• Nenhum resultado encontrado

Direito à integridade física e psíquica da pessoa humana

Em novembro/1999, o paciente psiquiátrico Damião Ximenes Lopes foi

torturado e morto na Casa de Repouso Guararapes, clínica conveniada ao SUS, na cidade de Sobral/CE.

Sentença de julho/2006, a Corte Interamericana condenou o Brasil a indenizar

os familiares da vítima e a levar a julgamento os responsáveis pelo crime.

A União cumpriu a obrigação de indenizar e autorizou o pagamento de R$250

mil à família da vítima. Em 2009, a Justiça estadual cearense condenou os seis

responsáveis pelo crime de maus tratos (art. 136, §2º, do CP), entre eles médicos

e enfermeiros, a penas de 6 anos de reclusão.

Consequências do caso:

1. Supervisão por ricochete: reconhecimento que a Convenção Interamericana sobre os Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência (Convenção da Guatemala – o Brasil é signatário – Decreto 3956/2001) é vetor de interpretação dos direitos do Pacto de José, quando aplicado a casos envolvendo pessoas com deficiência. Caso o Brasil desrespeite a Convenção da Guatemala, pode tal desrespeito ser considerado uma violação de algum dos direitos genéricos do Pacto de San José e, com isso, ser desencadeado o mecanismo de controle do pacto.

2. Presunção do livre-arbítrio da pessoa com deficiência mental e a autodeterminação do tratamento (Decreto 6949/09 e Lei 13.146/2015)

3. Direito à vida é um direito que exige políticas públicas para implementar um mínimo existencial

4. Direito à duração razoável do processo (garantias processuais)

CASO SÉTIMO GARIBALDI (caso Garibaldi vs. Brasil).

Direito à vida e os deveres estatais de persecução criminal e de prestação jurisdicional em tempo razoável (duração razoável do processo – EC 4504)

Conflito agrário

Em nov/1998, o trabalhador rural Sétimo Garibaldi foi morto por pistoleiros encapuzados num acampamento do MST na Fazenda São Francisco, Loanda/PR.

Pagamento de indenização à família de Garibaldi.

A Corte IDH também ordenou a conclusão do inquérito e a responsabilização dos servidores públicos que conduziram a apuração inicial. O suposto mandante e os alegados executores do crime não foram processados pelo Ministério Público do Estado do Paraná, que promoveu o arquivamento do inquérito policial em 2004, o que foi aceito pela juíza competente. O STJ manteve o arquivamento ao julgar o RESP 1.351.177/PR.

Caso Escher e outros vs. Brasil - CASO DAS ESCUTAS CONTRA O MST

Direito à intimidade e ao devido processo legal

Escutas e interceptações telefônicas em terminais telefônicos utilizados por uma cooperativa de trabalhadores rurais ligados ao MST.

As escutas teriam sido realizadas sem o cumprimento dos requisitos do art. 5º, inciso XII, da Constituição e da Lei 9.296/1996.

 A Corte IDH considerou o Estado brasileiro culpado pela instalação dos grampos, pela divulgação ilegal das gravações e pela impunidade dos responsáveis pela sua implantação.

Garantias Processuais não cumpridas

CASO DA GUERRILHA DO ARAGUAIA (caso Gomes Lund e outros vs. Brasil).

Mortes e desaparecimentos forçados ocorridos na região do Bico do Papagaio, nas divisas do Maranhão, Pará e Tocantins nos anos 1970 (ditadura militar no Brasil) tendo como vítimas militantes do PCdoB.

Denegação de Justiça

Entre abril de 1972 e janeiro de 1975, três mil e dez mil integrantes do Exército, da Marinha, da Força Aérea e das Polícias Federal e Militar empreenderam campanhas de informação e repressão contra os membros da Guerrilha do Araguaia. Nas primeiras campanhas, os guerrilheiros detidos não foram privados da vida, nem desapareceram. Em 1973, o Presidente Médici, assumiu diretamente o controle sobre as operações repressivas e a ordem oficial passou a ser de eliminação” dos capturados. No final de 1974, não havia mais guerrilheiros no Araguaia e há informação de que seus corpos foram desenterrados e queimados ou atirados nos rios da região. O governo militar impôs silêncio absoluto sobre os acontecimentos do Araguaia e proibiu a imprensa de divulgar notícia. O Exército negava a existência do movimento

Júlia Gomes Lund, nome da autora que inicia a petição, é uma mãe que tinha como objetivo buscar notícias ou os restos mortais de seu filho Guilherme Gomes Lund. Essa é apenas uma entre os vários familiares na busca da verdade sobre o desaparecimento forçado.

A Comissão Interamericana, no processo perpetrado, indicou que os desaparecimentos forçados ocorreram em um contexto de prática de detenções arbitrárias, torturas, execuções e desaparecimentos forçados, perpetrados pelas forças de segurança do governo militar, nos quais os agentes estatais utilizaram a investidura oficial e recursos outorgados pelo Estado para fazer desaparecer todos os membros da Guerrilha do Araguaia.

Em 2006, a Corte se pronunciou declarando a invalidade das leis de autoanistia, no caso Almonacid Arellano e outros versus Chile, referentes aos crimes ocorridos entre 1973 e 1978, durante o regime Pinochet, entendendo que as leis de autoanistia promulgadas pelo Estado não podem surtir efeitos nem no presente e nem no futuro.

Sentença do caso Gomes Lund é proferida em novembro de 2010

ADPF 153 – Justiça de Transição - improcedência

Lei 9.140/95: Art. 1o São reconhecidos como mortas, para todos os efeitos legais, as pessoas que tenham participado, ou tenham sido acusadas de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988, e que, por este motivo, tenham sido detidas por agentes públicos, achando-se, deste então, desaparecidas, sem que delas haja notícias

Sem efetividade do Transconstitucionalismo

O Brasil foi condenado por não ter investigado tais violações e a Corte declarou, por unanimidade, que “[a]s disposições da Lei de Anistia brasileira que impedem a investigação e sanção de graves violações de direitos humanos são incompatíveis com a Convenção Americana, carecem de efeitos jurídicos e não podem seguir representando um obstáculo para a investigação dos fatos do presente caso, nem para a identificação e punição dos responsáveis, e tampouco podem ter igual ou semelhante impacto a respeito de outros casos de graves violações de direitos humanos consagrados na Convenção Americana ocorridos no Brasil”.

Deveria o Brasil criminalizar o desaparecimento forçado (o que ainda não fez)

Ciclo de casos: casos Velásquez Rodríguez versus Honduras, Barrios Altos vs. Peru, Almonacid Arellano e outros vs. Chile, Julia Gomes Lund e outros vs. Brasil.

Desaparecimento forçado de pessoas na época da ditadura e leis de autoanistia.

Reconhecimento do Desaparecimento forçado de pessoas:

-Privação de liberdade (de forma clandestina)

-Participação direta ou indireta de agentes estatais com o consentimento do Estado

-Recusa do Estado em revelar o paradeiro da vítima e de atuar no caso

Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas – Decreto 8766/2016

Possibilidade de extradição de não nacional que esteja no Brasil e processado por crime de desaparecimento forçado. Tipicidade equivalente ao sequestro (STF – Ext 974; 1278)

CASO TRABALHADORES DA FAZENDA BRASIL VERDE.

Julgado em 2016, a Corte IDH entendeu que o Brasil violou o direito de liberdade (especificamente o direito de não ser submetido a qualquer forma de escravidão ou servidão), o direito de acesso à justiça e a garantias judiciais e o direito à razoável duração do processo das 85 vítimas escravizadas no ano 2000 na Fazenda Brasil Verde, situada no Município de Sapucaia, no Estado do Pará, e também os direitos de outros 43 trabalhadores que foram resgatados na mesma propriedade em 1997

Tem-se notícia de que as violações aos direitos dos trabalhadores naquela propriedade rural remontam aos anos 1980.

Sentença proferida pela Corte Interamericana em 20 de outubro de 2016

Condenação por violação dos direitos dos indivíduos de não serem submetidos a qualquer forma de escravidão ou servidão, bem como de não serem submetidos ao tráfico de pessoas (art. 6.1).

Trabalho escravo – pobreza – vulnerabilidade – vulnerabilidade econômica – cárcere privado

Indenizações e reabertura de inquéritos para apuração de crimes

CASO FAVEL A NOVA BRASÍLI A

Em 2017, foi julgado o caso Favela Nova Brasília vs. Brasil. Duas chacinas ocorreram naquela comunidade carente, situada no complexo do Alemão, em 18 de outubro de 1994 e 8 de maio de 1995. Os fatos são atribuídos a policiais do Rio de Janeiro, e poderiam ser classificados como homicídio de 26 pessoas, tortura (mas nossa lei é de 1997), estupros de três adolescentes e abuso de autoridade . A Corte determinou as reparações devidas, ordenou a reabertura das investigações e indicou que a PGR deveria analisar o cabimento de incidente de deslocamento de competência (IDC).

CASO DO POVO XUCURU

Em 2018, ao sentenciar o Caso do Povo Indígena Xucuru e seus Membros vs. Brasil, a Corte IDH tratou do direito à propriedade coletiva da terra. A comunidade indígena Xucuru, perto de Pesqueira, em Pernambuco, aguardava há anos a demarcação de suas terras. O governo demorou 16 anos para reconhecer a titularidade da terra e demarca-las e para retirar invasores dali (desintrusão).

O Brasil também foi condenado por negar-lhes proteção judicial. Em razão da sentença, o Estado brasileiro deverá complementar o procedimento para assegurar os direitos dos indígenas e pagar as indenizações devidas aos posseiros.

Com respeito às reparações, a Corte estabeleceu que sua Sentença constitui por si mesma uma forma de reparação e, adicionalmente, ordenou ao Estado: i) garantir, de maneira imediata e efetiva, o direito de propriedade coletiva do Povo Indígena Xucuru sobre seu território, de modo que não sofram nenhuma invasão, interferência ou dano, por parte de terceiros ou agentes do Estado que possam depreciar a existência, o valor, o uso ou o gozo de seu território; ii) concluir o processo de desintrusão do território indígena Xucuru, com extrema diligência, efetuar os pagamentos das indenizações por benfeitorias de boa-fé pendentes e remover qualquer tipo de obstáculo ou interferência sobre o território em questão, de modo a garantir o domínio pleno e efetivo do povo Xucuru sobre seu território, em prazo não superior a 18 meses; iii) realizar as publicações indicadas na Sentença; iv) pagar as quantias fixadas na Sentença, a título de custas e indenizações por dano imaterial; e v) no prazo de um ano, contado a partir da notificação da Sentença, apresentar ao Tribunal um relatório sobre as medidas adotadas para seu cumprimento .

CASO HERZOG (Caso Herzog e outros vs. Brasil).

Sentença de 2018

A Corte determinou que os fatos ocorridos contra o jornalista Vladimir Herzog devem ser considerados crime contra a humanidade, de acordo com a definição do direito internacional .

O Brasil não pode invocar prescrição ou aplicar o princípio ne bis in idem, a Lei de Anistia ou qualquer outra disposição similar do direito interno para escusar-se de seu dever de investigar e punir os responsáveis pelos crimes de que foi vítima Vladimir Herzog.

Delitos cometidos em um contexto sistemático e generalizado de ataques à população civil

Dever do Estado brasileiro de retomar a investigação criminal e de dar início a ação penal sobre os fatos ocorridos em 25 de outubro de 1975, com o fim de identificar, processar e, em sendo o caso, punir as pessoas responsáveis pela tortura e pelo homicídio do jornalista Vlado Herzog.

O Estado brasileiro também deverá adotar medidas idôneas “para que se reconheça, sem exceção, a imprescritibilidade das ações emergentes de crimes contra a humanidade e internacionais” – o que contraria o CP vigente

Caso Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e seus familiares Vs. Brasil (2020)

Corte Interamericana de Direitos Humanos considerou o Estado brasileiro responsável internacionalmente pelas violações aos direitos humanos de 60 pessoas falecidas e seis pessoas feridas, como consequência da explosão de uma fábrica de fogos de artifício. Além disso, estabeleceu-se a responsabilidade pelo sofrimento causado a 100 familiares das pessoas falecidas e feridas na explosão. Neste caso, a Corte declarou a violação dos direitos à vida (artigo 4 da Convenção Americana), à integridade pessoal (artigo 5), aos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais, no que diz respeito ao trabalho em condições equitativas e satisfatórias (artigo 26), aos direitos da criança (artigo 19), à igualdade e não discriminação (artigos 24 e 1.1), à proteção judicial (artigo 25) e às garantias judiciais (artigo 8).

Caso Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e seus familiares Vs. Brasil (2020)

Em 11 de dezembro de 1998, produziu-se uma explosão em uma fábrica de fogos de artifício, no Município de Santo Antônio de Jesus, no Estado da Bahia. A fábrica consistia em um conjunto de tendas, localizadas em uma área de pasto, com algumas mesas de trabalho compartilhadas.

59 mulheres – das quais 19 era meninas - e um menino. Entre as pessoas sobreviventes, havia três mulheres adultas, dois meninos e uma menina, num total de 23 crianças vítimas.

Quatro das mulheres falecidas estavam grávidas. Nenhum dos sobrevivente recebeu tratamento médico adequado para se recuperar das consequências do acidente.

Não houve fiscalização por parte das autoridades estatais em relação às condições de trabalho ou ao controle de atividades perigosas, apesar de que essa era uma exigência legal em função do risco que implicava a atividade realizada.

a Corte constatou que o Brasil tinha a obrigação de assegurar condições equitativas e satisfatórias que garantissem a segurança, a saúde e a higiene no trabalho e de prevenir acidentes de trabalho. No entanto, as empregadas da fábrica de fogos trabalhavam em condições de precariedade, insalubridade e insegurança e não receberam instruções sobre medidas de segurança, nem materiais de proteção para realizar o trabalho.

Convenção:

Direitos Econômicos, Sociais e Culturais - ARTIGO 26 - Desenvolvimento Progressivo

Os Estados-Partes comprometem-se a adotar providência, tanto no âmbito interno como mediante cooperação internacional, especialmente econômica e técnica, a fim de conseguir progressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados.

Na Sentença, a Corte também estabeleceu que a situação de pobreza em que se encontravam as vítimas, somada ao fato de que eram mulheres e afrodescendentes, agravou sua condição de vulnerabilidade . Isso facilitou a instalação e o funcionamento de uma fábrica dedicada a uma atividade especialmente perigosa, sem fiscalização, e levou as vítimas a aceitar um trabalho que colocava em risco sua vida e sua integridade, bem como a de suas filhas e filhos menores de idade.

Ainda, o Estado não adotou nenhuma medida para garantir a igualdade material no direito ao trabalho a respeito desse grupo de mulheres em situação de marginalização e discriminação.

Em razão disso, a Corte constatou que o Estado violou o direito à igualdade perante a lei (artigo 24) e os direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais (artigo 26), em relação ao artigo 1.1 da Convenção Americana, sobre a proibição de discriminação .

 a Corte ordenou diversas medidas de reparação, entre elas: publicar a Sentença, na íntegra, em um página web oficial do Estado da Bahia e do Governo Federal, e produzir um material para rádio e televisão no qual se apresente o resumo da Sentença; realizar um ato de reconhecimento de responsabilidade internacional; implementar uma política sistemática de inspeções periódicas nos locais de produção de fogos de artificio; desenhar e executar um programa de desenvolvimento socioeconômico destinado à população de Santo Antônio de Jesus; e pagar as indenizações por danos materiais e imateriais, assim como o reembolso das custas e gastos.

Princípio de estoppel: Impossibilidade das partes envolvidas em um litígio nas instâncias internacionais de direitos humanos alegarem ou negarem um fato ou direito, estando esta negação em desacordo com uma conduta anteriormente adotada ou anuída. O princípio funciona como uma espécie de preclusão e é fundado no brocado venire contra factum proprium.

DIREITO DOS VULNERÁVEIS E MINORIAS

Minorias: Grupo de pessoas que não possui a mesma representação política dos demais cidadãos e que guardam uma característica em comum, seja étnica, religiosa, por exemplo.

Vulneráveis : Grupo de pessoas que dependem de proteção especial em razão de sua fragilidade ou indefensabilidade . Exemplo: mulheres, crianças, idosos etc.

Igualdade material ou substancial

Documentos relacionados