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2. Revisão da literatura

2.4. Análise do setor hoteleiro em Portugal

2.4.1. Dinâmica recente do setor

Como já foi referido, o turismo foi alvo, nas décadas recentes, de um grande crescimento a nível mundial passando a ser visto como um setor extremamente dinâmico e fortemente empreendedor, com uma relevância crescente na economia dos países e na imagem que cada país projeta no exterior. Contudo, nem todos os países registaram as mesmas taxas de crescimento do setor sendo que, para alguns, o turismo representa ainda uma fatia pequena da economia (Proença & Soukiazis, 2005).

Portugal foi um dos países que, a este nível, revelou uma elevada dinâmica de crescimento. O clima, a hospitalidade, a localização e a gastronomia são, normalmente, os fatores mais tidos em conta aquando da escolha do país como destino dos turistas (Proença & Soukiazis, 2005). Devido ao grande aumento do turismo, os alojamentos e outras atividades turísticas têm, igualmente, vindo a assumir uma relevância assinalável (CMP, 2018).

O Gráfico 1 mostra a evolução recente dos alojamentos em Portugal: o crescimento moderado que se verificou entre 1999 e 2012 deu lugar a um crescimento abrupto entre 2012 e 2018, período em que o número total de alojamentos turísticos em Portugal mais que triplicou. Em 2018 o país tinha um total de 6868 alojamentos com uma oferta de 184,4 mil quartos e 423,2 mil camas (PORDATA, 2019b, 2019c, 2019d). De acordo com os dados mais recentes da Deloitte (2019) este crescimento continuou em 2019 com a perspetiva de abertura de mais 57 estabelecimentos (22 em Lisboa, 16 na zona Norte, 5 no Centro e na R.A. Madeira, 3 no Alentejo e 2 na R.A Açores).

Fonte: Elaboração própria a partir de PORDATA (2019b)

1772 2028 6868 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total de alojamentos

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O número de hóspedes acompanhou este crescimento do número total de alojamentos (ver Gráfico 2). Como era expectável, o crescimento dos estabelecimentos turísticos respondeu e sustentou uma dinâmica semelhante em termos de hóspedes: crescimento moderado de 1999 a 2012 e aumento muito forte a partir de 2012, tendo em 2019 atingido o valor recorde de cerca de 27 milhões de hóspedes e mais de 69 milhões de dormidas. Entre todos os tipos de alojamentos são os hotéis aqueles que apresentam o maior número de hóspedes desde 1999 cifrando-se em, aproximadamente, 18 milhões em 2019 (PORDATA, 2020b, 2020d).

Fonte: Elaboração própria a partir de PORDATA (2020d)

Esta dinâmica de crescimento originou, como seria de esperar, ganhos significativos para o setor. No Gráfico 3 pode-se verificar que a evolução dos proveitos está em conformidade com a evolução observada nas duas variáveis anteriores mostrando, igualmente, uma aceleração muito significativa do seu crescimento na última década. Mais uma vez são os hotéis que geram a maior parte dos proveitos totais: em 2019 representavam 70% destes (PORDATA, 2020g).

Fonte: Elaboração própria a partir de PORDATA (2020g)

1 219 505 1 856 450 4 276 640 0 500 000 1 000 000 1 500 000 2 000 000 2 500 000 3 000 000 3 500 000 4 000 000 4 500 000 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Proveitos totais dos alojamentos

9 962 545 13 845 419 26 985 537 0 5 000 000 10 000 000 15 000 000 20 000 000 25 000 000 30 000 000 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Total de hóspedes nos alojamentos

Gráfico 2 – Total de hóspedes nos alojamentos em Portugal

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À semelhança do que ocorreu no país, a cidade do Porto registou ao longo dos anos um significativo aumento do número de estabelecimentos de alojamento, do número de hóspedes, do número de dormidas e dos proveitos totais (ver Gráfico 4). Os dados mais recentes mostram que a cidade do Porto terminou o ano de 2018 com 281 estabelecimentos turísticos e com, aproximadamente, 2 milhões de hóspedes, 4 milhões de dormidas e 253 milhões de euros de proveitos totais (PORDATA, 2019a, 2020a, 2020c, 2020f). A cidade do Porto tem revelado um crescimento relevante evidenciado, nomeadamente, pelos prémios ganhos por três vezes consecutivas (em 2012, 2014 e 2017) como “melhor destino europeu” pela European Best Destination (CMP, 2018).

Fonte: Elaboração própria a partir de PORDATA (2019a, 2020a, 2020c, 2020f) Este crescimento tem sido acompanhado de algum esbatimento da sazonalidade (Gráficos 5 e 6) uma vez que, Portugal tem apostado na oferta de produtos e estabelecimentos turísticos adaptados para o ano todo. Se antes o foco era o sol e mar e o golfe, nos anos mais recentes, o país tem vindo a valorizar e rejuvenescer estes produtos bem como a alargar a oferta na vertente cultural, animação, gastronomia e vinhos, entre outros (Turismo de Portugal, 2017). De acordo com dados do Eurostat, em Portugal a sazonalidade tem vindo a diminuir mais rapidamente do que na União Europeia sendo as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto as que mais contribuem para atenuar a diferença entre os meses de maior e menor procura na hotelaria (Miguel, 2020). O Gráfico 5 mostra a evolução recente da taxa de sazonalidade4

4 De acordo com o Turismo de Portugal e INE (2019) a taxa de sazonalidade avalia o peso da procura turística

nos três meses de maior procura (julho, agosto e setembro), relativamente ao total anual, medido através do número de dormidas nos alojamentos.

96 945 427 1 783 781 83 851 164 1 459 060 2 879 833 139 524 281 1 996 461 4 091 975 252 643 0 500000 1000000 1500000 2000000 2500000 3000000 3500000 4000000 4500000

Nº de estabelecimentos Nº de hóspedes Nº de dormidas Proveitos totais (milhares de euros)

Evolução dos alojamentos na cidade do Porto

2011 2015 2018

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que é de 36,3% em 2019 (- 2,6 p.p., face ao ano de 2015). Segundo previsões do Turismo de Portugal, espera-se que a taxa de sazonalidade atinja 33,5% em 2027. Para Luís Araújo - presidente do Turismo de Portugal e para Ana Mendes Godinho - secretária de Estado do Turismo, a sazonalidade é um “adversário da empregabilidade” e só com mais turismo distribuído ao longo do ano é que é possível haver mais “empregos qualificados e sustentados” e evitar os despedimentos após a época balnear (Turismo de Portugal, 2017; Villalobos, 2017).

Fonte: Elaboração própria a partir de Turismo de Portugal & INE (2019)

Como é visível no Gráfico 6, a tendência decrescente da taxa de sazonalidade é, também, visível na zona Norte (redução de 2 p.p. entre 2015 e 2019).

Fonte: Elaboração própria a partir de Turismo de Portugal & INE (2019)

38,9% 37,9% 37,0% 36,7% 36,3% 35,0% 35,5% 36,0% 36,5% 37,0% 37,5% 38,0% 38,5% 39,0% 39,5%

Taxa de sazonalidade em Portugal

2015 2016 2017 2018 2019 36,4% 35,6% 35,1% 34,5% 34,4% 33,0% 33,5% 34,0% 34,5% 35,0% 35,5% 36,0% 36,5% 37,0% 2015 2016 2017 2018 2019

Taxa de sazonalidade na zona Norte Gráfico 5 – Taxa de sazonalidade em Portugal

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Previsivelmente, atendendo ao clima e ao período normal de férias da maior parte dos turistas, os meses de verão são os que apresentam maior procura sendo o mês de agosto aquele que recebe mais turistas seguindo-se o mês de julho e o mês de setembro, respetivamente (ver Gráfico 7). Verifica-se que a época mais baixa, e como seria de esperar, corresponde ao mês de janeiro.

Fonte: Elaboração própria a partir de Turismo de Portugal & INE (2019)

Neste pano de fundo de grande crescimento, a recente pandemia COVID-19 e as medidas de confinamento e restrição da mobilidade dos cidadãos subsequentes reduziram significativamente a procura turística. Segundo dados recentes do INE, em março de 2020, os alojamentos turísticos registaram 701,0 mil hóspedes e 1,9 milhões de dormidas correspondendo, respetivamente, a variações de menos 62,1% e menos 58,5% face ao mês homólogo do ano passado. A região Centro (-66%), a Área Metropolitana de Lisboa (-64%) e a região Norte (-61%) são as que demonstram em termos de dormidas os maiores decréscimos (INE, 2020b). Para além dos impactos na procura turística é esperado que esta pandemia tenha, também, importantes impactos a nível laboral provocando despedimentos e redução dos rendimentos dos trabalhadores.

0 2 000 000 4 000 000 6 000 000 8 000 000 10 000 000 12 000 000 14 000 000 16 000 000 18 000 000 20 000 000

Distribuição relativa do número de dormidas totais por meses nos alojamentos em Portugal

Dormidas em 2018 Dormidas em 2019

Gráfico 7 – Distribuição relativa do número de dormidas totais por meses nos alojamentos em

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