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A dimensão afetiva e os aspectos facilitadores e não facilitadores no processo ensino-aprendizagem

No documento APARECIDA DE FÁTIMA FERRAZ QUERIDO (páginas 80-83)

A dimensão afetiva e os aspectos facilitadores e não facilitadores no

1.2. A dimensão afetiva e os aspectos facilitadores e não facilitadores no processo ensino-aprendizagem

O processo ensino-aprendizagem constituem uma unidade dialética, que envolve aluno-conteúdo-professor, destacando o papel condutor do professor sobre o quê, como e quando ensinar determinado conteúdo, além da atividade do aluno em aprender.

Quando falamos em ensino, esse conceito é composto por planejamento, observação, pesquisa, atitude, esforço e consideração das diferenças por parte do professor, mas sempre tendo como objetivo a aprendizagem do aluno. Contudo, pode acontecer que o professor planeje suas atividades, prepare propostas novas, pesquise, mas não leve em consideração as diferenças existentes entre os alunos, desencadeando um desencontro entre o ensino e a aprendizagem que deveria ter acontecido. Se isso não acontece, há de se verificar novamente esse planejamento de maneira a atender os interesses dos alunos. Não há como dizer “eu ensino, os alunos não aprendem”, pois se não houve aprendizagem, o ensino está falho, e o processo se rompe.

Por outro lado, o aluno também é parte integrante desse processo. A ele cabe aprender, no seu tempo, o que o professor tem para ensiná-lo. Aprender não é tarefa fácil, depende da disposição do aluno ante os vários fatores, como, por exemplo, as necessidades, os motivos, a função daquele objeto de aprendizagem, a própria relação que o professor mantém com o conteúdo e o esforço, sobretudo mental, mobilizando para o aprender.

Para tanto, é preciso haver comunhão entre as partes, visto que aluno e professor têm de estar em harmonia, daí o papel importante de uma boa relação entre professor e aluno, que embora não garanta o sucesso do processo ensino-aprendizagem, serve como facilitador deste.

[...] a educabilidade é um postulado de qualquer situação de educação. Isso quer dizer também que cada um se educa por um movimento

interno, o que só pode ser feito porque ele encontra um mundo humano já aí, que o educa. Essa dialética da interioridade e da exterioridade é um universal: quaisquer que sejam as sociedades e as épocas, não há educação senão por essa dialética (CHARLOT, 2005, p. 76).

A consideração da dimensão afetiva, neste estudo, refere-se não só ao reconhecimento de sua importância para o processo ensino-aprendizagem, mas também à inclusão no planejamento e na prática pedagógica dos professores formadores.

A análise dos dados permite inferir que o professor Yago considera a confiança como fundamental na dimensão afetiva entre professor e aluno, considerando um aspecto facilitador no processo de ensino e aprendizagem. Na fala do professor, afetividade é:

ponto importantíssimo principalmente se o aluno confiar no professor ele vai conseguir desenvolver bem dentro da disciplina.Só que o confiar no professor, assim como o próprio professor, né? É criar situações para que o aluno consiga isso não é? É..., mas não pode confundir com amizade.

Percebemos a preocupação de criar situações durante o processo de ensino e aprendizagem que leve seu aluno a confiar em sua prática pedagógica, mas que, por outro lado, não quer que seu aluno confunda o sentimento de confiança com a amizade, quando diz:

gente eu vim pra passar pra vocês conhecimento, não vim aqui pra ser amigo de ninguém,[...] o principal objetivo meu é passar conhecimento. Embora considere a

afetividade como fundamental, coloca o conhecimento em primeiro lugar na relação professor-aluno. Por trás da fala deste professor, percebemos um sentimento de medo que os alunos confundam confiança e amizade, prejudicando na sua prática pedagógica.

Wallon e Vygotski defendem que, no homem, as dimensões afetiva e cognitiva são inseparáveis. Nesse sentido, a dimensão afetiva é parte integrante desse processo e vem se consolidando como de fundamental relevância na constituição do sujeito, bem como uma condição motivadora no relacionamento professor-aluno, no que diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem.

Quando perguntamos ao professor sobre sentimentos e emoções no processo ensino- aprendizagem, foi colocado pelo mesmo que, durante uma aula, consegue perceber

sentimento dos alunos, principalmente na prática de ensino, quando os alunos se colocam no lugar de professores. Porém o mesmo não nomeia esses sentimentos, que podem ser positivos ou negativos.

Sentimento eu percebo em uma situação que a gente faz na nossa prática[...]prática de ensino, é quando a gente coloca o aluno numa situação de professor...Então naquele momento ele vai ficar em evidência, em relação à turma, e vai ter que passar pelo que nós passamos no dia-a-dia, na aula...

Como aspecto facilitador no processo ensino-aprendizagem, acrescenta que se o aluno tiver paixão por aquilo que ela faz, facilita, mas se ela gostar realmente se ela realmente

se identificou com aquilo, se ela sentiu que é aquilo que ela quer, então ela sente prazer naquilo que ela tá fazendo, com certeza vai facilitar muito o aprendizado dela. Inferimos

na fala deste professor um sentimento de prazer, gostar do que faz, como sendo uma paixão. Na teoria walloniana, a palavra paixão revela o aparecimento do autocontrole para dominar uma situação, diferentemente da expressão do professor.

Um sentimento que, segundo Yago, dificulta o aprendizado dos alunos é a timidez. A dificuldade que muitos alunos têm em se expressar e não querer ser o foco das atenções, pela qual ele acaba ficando isolado, inibido, participando menos das aulas. Isto revela-nos como um aspecto não facilitador do aprendizado.

Embora Yago mencione, na entrevista, que só consegue perceber emoção ruim do aluno em situação de jogo, quando o aluno quer ganhar uma competição a todo custo, inferimos em sua fala momentos que observa a expressão das emoções no olhar do aluno quando diz: [...] ele vem conversar com a gente com aquele brilhinho no olho que a gente

já é fácil identificar, então a gente começa a perceber que ele se identifica com aquilo que ele quer, então fica mais fácil, facilita bem o processo pra ele. Complementamos que a

emoção está sempre presente em nossas ações, variando apenas a sua intensidade. Conforme nos aponta a teoria walloniana à emoção e a inteligência existe concomitantemente, mesmo em estados de serenidade.

Almeida (2004, p.135) relata a importância que Wallon dá à observação do professor para com o seu aluno: a observação apura o olhar, não só do professor em relação ao

aluno, mas em relação a si próprio: na medida em que percebe o desenvolvimento do aluno, o seu jeito na sala de aulas, o seu interesse/desinteresse por certos tópicos [...].

Portanto, fica evidente, na fala de Yago, a observação na expressão motora do aluno durante o processo de ensino e aprendizagem.

Quando perguntamos ao professor o que ele considera como agente não facilitador no processo de ensino e aprendizagem, foi incisivo em dizer o despreparo do professor e do aluno e a falta de vontade e a participação dos alunos nas atividades propostas.

Percebemos uma preocupação, por parte do professor, de despertar nos alunos o interesse pela aprendizagem. Portanto, fica claro na análise feita que o professor dá importância às questões relativas à afetividade na sua prática pedagógica, quando observa seus alunos, procurando conhecê-los, quando exige respeito à individualidade e às limitações de cada um, quanto à confiança e participação e ao interesse.

No documento APARECIDA DE FÁTIMA FERRAZ QUERIDO (páginas 80-83)