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3 AUTONOMIA E EMANCIPAÇÃO EM PAULO FREIRE

4 AÇÃO DIALÓGICA: DIMENSÃO ÉTICA, EPISTEMOLÓGICA, POLÍTICA E ESTÉTICA

4.3 Dimensão Política

Tomemos o diálogo na acepção vital, isto é, em sua abertura diante do outro, do mundo e de si mesmo. Tal abertura, só é possível diante do reconhecimento do inacabamento e incompletude daqueles que tomaram consciência de si no mundo.

A raiz mais profunda da politicidade da educação se acha na educabilidade mesma do ser humano, que se funda na sua natureza inacabada e da qual se tornou consciente. Inacabado e consciente de seu inacabamento, histórico, necessariamente o ser humano se faria um ser ético, um ser de opção, de decisão. Um ser ligado a interesses e em relação aos quais tanto pode manter-se fiel à eticidade quanto transgredi-la (FREIRE, 1996, p. 110)

A dimensão política, como aponta Freire, é uma conseqüência natural de todo e qualquer ser, que tornando consciente de si num movimento permanente em busca de completude, busca meios para atingi-lo, para atualizá-lo e realizá-lo.

É nesse sentido que o diálogo tem uma direção política. Sua direção é a atividade prática mirada ao desenvolvimento do inacabável, do ser mais. É importante destacarmos que o diálogo é, marcadamente, uma relação inquebrantável entre reflexão e ação. Por isso, concebemos a teoria da ação dialógica fundamentalmente, em sua substantividade, sendo teórica-prática, sendo práxis.

Como conseqüência praxiológica, a política não é entendida meramente discursiva, palavra desprovida de sentido ou compromisso histórico, pelo contrário, o fundamento da política advindo da ação dialógica é revestido de amorosidade, crença e confiança na humanidade. Essas categorias, intrínsecas ao diálogo, não são dilaceradas quando sujeitos buscam, histórica e socialmente, possibilidades efetivas de atualizá-los e realizá-los.

Tal como a amorosidade, crença e confiança, a dimensão política contida no diálogo, também traz em seu bojo o horizonte utópico que visa à

humanização de homens e mulheres. O movimento permanente de humanização, considerando o horizonte utópico, envolve a denúncia de uma realidade opressora e o anúncio de uma nova realidade, na qual, os envolvidos se apresentam como co- responsáveis na transformação do mundo.

Com efeito, a dimensão política contida na ação dialógica não deve ser compreendida como mero apêndice, atributo ou lateral, da educação revolucionaria, mas deve ser tomada como substância. Ou seja, a ação dialógica implica, necessariamente, um ato político orientado para a radicalidade democrática e, enquanto tal, orientada para a liberdade, e deve ser compreendida como integrante da própria essência do diálogo.

Portanto, a ação dialógica se apresenta com uma dúplice orientação: política e educativa. Essa junção configura em práticas político-revolucionárias e em práticas político-pedagógicas, as quais devem ser vivenciadas por todos.

Especialmente no campo educacional, a partir da concepção dialógica, educação e política não são dissociáveis. Por isso, Freire chega ao entendimento de que “a educação é política. Hoje, digo que a educação tem a qualidade de ser política, o que modela o processo de aprendizagem” (FREIRE e SHOR, 2003 76 -77). Ou seja, o diálogo é, fundamentalmente, diretivo em prol da realização e atualização de homens e mulheres, situados histórica-socialmente.

Segundo Freire:

[...] não há verdadeira educação sem uma diretriz. Na medida em que toda prática educativa transcende a si mesma, supondo um objetivo a ser atingido, não pode ser não-diretiva. Não existe prática educacional que não aponte para um objetivo; isso prova que a natureza da prática educativa tem uma direção. [...] A natureza diretiva da prática educativa que conduz a determinado objetivo deve ser vivida pelos educadores [educadoras] e educandos (Freire e Macedo, 1994, p. 86).

Nota-se que todo ato educativo tem por objetivo um fim, todavia, esse fim, pode ou não, estar a serviço do desenvolvimento humano. Por isso, enfatizamos a necessidade da educação dialógica enquanto possibilidade viável, a fim de acolher homens e mulheres, diante do permanente e crescente estar no mundo e com o mundo.

Se todo ato educativo supõe uma direção, supõe um fim, é possível identificar práticas educativas,25 que seu fim, tal como seus meios, estimulam e contribuem para o retardamento da emancipação. São essas práticas que Freire denúncia e combate, durante toda a extensão do seu pensamento.

É importante destacarmos que, de fato, não há educação sem uma diretriz, sem uma balização ou direção. Porém, a política emergente da educação que não esteja comprometida responsável e co-responsável, por sujeitos de transformação e de movimento, que é histórico, resulta em antidialogicidade, em uma palavra, em opressão.

Como desdobramento do diálogo, emana a libertação mediante o horizonte epistemológico, ético e político. A libertação possibilitada pela via dialógica, orientada para a politicidade, configura a exigência da radicalidade democrática, manifesta nas praticas educativas revolucionárias. Dessa perspectiva, a radicalidade democrática, como fundamento, se apresenta como possibilidade de atualização.

É por isso, que a educação deve ser compreendida dialogicamente. Dessa forma, embasados a partir de práticas político-revolucionárias e em práticas político-pedagógicas, solidificam parâmetros normativos para nossas ações, consequentemente, para transformar a realidade.

Nesse momento, cabe-nos enfatizar também como conseqüência da palavração e de seu desdobramento, a eticidade e a politicidade, enquanto exigência da radicalidade democrática manifesta nas praticas educativas. A educabilidade, dessa perspectiva, se apresenta como possibilidade de atualização mediante práticas revolucionárias. Instaura-se, portanto, reforçando a idéia de indissociabilidade da educação com a ética, a exigência de uma prática educativa engajada, politizada e conscientizada.

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