• Nenhum resultado encontrado

4. METODOLOGIA

5.2 Dimensão Individual do Sentido do Trabalho

Com intuito de atender ao primeiro objetivo específico deste estudo, analisar o sentido do trabalho sob a dimensão individual na perspectiva das pessoas com deficiência, foram apresentados os resultados da dimensão individual, por meio das unidades de contexto – coerência, alienação, valorização, prazer, desenvolvimento e sobrevivência / independência.

Em seguida, foram realizadas a análise e interpretação dos dados, por meio, das unidades de registro, acompanhado das respectivas falas dos entrevistados.

Por fim, foi apresentado um resumo geral procurando confirmar o respectivo pressuposto: a “coerência” é a unidade de contexto com maior influência sobre a dimensão individual do sentido trabalho.

Será apresentada na Tabela 1, a seguir, a frequência dos resultados das análises das unidades de contexto da dimensão individual.

Tabela 1 – Resultado da Dimensão Individual

Dimensão Individual K1 K2 K3 K4 K5 K6 K7 K8 K9 Total %

Coerência 7 4 4 2 5 6 5 6 3 42 26% Alienação 8 2 3 2 3 4 4 3 2 31 19% Valorização 4 1 3 - - 2 1 1 1 13 9% Prazer 4 - 1 - 2 4 3 2 3 19 12% Desenvolvimento 6 2 2 - 3 5 3 5 2 28 17% Sobrevivência e Independência 4 4 5 3 4 2 2 2 2 28 17% Total 33 13 18 7 17 23 18 19 13 161 100% Fonte: Adaptado pelo autor

Com base na Tabela 1, percebe-se que a dimensão individual foi abordada em 161 fragmentos das falas. Destas, a coerência teve maior destaque com 42 fragmentos, ou 26% do total. Em seguida, a alienação, obteve 31 fragmentos, ou 19% do total, a valorização foi abordada em 13 falas ou 9% do total, o prazer em 19 falas ou 12% do total, o desenvolvimento em 28 falas ou 17% do total. E, finalizando, a sobrevivência e independência também foi citada em 28 falas, ou 17% do total.

Será analisada, a unidade de contexto coerência, a partir da frequência obtida nas unidades de registro a ela correspondente.

5.2.1 Coerência

Pela Tabela 2, percebe-se que a importância, obteve 28 fragmentos das falas, representando 67% do total.

Na análise da dimensão individual, a unidade de contexto coerência buscou saber se a PCD se identifica com o trabalho que ele realiza, se o trabalho era importante para ele e se ele acreditava naquele trabalho.

Tabela 2 – Resultado da unidade de contexto coerência

Dimensão Individual - Coerência

- Unidade de Registro K1 K2 K3 K4 K5 K6 K7 K8 K9 Total %

Identificação 4 1 1 - 3 1 2 2 - 14 33%

Importância 3 3 3 2 2 5 3 4 3 28 67%

Total 7 4 4 2 5 6 5 6 3 42 100%

Assim, foi notório perceber que a maioria dos entrevistados se identifica pelo menos em algum aspecto de seus valores com o trabalho que realiza: O E1 fala que “é o que eu sempre quis, sempre gostei de trabalhar com pessoas, então fiz o curso técnico e apareceu essa oportunidade e eu abracei”. O E5 “acredito que eu escolhi a carreira certa pra seguir, segurança do trabalho é essencial para todas as empresas, e eu me sinto muito bem aqui, além de que, eu me acho muito bom no que faço”. O E7 “Ensinar e ajudar pessoas é a minha vida, precisei de ajuda quase que minha vida inteira, nada mais do que justo eu retribuir”. O E3 “sempre me identifiquei com tecnologia e hoje trabalho com tecnologia, acho que é assim que tem que ser, você tem que buscar fazer algo que você gosta”.

A importância do trabalho na vida dessas pessoas também foi bastante citada, tanto abordando a satisfação pessoal em si (a necessidade de trabalhar de se sentir útil) como também trazendo à tona a necessidade do trabalho para o sustento de si próprio e da família. E4 diz que “é importante demais, é daqui que eu tiro o sustento da minha família, junto com a minha mulher que é costureira”. E2 fala “eu acredito que meu trabalho é fundamental para a empresa e faz com que eu consiga pagar minhas contas e isso pra mim já basta”. E8 afirma “eu gosto muito do meu trabalho, me sinto útil e também acho que faço a diferença nessa nossa sociedade, a tradução desses livros ajuda muita gente”. E6 ressalta como mudou a vida dele “aprender braile mudou minha vida e poder ajudar outras pessoas mudou mais ainda, saber que alguém depende de você para poder aprender gera uma responsabilidade muito grande”. E9 pensa que “acho que quem não trabalha pode ficar depressivo, sei lá, não é bom ficar em casa sem fazer nada”.

Oliveira et al. (2004), afirma que o fator financeiro é considerado apenas como complementar e não essencial para que o trabalho faça sentido. Isso vai de encontro com o que foi observado nas falas dos entrevistados. Pois, as PCDs destacaram que a importância do trabalho remete a satisfação pessoal, ou seja, a PCD trabalha para se sentir bem e se sentir útil.

Outro aspecto relevante foi que as PCDs que não se identificam com o trabalho que realizam são minoria. A maior parte das PCDs se identifica com o seu trabalho, eles se sentem mais à vontade no trabalho, não encaram como uma obrigação e não estão fazendo aquilo só por causa do dinheiro.

5.2.2 Alienação

A unidade de contexto alienação analisa se o trabalho realizado possui clareza, ou seja, se o executor da tarefa sabe o que está fazendo e destaca também o objetivo do trabalho, ou seja, qual finalidade das tarefas realizadas e em que elas implicarão.

Conforme explicitado na Tabela 3, a seguir, percebe-se que o objetivo do trabalho, obteve 17 fragmentos das falas, representando 55% do total e a clareza, obteve 14 fragmentos ou 45% do total.

Tabela 3 – Resultado da unidade de contexto alienação

Dimensão Individual - Alienação

- Unidade de Registro K1 K2 K3 K4 K5 K6 K7 K8 K9 Total %

Clareza 3 1 2 1 1 2 1 2 1 14 45%

Objetivo do trabalho 5 1 1 1 2 2 3 1 1 17 55%

Total 8 2 3 2 3 4 4 3 2 31 100%

Fonte: Adaptado pelo autor

As PCDs mediante suas falas destacaram a clareza e o objetivo do trabalho. No aspecto clareza, E1 aborda que “somos muito bem orientados, temos sempre que saber o que estamos fazendo, até porque não podemos errar com relação a dados dos colaboradores, pois podem interferir em pagamentos, contratações e treinamentos”. E2 fala que “eu trato diretamente com o cliente, então é fundamental estar a par de todas as informações para orientá-los da melhor maneira”; “na área de TI, ou você sabe ou você não sabe, ninguém aprende sozinho a mexer nos softwares, só se tiver um dom, todo mundo tem que passar por um treinamento, se for um software específico da empresa, ou um curso, se for um programa de uma determinada área” (E3). O E9 não vê dificuldades no seu trabalho “os procedimentos aqui são pré-determinados, não tem mistério, eu lanço os documentos no sistema e gero relatórios para que os coordenadores analisem”; “eu repasso conhecimento para outras pessoas, então mais do que qualquer pessoa, eu tenho que saber o que estou fazendo” (E8).

Os objetivos do trabalho também foram abordados nas entrevistas “oxe, eu só tenho que deixar tudo limpo pros clientes não reclamarem” (E4); “eu tenho que garantir que todos os colaboradores exerçam suas funções com todas as condições de segurança garantidas, porque se houver um acidente a dor de cabeça é grande” (E5); “meu trabalho serve para mudar a vida das pessoas que são cegas, eu dou conhecimento pra elas, a única coisa que nós levamos pra toda nossa vida é o conhecimento” (E6).

Os resultados demonstram que a maioria dos entrevistados liga o fato de “saber o que estou fazendo” a “desempenhar com eficiência meu trabalho”. Para eles um não é possível

sem o outro, não tem como desempenhar bem uma tarefa se você não souber o que está fazendo.

Outros candidatos já não veem o objetivo do trabalho como um fato relevante para o desempenho do mesmo. Nesse aspecto se destacam E4 e E9, pois o primeiro exerce um trabalho de limpeza e não vê motivo para entender o porquê de estar fazendo aquilo, ele apenas quer limpar, ganhar seu salário e pagar as contas da casa. O segundo tem uma tarefa pré-determinada, onde ele gera relatórios que serão analisados pelos seus superiores e ele não tem muito interesse em saber o que os seus coordenadores podem fazer com as informações contidas nesses relatórios.

Seguindo o pensamento de Braverman (1974), foi possível perceber que os entrevistados E4 e E9, realizam um trabalho repetitivo que não tem objetivo claro, exposto ao funcionário.

Consequentemente, nota-se que o trabalho acaba sendo encarado como uma obrigação, pois não explora as capacidades e as necessidades do ser humano. O que acaba gerando um adoecimento e alienação do trabalhador

Na próxima subseção, a unidade de contexto abordada será a valorização.

5.2.3 Valorização

Conforme se observa no Tabela 4, a seguir, percebe-se que as unidades de registro valorização do trabalho e reconhecimento do trabalho obtiveram resultados parecidos. A valorização obteve 6 fragmentos das falas ou 46% do total e reconhecimento obteve 7 fragmentos das falas, representando 54% do total.

Tabela 4 – Resultado da unidade de contexto valorização

Dimensão Individual - Valorização - Unidade de Registro K1 K2 K3 K4 K5 K6 K7 K8 K9 Total % Valorização 3 1 1 - - 1 - - - 6 46% Reconhecimento 1 - 2 - - 1 1 1 1 7 54% Total 4 1 3 0 0 2 1 1 1 13 100%

Fonte: Adaptado pelo autor

Analisando as entrevistas foi possível observar que mais da metade dos entrevistados não se sentem valorizados financeiramente. E4 fala que “o salário é pouco, aumento eu nunca vi, mas acho que em outro canto ia ser a mesma coisa”; “professor, historicamente não é valorizado, o piso salarial é baixo, ainda mais sendo da rede pública e ainda tem o fato de eu

ser deficiente visual” (E7). O E9 tem esperança “desde que eu cheguei não houve aumento, acredito que nosso salário ta defasado, mas tenho fé que vai melhorar”. O E5 não ver nem valorização e nem reconhecimento no trabalho dele “os colaboradores muitas vezes acham que meu trabalho é besteira, que segurança do trabalho é “frescura”, então não vejo muita valorização do meu trabalho e nem reconhecimento, porque meu salário não é lá essas coisas”.

O reconhecimento também não obteve um resultado muito positivo, um terço dos entrevistados não observou reconhecimento no seu trabalho como o E2 “muitas vezes os clientes são mal educados, eu não costumo receber muitos, nem do meu chefe” e E4 “o povo passa e nem te dar bom dia não, a maioria das pessoas nem sabe que a gente existe”.

Dentre as pessoas que se sentem valorizadas e reconhecidas é possível destacar E1 que tem apenas um ano trabalhando na empresa “acho que meu trabalho é reconhecido sim, a Mônica sempre elogia meu trabalho, me incentiva, me orienta e é muito sincera, se fizer bem ela elogia se não leva bronca. E o salário, comparando com o que outras empresas oferecem para o mesmo cargo, é o melhor”. E3 fala que “rapaz, pelo menos na minha área, a empresa paga bem, tem plano de carreira, aumento todo ano. Acho muito bom aqui”.

A valorização foi a unidade de contexto que menos se destacou dentre todas as unidades. Poucos entrevistados se sentem valorizados ou reconhecidos no seu local de trabalho, mas foi notória a percepção de que muitas empresas podem não oferecer a valorização financeira que seu funcionário merece, mas o reconhecimento é fundamental para um bom desempenho do funcionário.

Essa análise corrobora com o que afirma Morin (2001), onde ela relata que a maioria das pessoas continuaria trabalhando mesmo que tivessem um conforto financeiro, pois o trabalho não representa apenas uma valorização financeira ou uma forma de sustento. É um meio de interação entre os indivíduos, de se sentir reconhecido, de ter uma ocupação e de ter um objetivo alcançado na vida.

Será analisada a seguir a unidade de contexto prazer e suas respectivas unidades de registro.

5.2.4 Prazer

De acordo com a Tabela 5, a seguir, percebe-se que o prazer obteve 19 fragmentos das falas, representando 100% do total.

Tabela 5 – Resultado da unidade de contexto prazer

Dimensão Individual - Prazer -

Unidade de Registro K1 K2 K3 K4 K5 K6 K7 K8 K9 Total %

Gostar do Trbalho 4 - 1 - 2 4 3 2 3 19 100%

Total 4 0 1 0 2 4 3 2 3 19 100%

Fonte: Adaptado pelo autor

Dessa forma algumas PCDs durante as entrevistas deixaram transparecer que o prazer do trabalho está muito conectado com o ambiente de trabalho e as pessoas com quem você trabalha.

Como E9 “gosto muito daqui, o ambiente é muito bom. As pessoas desse setor são alegres, animadas. A gente ri é muito”. E1 também seguiu na mesma linha “é um ótimo ambiente, o tempo passa rápido aqui, é muita coisa pra fazer e eu gosto disso”.

Já outros entrevistados demonstraram o prazer pelo trabalho como sendo consequência da identificação, como E3 “é o que eu sei fazer melhor, não me imagino fazendo outra coisa, não tem como não gostar”; “eu já achava um assunto interessante, então fui atrás, fiz o curso técnico e me identifiquei. Eu me acho muito bom no que faço” (E5); “ensinar, passar conhecimento para outras pessoas é muito gratificante” (E8).

Mas, as PCDs E2 e E4 seguem outra linha pensamento e não manifestaram sentimento de prazer pelo trabalho que exercem. E4 é bem claro “eu não gosto não, mas é meu serviço. É o que paga meu salário”. E2 não gosta do trabalho, mas diz que as pessoas do seu ambiente de trabalho amenizam o estresse “muitas vezes eu saio estressada do trabalho, só não é toda vida porque as meninas que trabalham comigo são animadas, engraçadas, me fazem rir e isso ameniza”.

Observou-se que o prazer de trabalhar é um aspecto muito individual de cada pessoa, mas os motivos mais destacados pela as quais as PCDs sentem prazer no seu trabalho, foi pelo ambiente e as pessoas, muitos destacaram que as pessoas tornam a convivência diária muito mais agradável. Destaco também, a identificação, só o fato de estarem fazendo o que se identificam, ou seja, o que gostam, já gera um prazer no trabalho.

Mendes (2007), complementa essa análise afirmando que as experiências de prazer se afloram pelo reconhecimento social, pela satisfação em trabalhar numa área que permite aprendizagens e pela relação saudável com os colegas, criando um bom ambiente.

5.2.5 Desenvolvimento

Por meio da Tabela 6, percebe-se que crescimento profissional e o desenvolvimento pessoal obtiveram os mesmos percentuais. O crescimento obteve 14 fragmentos, representando 50% do total geral e o desenvolvimento também obteve 14 fragmentos representando os outros 50% do total.

Tabela 6 – Resultado da unidade de contexto desenvolvimento

Dimensão Individual - Desenvolvimento - Unidade de Registro K1 K2 K3 K4 K5 K6 K7 K8 K9 Total % Crescimento profissional 2 1 1 - 2 2 2 3 1 14 50% Desenvolvimento pessoal 4 1 1 - 1 3 1 2 1 14 50% Total 6 2 2 0 3 5 3 5 2 28 100%

Fonte: Adaptado pelo autor

Durante as entrevistas, as PCDs expressaram seus desejos nas áreas pessoais e profissionais de suas vidas. Na maioria deles notou-se uma crença na evolução da carreira profissional, melhorando assim, a vida pessoal. Outros foram mais reticentes em acreditar em um crescimento profissional como E2 “estou numa grande empresa, a maior do Brasil no ramo, então pro meu currículo é muito bom, mas não vejo perspectiva de crescimento pra mim”. Ainda teve o caso do E4 que é totalmente descrente “se não fosse minha perna, talvez eu pudesse melhorar um pouco aqui dentro, mas com a perna desse jeito, tem nem perigo”.

Analisando os que creem na ascendência na empresa, foi possível perceber que muitos deles colocam os sucessos profissionais e pessoais paralelamente, ou seja, um depende do outro. Como E3 “não levo trabalho pra casa e não levo problemas de casa pro trabalho, os dois tem que estar em sintonia e quando você ganha o suficiente para manter sua família bem, tudo fica em sintonia, quando falta dinheiro, ai complica”. E1 pensa de forma similar “meu trabalho é fundamental pra mim, eu ganho meu dinheiro, acho meu trabalho importante para empresa, me sinto útil. Tudo isso faz com que você se sinta melhor na vida pessoal”.

Além disso, percebe-se também o desenvolvimento de habilidades pessoais em consequência do trabalho que desempenham “eu tenho que estar atento a todos os detalhes e eu não era assim, isso me ajudou muito” (E5); “eu nunca tinha trabalhado antes de entrar aqui, então cada dia é um aprendizado. Sou uma pessoa bem diferente do que quando eu entrei aqui” (E9); “esse trabalho é minha vida, sinto que estou fazendo um bem pra muita gente. Todo dia eu aprendo algo com os alunos daqui” (E6).

Após a análise dos fragmentos dos entrevistados, foi possível perceber que a maioria acredita que o desenvolvimento tanto profissional como pessoal estão ligados diretamente um ao outro, mas nem todos acreditam em um crescimento dentro da empresa que trabalham. Em compensação, muitos deles concordaram que desenvolveram habilidades e adquiriram novos conhecimentos em consequência do trabalho que desempenham.

Baseando-se nessa análise, é possível fazer uma articulação com o que fala Borges (1997), quando ele diz que os atributos descritivos designam o que o trabalho é concretamente, ou seja, o que ele representa mental ou abstratamente para cada pessoa e dentre esses atributos são percebidos o êxito e a realização profissional que apresenta o trabalho a partir das ideias de desenvolvimento pessoal e desafio intelectual.

Na próxima subseção será abordada a unidade de contexto sobrevivência e independência.

5.2.6 Sobrevivência e Independência

Conforme se observa na Tabela 7, a seguir, a unidade de contexto “sobrevivência e independência” foi estruturada com as seguintes unidades de registros: retorno financeiro e necessidades básicas.

Tabela 7 – Resultado da unidade de contexto sobrevivência e independência

Dimensão Individual - Sobrevivência e Independência -

Unidade de Registro K1 K2 K3 K4 K5 K6 K7 K8 K9 Total %

Retorno Financeiro 3 2 3 - 1 1 1 1 1 13 46%

Necessidades Básicas 1 2 2 3 3 1 1 1 1 15 54%

Total 4 4 5 3 4 2 2 2 2 28 100%

Fonte: Adaptado pelo autor

Com base nesta estruturação, dos 28 fragmentos, 13 fragmentos ou 46% foram classificados na unidade de registro “retorno financeiro” e 15 fragmentos ou 54% na de “necessidades básicas”.

No que se refere a “retorno financeiro”, foi abordado que tipo de influência o salário dos entrevistados tem no trabalho e na vida deles. E2 pensa que “aqui eles pagam bem, mas se eu tivesse que sustentar minha família sozinha, sem meu marido, não teria condições, mesmo assim meu salário ajuda muito lá em casa”. E7 também tem um parceiro que paga a maioria das contas da casa “o salário não é muito bom não. Não sei e se eu conseguiria sustentar uma família sozinha, meu marido é quem pagar a maior parte das contas, ser professora aqui no

Ceará é complicado”. E5 revela que consegue sustentar a família, mas com muito esforço “eu consigo sustentar minha família, mas não é fácil, é muita conta pra pagar, água, luz, escola. Graças a Deus, nós vivemos bem, mas é complicado”. E3 já demonstra mais tranquilidade para pagar as contas “atualmente sustento minha família sim. Meu salário permite uma certa estabilidade, mas estou numa empresa privada, se você vacilar é mandado embora”. E4 possui uma situação bem mais complicada, tem meses que a conta não bate “A gente é pobre né. O salário ajuda, mas a mulher tem que costurar muito também pra gente conseguir pagar as contas do mês. É duro. Né todo mês que a gente consegue não”.

O outro aspecto da fala dos entrevistados que destaquei como unidade de registro foi “necessidades básicas”. Alguns entrevistados expressaram que seus salários são suficientes para eles, mas para constituir uma família não seria o ideal “moro com meus pais. Com meu salário eu consigo comprar minhas coisas, roupas, perfumes, dá pra sair com as amigas, mas não é suficiente pra ter um carro, uma casa, essas coisas” (E1); “o salário não é o que um professor merece, mas eu consigo ajudar meus pais com algumas contas de casa e atender minhas necessidades básicas sim” (E6); “quando eu comecei aqui, achava suficiente, hoje vejo que não é, principalmente se eu quiser casar” (E8); “meus pais que sustentam minha casa, aí, meu dinheiro eu gasto comigo” (E9).

A sobrevivência e a independência é o que todos os entrevistados procuram para as suas vidas, mas nem sempre é possível. Os casos foram diversos, uns ganham bem, outros nem tanto e ainda tem os que ganham pouquíssimo. Foi perceptível que as PCDs solteiras utilizam sua remuneração apenas para as suas necessidades básicas, todos eles moram com os pais, mas só alguns ajudam nas contas da casa. Os casados já utilizam o dinheiro para sustentar a família e pagar as contas da casa. Alguns dos casados, demonstraram uma maior dificuldade, pois o que eles recebem não é suficiente para manter uma família.

Borges (1997) aborda a sobrevivência e a independência como atributo descritivo. Ele cita que a sobrevivência pessoal e familiar e a independência econômica, representam uma função social do trabalho em relação à família e as garantias individuais de sobrevivência e recompensa financeira.

É importante ressaltar que todos os entrevistados tiveram apoio dos pais quando decidiram trabalhar, os motivos foram variados, como necessidade financeira, fugir da depressão, necessidade de se sentir útil e por ai vai.

Dando continuidade ao estudo, na próxima seção, tem como objetivo analisar o sentido do trabalho sob a dimensão organizacional na perspectiva das pessoas com deficiência.

Documentos relacionados