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A antropometria – ciência que estuda as dimensões humanas – representa um significativo parâmetro para a adequação do projeto de ferramentas ao usuário

(PASCHOARELLI; COURY, 2000). “Sem dúvida, as questões antropométricas (tais como tamanho das mãos e dedos) e biomecânicas (tal como posição neutra de punho, antebraço e mão) são básicas no projeto de controle, pegas ou empunhaduras” (GUIMARÃES, 2004, p.4.1-24).

Um dos fatores necessários à adequação das ferramentas manuais é levar em consideração a população de futuros usuários (PASCHOARELLI; COURY, 2000). Quanto à diferença de gênero, uma empresa brasileira se especializou em fabricar facas para desossa com a preocupação de desenvolver design feminino e masculino, a fim de atender as diferenças entre seus usuários, promovendo maior conforto e satisfação, segundo informações do catálogo de produtos.

Paschoarelli e Coury (2000), numa revisão bibliográfica dos aspectos ergonômicos e de usabilidade no design de pegas e empunhaduras, analisaram várias tabelas antropométricas e observaram uma variação muito significativa entre as dimensões de mãos masculinas e femininas. No entanto, Cherry et al (2000) numa investigação do (des)conforto no uso de luvas, encontraram que as medidas antropométricas entre homens e mulheres são relativamente equivalentes.

Uma das tabelas de medidas antropométricas mais completas é a norma alemã DIN 33402 de junho de 1981, conforme Tabela 1, que apresenta medidas de 54 variáveis do corpo, sendo 22 da mão. Embora os dados não sejam tão recentes, ainda é uma das referências mais utilizadas por projetistas e analistas do trabalho.

Medidas Antropométricas Estática (cm)

Mulheres Homens

Mãos 5% 50% 95% 5% 50% 95%

Comprimento da mão 15,9 17,4 19,0 17,0 18,6 20,1

Largura da mão 8,2 9,2 10,1 9,8 10,7 11,6

Comprimento da palma da mão 9,1 10,0 10,8 10,1 10,9 11,7

Largura da palma da mão 7,2 8,0 8,5 7,8 8,5 9,3

Circunferência da palma 17,6 19,2 20,7 19,5 21,0 22,9

Circunferência do punho 14,6 16,0 17,7 16,1 17,6 18,9

Cilindro de pega máxima (diâmetro)

10,8 13,0 15,7 11,9 13,8 15,4

Tabela 1: Medidas de Antropometria Estática, das mãos. Fonte: Norma DIN33402 (1981 apud IIDA, 2005, p. 118).

Woodson (1981) apresenta algumas variáveis antropométricas que considera importante para o projeto de equipamentos manuais, conforme Tabela 2.

Dados Antropométricos (em mm)

Homens Mulheres

Variáveis Percentil

5% 50% 95% d.p. 5% 50% 95% d.p. 1. Largura da Mão no Metacarpal 7,9 8,6 9,7 - 6,9 7,6 8,6 -

2. Espessura da Mão no Metacarpal

2,8 3,0 3,3 - 2,0 2,5 2,8 -

3. Extensao do Polegar 9,4 10,4 11,2 - 8,1 9,1 10,2 -

4. Comprimento da Mão 17,8 19,3 20,8 - 16,3 17,5 18,8 -

Tabela 2: Dados antropométricos da mão. Fonte: Woodson (1981, p. 730-732).

A partir desses dados Lewis e Narayan (1993, apud Paschoarelli e Coury, 2000) organizaram uma relação entre grupos de valores antropométricos e tamanho das mãos, para definir tamanhos de empunhaduras, conforme Quadro 2.

Tamanhos de Empunhaduras Tamanho

s

Grupos

Grande Grupos com dimensões de mãos entre os percentis 50 dos homens e 95 das mulheres

Médio Grupos com dimensões de mãos entre os percentis 5 e 50 de homens e entre os percentis 50 e 95 de mulheres

Pequeno Grupos com dimensões de mãos entre o percentil 5 e 50 de mulheres Quadro 2: Tamanhos de empunhaduras.

Fonte: Lewis e Narayan (1993, apud Paschoarelli e Coury, 2000, p. 84)

Um levantamento antropométrico Brasileiro, realizado em São Paulo, com 400 trabalhadores de fábricas, masculino, e 100 trabalhadoras de escritório, feminina, resultou em tabelas antropométricas. Um dos dados desse estudo apontou a média das dimensões da mão masculina em 18,19 cm e feminina em 16,64 cm; no entanto o autor sugere que o estudo não serve para populações do Espírito Santo, Santa Catarina e nordeste brasileiro, por suspeitar da existência de grande variação antropométrica entre essas regiões do país (COUTO, 1995).

O Laboratório Brasileiro de Desenho Industrial (LBDI, 1990), associado à Copersucar, desenvolveu um levantamento de dados antropométricos da mão de brasileiros (população masculina e feminina), trabalhadores rurais, com o objetivo de obter referências dimensionais para o desenvolvimento de luvas e facão utilizados por cortadores de cana de açúcar. Estes dados reúnem trinta e duas variáveis antropométricas, descritas na Tabela 3.

Dados antropométricos da mão (em mm) Dados Gerais

Variáveis % 05 %50 %95 d.p

1. Comprimento do centro da base palmar à base do mínimo 81 91 100 - 2. Comprimento do centro da base palmar à base do anular 89 99 110 - 3. Comprimento do centro da base palmar à base do médio 93 104 115 - 4. Comprimento do centro da base palmar à base do indicador 95 105 117 - 5. Comprimento do centro da base palmar à base do polegar 69 77 87 - 6. Comprimento do centro da base palmar ao extremo do

polegar

116 130 144 -

7. Comprimento do mínimo 50 58 66 -

8. Comprimento da 1ª e 2ª falange do mínimo 27 33 39 -

9. Comprimento da 1ª falange do mínimo 14 18 2 -

10. Comprimento do anular 63 72 81 -

11. Comprimento do médio 67 76 86 -

12. Comprimento da 1ª e 2ª falange do médio 42 49 57 -

13. Comprimento da 1ª falange do médio 21 25 30 -

14. Comprimento do indicador 61 69 78 -

15. Comprimento entre base do indicador e base do polegar 33 39 48 -

16. Comprimento do polegar 55 62 71 -

17. Comprimento da 1ª falange do polegar 25 31 38 -

18. Largura na articulação entre a 1ª e 2ª falange do mínimo 14 16 19 - 19. Largura na articulação entre a 1ª e 2ª falange do anular 16 18 21 - 20. Largura na articulação entre a 1ª e 2ª falange do médio 17 20 23 - 21. Largura na articulação entre a 2ª e 3ª falange do médio 15 17 20 - 22. Largura na articulação entre a 1ª e 2ª falange do indicador 17 20 22 - 23. Largura da palma na base dos ossos da 1ª falange dos

dedos

75 85 94 -

24. Largura do punho 52 59 66 -

25. Altura (maior) da mão entre a face palmar e dorsal 41 50 59 - 26. Altura da articulação entre 1ª e 2ª falange do polegar 16 19 22 -

27. Altura da articulação entre 1ª e 2ª falange do médio 16 10 22 - 28. Altura da articulação na 1ª falange do médio 25 30 35 - 29. Largura na articulação entre 1ª e 2ª falange do polegar 20 23 27 - 30. Comprimento da articulação (dorsal) à extremidade do

médio a 90º

97 108 120 -

31. Comprimento do dorso da mão (médio à 90º ) 76 88 102 - 32. Diâmetro da empunhadura, com o toque do polegar com

indicador

34 39 43 -

Tabela 3: Estimativa antropométrica das mãos (em mm). Fonte: LBDI (1990).

Comparações de medidas brasileiras e estrangeiras mostram que os brasileiros se assemelham aos europeus mediterrâneos (portugueses, franceses, italianos, gregos), são menores que os nórdicos (suecos, noruegueses, dinamarqueses) e maiores que os asiáticos. Como, em geral, em antropometria aplicada, tolera-se erros de até 5%, é recomendado utilizar tabelas estrangeiras, do que incorrer em erros maiores utilizando-se levantamentos caseiros, (GUIMARÃES, 2004).

Para a autora, o levantamento antropométrico caseiro, pode levar a dois erros típicos. O primeiro erro é amostral, onde são considerados o tamanho da amostra e onde buscar os elementos dessa amostra, de forma que seja representativa da população enfocada. O segundo erro é o não amostral, que advém de procedimentos viciados, incompletos e diversificados do pessoal técnico envolvido na pesquisa, ou associado ao instrumental utilizado. Um levantamento antropométrico requer equipamento de precisão, equipe treinada para utilizá-lo e controle de qualidade, inclusive controle de erro, ao longo de todas as suas fases.

No entanto, para Iida (2005), as medidas brasileiras são ligeiramente menores, quando comparadas com as estrangeiras. Percentualmente, essas diferenças estão aproximadamente em torno de 4%, no máximo. Em geral, essas pequenas diferenças não chegam a comprometer a solução para a maioria dos problemas em ergonomia, contudo, nos casos onde se exige maior precisão, os dados tabelados devem servir apenas como uma primeira aproximação. O autor sugere ainda, a realização de medidas diretas nos usuários reais dos produtos ou serviços, sempre que possível e economicamente justificável. Pois as medidas antropométricas irão variar de acordo com a classe social, raça, etnia, cultura, localidade, clima, sexo, etc. Então, a Antropometria aplicada às dimensões de mãos é essencial no projeto de ferramentas manuais. Com relação à faca de desossa, seria de fundamental

importância saber qual é o perfil antropométrico das mãos dos trabalhadores deste setor, para poder avaliar a faca com relação as suas medidas. Na hipótese destas medidas sofrerem variação estatística significativa, em função da região do país, sugere-se que sejam projetadas facas com diferentes tamanhos de pegas, que possivelmente irão promover maior conforto e exigir menos esforço físico por parte do trabalhador.