seria possível de ser trabalhado entre elas de forma cooperada para o desenvolvimento da inovação.

Cooperação e Difusão da Inovação nas empresas participantes da pesquisa Empresa Acredita na Cooperação Gostaria de ter acesso Socializaria a Inovação

EP1 Entre os pequenos talvez. Sim Dependendo do tipo de inovação.

EP2 Não. Sim. Não.

EP3 Em parte, dependendo do

que vai ser cooperado.

Sim. Dependendo do tipo de inovação.

EP4 Não na Inovação, mas em

forma de inovar.

Sim. Modelos de inovação sim.

EP5 Sim e que poderia haver

grandes ganhos para todos.

Sim. Sim na forma de buscar a inovação.

EP6 Não. Acredito que haja

uma carência muito grande na cooperação.

Sim. Sim. Acredita que deve ter maturidade

empresarial para que a região cresça. EP7 Sim e que poderia haver

grandes ganhos para todos.

Sim. Modelos de inovação, de melhoria de

processos, novos mercados. EP8 Sim e que poderia haver

grandes ganhos para todos.

Sim. Modelos de inovação e de melhoria de

processos. EP9 Sim e que poderia haver

grandes ganhos para todos.

Sim. Modelos de inovação e de melhoria de

processos. EP10 Sim e que poderia haver

grandes ganhos para todos.

Sim. Modelos de inovação e de melhoria de

processos. Fonte: O Autor (2017).

Na opinião dos entrevistados sobre o processo de cooperação entre as empresas em relação à inovação, apenas uma empresa não acredita que a cooperação seja possível. Apesar de achar interessante ter acesso à inovação que possa surgir nessa cooperação, não visualiza a cooperação como uma realidade possível localmente. Na maioria das empresas, apesar de não perceberem que haja uma intensidade de cooperação, a mesma é vista como algo importante para o desenvolvimento das empresas locais. Destacam que existem várias formas de cooperação, não só na inovação tecnologica, mas também na forma como as empresas possam inovar. Sendo assim, as empresas estariam dispostas a socializar modelos de inovações. Os entrevistados R10 e R4 ainda destacam que teriam interesse e condições de apoiar as empresas

locais na estruturação de equipes ou setores voltados à inovação, pois hoje possuem equipes e setores já estruturados e que dão bons retornos sobre os investimentos em inovação. Já passaram pela fase de estruturação, tiveram erros e acertos e que essa experiência pode ajudar as demais empresas a evitar alguns erros, reduzindo custos e tempo nesse processo.

Portando, se faz necessário que as empresas tenham consciência de que cooperar em um grupo, que nesse caso é o APL, cria mais benefícios do que riscos. Além de fortalecer as empresas locais no âmbito da inovação, também faz com que o grupo seja reconhecido por algo que atualmente é fundamental para a sobrevivência das empresas, o ato de inovar. Conforme observam pelo Comitê de Gestão do APL e o entrevistado R10, necessariamente uma empresa

não precisa socializar a sua “fórmula do sucesso”. Existem muitas maneiras pelas quais elas podem cooperar e fomentar a inovação local sem correrem riscos de serem prejudicas. Para os

entrevistados R4, R6 e R10 é fundamental que as empresas aprendam o processo de inovar.

Apesar de ter uma complexidade grande no processo de formação de um setor de P&D e de controlar os investimento e seus resultados, existem maneiras menos complexas de se implementar um “espírito inovador” dentro dos processos da empresa. Esses processos mais simplificados resultarão em pequenas inovações que podem ocorrer com grande frequência e acarretarão em grandes resultados para as empresas, pois “é na verdade as pequenas soluções que mais trazem benefícios e retorno rapidamente para a empresa” (R4, 2016).

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