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4. EMPRESAS DE ENGENHARIA DE PROJETOS E TECNOLOGIA DA

4.1. ESTUDOS DE CASO NO BRASIL E A PROPOSTA PARA O ESPÍRITO

Embora em número já considerável na literatura internacional, os estudos de caso sobre KIBS nacionais ainda são escassos. Aqueles a que este autor teve acesso analisaram, majoritariamente, os serviços de tecnologia da informação.

FREIRE (2006) buscou analisar evidências da relação entre KIBS e processos de inovação, a partir de dados secundários da Pesquisa de Atividade Economia Paulista –

PAEP e dados qualitativos obtidos por meio de entrevistas com diretores de empresas de informática da Região Metropolitana de São Paulo, especialmente as voltadas para consultoria de sistemas e desenvolvimento de software.

As 10 entrevistas realizadas demonstraram a atuação transversal desse grupo de atividades, com relevância “na difusão de conhecimento e no fornecimento de instrumentos que permitam às empresas pensar melhor” (FREIRE, 2006a, p. 104).

Na Bahia, a pesquisa empírica de JESUS (2007) buscou analisar e discutir as contribuições dos KIBS para a inovação, o aprendizado e a difusão da inovação no arranjo produtivo de tecnologia da informação – TI, da Região Metropolitana de Salvador e Feira de Santana. As 4 “firmas KIBS” pesquisadas eram elas próprias empresas de TI, e prestavam serviços às demais empresas do arranjo, algumas delas pesquisadas na posição de clientes.

JESUS (2007) concluiu que os KIBS entrevistados permitiam aos clientes a introdução de inovações em seus respectivos negócios. Tais inovações eram basicamente incrementais, a partir de produtos conhecidos no mercado, melhorados, contudo, pelos clientes. A pesquisa também relatou melhorias nos processos, além de mudanças organizacionais positivas.

Ambos os autores realizaram essas pesquisas por ocasião da elaboração de suas dissertações de mestrado. Indagados no 2º semestre de 2008, também não souberam indicar outros estudos nacionais de monta.

No Espírito Santo, ao menos no Departamento de Economia da Universidade Federal do Estado, foi possível identificar dois estudos que levaram o conceito de KIBS em conta, também dissertações de mestrado, datadas de 2004 e 2005, orientados pelo Professor Doutor Arlindo Vilaschi Filho.

A primeira focou empresas especializadas em comércio exterior. Por meio de uma pesquisa qualitativa, oito empresas foram analisadas – além do sindicato do setor no Estado – sobre questões como inovação, cooperação, aprendizado, governança, determinantes de localização e políticas públicas (TONANE, 2004).

Como resultado, constatou-se que o maior patrimônio do setor está no conhecimento tácito em comércio exterior desenvolvido ao longo dos anos, o que permite a geração de inovações e soluções específicas para seus clientes nas áreas de logística, distribuição e comercialização. Entretanto, não se verificou um papel ativo dessas companies tradings na inclusão de pequenas e médias empresas no comércio global, uma das hipóteses do trabalho.

Uma explicação plausível é a forte especialização dessas empresas nas compras internacionais e a falta de prática nas exportações, já que no Espírito Santo essas empresas estão intimamente relacionadas ao funcionamento do Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias – FUNDAP, um incentivo financeiro dado às importações.

O trabalho de SANTOS (2005), por sua vez, utilizou a pesquisa de campo realizada por um grupo de pesquisa do mestrado da Universidade para identificar uma trajetória de desenvolvimento do segmento de softwares de Vitória, concluindo, numa perspectiva de inovação em serviços (KIBS), pela necessidade da construção, pelo segmento, de um foco de atuação (em nichos de mercado), ponto inexistente no setor e nas políticas públicas desenhadas para o mesmo.

Como se nota, três dos quatro estudos de caso tinham como objetivo analisar o setor de informática, sendo que desses, dois identificaram a relação dos próprios KIBS de informática com seus pares setoriais.

Seguindo a escolha feita por TONANE (2004), nossa proposta difere em natureza e grau das demais três pesquisas. Não que o objetivo primordial seja alterado. Mantemos

nossa busca por detectar as relações positivas envolvidas na cooperação, interação, aprendizado e inovação, supostas no envolvimento de KIBS com seus clientes. O que propomos alterar não é a lupa com a qual se aprecia a realidade, mas o objeto que se analisa e, em maior grau, a forma como esse objeto é contemplado.

Assim, e em primeiro lugar, o estudo de caso realizado por conta desta dissertação recairá sobre um grupo de “empresas KIBS” que mantêm relações (não exclusivas) com um grupo importante de empresas do Estado, conhecidas historicamente como “grandes projetos”, e compreendidas na literatura como empresas âncoras, com tamanho e atuação global.

Participam desse grupo de KIBS empresas de dois diferentes setores: “engenharia de projetos” e “tecnologia da informação”. A opção por ter uma amostra de atividades diversificada é consciente e tenta identificar características comuns, já que ao abrir mais uma perspectiva de análise, diminui-se a chance de que venha a ocorrer vieses setoriais (mesma atividade) e mercadológicos (características específicas de competição no setor).

Por outro lado, estando tais empresas conectadas a um grupo específico, porém diversificado de empresas, que diferem da atividade fim dos KIBS, há a possibilidade de se olhar “para fora” da atividade e compreender, ao menos parcialmente, as implicações da prestação de serviços dessas “firmas KIBS”.

Há uma possibilidade de que tais KIBS possam funcionar como uma efetiva “correia de transmissão” (os “carriers” de Miles et al) de conhecimento entre as grandes empresas do Estado e as de menor porte. Obviamente que não se está descartando a constituição de inovações vindas na direção oposta ou mesmo a geração de novo conhecimento a partir dos próprios KIBS.

O que se está fazendo é salientar uma característica específica que pode estar presente no Estado, decorrente de sua formação histórica, e portanto, condizente com

a idéia de que teorias e abordagens teóricas devem ser utilizadas como parâmetros de análise, após as devidas contextualizações.

O estudo de caso que trataremos neste capítulo será composto por dois “passos metodológicos”. O primeiro tratará de analisar o grupo “engenharia de projetos e tecnologia da informação”, a partir do “universo amostral” qualificado, alinhado e provavelmente acima das características médias da firma representativa dessas atividades, presente no mercado.

O segundo passo compreende um pequeno número de entrevistas aprofundadas, visando preencher lacunas e oferecer respostas a indagações levantadas anteriormente, e não sanadas com a análise do “universo amostral”.

4.2. KIBS NO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE FORNECEDORES DO