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Neste tópico, apresenta-se e analisa-se a aplicação dos três tipos de termos de parentesco pela dimensão diageracional através das respostas espontâneas, a fim de verificar como está a situação do alemão entre a geração GII, acima de 55 anos, e a geração GI, entre 18 e 36 anos. Os dados estão agrupados em duas cruzes, uma católica e outra luterana.

Na cruz católica, observa-se pelas percentagens no quadro 12, abaixo, que a GII mantem mais o alemão (77%) em relação à GI (53%). Esta também apresenta a maior percentagem de termos mistos (13%) em relação à GII (9%); também, um grau bem maior de substituição do alemão pelo português: 34% da GI e 14% da GII.

Quadro 12 – Dados das aplicações dos termos de parentesco sanguíneo, neutro e espiritual em Al., misto e em Pt. a partir da dimensão diageracional católica / Tunápolis (SC).

Fonte: Dados da pesquisa (2016).

Na cruz luterana, também é na GII, quadro 13 a seguir, que ocorre o maior grau de manutenção (84%); a GI tem um grau bem menor: 53%. No mesmo sentido, a GI apresenta o maior número de termos mistos, com 10%; enquanto na GII esse índice é de 4%; também o maior grau de substituição é na GI (37%), e de 12% na GII.

Quadro 13– Dados das aplicações dos termos de parentesco sanguíneo, neutro e espiritual em Al., misto e em Pt. a partir da dimensão diageracional luterana / Cunha Porã (SC).

Fonte: Dados da pesquisa (2016).

Comparando os dados das duas cruzes, denota-se que nas duas confessionalidades é a GII que mais mantém o alemão, e os luteranos possuem 9% a mais de manutenção em relação

aos católicos na GII. A GI apresenta um grau bem inferior, com um empate de 53% entre as confessionalidades. Na GI católica, ocorre o maior dado de termos mistos (13%), seguida pela GI luterana (10%), depois a GII católica (9%) e com menor grau a GII luterana (4%). O grau de substituição está maior na GI luterana (37%), seguida pela GI católica (34%), depois a GII católica e, com menor grau, a GII luterana.

Assim, denota-se que a GII mantém mais o alemão. Isto ocorre pelo fato de ela ter vivenciado um período com os seus pais com uma aplicação do alemão nos mais diferentes espaços e domínios, principalmente com a família bem maior que hoje, a GI. Segundo Mackey (1972), Heredia (1989), Fishman (2006) e Krug (2004), a quantidade de interlocutores que possuem conhecimento da língua favorece um maior número de contatos, o que beneficia a manutenção. Há mais de 55 anos havia mais contatos com o alemão e menos interferências do português.

Além disso, os informantes acima dos 55 anos frequentaram a Unterricht (catequese para os católicos e ensino confirmatório para os luteranos) em língua alemã – liam, escreviam e conversavam em alemão. Conforme informações dos informantes, no questionário geral, eles tinham que ter conhecimento oral e escrito da variedade alemã padrão do Pai Nosso, Credo Apostólico, Ave Maria, Os Mandamentos e fazer a leitura da Biblia em língua alemã. Com isso, muitos foram alfabetizados na variedade alemã padrão. Os pais desses informantes somente dominavam a variedade alemã, e nas quatro habilidades. Assim mantiveram mais a sua língua. Faz parte da cultura alemã o hábito da leitura, conforme Krug 2004. Este hábito os informantes também adquiriram com os seus antecedentes; e a realização da leitura mantém mais a língua por ser habilidade adicional e também por ser mais padronizada, sem interferências ou com menor interferência de outras línguas, de acordo com Mackey 1972.

A GII, desde a sua infância, nos dois pontos de pesquisa, pôde empregar a variedade alemã em vários diferentes grupos de domínios e com bastante frequência; isto, segundo Heredia (1989), Fishman (2006) e Weinreich (1970 [1953]), favorece a manutenção da língua. Também se observa nitidamente que o grau de manutenção diminuiu de uma geração a outra. Na luterana, essa queda foi maior: em dados mais gerais, percebe-se que, entre os luteranos, a diminuição foi de 31%; entre os católicos, de 24%. Os termos mistos, tiveram mais ocorrência na GI de ambas as confessionalidades, sendo que é maior na católica do que na luterana, com 4% de diferença. O grau de substituição também foi maior na GI; neste aspecto, os luteranos apresentaram uma percentagem de 3% maior que os católicos.

A queda maior no grau de manutenção do alemão entre as gerações e, entre os luteranos, é explicável, de acordo com Thun (1996) e Altenhofen (2011), pelo fato de estes viverem num espaço no qual há mais mobilidade e mais contatos, principalmente com o português, por ser uma comunidade mais aberta devido à sua localização e a presença de grandes empresas que criam muitos vínculos empregaticios como no caso da filial da Aurora Alimentos no município de Cunha Porã. Neste ponto de pesquisa, há a ocorrência da uniformidade da língua, conforme refere Labov (2008). A variedade portuguesa, como língua majoritária, está se uniformizando entre a comunidade.

Tunápolis, por outro lado, onde vivem os católicos desta pesquisa, é um local mais isolado e que realiza menos contatos, assim consegue manter mais a língua minoritária, conforme teoria de Fishman (2006) e Labov (2008). Por outro lado, Tunápolis possui a disciplina de língua alemã no currículo escolar e, de acordo com Heredia (1989), Altenhofen (2011) e Dück (2011), o grau de institucionalização da língua interfere a favor da sua manutenção, por ela estar representada e, consequentemente, valorizada nas instituições formais.

Observa-se a presença marcante do fator igreja na manutenção do alemão na GII. De acordo com Mackey (1972), Heredia (1989), Fishman (2006), Altenhofen (2004a, 2004b, 2011), Krug (2004), Dück (2011), Horst (2014), Rodrigues (2015), a igreja é um aspecto muito relevante que exerce interferência na manutenção ou na substituição de uma língua através de várias formas: estabelecimento de fronteiras, ensino, endogamia e exogamia, identidade de grupo, emprego da variedade padrão em materiais impressos, inclusive a Biblia, e outras dependendo do contexto.

Na presente pesquisa, a questão religiosa é um fator de influência a favor da manutenção, por ela demarcar a identidade de um grupo conforme Krug (2004), neste caso, dos luteranos que se identifica com a língua alemã. Por outro lado também a influencia da igreja e a manutenção em grau maior por parte dos luteranos deve-se conforme afirma Willlems (1980) ao fato de que estes empregam mais a variedade alemão padrão, através de materiais impressos, o que auxilia na sua manutenção.

A grande importância da relação entre manutenção do alemão e igreja denota-se também quando se observam os resultados da GII e da GI. A GII, nos dois pontos de pesquisa, relatou uma estreita relação de vivência com a igreja; a GI, por outro lado, raramente apresenta alguma questão religiosa. Então, observa-se um declínio no

envolvimento com a igreja e, paralelamente, um declínio na manutenção do alemão. Willems (1980) defende que o cultivo da língua de um povo, depende do cultivo da sua religião.

De acordo com Heredia (1989), Krug (2004) e Margotti (2004), de uma forma geral, a língua segue um estágio decrescente, da geração de mais idade para a geração mais nova – é o que se percebe nos pontos de pesquisa do presente estudo. Ainda conforme os mesmos autores, se a língua for empregada por ambas as gerações, ela está bem presente. Nas duas confessionalidades o alemão ainda se fala nas duas gerações: na GII católica, com um percentual de 77%; na luterana, de 84%. Na GI, apesar da diminuição, ainda está acima dos 50%, com um grau de 53% em ambas as confessionalidades. Portanto, ainda há um percentual considerável de manutenção, porém o declínio está aumentando de geração a geração e a tendência é o alemão ser substituído.

A GI não adquire mais um conhecimento do alemão suficiente para se comunicar fluentemente. Ela está numa fase de transição entre as línguas que se observa através do emprego de termos mistos. Por falta de conhecimento do termo em Al., o falante adapta e cria termos mistos entre as duas línguas.

Este é o aspecto do linguicídio apresentado por Skutnabb-Kangas e Phillipson (1996), uma vez que os falantes estão deixando a língua morrer, não oferecendo suporte para a manutenção do alemão. Principalmente, os falantes são os próprios responsáveis pelo linguicídio, pois não estão repassando o conhecimento no próprio ambiente familiar, de pais para filhos. Esta observação, sobre a responsabilidade do próprio falante pela manutenção do alemão, os informantes, principalmente os da Ca, expuseram no momento da aplicação do questionário geral.