O presente capítulo apresenta a metodologia utilizada nesta investigação e está dividido em três subcapítulos. Inicialmente, apresenta-se o enquadramento metodológico, seguindo-se a identificação dos participantes e, por fim, são apresentados os instrumentos de recolha de informação e as técnicas de análise de dados.
3.1. Enquadramento metodológico
Tendo em conta os objetivos desta dissertação, anteriormente referidos, a metodologia qualitativa surge como a mais indicada. De acordo com Guerra (2006), a investigação qualitativa é apropriada quando os objetivos da investigação se relacionam com a compreensão aprofundada de certas dimensões da realidade social e a sua perceção por parte de atores privilegiados. Esta forma de investigação é essencialmente descritiva e utiliza essencialmente dados expressos em imagens ou palavras e não em números (Bogdan & Biklen, 1994; Bryman, 2012). Pretende-se, desta forma, assegurar o carácter flexível e aberto do processo de recolha de informação.
Como método de estudo foi usado o estudo de caso. Este método mostrou-se o mais adequado aos propósitos da pesquisa, por se tratar de uma investigação empírica que analisa um fenómeno (a GRH no setor hoteleiro) dentro de um contexto real (hotéis da cidade do Porto) (Yin, 2015). Contudo há autores que salientam que, embora os estudos de caso possam fornecer informações valiosas em situações específicas, muito dificilmente se podem generalizar as respetivas conclusões (Yin & Heald, 1975). Neste sentido, é importante realçar que, apesar de este estudo ter sido desenvolvido junto de quatro hotéis diferentes, as conclusões retiradas não podem ser generalizadas ao conjunto dos hotéis da cidade do Porto e, menos ainda, dos hotéis portugueses. Porém, acrescentará informação àquela que decorre de outros estudos realizados sobre essa realidade.
De forma a ter uma representação diversa e abrangente, o estudo foi realizado junto de quatro estabelecimentos hoteleiros da cidade do Porto. De acordo com Yin (2015) esta prática é classificada como um estudo de casos múltiplos pois visa a análise centrada no “como” (explicação fina da forma como são desenvolvidas e implementadas certas práticas e procedimentos) e envolve mais do que um sujeito, situação ou fenómeno. Inicialmente o estudo empírico foi pensado e organizado para a realização de doze entrevistas e os contactos com as empresas e respetivo agendamento foram feitos. No entanto, a instauração do estado de emergência em meados de março, levou ao cancelamento de praticamente todas as
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entrevistas por parte das empresas. Deste modo, e apesar das múltiplas diligências desenvolvidas, apenas foi possível contar com a colaboração de quatro unidades hoteleiras.
3.2. Participantes
Os participantes deste estudo são coordenadores, gestores de recursos humanos e diretores gerais do setor hoteleiro da cidade do Porto. Estes participantes foram selecionados a partir de uma amostra por conveniência tendo em conta a proximidade geográfica e disponibilidade do participante. A idade média dos participantes é de 40 anos. Na tabela seguinte apresenta- se a informação mais detalhada sobre os participantes e as entrevistas realizadas.
Tabela 4 – Dados dos participantes Data da
entrevista Duração Método
Função desempenhada
Antiguidade na função
desempenhada Género
P. 1 11-03-2020 00:50 Presencial Gestor de Recursos Humanos
Trabalha em hotelaria desde 2012 e em
GRH há 2 anos. M
P. 2 12-03-2020 00:51 Presencial Diretor Geral
Trabalha em hotelaria desde 1996 e como
Diretor Geral há cerca de 15 anos. Em
todos as unidades hoteleiras por onde passou sempre foi o
responsável pela GRH. M P. 3 17-03-2020 00:44 Contacto telefónico Gestora de Recursos Humanos Trabalha há 10 anos como Gestora de Recursos Humanos. Ligada à área de hotelaria há 7 anos. F P. 4 07-04-2020 - Por escrito. Questionário enviado por correio eletrónico e respostas remetidas pela mesma via. Coordenadora de Recursos Humanos Trabalha há 20 anos na hotelaria e nesta organização. F
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3.3. Instrumentos de recolha e técnicas de análise de dados
Em termos de instrumentos de recolha de dados foram feitas três entrevistas semiestruturadas e um dos depoimentos foi recolhido por escrito, mediante o envio de um questionário elaborado a partir do guião da entrevista. As entrevistas semiestruturadas representam uma técnica flexível de recolha de informação que visa tornar possíveis processos de comunicação, interação humana e contacto direto entre o investigador e os interlocutores (Campenhoudt & Quivy, 1992). Este tipo de entrevista “nem é inteiramente aberta, nem encaminhada por um grande número de perguntas precisas” (Campenhoudt & Quivy, 1992, p. 194), i.e., o investigador não se restringe ao seu guião, questiona o entrevistado segundo aquilo que este lhe diz. Uma vez que um dos participantes apenas aceitou responder via correio eletrónico (devido à situação de emergência instalada no país) optou-se, neste caso, pela elaboração de um questionário tendo por base as questões efetuadas aos restantes participantes. Realizaram-se apenas questões abertas com o objetivo de obter o máximo de informação e detalhe. Todavia, este método mostra-se mais limitado que a entrevista semiestruturada pelo facto de não permitir uma interação direta com o participante.
A construção do guião (e do questionário) de apoio para as entrevistas fundamentou-se nos contributos da revisão da literatura de forma a estruturar adequadamente os tópicos e questões relevantes. O questionário e o guião final incluíram cinco questões de caracterização sociodemográfica dos participantes e das empresas e quinze questões abertas (ver Anexo I). Os dados sociodemográficos permitiram caracterizar os participantes, compreender a proximidade dos mesmos às questões e identificar a dimensão da empresa. Com as respostas abertas pretendeu-se que os participantes, através dos seus conhecimentos e experiência, desenvolvessem os temas em investigação.
Os procedimentos referentes à recolha de dados tiveram início com um primeiro contacto via email e Linkedin com empresas do setor da hotelaria da cidade do Porto. Foram contactadas mais de setenta unidades hoteleiras. Destas, foram inicialmente agendadas doze entrevistas, contudo, devido à pandemia instalada no país, apenas foi possível realizar quatro das quais, e como já referido, apenas duas presencialmente. O contacto pessoal permitiu uma observação do participante e permitiu identificar com maior aprofundamento as condições de funcionamento do hotel. No caso das entrevistas presencias e telefónica, antes do início de cada entrevista, foram explicados os objetivos do trabalho bem como foram prestados
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esclarecimentos sobre a entrevista transmitindo, assim, confiança aos participantes. No caso do questionário, enviou-se uma carta de apresentação inicial (ver Anexo I).
As entrevistas foram gravadas, com o devido consentimento dos participantes, para que o tratamento da informação fosse facilitado. A duração média das entrevistas foi de 48 minutos, tendo sido realizadas entre março e abril de 2020. Por razões óbvias, este procedimento não foi necessário em relação ao participante que respondeu às questões por correio eletrónico.
Como técnica de análise de dados recorreu-se a uma análise de conteúdo do discurso dos entrevistados. Inicialmente foi feita a transcrição literal e integral das entrevistas realizadas e gravadas, nomeando, para efeitos de anonimização e análise, os contributos dos participantes de P1 a P4. A transcrição da informação foi realizada para um documento Word onde foi registada toda a informação referente à entrevista. Em seguida e, partindo da leitura das mesmas, identificaram-se, de forma geral, as ideias convergentes e não convergentes dos vários participantes. Por último, procedeu-se à codificação das categorias e subcategorias consideradas pertinentes à luz da literatura e dos objetivos do estudo. O procedimento foi semelhante no caso do questionário, à exceção da transcrição do conteúdo.
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Características gerais do setor
Principais especificidades Escassez de mão de obra qualificada Concorrência do setor Especificidades dos trabalhadores e do próprio trabalho Rotatividade dos trabalhadores Sazonalidade Horários de trabalho Carcterísticas da força de trabalho Nível de escolaridade Género Idade Nacionalidade
Outros fatores que influenciam as práticas de GRH
Falta de formação profissional Baixos salários
Esquema 2 - Divisão das características gerais do setor