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1 SABERES DOCENTES E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA INCLUSIVA: APRENDENDO A

2.4 Procedimentos

2.4.1 Dinâmica dos encontros

A dinâmica dos encontros envolveu leitura e discussão de pequenos textos e vídeos (mais detalhes serão apresentados no capítulo 3) e atividades matemáticas com o sentido da visão temporariamente interrompido, dentre outras. No primeiro encontro do curso de extensão, foi combinado com os participantes que, no último dia, eles apresentariam algumas propostas para o ensino de um conteúdo ou conceito matemático escolhido por eles, numa perspectiva inclusiva. Ao final de cada dia, os participantes eram convidados a registrar, em seus cadernos, algumas reflexões acerca da experiência vivida, bem como apresentar temas matemáticos que consideravam muito difíceis de trabalhar com alunos com deficiência visual em classes regulares.

Com o propósito de contribuir com os professores e para o ensino de Matemática para alunos com deficiência visual pensamos numa formação que possibilitasse aos participantes o contato com situações que lhes permitissem ter alguma noção de como seria vivenciar tarefas matemáticas com o sentido da visão temporariamente interrompido. Nosso intuito tanto era favorecer uma sensibilização por parte do grupo em relação à realidade dos alunos com limitações visuais quanto desconstruir, em alguma medida, a ideia de que não “seria possível

aprender nada sem enxergar”. Acreditávamos que, à medida que percebessem que poderiam, eles próprios, realizar tarefas matemáticas privados temporariamente do sentido da visão, compreenderiam que os alunos com deficiência visual têm plena capacidade de fazê-lo, desde que bem orientados e com recursos adequados. Isso poderia contribuir para uma sensibilização quanto ao ensino de Matemática, numa perspectiva inclusiva, ao possibilitar que se sensibilizassem e compreendessem a necessidade de construção de novas práticas pedagógicas com vistas a incluir esses alunos no contexto de sua aula, oferecendo oportunidades para que possam participar das mesmas atividades que seus colegas videntes e aprender. Além disso, favoreceria a construção do saber ensinar Matemática para esses alunos por meio de propostas (representações, modelos, exemplos, linguagem, ferramentas táteis, estruturas, enfim, estratégias para ensinar etc.) mais condizentes com suas demandas. Consequentemente, isso favoreceria a reflexão sobre a própria prática e o desenvolvimento de propostas de ensino mais condizentes com as necessidades desses alunos.

Esperávamos que a dinâmica do curso de extensão favorecesse a mobilização de alguns saberes docentes envolvidos na promoção de saberes docentes para a inclusão, tais como:

- Saberes pedagógicos: aqui entendidos como saber ensinar e como ensinar (PIMENTA, 1997; FRANCO, 2016). Abrange o conhecimento de metodologias de ensino, recursos didáticos específicos para o ensino aos alunos com deficiência visual, enfim, estratégias pedagógicas mais adequadas para o ensino de Matemática nessa perspectiva, improvisação nas situações de ensino – erros e dúvidas –, dentre outras;

- Saberes disciplinares (TARDIF, 2014): entendidos aqui como o conhecimento da matéria a ser ensinada, isto é, da área específica do saber. Esperávamos uma mobilização desses saberes na troca de experiências entre os participantes ao vivenciarem atividades matemáticas;

- Saberes pessoais dos professores (TARDIF, 2014): aqui entendidos por crenças, atitudes, valores, emoções, bem como pelos saberes da história de vida do participante etc. Segundo Tardif (2014, p. 16), os saberes docentes “parecem estar assentados em transações constantes entre o que eles são (incluindo as emoções, a cognição, as expectativas, a história pessoal deles etc.)”. Em outras palavras, a nosso ver, a prática do professor frente ao aluno cego ou com baixa visão pode ser influenciada por concepções pessoais (saberes pessoais). Embora tenhamos consciência de que se tratam de aspectos difíceis de serem observados, esperávamos promover alguma mobilização nos mesmos, particularmente, nos momentos de reflexão, na apresentação das propostas e nas avalições dos encontros.

Assim, procuramos investir na vivência de situações de tarefas matemáticas para alunos com deficiência visual – em uma classe regular, envolvendo alunos videntes – visando a uma sensibilização e uma mobilização de saberes por meio da troca, partilha de experiências e a reflexão sobre as vivências. Esperávamos que compreendessem a relevância do trabalho coletivo para o enfrentamento de situações cotidianas de ensino. Além disso, foi nosso propósito também proporcionar oportunidades para construírem um saber ensinar Matemática para esses alunos, numa perspectiva de inclusão. Nossa expectativa era levá-los a perceber que, com empenho, comprometimento, trabalho coletivo etc., é possível desenvolver práticas pedagógicas nas quais todos os alunos possam ser incluídos e aprender. Dessa forma, durante todo o desenvolvimento do curso de extensão, buscamos valorizar esse tipo de trabalho como campo essencial para a construção de saberes docentes. Assim, esperávamos que a dinâmica do curso estimulasse a troca de experiências, a aprendizagem, o desenvolvimento e socialização de práticas mais inclusivas.

Assim, nos encontros do curso de extensão, foram desenvolvidas algumas propostas de ensino de variados conteúdos da Matemática, como, por exemplo, geometria plana, espacial, frações, operações básicas etc. No quadro a seguir, apresentamos a divisão dos encontros por tarefas.

Quadro 2: Dinâmica dos encontros do curso de extensão Encontros Tarefas realizadas

14/11/2015

- Quebra-cabeças geométrico; - Manipulação de embalagens vazias; - Reflexão sobre a inclusão de alunos cegos; - Avaliação do encontro.

21/11/2015

- Manipulação de sólidos geométricos de madeira; - Construção de transferidor por dobradura;

- Medição de ângulos de figuras geométricas planas em EVA, utilizando transferidor com marcações em alto relevo;

- Medição de ângulos construídos com espaguetes;

- Construção de sólidos geométricos com massa de modelar; - Escrita em Braile: aprendendo alguns rudimentos;

- Avaliação do encontro.

05/12/2015

- Estudo de frações por meio de dobraduras, palitos e discos de frações; - Reflexões sobre as experiências vividas e avaliação do encontro.

12/12/2015

- Vídeo com depoimento de uma aluna com baixa visão; - Reflexões sobre o vídeo;

- Apresentação das propostas de ensino dos participantes; - Avaliação final sobre o curso e encerramento.