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3. KIBS NO BRASIL: COMPOSIÇÃO E DINÂMICA RECENTES, NÍVEL

3.3. DINÂMICA RECENTE

A disponibilidade dos dados não nos permite uma análise histórica do setor. Isso porque a base de dados homogênea à atual, conforme descrito no Apêndice A, data apenas de 2002. Desse modo, nos limitamos a retratar o desempenho recente dos KIBS, no comparativo 2002/2006.

No que diz respeito às variáveis receita e salários, os KIBS que analisamos neste trabalho obtiveram crescimento considerável no período 2002/2006. A receita cresceu 25,9%, ou 5,2% anualizado, enquanto os salários tiveram aumento da ordem de 29,0% ao longo do período, com crescimento anual de 5,8%.

O pessoal ocupado cresceu a uma taxa anual de 3,3%, o que indica retornos crescentes de escala com o fator trabalho. Para cada um trabalhador a mais contratado, a receita cresceu em um múltiplo de 1,6, o que caracteriza, de fato, uma mão-de-obra com produtividade acima da média, já que, para a grande maioria dos KIBS, o fator capital é pouco importante25

.

Por fim, o número de empresas classificadas como KIBS cresceu 16% ao longo do período, a menor taxa anual entre as variáveis, embora, deva-se lembrar, das relativas baixas barreiras à entrada no mercado de KIBS.

Embora seja fácil entrar na maioria dos mercados de KIBS, dada a baixa exigência de capital fixo, manter-se no mercado exige elevado capital intelectual e de

relacionamento, especializações em nichos de mercado e forte imagem de qualidade e confiabilidade, evidentemente ativos de difícil construção.

Atividade 2002 2006 Variação %

Telecomunicações 71.114.284 88.781.311 24,8% Atividades de informática 22.034.218 34.568.906 56,9% Serviços audiovisuais 15.098.342 20.216.878 33,9% Agências de notícias e serviços de jornalismo 275.256 220.377 -19,9% Serviços técnicos-profissionais 38.060.922 51.861.028 36,3%

TOTAL KIBS 146.583.023 195.648.500 33,5%

Telecomunicações 3.630.011 3.925.267 8,1%

Atividades de informática 4.740.219 8.287.694 74,8% Serviços audiovisuais 2.140.664 2.678.099 25,1% Agências de notícias e serviços de jornalismo 69.427 62.624 -9,8% Serviços técnicos-profissionais 8.323.450 10.914.341 31,1%

TOTAL KIBS 18.903.772 25.868.025 36,8%

Telecomunicações 78.797 91.077 15,6%

Atividades de informática 215.519 344.043 59,6%

Serviços audiovisuais 99.382 106.402 7,1%

Agências de notícias e serviços de jornalismo 1.389 1.464 5,4% Serviços técnicos-profissionais 536.123 542.375 1,2%

TOTAL KIBS 931.210 1.085.361 16,6%

Telecomunicações 1.922 2.428 26,3%

Atividades de informática 29.490 51.240 73,8%

Serviços audiovisuais 7.542 8.571 13,6%

Agências de notícias e serviços de jornalismo 208 444 113,5% Serviços técnicos-profissionais 117.961 119.506 1,3%

TOTAL KIBS 157.123 182.189 16,0%

TABELA 10 - BRASIL: TAXA DE CRESCIMENTO DE KIBS, POR ATIVIDADE, 2002/2006

Dados de receita e salários de 2002 a 2005 deflacinoados para 31.12.2005.

Receita

Salários e Outras Remunerações

Pessoal Ocupado

Número de Empresas

Fonte: IBGE, PAS, 2006. Elaborado pelo autor.

Freire (2006b) lembra que, não obstante

(...) a expressiva geração de receita e da concentração em regiões metropolitanas, outro fator observado na literatura internacional em relação aos SIC [serviços intensivos em conhecimento ou KIBS] é o seu crescimento expressivo nos anos recentes (FREIRE, 2006b, p. 119).

Foi exatamente essa descrição a encontrada pelo autor que constatou, a partir de dados para o período 1998/2002, que “é bastante expressivo o crescimento dos SIC, demonstrando performance bem mais elevada que indústria, comércio e demais serviços em todas as variáveis analisadas” (FREIRE, 2006b, p. 119).

Para o período 2002/2006, contudo, o setor de serviços como um todo cresceu a uma taxa superior ao grupo KIBS em todas as variáveis, com exceção do número de empresas. A receita e a massa salarial do setor de serviços aumentaram aproximadamente 34% ao longo desse período, o pessoal ocupado, 20%, e o número de empresas, 3%.

O Gráfico 26 apresenta a taxa de crescimento de KIBS, o total do setor de serviços e das indústrias extrativa e de transformação, por variável. Nela, é possível notar que também a indústria cresceu a taxas mais elevadas que os KIBS no período 2002/2006.

Com exceção feita à variável “número de empresas”, os KIBS cresceram a taxas inferiores às demais atividades listadas, em contradição com a dinâmica do período 1998/2002, pesquisado por FREIRE (2006a). No trabalho desse autor, o ordenamento desse crescimento era exatamente o inverso. Em linhas gerais, KIBS cresciam mais que o conjunto das demais atividades de serviços, que, por sua vez, crescia a uma taxa superior à indústria26.

Vale ressaltar que, verificada a coerência entre os métodos para agregação das atividades a partir da PAS, não se verificou diferença digna de nota entre os trabalhos. Parece-nos que a explicação reside no momento econômico distinto. Se entre 1998/2002, o Brasil cresceu a taxas médias comedidas, 2003/2006 assistiu a um momento de maior prosperidade econômica geral.

O primeiro momento pode ser caracterizado por uma busca incessante de redução de custos, impactando diretamente na terceirização de serviços. O crescimento a partir de

26

FREIRE (2006a) incluía na comparação o setor “Comércio”, cujo crescimento situava-se, no geral, numa posição intermediária entre os “Demais serviços” e a “Indústria”.

2003, por sua vez, pode ter ensejado e estimulado a busca por uma série de serviços de maior conteúdo intelectual.

GRÁFICO 26 - BRASIL: TAXA DE VARIAÇÃO DO Nº DE EMPRESAS, PESSOAL OCUPADO, RECEITA E SALÁRIOS, POR GRUPO DE

ATIVIDADE, 2002/2006 16,6 25,9 29,0 20,2 64,3 16,0 34,4 34,2 3,1 45,1 32,2 2,0 33,6 32,9 15,0 21,3 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0

Nº de Empresas Pessoal Ocupado Receita Salários

V ar ia çã o %

KIBS Total Serviços Ind. Extrativa Ind. de Tranformação

A indústria como um todo e os serviços gerais cresceram a taxas superiores. O primeiro setor, decorrente do momento geral da economia, do boom das commodities, do crescimento do mercado mundial. O segundo pelo empuxe das atividades industriais e pelo aumento da renda e do consumo familiares, motores da economia brasileira recente.

Foi também no período 1998/2002 a maior expansão das telecomunicações no país, após a privatização e regulamentação do setor ocorrido na década de 1990. Os investimentos do setor permanecem, mas naquele período houve uma grande expansão, exigência mesmo da regulação setorial. Ademais, não é preciso salientar o peso que esse grupo tem no cômputo geral dos KIBS.

Assim, não é o caso de dizer que os KIBS não cresceram ou cresceram pouco no período. Afinal, a taxa de crescimento média da receita e dos salários, por exemplo, foi superior a 5%, enquanto a expansão do emprego e do número de empresas esteve no patamar de 3% ao ano.

Pode-se salientar que houve uma inversão do grupo de atividades que encabeçava o crescimento relativo brasileiro, mas também se pode afirmar que o crescimento recente dos KIBS é mais qualitativo que o período imediatamente anterior.

Também cabe ressaltar que, entre os anos 2002/2006, houve dinâmicas distintas dentro do grupo de KIBS, conforme se depreende do Gráfico 27. O grupo de informática se destaca com crescimento, em todas as variáveis pesquisadas, acima da média do grupo KIBS.

GRÁFICO 27 - BRASIL: TAXA DE VARIAÇÃO DO Nº DE EMPRESAS, PESSOAL OCUPADO, RECEITA E SALÁRIOS, POR ATIVIDADES KIBS, 2002/2006

16,0 26,3 73,8 13,6 1,3 16,6 15,6 59,6 7,1 5,4 1,2 25,9 47,9 26,3 28,5 2,0 64,9 18,0 23,7 113,5 17,7 29,0 -14,9 -20,0 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0

KIBS Telecomunicaçõ es Informática Audiovisual Agências de

notícias Técnico s- profissio nais V ar ia çã o %

Nº de Empresas Pessoal Ocupado Receita Salários

No que tange à receita e salários, a taxa de “Atividades de informática” é cerca de 2 vezes superior a taxa agregada dos KIBS, enquanto em número de empresas essa razão é de 4,6 vezes e na variável “pessoal ocupado” ela é de 3,6 vezes. As taxas das “Atividades de informática” são superiores, inclusive, às encontradas na indústria extrativa, reconhecidamente um setor com forte expansão no período27

.

O setor de telecomunicações apresentou crescimento da receita, dos salários e do pessoal ocupado abaixo da média, embora tenha apresentado um número não desprezível de expansão no número de empresas.

27

Exceto para a variável “receita”, na qual a indústria extrativa alcançou 74,2% e as atividades de informática, 56,9%. Aqui, o argumento mais plausível é a elevação sem precedentes do preço da maioria das commodities.

Os serviços audiovisuais só estiveram acima da média de KIBS na variável “receita”, mas apenas ligeiramente. Para todas as demais variáveis, esteve abaixo da média, inclusive com um percentual de expansão pequeno na variável “pessoal ocupado”, com crescimento de apenas 7,1% no acumulado do período.

O grupo “Agências de notícias e serviços de jornalismos”, por seu turno, apresentou um extraordinário crescimento no número de empresas (113,5%), mas obteve um desempenho muito fraco em “pessoal ocupado” (5,4%) e negativo em “receita” (-24,5%) e “massa salarial” (-14,9%). Foi o único grupo a apresentar, entre 2002 e 2006, perda de receita e diminuição nos salários.

Finalmente, os “Serviços técnico profissionais” praticamente mantiveram o número de empresas e o pessoal ocupado, embora tenham ganhado em receita (28,5%) e pago mais em salários (23,7%), o primeiro, ligeiramente acima da média de KIBS e o segundo, levemente abaixo.

Desse modo, dos 5 grandes grupos de atividades KIBS cobertos pela PAS, “Agências de notícias e serviços de jornalismos” e “Atividades de informática” não participaram da performance média do grupo. Enquanto o grupo de audiovisuais teve desempenho abaixo da média e mesmo recessivo, o grupo de informática apresentou-se bem acima da média de toda a economia, caracterizando um período de intensa expansão da atividade.

“Serviços técnico-profissionais”, “Telecomunicações” e “Serviços audiovisuais” mantiveram-se dentro do desempenho médio dos KIBS: expansão não desprezível da receita e da massa salarial, sem elevação proporcional do número de empresas e da geração de empregos.

Embora tenha usufruído, no conjunto, crescimento inferior às demais atividades listadas, não se pode descartar a hipótese segundo a qual essas atividades são de elevada dinamicidade no atual paradigma. A expansão do grupo não foi desprezível e o

crescimento dos demais gêneros pode ser compreendido pela conjuntura internacional e nacional únicas.