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Diplomas Infraconstitucionais de Proteção ao Empregado Doméstico

Conforme já tratado no item referente ao panorama histórico acerca do empregado doméstico, atualmente a proteção desse trabalhador, no ordenamento jurídico infraconstitucional brasileiro, encontra-se traduzida pela norma regulamentadora do trabalho doméstico, Lei Federal n. 5859/72, com as modificações introduzidas pela Lei Federal n. 11.324/06.

Remarque-se que tal norma conceitua essa modalidade de serviço, bem como dos direitos assegurados ao empregado doméstico, vez que o mesmo é excluído da proteção do Diploma Legal Consolidado, por força do disposto em seu art. 7º.

Assim, com a nova redação, ao empregado doméstico é estendido o direito à anotação de seu contrato de trabalho, às férias de 30 dias acrescidas de 1/3, inscrição do empregado à Previdência Social, proibição de desconto com alimentação e moradia por parte do empregador, direito aos descansos semanais remunerados e feriados e estabilidade da gestante desde a confirmação da gravidez até o quinto mês após o parto, nos mesmos moldes das garantias às trabalhadoras comuns.

Já, com a determinação da filiação do empregado doméstico à Previdência Social, encontra-se o mesmo amparado pelas normas legais de n. 8.212 e de n. 8213, ambas de 1991, respectivamente, Plano de Custeio e Plano de Benefícios da Previdência Social, conforme será explanado junto ao capítulo correspondente.

E, por força do disposto na Lei n. 7418 de 16/12/1985 e seus diplomas regulamentadores, instituidora do vale-transporte, o empregado doméstico também foi contemplado com esse benefício, nas mesmas condições do empregado comum, devendo receber os valores despendidos com a utilização de transporte coletivo para o trabalho, e, podendo ser descontado em até 6% de seu salário para fazer frente a esse benefício.

Ainda, como norma protetora relativa ao empregado doméstico, apresenta-se a Lei n. 10.208/2001, oriunda do Decreto n. 3.361, de 10 de fevereiro de 2000, que após gerar muita polêmica sobre o caso, foi permitido ao empregador doméstico, de forma facultativa, a inclusão de seu empregado no sistema do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Aliás, a opção pela inclusão do empregado ao sistema do FGTS é do empregador, porém essa opção é definitiva, se o fizer não poderá retornar à situação anterior. Como conseqüência, estando o empregado doméstico inserido no sistema do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, fará ele jus ao benefício de Seguro- desemprego.

Destarte, não há que se falar em direito à integração ao sistema, vez que se trata de potestade legal, na medida em que condiciona exclusivamente à vontade da parte (empregador), o efeito do negócio jurídico (o direito ao regime do FGTS), a evento futuro e incerto (o levantamento dos depósitos fundiários), o que definitivamente não se confunde com direito, mas condição puramente potestativa, advinda de mero arbítrio ou capricho do agente.

No dizer de MARIA HELENA DINIZ, “a condição, o termo e o encargo são autolimitações da vontade; uma vez impostos à manifestação volitiva, dela tornam- se inseparáveis.”118

Por fim, é forçoso mencionar a proteção garantida ao empregado doméstico nas execuções trabalhistas, face ao disposto na Lei n. 8009, de 29 de março de 1990, o qual, dispondo da impenhorabilidade do bem de família, exclui dessa proteção as execuções em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias. Desta forma, fica o empregado doméstico protegido, em caso execução de verbas salariais não satisfeitas pelo empregador, com possibilidade de executar, além de outros, o bem de família.

Registre-se, de outra parte que, a aplicabilidade da legislação supra mencionada, será minuciosamente examinada nos capítulos referentes aos direitos previdenciários e trabalhistas garantidos aos empregados domésticos.

118

Maria Helena Diniz. Curso de direito civil,v.1: teoria geral do direito civil. 22.ed. ver. e atual. De acordo com o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2005, P.445.

CAPÍTULO IV

O EMPREGADO DOMÉSTICO COMO OBJETO

DE PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA

4.1 A PROTEÇÃO LEGAL DO EMPREGADO DOMÉSTICO NA PREVIDÊNCIA SOCIAL: PANORAMA HISTÓRICO

A proteção previdenciária ao trabalhador doméstico somente foi efetivada com a publicação da Lei n. 3.807, de 26 de agosto de 1960, que autorizou, por força do art. 161, o empregado doméstico a filiar-se ao sistema como segurado facultativo à Previdência Social:

Art. 161 – Aos empregados domésticos será facultada a inscrição na instituição de

previdência social de profissional comerciário, cabendo-lhes, no caso, o pagamento em dobro das respectivas contribuições.

Em 1972, conforme a determinação do art. 4º e seguintes da Lei n. 5.859/72, que regulamentou o trabalho doméstico, o empregado doméstico foi integrado

definitivamente à Previdência Social, como segurado obrigatório e dada a importância dessa normatização, merece sua transcrição no presente trabalho:

Art. 4º - Aos empregados domésticos são assegurados os benefícios e serviços da

Lei Orgânica da Previdência Social, na qualidade de segurados obrigatórios.

Art. 5º - Os recursos para o custeio do plano de prestações provirão das

contribuições abaixo, a serem recolhidas pelo empregador até o último dia do mês seguinte àquele a que se referirem e incidentes sobre valor correspondente a até 3 (três) salários mínimos regionais:

I – 10% (dez por cento) do empregador;

II – 8,5% (oito e meio por cento) do empregado doméstico.

Parágrafo único – A falta de recolhimento, na época própria, das contribuições previstas neste artigo, sujeitará o responsável ao pagamento do juro moratório de 1% (um por cento) ao mês, além da multa variável de 10% (dez por cento) a 50% (cinqüenta por cento) do valor do débito.

Por sua vez, o Decreto n. 71.885, de 9 de março de 1973, veio regulamentar a já citada lei, esclarecendo, in verbis:

Art. 7º - Filiam-se à Previdência Social, como segurados obrigatórios, os que

trabalham como empregados domésticos no território nacional, na forma do disposto na alínea I do art. 3º deste Regulamento.

Art. 8º - O limite de 60 (sessenta) anos para filiação à Previdência Social, previsto no art. 4º do Decreto-lei nº 710, de 28 de julho de 1969, não se aplica ao empregado doméstico que:

I – inscrito como segurado facultativo para todos os efeitos, nessa qualidade já vinha contribuindo na forma da legislação anterior;

II – já sendo segurado obrigatório, tenha adquirido ou venha a adquirir a condição de empregado doméstico após se desligar de emprego ou atividade que decorria aquela situação.

Art. 9º - Considerar-se-á inscrito para os efeitos da Lei nº 5.859, de 11 de dezembro

de 1972, o empregado doméstico que se qualificar junto ao Instituto Nacional de Previdência Social, mediante apresentação da Carteira de Trabalho e Previdência Social.

§1º - Os empregados domésticos, inscritos como segurados facultativos, passam, a partir da vigência deste Regulamento, à condição de segurados obrigatórios, independentemente de nova inscrição.

§ 2º - A inscrição dos dependentes incumbe ao próprio segurado e seráfeita, sempre que possível, no ato de sua inscrição.

Art. 10 – O auxílio-doença e a aposentadoria por invalidez do empregado doméstico

serão devidos a contar da data de entrada do respectivo requerimento.

Art. 11 – O custeio das prestações a que se refere o presente Regulamento será

atendido pelas seguintes contribuições:

I – do segurado, em percentagem correspondente a 8% (oito por cento) do seu salário-de-contribuição, assim considerado, para efeitos deste Regulamento, o valor do salário mínimo regional;

II – do empregador doméstico, em quantia igual à que for devida pelo segurado. Parágrafo único – Quando a admissão, dispensa ou afastamento do empregado doméstico ocorrer no curso do mês, a contribuição incidirá sobre 1/30 (um trinta avos) do salário mínimo regional por dia de trabalho efetivamente prestado, em formulário próprio, individualizado por empregado doméstico.

Art. 12 – O recolhimento das contribuições, a cargo do empregador doméstico, será

realizado na forma das instruções a serem baixadas pelo Instituto Nacional de Previdência Social, em formulário próprio, individualizado por empregado doméstico.

Parágrafo único – Não recolhendo na época própria as contribuições a seu cargo, ficará o empregador doméstico sujeito às penalidades previstas no art. 165 do Regulamento Geral da Previdência Social, aprovado pelo Decreto n. 60.501, de 14 de março de 1967.

A partir de então, todas as legislações previdenciárias, tanto aquelas referente ao custeio do sistema de seguridade social, quanto a referente ao benefício, passaram a incluir o empregado doméstico como objeto de proteção, porém não com os mesmos direitos deferidos aos demais empregados.