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DIMENSÕES DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO COLETIVO NA SEEDF

4. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA SEEDF NA

4.1. DIMENSÕES DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO COLETIVO NA SEEDF

Ao se pensar no ambiente escolar e em seus inúmeros participantes refletimos como esse espaço se desenvolve com diversas áreas e demandas dos diferentes níveis. Para tanto observa-se que o ato de aprender necessita de esforço da parte de quem realiza o trabalho. Thurler e Maulini (2012, p. 11) descrevem que o ato de organizar se configura de “uma estrutura hierarquizada, que dispõe de regras de trabalho precisas e que permitem padronizar, coordenar e planejar atividades. [...] consiste também em empregar racionalmente meios para obter um resultado”.

Para compreender a organização do trabalho coletivo no ambiente escolar e a atuação do Coordenador pedagógico analisemos a estrutura organizacional das unidades escolares da SEEDF. Sobre esta temática Paro (2003, p. 136) pontua que “[...] se estamos convencidos de

que a maneira da escola contribuir para um caráter emancipatório a fim de alcançar a transformação social, devemos dotá-la de racionalidade interna necessária à efetivação desses fins”. Destarte, observamos as legislações existentes que descrevem as diferentes dimensões que abarcam a escola para uma proposta de atuação autônoma educativa em sua organização. Essas dimensões, segundo Veiga (1996) necessitam ser relacionadas e articuladas. Para melhor compreensão das dimensões existentes nas escolas, a Figura 13, descreve as áreas existentes:

Figura 13 – Dimensões da autonomia organizacional

Fonte: da autora (2019) a partir de Veiga (1996).

Para Veiga (1996) a autonomia do trabalho é fundamental no espaço escolar e para tanto descreve que suas dimensões carecem de autonomia, porém, de forma articulada e relacionada entre si. A autora, em comunhão com o pensamento de Libâneo (2015), adota as dimensões administrativas, financeiras e pedagógicas como pertencentes a escola.

Partiremos da esfera administrativa, sendo que essa opção ocorreu de forma aleatória, tendo em vista que nenhuma das dimensões se sobrepõe as demais. Administrativamente, a organização do trabalho revela suas características no que tange as atividades-meio que asseguram o atendimento aos objetivos funções da escola. Nesta dimensão podemos citar a Secretaria Escolar, a área de limpeza, vigilância, direção e vice direção, secretariado administrativo e atividades de multimeios – expressão utilizada por Libâneo (2017) ao descrever a biblioteca e os laboratórios.

Observando a dinâmica organizacional da SEEDF, procuramos encontrar características que demonstram a esfera administrativa de forma articulada com as demais. Para tanto, analisando a estrutura educacional desta Unidade da Federação, observamos a terceirização de

algumas funções administrativas, o que ao nosso ver proporciona a fragmentação do trabalho pedagógico. Consequentemente, as empresas, terceirizadas, responsáveis pelo recurso humano, destinado as escolas, não vislumbram a necessidade de se estabelecer vínculos estreitos com os demais profissionais pertencentes a esse ambiente, para assim construir, paulatinamente, uma cultura de responsabilização de contribuições na aprendizagem dos estudantes. Pensamos que esse fator pode dificultar esse movimento por apresentar a constante rotatividade desses profissionais no ambiente escolar, algo constante em nossa realidade.

No que diz respeito à dimensão financeira, encontramos um espaço reservado para os recursos destinados a unidade escolar e que serão utilizados a partir de uma análise no âmbito administrativo, levando em conta as demandas pedagógicas. Ao se trabalhar com as dimensões da organização do trabalho na unidade escolar, percebe-se evidente o que cada área necessita focar, mas de forma articulada, pois assim atende os diversos campos.

Por fim nos deteremos na dimensão pedagógica, um espaço rico em participação do coordenador pedagógico. Nesta dimensão, na perspectiva de uma educação autônoma, crítica e emancipatória, como descrito da Lei 4.751/2012 de Gestão Democrática do Distrito Federal em seu capitulo I (DISTRITO FEDERAL, 2012), onde elenca suas finalidades e princípios; abarca a liberdade de ensino e pesquisa, o desenvolvimento da função social da escola, observância das características e peculiaridades da clientela em prol de uma educação significativa. Proposições de uma organização curricular considerável, onde tem espaços para avaliação dos diversos níveis, apreciação dos resultados e possíveis alterações, resumidamente, a dimensão pedagógica se encontra na essência do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola.

Neste ponto, realizamos outra ponderação visto que a educação pública do Distrito Federal está pautada no princípio “da liberdade de ensino e pesquisa” (DISTRITO FEDERAL, 2012), a fim de propor uma educação significativa aos estudantes levando em consideração suas peculiaridades. Entretanto, o estudo nos apresentará mais adiante aspectos semelhantes ou divergentes do aqui registrado, pois na pesquisa de campo obteremos dados concretos da prática destes profissionais.

A afirmação registrada acerca da aplicabilidade do princípio da liberdade de ensino e pesquisa, se mostra contraditória a partir de algumas discussões, por parte do governo e sindicato dos professores, em realizar o questionamento acerca da utilização das coordenações coletivas. Há orientações, na portaria de início do ano letivo e entre outras, que esse espaço deva ser utilizado para reforços escolares, substituição de professores faltosos, reuniões de cunho estritamente administrativos. Se assim ocorresse, o espaço que seria destinado para

possíveis pesquisas, as trocas de experiências, o enriquecimento, a reflexão e a ressignificação da prática docente estariam ameaçados reduzindo a escola a mera transmissora de conteúdo sem função social emancipatória, fato que contraria o princípio destacado na Lei 4.751/2012 de Gestão Democrática do Distrito Federal (DISTRITO FEDERAL,2012).

A fim de se articular o desenvolvimento pedagógico do espaço escolar todas as dimensões que compõem este ambiente necessitam da participação e significação coletiva da construção da cultura organizacional da escola. A articulação para tal conscientização perpassa por uma das incumbências do coordenador pedagógico. De acordo com o Artigo 120 do Regimento Interno da SEEDF (DISTRITO FEDERAL, 2006), “São atribuições do coordenador pedagógico [...] IV - articular ações pedagógicas entre os diversos segmentos da unidade escolar e a Coordenação Regional de Ensino, assegurando o fluxo de informações e o exercício da gestão democrática”.

Ponderamos, que a dimensão pedagógica na organização do trabalho na SEEDF nos remeteu a consultar o Regimento Interno da Secretaria de Estado e Educação do Distrito Federal (2015) visando compreender nesse documento como se configura a organização do trabalho pedagógico e quem são os verdadeiros responsáveis (DISTRITO FEDERAL, 2015, art.118):

A organização pedagógica, caracteriza-se por serviços que competem, em primeira instancia, à equipe gestora e, complementarmente, aos demais profissionais da unidade escolar, a saber: I- Coordenadores pedagógicos; II –Equipe de apoio: a) Equipe de apoio a aprendizagem; b) Orientação educacional; c) Atendimento Educacional Especializado/ Sala de recursos.

Observa-se que recai ao coordenador pedagógico a tarefa de articular e desenvolver o trabalho pedagógico, em toda a unidade escolar. Porém, os demais sujeitos são corresponsáveis por seu desenvolvimento. Ao compreender o que é, e quais os sujeitos imbricados nessa tarefa analisamos as tarefas destinadas ao CP, as exclusivas e as direcionadas concomitantes com outros indivíduos.

Nos deparamos com os demais documentos da SEEDF que descrevem atribuições e /ou orientações aos Coordenadores pedagógicos. Percebemos diferentes focos e áreas de atuação destes profissionais. Sobre isto encontramos em Guimarães e Villela (2009, p. 37) que “[...] apagar incêndios não caracteriza a função do coordenador”. Isto nos remete as Orientações Pedagógicas (DISTRITO FEDERAL, 2014) que se resume a um caderno com diretrizes acerca da coordenação pedagógica e da elaboração do Projeto Político Pedagógico de cada unidade de ensino.

Nessas orientações destina-se um espaço para as atribuições do Coordenador pedagógico, contudo se apresentam de forma ampla, sem se aprofundar nas atividades cotidianas a serem desenvolvidas. Analisamos, também, o Regimento Interno (2015), sendo que neste espaço encontram-se algumas orientações para o trabalho pedagógico do CP. No documento registra-se a necessidade de delimitar as atribuições na Portaria de ‘Escolha de turma’, que sai com validade anual e a previsão de se registrar no PPP de cada escola as tarefas extras que por ventura o grupo gestor e docentes acham pertinentes à atuação do Coordenador pedagógico.

Ao explorar a Portaria nº 395/2018 (DISTRITO FEDERAL, 2018), que foi aplicada em 2019, identificamos elementos mais práticos da atuação do Coordenador pedagógico, porém eles se distanciam dos demais documentos legais, específicos do Distrito Federal, por pontuar algumas atividades administrativas e não, exclusivamente, pedagógicas como os demais descritos.

Para abordarmos o caráter administrativo elencado na Portaria se faz necessário citar que o documento apresenta os critérios para escolha do Coordenador pedagógico (DISTRITO FEDERAL, 2018, p. 12):

Para o exercício das atividades de Coordenador Pedagógico Local o servidor deve: I - ser Professor de Educação Básica, integrante da Carreira Magistério Público do Distrito Federal; II - ser escolhido pelos servidores integrantes da Carreira Magistério Público do Distrito Federal da UE/UEE/ENE; III - ter, no mínimo, três anos de exercício em regência de classe na Rede Pública de Ensino do Distrito Federal ou, caso não atenda a este requisito, ter sua escolha justificada por seus pares, por meio de registro em Ata.

Ao percorrer o referido artigo nos deparamos com uma política organizacional que se difere do pensamento de Libâneo (2017) em que descreve que o cargo de Coordenador pedagógico, da escola pública, deveria ser ocupado por um profissional específico, de preferência com um concurso especifico, Pedagogia, para essa área de atuação e não necessita ter a mesma formação que o professor. Para Vasconcellos (2002, p. 84) o CP necessita de uma formação especializada para lidar com as demandas pedagógicas, por isso, ser um especialista e não um professor de área especifica, pois este possui conhecimentos específicos de sua área de atuação e não para desempenhar a função ao qual o coordenador tem proposto nas normatizações a realizar.

A análise de Libâneo (2007) e Vasconcellos (2002) se desencontram da proposta utilizada pela SEEDF ao descrever na Portaria nº395/2018 (DISTRITO FEDERAL, 2018), que

o cargo de Coordenador pedagógico deve ser ocupado por um professor com pelo menos três anos de experiência em regência na própria Secretaria. Atenta-se que a realidade do Distrito Federal pode não ser a mesma de alguns Estados brasileiros, pois existem Estados que comungam com a tese de Libâneo (2017). Dentre eles podemos destacar o Estado de Minas Gerais cuja organização educacional se configura com um concurso específico para o cargo de supervisor pedagógico, desempenhando a mesma função intitulada no DF como coordenador pedagógico. No Estado de Minas Gerais (2017, EDITAL SEE Nº. 07/2017) (MINAS GERAIS, 2017), a seleção para o cargo de especialista:

[...] 1.2 O concurso Público de que trata este Edital visa ao provimento de cargos das carreiras de Especialista em Educação Básica-EEB e Professor de Educação Básica- PEB, todos no grau inicial do nível I, conforme as áreas de atuação e vagas estabelecidas neste edital.

Ao se destinar uma seleção específica para o cargo de coordenador pedagógico proporciona a este sujeito uma maior legitimidade de sua profissionalidade e contribuição para elucidação da construção de sua identidade?

Após o ingresso na função o CP, na SEEDF, se vê em uma dinâmica com multitarefas. Podemos inferir tal situação, utilizando, ainda, a Portaria nº 395/2018 (DISTRITO FEDERAL, 2018), ao descrever em seu artigo nº 51, que o quantitativo de coordenadores para cada unidade escolar, será de um coordenador para cada quinze turmas. Lembrando que na organização educacional em análise se prevê apenas a figura do Diretor, vice-diretor, secretário escolar e supervisor escolar, neste último só será disponibilizado este profissional se a unidade escolar ultrapassar o quantitativo de 500 alunos. Com um quadro reduzido de profissionais que poderiam cuidar de assuntos práticos e pedagógicos, o Coordenador pedagógico exerce diversas funções para suprir a ausência de profissionais que a própria legislação prevê.

Posterior ao processo de escolha e devidamente empossado, na função de coordenador pedagógico, esse profissional inicia sua atuação no ambiente escolar com as demandas do início do ano letivo. Observa-se que sua prática carece de bases sólidas para que os professores, gestores e o próprio CP compreendam qual a sua atuação em meio as demandas infinitas que surgem no ambiente escolar. Vale salientar que todos os sujeitos envolvidos na atmosfera educativa são pessoas com trajetórias de vida e de formações diversas. Ao chegar na escola desenvolvem o seu fazer pedagógico por meio dos conhecimentos, características, sonhos carregados no percurso como ser indivíduo compartilhados e confrontados com o cotidiano da escola.

Registra-se que ao se deparar com as atribuições lhe destinada, direta e indiretamente, surge a necessidade de se atualizar constantemente, haja visto que a natureza de suas atribuições perpassa o papel de articulador de saberes e para tal se faz necessário formação permanente. Segundo Dantas (2007, p. 31) “[...] é geral a necessidade de formação, visto que a sociedade da informação, o avanço científico e tecnológico e a globalização da economia têm demandado profissionais capacitados para atuar mediante o nós deste novo mundo”. Além da cobrança da sociedade de forma geral, há a preocupação de se articular os saberes dos docentes para com as demandas da sociedade. Ao trazer a sociedade para dentro da escola e para as rodas de reflexão estaremos construindo uma cultura organizacional e saberes significativos com criticidade.

Ao se identificar as dimensões, captando os deveres e características de cada uma, partiremos para a análise detalhada do trabalho coletivo, no ambiente escolar e quais meios são utilizados para se desenvolver uma cultura de participação e responsabilização do ato educativo.