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II. CAPÍTULO II: COMUNIDADES DE PRÁTICA

2.5 Dimensões da CoP

As dimensões da CoP sugeridas por Wenger (1998) como características que toda CoP deve possuir são: engajamento mútuo, empreendimento negociado e repertório compartilhado.

2.5.1 Engajamento mútuo

O engajamento mútuo é a fonte de coerência de uma comunidade. Isso porque a prática não reside em livros nem organogramas, mas na comunidade de pessoas e

1 Cinestesia: relativo à cinestesia. Cinestesia diz respeito ao sentido da percepção de movimento, peso, resistência e

nas relações de participação mútua por meio das quais elas podem fazer o que elas fazem. A afiliação com uma comunidade é uma questão de engajamento mútuo, isso é o que define uma comunidade. Inclusive, dado um contexto correto, o fato de falar pelo telefone ou trocar e-mails facilitaria o engajamento mútuo.

A CoP não é homogênea, pois cada participante encontra um lugar único e adquire uma identidade própria que é integrada e definida através do engajamento na prática. Essas identidades se entrelaçam e se articulam mutuamente por meio do engajamento mútuo, mas sem chegarem a ser uma só. A homogeneidade não é um requisito, às vezes, diferenças e conflitos como formas de participação, comunidade permanece unida pelo compromisso.

A CoP é um ambiente em que as pessoas se ajudam mutuamente, sendo mais importante saber dar e receber ajuda do que tentar saber tudo. Dentro da diversidade da CoP existem contribuições complementares e outras que se sobrepõem, em ambos os casos desenvolver uma prática depende do engajamento mútuo.

2.5.2 Empreendimento conjunto

O empreendimento conjunto ajuda manter a CoP unida, uma vez que ela é o resultado de um processo coletivo de negociação que reflete toda a complexidade do engajamento mútuo, isto é, o empreendimento é definido pelos participantes, sendo uma resposta negociada de sua participação. Isso não significa que todos acreditem no mesmo e concordem em tudo, não existindo, obrigatoriamente, como resultado um empreendimento uniforme.

Seguindo esse raciocínio, o empreendimento conjunto nunca está totalmente determinado por uma ordem externa, uma regra ou participação isolada (nada pode ser imposto a partir de fora), inclusive quando a CoP surge por ordem da gerência, a prática evolui até converter-se na resposta própria, negociada dentro comunidade. Por exemplo, quando alguns membros possuem mais poder do que outros e impõem uma prática, ela evolui até converter-se numa resposta a essa situação. Dessa forma, o empreendimento não é simplesmente uma meta estabelecida ou um acordo estático, ele é um processo que cria entre os participantes da comunidade relações de responsabilidade mútua em que as pessoas negociam o melhor para seu empreendimento. Este processo estimula e concentra a ação, fazendo avançar

a prática de maneira ordenada, na qual os membros discriminam o que é importante e deve ser feito, o que precisa ser justificado, o que é obvio.

As CoPs não são entidades independentes. Desenvolvem-se em contextos mais amplos, históricos, sociais, culturais, institucionais, com alguns recursos e limites concretos. A CoP reage aos aspectos institucionalizados de forma que não podem ser determinados pela organização. Então, as condições, os recursos, as exigências só conformam a prática quando negociados na comunidade. No entanto, alguns aspectos do empreendimento conjunto podem estar reificados em objetivos, normas políticas, mas, na prática, o empreendimento conjunto é mais complexo do que realizar um objetivo porque inclui toda a energia que os membros lhe dedicam para realizar as tarefas e também fazer do trabalho um ambiente mais habitável.

2.5.3 Repertório compartilhado

O repertório inclui rotinas, palavras, instrumentos, feitos, relatos, gestos, símbolos, ações ou conceitos que a comunidade produziu ou adotaram ao longo de sua existência e que formam parte de sua prática. O repertório compartilhado pode ser muito heterogêneo e obtém coerência pelo fato de pertencer à prática de uma comunidade. Combina aspectos reificados e de participação, refletindo uma história de engajamento mútuo e de identidade.

O repertório é um conjunto de recursos que pode ser aplicado em novas situações, para a negociação de significados. Ele é dinâmico e interativo, e seu uso na prática compartilhada não é sempre harmonioso podem existir desacordos que resultam em oportunidades para gerar novos significados.

Para reconhecer os elementos do repertório de uma comunidade os membros precisam participar da história da prática (forma direta ou indireta) que geraram esses elementos. Murillo (2011) associa essas dimensões com alguns indicadores que evidenciam que uma CoP foi formada (Quadro 4); está relação ajudaria estudar estas dimensões na prática.

Quadro 4: Aspectos que evidenciam a formação de uma CoP Dimensão Aspectos da CoP

Engajamento Mútuo

Relações mutuamente sustentadas: harmoniosa ou conflitiva Caminhos compartilhados, que motiva a fazer as coisas juntos. Fluxo rápido de informação e propagação da inovação

Ausência de preâmbulos introdutórios, conversações e interações são como um processo em andamento

Rápido setup de um problema para ser discutido

Empreendimento negociado

Superposição substancial na descrição dos participantes

Conhecer o que os outros conhecem o que eles podem fazer, e como eles podem contribuir a empresa.

Identidades mutuamente definidas

Habilidade para avaliar a adequação das ações e produtos

Repertório Compartilhado

Ferramentas específicas, representações e outros artefatos. Tradições locais, histórias compartilhadas, piadas internas.

Gíria e frases curtas de comunicação assim como fácil criação de novas formas

Estilos reconhecidos que mostrar adesão a CoP

Discursos compartilhados que refletem certas perspectivas do mundo Fonte: Murillo (2011)