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4. PRINCIPAIS PROCESSOS DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EXISTENTES NO APL

4.2 PROCESSOS DE INOVAÇÃO EXTERNOS E INTERNOS

O processo de inovação não necessariamente precisa ter uma formalidade rígida, com controles e indicadores que possam dar com mais exatidão às informações de investimentos e retornos no processo de inovação. Seria o ideal, mas não é obrigatório. Uma empresa pode ter a inovação como algo intrínseco em seus processos, com grandes avanços sem que ela tenha indicadores sobre essa inovação. Porém, também existem os casos em que as empresas possuem departamentos e equipes voltadas à inovação com um alto nível de controle. As empresas podem ter inovação em seus processos que são oriundas de fontes externas, com transferência direta ou indireta de inovação ou, ter um processo de pesquisa para inovação com fontes internas, ou ainda, uma combinação de ambos os casos (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008; OECD, 2005).

Conforme pôde ser apurado nas empresas participantes da pesquisa, a inovação ocorre em todas elas. Em algumas com setores específicos para tal finalidade. Mas, na maioria das empresas o processo de inovação ocorre de uma maneira não tão formal em seus processos produtivos e administrativos, com mais ou menos intensidade. Em algumas empresas, mesmo

não havendo um setor específico para a inovação, os processos de inovação são controlados e monitorados. Porém, existem empresas que somente possuem uma percepção de que ocorre algum tipo de inovação, sem um controle ou monitoramento que possa identificar investimentos ou retornos desse processo. Essa particularidade nos processos das empresas do APL cria uma dificuldade em medir o grau de inovação existente nas empresas, pois em muitos casos os processos de P&D e inovação se confundem com os processos da empresa (OCDE, 2002), como por exemplo, nas empresas foram caracterizados como investimentos em inovação a aquisição de equipamentos com o foco de melhoria na produção, a utilização dessa nova máquina necessitou treinamentos e qualificações dos operadores e os valores gastos com esses treinamentos nem sempre são considerados pelas empresas como investimentos em inovação, pois destacam os entrevistados que no caso de contratação de um novo operador, o treinamento ocorre novamente, porém a empresa não inovou nesse momento.

Para os responsáveis pela inovação ou por setores que estão mais diretamente ligados à inovação nas empresas participantes da pesquisa, a percepção sobre inovação possui em grande parte uma definição de eficiência em seus processos produtivos com foco na qualidade, redução de custos e melhoria nos resultados. Também possui bastante força a percepção de que a inovação é algo relacionado com o foco em atender as demandas do mercado e em aumentar a competitividade da empresa. Mas é nas empresas que possuem setores específicos para a inovação que a definição sobre inovação é mais conceituada e resume a maioria das definições das demais empresas. Para as empresas EP4 e EP10, nas falas dos entrevistados, o processo de

inovação deve ser “uma estratégia e uma definição da empresa”. Para eles o processo deve iniciar na direção da empresa, ter o total apoio dela, pois acreditam que se não for assim, o restante da empresa não terá força suficiente para fazer a inovação. A preocupação com inovação deve elevar o setor responsável por ela ao mesmo patamar de importância das demais áreas e setores da empresa, como os setores de vendas, compras e até mesmo produção (R10,

2017).

Também é destacado pelos participantes da pesquisa que os investimentos em inovação necessariamente não impactarão nos resultados no curto prazo. Em alguns casos “a inovação é algo que é plantado e vai dando frutos por longos tempos, então, muito do que fizemos ainda vai dar grandes resultados para o futuro” (R4, 2017). Os investimentos em inovação vão

refletindo em novos conhecimentos que com o passar do tempo vão beneficiando vários setores e vários produtos que não necessariamente eram foco inicial do processo de inovação.

O quadro 4 resume a percepção dos responsáveis das empresas sobre inovação: como está o setor de P&D, qual o foco que a inovação possui na empresa e qual a fonte da inovação. Por último, faz um enquadramento nas classificações Schumpeterianas de inovação.

Quadro 4 – Inovação nas empresas participantes da pesquisa

Inovação nas Empresas participantes da pesquisa

Empresa Percepção Setor Foco Fonte Enquadramento

Schumpeteriano EP1 Inovação como principal diferencial de competitividade. Em estruturação. Processos e produtos. Externa de grandes clientes. Novos processos e novos mercados. EP2 Melhorar constantemente a forma que você trabalha.

Bem estruturado.

Produtos e pessoas.

Interna com equipe de P&D e externa com consultorias. Novos processos. EP3 Adequação as demandas do mercado. Estruturado e fraco. Processos, produtos e novos mercados.

Interna com equipe de P&D e externa com parcerias. Novos produtos e novos mercados. EP4 Parte fundamental do planejamento da empresa para sobrevivência. Bem estruturado. Produtos, processos, pessoas e novos mercados.

Interna com equipe de P&D.

Novos produtos.

EP5 Melhorar produtos e

serviços com foco na redução de custos e atender a demanda do mercado.

Não possuí. Processos e equipamentos.

Interna de forma subjetiva nos processos produtivos. Novos processos e novas fontes de suprimentos. EP6 Inovação como principal diferencial de competitividade. Bem estruturado. Processos e produtos.

Interna com equipe de P&D.

Novos processos e novos produtos.

EP7 Melhorar

constantemente a forma que você trabalha para apresentar novas soluções.

Não possuí. Processos, produtos e novos mercados. Externa com consultorias. Novos processos e novas organizações. EP8 Melhorar os processos para produzir com menor custo e com mais qualidade.

Não possuí. Processos, produtos e novos mercados.

Interna de forma subjetiva nos processos produtivos.

Novos processos e novos produtos.

EP9 Uma nova ideia que

atenda o mercado e traga retorno para a empresa.

Não possui. Processos e produtos.

Interna de forma subjetiva nos processos produtivos.

Novos processos.

EP10 Fator principal para

a evolução da empresa. Melhorar a eficiência, fazer o mais com menos.

Bem estruturado. Produtos, processos e pessoas. Cultura de inovação em todos os setores da empresa. Interna com equipe de P&D e externa com compra.

Novos processos e novos produtos.

São percebidas várias formas de inovação nas empresas participantes da pesquisa. Conforme o quadro 4 os seus setores de inovação estão estruturados da seguinte forma: quatro empresas possuem setor bem estruturado; uma possui setor voltado à inovação, porém considera que o mesmo é fraco; uma está estruturando o setor e; quatro empresas não possuem um setor específico para tratar os processos de inovação. Constata-se claramente que o tamanho da empresa em número de funcionário tem relação com estruturação do setor de inovação. Em suas falas os responsáveis das empresas alegam que há dificuldade em alocar pessoas para o processo de inovação, pois “na maioria das vezes a empresa necessita escolher entre alocar recursos na produção ou no processo de pesquisa para inovação e, neste caso, geralmente a escolha é para a primeira opção” (R3, 2016).

Mesmo não havendo um setor responsável por inovação em algumas empresas, a inovação ocorre de forma subjetiva nos processos administrativos e produtivos. Esse fato pode ser constatado quando se investiga como a empresa percebe a inovação. Em todas foi possível identificar onde a inovação é mais presente. Quase que na totalidade pode ser constatado que há inovação em produtos e processos. Apenas a EP5 não identificou inovação em produto, pois

essa empresa possui uma característica de engenharia reversa onde a produção parte de um produto pronto no mercado, adaptando os seus processos produtivos para ao final ter um produto idêntico.

Quatro empresas destacaram a importância em buscar novos mercados, principalmente depois de terem clientes relevantes que foram impactados por crises. Este fato fez com que essas empresas diversificassem seu mix de produtos para atender mais segmentos de mercado e serem menos impactadas pela sazonalidade da agricultura. Conforme R1 destaca “tem uma

época de baixa da armazenagem que não concilia com as épocas de baixa das plantadeiras e com a de colheitadeiras”. Dessa maneira participar como fornecedor somente em um dos ciclos da produção de grãos, é um risco grande que diminui quando se participa em mais partes desse ciclo, pois “tem um melhor aproveitamento do nosso parque fabril durante todo o ano”. Uma empresa que possui algum tipo de inovação, seja em produto, seja em processos, está mais preparada para se adaptar aos imprevistos e aproveitar as oportunidades (SCHUMPETER, 1961) e essa é uma preocupação para os responsáveis pela inovação nas empresas de maior porte participantes da pesquisa.

Apesar de que na cadeia produtiva local existam muitos fabricantes de peças e componentes para grandes montadoras, pôde ser percebida uma baixa frequência, nas empresas, de imputs de inovação oriundos de seus próprios clientes que produzem equipamentos com grande tecnologia embarcada e que, no processo de terceirização, poderiam dar oportunidade

de transferência de tecnologia para seus fornecedores. Conforme destacado pelo R4 da empresa

EP4, o que existe no processo de terceirização é a externalização da produção de “componentes

que não comprometem a divulgação do processo de inovação da empresa. Depois esses componentes são montados aqui na empresa”. Quando existe a necessidade de se terceirizar algo que deva levar a inovação para fora da empresa “temos o cuidado em proteger o que criamos aqui dentro”. Essa mesma preocupação e cuidado puderam ser constatados na empresa EP2, na qual R2 destaca que “existem muitos investimentos em equipes, em estudos e isso a

empresa quer que fique para ela”, reforçando que o desenvolvimento da inovação é um grande diferencial competitivo e é mantido em sigilo.

Na empresa EP10 houve um planejamento para que ela tivesse quase que total autonomia

nos processos de produção. R10 relata que a empresa foi criando suas condições para que “com

o passar do tempo não ter tanta dependência externa”. Então são poucos os processos que a empresa terceiriza e desse modo, a inovação que é desenvolvida dentro da empresa, acaba não sendo externada em parcerias, seja por cooperação, seja por terceirização. Apenas a empresa EP1 destacou que seus clientes transferem algum tipo de inovação para ela. Observa que os

contratos entre as empresas protegem bastante essa transferência, mas que é obrigada a seguir rigorosamente as orientações para a fabricação desses produtos, e a aprendizagem que ocorre nessa relação faz com que outras áreas e produtos da empresa também evoluam. Porém, cabe destacar que esses clientes da empresa EP1 são de fora da região abrangida pelo APL. Portando,

podem ser notadas poucas ocorrências de imputs de inovação na região de abrangência do APL oriundos de empresas locais.

Também há um fato importante de ser observado é que no processo de relacionamento com empresas maiores, mesmo não havendo um imput direto de inovação, as empresas destacaram que para atender as especificações e normas estipuladas pelas empresas clientes, a fornecedora é obrigada a inovar. Para cumprirem com essas obrigações precisam buscar de alguma forma essa inovação exigida, citando como exemplo as normas da ISO. Esse fato pode ser explicado pelo modelo linear reverso de inovação ou demand pull, no qual a principal característica é que o processo de inovação ocorre com um estímulo das necessidades e exigências do mercado (MOREIRA;QUEIROZ, 2007). Esse modo de inovar é relevante para as empresas participantes da APL, pois essa obrigação faz com que elas necessitem buscar constantemente apoios para desenvolver suas inovações em várias áreas.

O quadro 5 sintetiza a ocorrência de investimentos em inovação nas empresas, como essa inovação é controlada, os retornos desses investimentos e, por fim, investimentos que não foram realizados que as empresas julgam que tiveram impactos em seus resultados.

Quadro 5 – Investimento em Inovação nas Empresas participantes da pesquisa Investimento em Inovação nas Empresas participantes da pesquisa Empresa Ocorrência Controle dos

Investimentos Retornos dos Investimentos

Investimentos não Realizados

EP1 Moderados Possui poucos

controles em investimento e seus retornos.

- Primeiro projeto piloto de inovação teve retornos representativos em faturamento.

- Melhoria em processos.

Equipe de inovação.

EP2 Intensivos Controla todos os

investimentos e seus retornos.

- Alteração no principal produto com foco na geração de resultados para os clientes. - Criação de novos

componentes na empresa.

Infra de TI - Softwares de engenharia e gestão.

EP3 Poucos Controla todos os

investimentos e seus retornos.

- Não possui informações diretas sobre retornos dos investimentos.

- As percepções são subjetivas com aceitação de clientes aumento de vendas.

Máquinas e

equipamentos da fábrica.

EP4 Intensivos Controla todos os

investimentos e seus retornos.

- Retornos positivos na geração de resultados para os clientes. -Desenvolvimento de um produto referência mundial.

Ter sido investido antes e com mais recursos na equipe de inovação.

EP5 Poucos Não possui controles

sobre os investimentos e seus retornos.

- Retorno positivo com a implementação da ISO, mas sem registros quantitativos.

Processos produtivos.

EP6 Intensivos Controla todos os

investimentos e seus retornos.

- Possui informações diretas sobre investimentos e retornos.

Não se identificou algo relevante.

EP7 Poucos Não possui controles

sobre os investimentos e seus retornos.

- Intensivo em processos produtivos e de gestão tiveram resultados perceptíveis na redução de custos, porém sem uma relação de causa e efeito direta.

Máquinas e

equipamentos da fábrica.

EP8 Poucos Não possui controles

sobre os investimentos e seus retornos.

- Não possui informações diretas sobre retornos dos investimentos. As percepções são subjetivas com aceitação de clientes aumento de vendas.

Ter sido investido na produção de novo produto e em uma equipe de P&D

EP9 Poucos Não possui controles

sobre os investimentos e seus retornos.

- Não possui informações diretas sobre retornos dos investimentos. As percepções são subjetivas com aceitação de clientes aumento de vendas.

Processos produtivos.

EP10 Intensivos Controla todos os

investimentos e seus retornos.

- A empresa possui controles eficientes que apoiam as decisões perante os comitês de investimentos de P&D e perante os diretores.

Todos os investimentos avaliados como

importantes pelo comitê foram aprovados. Fonte: O Autor (2017).

Outro fator que também pode ser relacionado ao tamanho das empresas pesquisadas é a ocorrência de investimentos em inovação. Identifica-se no quadro 5 que das cinco maiores

empresas, quatro possuem investimentos intensos no setor de inovação e são as que possuem um setor responsável por inovação bem estruturado. Uma possui investimentos moderados e o setor de inovação está sendo estruturado. As empresas que possuem investimentos intensos em inovação controlam os valores investidos e os retornos oriundos desses. Estes controles são segundo R4, R6 e R10 fundamentais para que a gestão da empresa possa dar credibilidade ao

setor responsável pela inovação e continuar investindo. Uma empresa possui pouco investimento em inovação, porém possui controles sobre os valores e os retornos desses. Para essas empresas existem identificações dos retornos que o investimento em inovação proporcionou, seja com a identificação de novos produtos, pelo aumento na satisfação de seus clientes ou ainda com o aumento no faturamento e resultados.

Apenas duas empresas não identificaram investimentos que não foram realizados e que tiveram impactos dentro da empresa. Três empresas relataram que os investimentos não realizados que mais tiveram impactos foram os relacionados à própria equipe ou setor de inovação. Elas conseguem avaliar que um setor ou equipe com recursos para pesquisa e desenvolvimento poderia colocar a empresa em um patamar melhor que o atual. As empresas que possuem um setor de inovação bem estruturado avaliam que o investimento nessa área deveria ter ocorrido antes. Mesmo tendo ótimos resultados com o setor, o investimento tardio trouxe consequências competitivas para a empresa e representou um atraso frente outras áreas do mercado e concorrentes.

Em resumo, os processos de inovação podem ser percebidos internamente nas empresas participantes da pesquisa como aprimoramento de seus processos produtivos, na busca de atender às demandas do mercado, principalmente para adequação as normas técnicas exigidas. Também existe um aprimoramento nos processos de gestão que podem ser considerados como inovação, pois acabam impactando positivamente na melhoria dos resultados das empresas. Em poucas empresas a inovação possui um foco para criação de novos produtos. Apenas as empresas EP1, EP4 e EP10 relatam encaminhamento de patentes decorrentes de seus processos

de inovação.

A inovação nas empresas pesquisadas ocorre principalmente em processos que por sua vez desencadeiam inovações nos produtos. Se avaliadas sob a ótica de Tidd, Bessant e Pavitt, (2008) as inovações são em sua maioria inovações incrementais, pois são inovações que melhoram processos e produtos já existentes. Em alguns casos ocorre criação de um produto novo para a empresa, mas o mesmo já é existente no mercado. Dessa forma, não pode ser constatada nenhuma inovação radical. Também pode ser entendido que para uma empresa houve uma inovação de posição no mercado, pois mesmo atuando no ramo agrícola, ela era

fornecedora de apenas uma parte do ciclo e por meio de uma melhoria nos seus processos de gestão, passou a estar presente em todas as etapas da agricultura.

As oportunidades internas de inovação dentro do APL podem ser percebidas de forma mais relevante, de acordo com as definições de Drucker (2000; 2001), como necessidade de melhorias nos processos das empresas frente a dificuldades e desafios encontrados e também com mudanças orientadas por alterações no mercado onde atuam. Se avaliadas as oportunidades externas, podem ser percebidas as decorrentes de mudanças de percepções no mercado onde as empresas estão atuando.

Se for avaliada a inovação pela abordagem estratégica de Whittington (2002), pode ser constatado que em sua maioria as empresas possuem uma abordagem clássica e evolucionaria, pois ocorre conforme as demandas de mercados sem grandes investimentos em P&D, ou seja, a inovação nessas empresas é orientada pelo mercado. Porém, existem algumas empresas onde a estratégia sobre a inovação pode ser considerada sistêmica, pois as empresas possuem capacidades internas que são extremamente importantes para gerar a inovação. Nessas ocorre também a estratégia racional, em que são seguidos os passos de descrever, compreender, analisar o cenário, elaborar um plano e executar o mesmo.

Ainda pôde ser observado que em muitas empresas ocorre uma busca por apoio externo para inovação por meio de parcerias institucionais de empresas com as quais possuem bons relacionamentos, de consultorias especializadas e parcerias com instituições de ensino. As empresas EP4, EP6 e EP10 destacam que, apesar de serem importantes, as parcerias com

instituições de ensino, no Brasil ainda existe uma distância muito grande entre a pesquisa acadêmica e a pesquisa aplicada que as empresas possam se apropriar. R4 visualiza que existe

um ponto contraditório entre os objetivos de pesquisa das empresas privadas e das instituições de ensino. A primeira tem foco na pesquisa para benefícios próprios. Sendo assim, o que for descoberto ou aprimorado fica protegido com a empresa. Por outro lado, as instituições de ensino tem como foco principal a divulgação dessas descobertas para toda a sociedade.

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