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3 DESAFIOS ECOLÓGICOS ATUAIS E SEUS EFEITOS FUTUROS

3.6 A dimensão de nossa responsabilidade

Como ficou claro até este ponto de nossa reflexão, com o gigantesco avanço do poder tecnológico, considerarmos a possibilidade de uma grande catástrofe ambiental não é mais um aparente desvario. A potência do “homo faber” tem se revelado com veemência e “a exorbitância do sucesso do ideal baconiano e prometeano poderá conduzir ao desastre pelo “excesso de sucesso”” (ZANCANARO, 1998, p. 71). Tal sucesso da tecnologia aliado ao fenômeno do expressivo crescimento do número de pessoas no planeta acabou por colocar-nos em uma situação limite, com presumíveis graves prognósticos:

A explosão demográfica, compreendida como problema metabólico do planeta, rouba as rédeas da busca de uma melhora no nível de vida, forçando uma humanidade que empobrece, na luta pela sobrevivência mais crua, àquilo que ela poderia fazer ou deixar de fazer em função da sua felicidade: a uma pilhagem cada vez mais brutal do planeta, até que este diga a última palavra, não mais consentindo em sua superexploração. É com pavor que imaginaríamos as mortes e os assassinatos em massa que acompanhariam uma situação como essa. Mantidas por longo tempo fora do jogo, graças à técnica, as leis de equilíbrio da ecologia, que impediam o crescimento excessivo de uma única espécie, se imporão de forma assustadora, na mesma proporção em que se atingiram os limites da sua tolerância. É um grande desafio especular como será possível que aquela parte da humanidade, que restará, seguirá vivendo em uma Terra devastada (JONAS, 2006, p. 236).

O saque brutal das reservas naturais do planeta enseja, portanto, a real possibilidade de estarmos nos encaminhando para uma catástrofe de enormes proporções. O poder quase ilimitado da tecnologia “está introduzindo mudanças inesperadas na atmosfera, nos solos, nas águas, entre as plantas e os animais e em todas suas inter-relações. A responsabilidade de deter essas transformações que conduzem ao caos é de todos os cidadãos, de todas as nações” (SIQUEIRA, 1998, p. 54).

No entanto, frente às dificuldades aqui anteriormente elencadas de determos tais transformações, já há quem considere o uso massivo de técnicas de geoengenharia para contrabalancear seus efeitos. “It is almost certainly too late to stop or reverse climate change, at least without the use of risky geoengineering techniques” 25 (SINGER, 2015, 145). A

geoengenharia implica em deliberada manipulação ambiental de larga escala. “Some believe

25 "É quase certamente tarde demais para parar ou reverter as mudanças climáticas, pelo menos sem o uso de

that given the difficulties of changing human behavior, huge projects like this might have a better chance of success than the attempt to reduce gas emissions” 26 (TALBOT, 2012, p. 432).

Nesse sentido, ainda que podendo trazer grandes riscos, o que deveria ser avaliado com muita prudência antes de sua implantação, o retardamento das mudanças climáticas seria um ganho muito importante, que poderia implicar em enormes benefícios, principalmente para os pobres do mundo e para todas as gerações futuras (SINGER, 2015, 145). Assim, parece haver uma tendência indicando que tal discussão deverá ser travada pela sociedade mundial em breve. De qualquer modo, já ficou claro que há uma “perspectiva apocalíptica que se insere de forma previsível na dinâmica do atual curso da humanidade” (JONAS, 2006, p. 236). Frente a isso, nossa responsabilidade moral em relação ao problema é indeclinável: “If the climate is changing this threatens our way of life. If we can avert this, it seems reasonable to think we have a moral duty – to future generations, if not to the planet itself – to try to avert this” 27

(TALBOT, 2012, p. 427).

Todas essas considerações apontam para a premente necessidade de providências imediatas frente ao dramático quadro da questão ambiental. “Se não conseguirmos que nossa urgente mensagem chegue aos países e às pessoas que tomam decisões na atualidade, corremos o risco de solapar o direito essencial que têm nossos filhos a um meio ambiente são e que privilegie a vida” (COMISIÓN MUNDIAL DEL MEDIO AMBIENTE Y DESARROLLO, 1992).

No próximo capítulo, analisaremos como uma ética cada vez mais individualista, um dos elementos culturais marcantes em nossos tempos, gera impactos importantes no tema ambiental e dificulta o reconhecimento de nossa responsabilidade atual sobre o futuro da humanidade. Para isso, sinalizaremos como o pensamento individualista vem se desenvolvendo e ganhando força no campo filosófico. Também apresentaremos argumentos que sustentem que esse elemento, por seus profundos desdobramentos em nossa cultura e, consequentemente, na forma como as pessoas se portam diante do tema ambiental, constitui relevante chave de análise para melhor compreendermos o quadro geral dessa questão e suas possíveis consequências.

26 "Alguns acreditam que, dadas as dificuldades de mudar o comportamento humano, grandes projetos como este

podem ter melhor chance de sucesso do que a tentativa de reduzir as emissões de gases" (tradução nossa).

27 "Se o clima está mudando, isso ameaça nosso modo de vida. Se pudermos evitar isso, parece razoável pensar

que temos um dever moral - para as gerações futuras, se não para o próprio planeta - de tentar evitar isso" (tradução nossa).

Por fim, no quinto capítulo, buscaremos demonstrar a necessidade do desenvolvimento de um discurso ético que supere o individualismo, cujas bases possam contribuir para uma melhor solução para o problema ambiental que se nos apresenta.

4 PENSAMENTO INDIVIDUALISTA E SEUS IMPACTOS NA QUESTÃO