• Nenhum resultado encontrado

Directiva 2001/77/CE, de 27 de Setembro (Directiva das renováveis)

3. O Sector Eólico e a sua Relevância no Contexto Energético Actual

3.2 Directiva 2001/77/CE, de 27 de Setembro (Directiva das renováveis)

Paralelamente ao Protocolo surgem algumas directivas comunitárias que tentam limitar a utilização de combustíveis fósseis por parte dos Estados-Membros.

O aumento da utilização de electricidade produzida a partir de fontes de energia renováveis constitui uma das medidas tendentes ao cumprimento do Protocolo de Quioto e Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas e é promovido pela Directiva 2001/77/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de Setembro.

Segundo a referida Directiva, os Estados-Membros deveriam aprovar e publicar, até 27 de Outubro de 2002 e posteriormente de cinco em cinco anos, um relatório que defina as metas indicativas nacionais relativas ao consumo futuro de electricidade produzida a partir de fontes de energia renováveis em termos de percentagem do consumo de electricidade, para os 10 anos seguintes. Além deste, deveriam publicar, até 27 de Outubro de 2003, e posteriormente de dois em dois anos, um relatório que inclua uma análise da realização das metas definidas.

As metas nacionais deverão ser compatíveis com a meta indicativa global de 12% do consumo nacional bruto de energia em 2010 e, em especial, com a quota indicativa de 22,1% da electricidade produzida a partir de fontes de energia renováveis no consumo total de electricidade da Comunidade em 2010.

No âmbito da Directiva, Portugal assumiu o compromisso de pelo menos 39% do consumo de electricidade em 2010 ser de origem renovável. Este objectivo tem como referência o ano de 1997, ano em que grande parte da produção eléctrica se deveu às grandes hídricas. O compromisso parte do pressuposto de que o plano nacional de electricidade poderá prosseguir com a construção de novos aproveitamentos hidroeléctricos com potência superior a 10 MW e de que outro tipo de capacidade renovável venha a aumentar a uma taxa anual 8 vezes superior à verificada na altura.

A Resolução do Conselho de Ministros n.º 63/2003, de 28 de Abril, que aprova as orientações da política energética em Portugal, veio validar a promoção dos aproveitamentos hidroeléctricos e o incentivo às energias renováveis, nomeadamente a pequena hídrica, a eólica, a biomassa e a fotovoltaica.

Este documento baseia-se nos objectivos da política energética definidos no Programa do Governo, nomeadamente a:

• Liberalização do mercado;

• Redução da factura energética; • Melhoria da qualidade de serviço;

• Segurança do aprovisionamento e do abastecimento;

• Diversificação das fontes e aproveitamento dos recursos endógenos; • Minimização do impacte ambiental;

• Contribuição para o reforço da produtividade da economia nacional.

De modo a garantir o cumprimento dos objectivos, foram definidas as seguintes medidas, a adoptar:

i) Reduzir a dependência externa de energia primária; ii) Diversificar fontes externas, por países e por tipo de fonte; iii) Manter reservas obrigatórias de combustíveis;

iv) Garantir uma capacidade adequada de produção de energia eléctrica; v) Mecanismos para concretizar o Protocolo de Quioto;

vi) Integrar o comércio europeu de emissões; vii) Promover a utilização racional de energia; viii) Concretizar o mercado ibérico da electricidade;

ix) Promover a concorrência e abertura dos sectores de electricidade e gás natural;

x) Alargar a regulação ao sector do gás natural e liberalizar os preços dos combustíveis e monitorizar o funcionamento do respectivo mercado;

Em relação ao primeiro ponto - i) - um dos objectivos consiste na promoção de iniciativas e investimentos que resultem na redução da importação de energia primária, salvaguardando a apropriada valorização relativa aos benefícios ambientais induzidos pelos investimentos nas fontes de energia renováveis. Nesse sentido, foram definidas metas indicativas para a produção de energia a partir de FER e apresentadas no quadro seguinte.

Tabela 12. Metas indicativas para a produção de energia eléctrica a partir de FER.

Recursos endógenos Capacidade instalada em 2001 (MW) Capacidade a instalar até 2010 (MW) Eólicos

Pequenos aproveitamentos hídricos Biomassa

Biogás

Resíduos sólidos urbanos Ondas Fotovoltaico Hídricos 101 215 10 1 66 0 1 4 209 3 750 400 150 50 130 50 150 5 000 Total 4 603 9 680

A necessidade, porém, de actualizar a política energética em Portugal levou à revisão do anterior quadro de referência pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 169/2005, de 24 de Outubro, actualizando as metas anteriormente traçadas e corrigindo algumas medidas previstas na legislação anterior.

Nesta Resolução passam a ser objectivos principais:

• Garantir a segurança do abastecimento de energia, através da diversificação dos recursos primários e dos serviços energéticos e da promoção da eficiência energética na cadeia da oferta e na procura de energia;

• Estimular e favorecer a concorrência, de forma a promover a defesa dos consumidores, bem como a competitividade e a eficiência das empresas, quer as do sector de energia quer as demais do tecido produtivo nacional;

• Garantir a adequação ambiental de todo o processo energético, reduzindo os impactes ambientais às escalas local, regional e global, nomeadamente no que respeita à intensidade carbónica do PIB.

São definidas as linhas de orientação política a seguir indicadas, assim como medidas a adoptar para cada uma delas.

1) Liberalização do mercado da electricidade, do gás e dos combustíveis;

2) Enquadramento estrutural da concorrência nos sectores da electricidade e do gás natural; 3) Reforço das energias renováveis;

4) Promoção da eficiência energética;

5) Aprovisionamento público “energeticamente eficiente e ambientalmente relevante”; 6) Reorganização da fiscalidade e dos sistemas de incentivos do sistema energético; 7) Prospectiva e inovação em energia;

8) Comunicação, sensibilização e avaliação da estratégia nacional para a energia.

Portugal é um país fortemente dependente de recursos energéticos importados, em valores que atingem cerca de 85% da energia primária, o que é claramente superior à média da União Europeia, agravado pelo facto dessa dependência ser quase na sua totalidade em combustíveis fósseis (Resolução do Conselho de Ministros n.º 169/2005, de 24 de Outubro).

O agravamento do preço das matérias-primas verificado nos últimos tempos e a perda de competitividade das empresas portuguesas têm contribuído para o aumento da taxa de dependência energética do Produto Interno Bruto (PIB), uma das maiores da UE.

Por outro lado, a utilização de combustíveis fósseis é uma das principais causas das emissões dos gases com efeito de estufa. Tendo em consideração que, conforme já mencionado

anteriormente, as previsões apontam para um desvio da meta estabelecida para Portugal, é necessário um esforço acrescido na redução das emissões atmosféricas.

Embora nos últimos anos se tenha verificado um crescimento das tecnologias a gás natural em Portugal (que deverá continuar dada a liberalização do sector), também este é um combustível fóssil que, apesar de ser numa forma mais reduzida, contribui na emissão de GEE. Deverá, pois, ser incentivada a instalação da produção de energia através das energias renováveis, promovendo o seu desenvolvimento de modo a tornar-se uma alternativa competitiva em relação às tecnologias tradicionais.

Como já foi referido, Portugal, integrado nas metas da UE, assumiu o compromisso de produzir, em 2010, 39% do consumo eléctrico a partir de fontes renováveis de energia (tendo por base o ano de 1997). Considerando a taxa de crescimento anual do consumo de electricidade verificada nos últimos três anos (entre 5 e 6%) prevêem-se algumas dificuldades no cumprimento dos objectivos propostos.

De modo a reduzir a dependência energética face ao exterior e a aumentar o investimento nas energias renováveis, em particular na energia eólica, o Governo aumentou as metas de referência de 3750 MW, anteriormente referida, para 5100 MW, até 2012.

As previsões apontam para que as metas definidas para a energia hídrica e para as FER (excluindo a eólica) serão dificilmente alcançadas. O sector eólico é o que apresenta maior potencial de crescimento, pelo que a concretização da meta estabelecida para esta fonte será relevante para o cumprimento dos objectivos (BCG, 2004).