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Dimensão do BEP – autoaceitação

Os resultados do nosso estudo não apresentam, no primeiro momento – pré-teste, qualquer diferença estatisticamente significativa entre os adolescentes que frequentaram e os que não frequentaram o PDHS no que se refere à dimensão do BEP – autoaceitação.

No seguimento da análise dos resultados aferimos que a partir do segundo momento e até ao final do ano letivo, são registadas diferenças estatisticamente significativas entre os adolescentes que frequentaram o PDHS e os que não frequentaram o referido programa (p=0.017; p=0.025; p=0.017; p=0.029; p=0.003) no que respeita a dimensão do BEP – autoaceitação. Os adolescentes que frequentaram o PDHS apresentaram médias das ordens da dimensão do BEP – autoaceitação (M=129.80; M=145.77; M=150.89; M=156.31; M=162.67) mais elevadas do que os adolescentes que não frequentaram o PDHS (M=103.32; M=117.40; M=120.48; M=126.95; M=122.48) nos momentos dois, três, quatro, cinco e seis.

No nosso entendimento consideramos como mecanismo explicativo, das diferenças estatisticamente significativas apresentadas entre os adolescentes que frequentaram e que não frequentaram o PDHS na dimensão do BEP – autoaceitação, o processo dinâmico e consistente promovido pelas sessões do PDHS, que fomentaram a expansão das habilidades de comunicação, de assertividade e de resolução de problemas.

Dirigimos a nossa atenção para o desenvolvimento promovido das habilidades relacionadas com o comportamento assertivo – capacidade de afirmação dos próprios direitos, sem violar os direitos dos outros, através de uma expressão de opiniões e sentimentos de uma forma livre e apropriada (Sequeira, 2007). Tal como refere Castanyer (2006), a assertividade trata-se da expressão de uma autoestima saudável. Pensamos que com o desenvolvimento das habilidades de assertividade promovidas pelo PDHS poderá ter havido um incremento nos níveis de autoestima dos adolescentes que o frequentaram. E para a promoção das habilidades de resolução de problemas, dado que esta capacidade, segundo Quiles e Espada (2007), sendo utilizada de forma

sistemática e independente pode ser uma fonte de autoestima, pois facilita a competência social e o sentimento de autoeficácia dos indivíduos.

A autoestima apresenta-se como a conclusão de um processo de avaliação interno tratando-se da perceção ou ideia que cada indivíduo tem de si mesmo (Duclos et al., 2006), formando-se com o decorrer do tempo e das interações e experiência vivenciadas (Polleti & Dobs, 2007).

Como pudemos aferir aquando da revisão da literatura, as características da autoestima apresentadas por Quilles e Espada (2007), referem-se, entre outras, ao “apreço por si próprio como pessoa” e à “aceitação tolerante das suas

limitações, fraquezas, erros e fracassos, reconhecendo com tranquilidade, os aspetos desagradáveis da sua personalidade”. As caraterísticas do indivíduo com

resultado elevado da dimensão autoaceitação do BEP, tal como nos é dado pelo modelo teórico-empírico de Carol Ryff, “Possui uma atitude positiva em relação a

si próprio; reconhece e aceita aspetos múltiplos do seu ser incluindo qualidades positivas e negativas; sente-se positivamente em relação à sua vida passada.” (Ryff, 1989a/b, 1995; Ryff et al., 1999; Ryff & Singer, 2008).

Quando analisamos estas duas definições percebemos que as características relacionadas com a autoestima estão intrinsecamente incluídas na definição da dimensão da autoaceitação do BEP, exceção feita ao sentimento positivo em relação à vida passada. Estas asserções são igualmente aferidas por González, Fayos & Dantas (2012), quando referem que a autoaceitação enquanto dimensão do bem-estar psicológico, tal como estabelecido por Ryff, se encontra relacionado com a autoestima e o autoconceito.

Um dos principais resultados da pesquisa levada a cabo por Bandeira Quaglia, Bachetti, Ferreira e Souza (2005), foi de que o comportamento assertivo está relacionado com a autoestima, quanto maiores os níveis comportamento assertivo manifestado pelo indivíduo maiores níveis de autoestima reportados. Também no estudo desenvolvido por Fernandes e Vasconcelos-Raposo (2008), realizado com adolescentes portugueses, um dos principais resultados foi o de que a autoestima relacionou-se positivamente com todas as dimensões do bem- estar psicológico, bem como do bem-estar psicológico global, assumindo-se como o principal correlato.

Percebemos que com a incidência do PDHS no desenvolvimento das habilidades de assertividade e de resolução de problemas do grupo de adolescentes que o frequentou, potencia-se um aumento da autoestima individual e consequentemente um aumento dos valores da perceção individual da dimensão da autoaceitação do BEP.

Ainda relativamente à dimensão do BEP – autoaceitação obtivemos resultados referentes à diferença entre sexos, que são díspares entre si. Por um lado não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre os adolescentes do sexo masculino e do sexo feminino que não frequentaram o PDHS. Este resultado vai de encontro aos resultados das investigações de Ryff (1989b, 1991) e Ryff e Keyes, (1995), na população adulta que referem que a dimensão autoaceitação do BEP não apresenta diferenças com o sexo (Ryff et al., 1999).

Por outro lado verificaram-se diferenças estatisticamente significativas entre os adolescentes do sexo masculino e do sexo feminino que frequentaram o PDHS no que respeita à dimensão do BEP – autoaceitação, nos momentos quatro (p=0.006), cinco (p=0.043) e seis (p=0.034). Os adolescentes do sexo masculino que frequentaram o PDHS apresentaram médias das ordens da dimensão do BEP – autoaceitação superiores (M=22.54; M=21.17; M=20.82) à média das ordens apresentadas pelos adolescentes do sexo feminino (M=12.46; M=13.77; M=13.23) nos momentos quatro, cinco e seis.

No estudo levado a cabo por Fernandes e Vasconcelos-Raposo (2008), chegaram à conclusão de que os adolescentes do sexo masculino reportam valores mais elevados de autoaceitação do BEP do que os adolescentes do sexo feminino.

Os nossos resultados vão de encontro aos resultados dos estudos levados a cabo com a população adulta, tal como nos referenciados por Ryff (1999), nos quais não há diferenças entre sexo nos níveis da dimensão da autoaceitação do BEP, com os resultados apresentados pelos adolescentes que não frequentaram o PDHS nos seis momentos observados e pelos adolescentes que frequentaram o PDHS nos três primeiros momentos observados. E no mesmo sentido corroboram parcialmente os resultados apresentados por Fernandes e

Vasconcelos-Raposo (2008), uma vez que apenas o grupo dos adolescentes que frequentaram o PDHS apresenta diferenças estatisticamente significativas entre os adolescentes do sexo masculino e feminino, registados em apenas três dos seis momentos observados.

Há evidências de que o PDHS teve impacto na dimensão autoaceitação do BEP, explicado pelos mecanismos anteriormente expostos, acrescenta-se a este facto a perceção de que os adolescentes do sexo masculino retiraram mais benefícios do que os adolescentes do sexo feminino desta implementação, dado o aumento significativo nos últimos três momentos observados.

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