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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3. Dimensão Socioeconômica e Cultural

O espaço humano é necessariamente produto de uma série de decisões que orientam sua organização, segundo os critérios hegemônicos em uma dada formação econômica e social, seja pela movimentação do capital, seja pela ação organizada e planejada da sociedade pelo Estado, sendo um processo cheio de densidade histórica. (COSTA. 1999)

As raízes do estabelecimento da esquistossomose no Brasil remontam o processo de internacionalização iniciado a partir do século XVI, período dos grandes descobrimentos. Esse fenômeno inicialmente discreto, pelas limitações tecnológicas de transporte e comunicação, se intensificou estabelecendo grandes fluxos populacionais. No Brasil, com o início do ―Ciclo da Cana de Açucar‖, grandes levas de escravos originados da áfrica para as lavouras de cana de açúcar na região nordeste, possibilitaram a disseminação da doença a partir dos Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco, cujos efeitos ainda se manifestam na atualidade.

De acordo com Dolfus:

É fundamental reconhecer sempre que, paralelamente aos circuitos que vinculam local e global num ―sistema-mundo‖ há toda uma massa de excluídos, a qual

35 desigualdades no padrão de vida das populações‖ (HAESBAERT 1997 apud. DOLFUS1993)

E que segundo a Organização Mundial da Saúde são ditas como doenças negligenciadas (a exemplo da esquistossomose, doença de chagas e leishimaniose).

Nas diversas partes do mundo, em especial em países subdesenvolvidos, os efeitos dessas externalidades são capazes de promover mudanças rápidas nos meios físicos e antrópicos. Decisões para a destruição de ambientes naturais e implantação de ambientes artificiais, a exemplo de lagos e canais para irrigações, criam ambientes favoráveis à proliferação dos vetores biológicos de transmissão de doenças de veiculação hídrica, muitas vezes estão fora do local. Nos centros de políticas ou seguindo a ordem mundial do mercado globalizado, as decisões são tomadas sem, no entanto considerar as danosas conseqüências e os ―desdobramentos‖ que possam advir ao meio ambiente. Frente a estes fluxos, a compreensão das respostas para as questões epidemiológicas, decisivas em uma pesquisa, extrapola quase sempre os limites das unidades de análise (área de estudo).

Para Costa op. cit. apud. Breilh (1991):

O perfil epidemiológico dos diferentes espaços é criado pela interação das relações sociais que caracterizam a sua organização, e modifica-se através do tempo conforme o momento histórico em que se encontre o estágio de desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais, as quais são fatores definidores da organização do espaço.

E segundo Haesbaert (ibid.) deve ser ―considerada como determinante da variabilidade espacial da saúde-doença‖.

Conforme o entendimento de Paim (1997), descrito por Costa (1999):

A produção, a distribuição da doença e a constituição do espaço têm os mesmos determinantes, este último, enquanto expressão das condições de vida dos segmentos que o ocupam, representa a mediação passível de informar certas relações entre a sociedade e a saúde.

Admitindo que as discussões acerca dos conceitos de territoriedade e de espaço nas investigações epidemiológicas sejam limitadas, o pensamento geográfico é capaz de

contribuir de forma significativa nos estudos que têm como objetivo compreender os fenômenos de manifestação das doenças que acometem as populações de um determinado local, dando destaque a geografia crítica, cujo ―espaço passa então a ser considerado fruto da dinâmica de sua complexa organização e interações, incluindo todos os elementos, inclusive o físico (COSTA op. cit. apud. Santos, 1980; Carmo et al., 1995). Nesta perspectiva ―os conceitos geográficos propostos por Milton Santos, por exemplo, constituíram importante referência para compreender a complexidade das relações entre espaço e produção de doenças.‖ (CZERESNIA et al., 2000).

2.4. Geoprocessamento em Saúde

Tradicionalmente a epidemiologia procura associar as ocorrências das doenças às condições fisiográficas do local. Na atualidade devido aos avanços tecnológicos foi possível o desenvolvimento de ferramentas (soft´s), capazes de trabalhar um grande volume de informações, podendo as mesmas ser precisamente localizadas tornando-as imprescindíveis nas análises das endemias.

Divididas em três áreas principais: mapeamento de doenças, estudo de correlação geográfica, aglomerados de doença e vigilância, as investigações epidemiológicas podem obter resultados diferentes, cabendo ao pesquisador escolher o tipo a depender dos propósitos do estudo. (ELLIOTT & WARTENBERG, 2004).

As ferramentas computacionais para Geoprocessamento, chamadas de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), permitem realizar análises complexas, ao integrar dados do mundo real, obtidos de diversas fontes em diferentes formatos, criando bancos de dados georreferenciados (bancos de dados geográficos). Tornam ainda possível automatizar a produção de documentos cartográficos. (MEDEIROS, 1999). Um SIG agrupa, unifica e integra a informação. Tornando-a disponível sob uma forma que ninguém teve acesso anteriormente, e coloca informação antiga num novo contexto. Muitas vezes, permite unificar informações que estavam dispersas ou organizadas de forma incompatível. (MEDEIROS, 1999 apud DANGERMOND, 1988).

Para as investigações da manifestação epidêmicas, a utilização das ferramentas SIG‘s associada aos aperfeiçoados métodos estatísticos possibilitam realizar análises

37 confiável é importante a escolha correta das metodologias, o correto manuseio dos dados e da ferramenta para que não incorra em erros significativos. Tomando-se como exemplo a produção de mapas de doenças que embora:

Tenham tanto atração visual e intuitiva, a precaução é exigida na interpretação, como padrões aparentes podem ser criados ou perdidos artificialmente que depende de como a variável mapeada é pintada (por exemplo, o número e limites das categorias) e a escala ou resolução geográfica. (ELLIOTT & WARTENBERG op. cit.).

Ou seja, é importante entender que nos estudos com mapeamento de doenças a mudança de escala contribui para resultados diferentes, especialmente visuais. Outro ponto interessante é o nível de detalhamento e de precisão em nível individual possível de se obter. Fato que tem levantado o questionamento sobre as medidas de proteção dos dados, de forma a assegurar a confidência das informações dos cidadãos.

Contrapondo a todas essas vantagens, demonstra-se que os avanços nos SIG‘s, nos métodos estatísticos e a grande disponibilidade de informações, que têm possibilitado a realização de análises epidemiológicas complexas, trazem novos desafios no tratamento dos dados, em particular, nas análises em pequenas comunidades.

A alta resolução dos dados geograficamente referenciados em saúde, por meio de avanços nos SIG‘s e na metodologia estatística, mediante a realização de análises uni e multivariádas proveu sem precedentes novas oportunidades para investigar o meio ambiente, os fatores sociais, e fatores de contágios sob variações geográficas subjacentes nos índices de doença em escalas de pequenas áreas, o que possibilitará estudos da epidemiologia espacial mais difundidos, criando novos horizontes. Conforme afirma Elliott & Wartenberg (op. cit.) ―no futuro, desenvolvimentos em modelagem de exposição e mapeamento, projetos de estudo realçado, e novos métodos de vigilância de bancos de dados de saúde prometem grandes melhoras em nossa habilidade de entender as relações complexas entre o ambiente e a saúde.‖

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