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2. Tecendo significados entre Educação Ambiental e Direito

2.4. Direito Ambiental e Educação Ambiental: uma interface desejável

A Educação Ambiental é, no Brasil, um fenômeno que ganha maiores proporções com o advento dos novos movimentos sociais e ONGs ambientalistas na década de 80 (CARVALHO, 1998). Podemos dizer que, a partir dos anos 80, a temática ambiental começa a ser discutida, mais intensamente, por diversos segmentos sociais.

Para Carvalho (2000):

[...] a natureza ocupa um lugar cada vez mais de destaque no debate sobre os destinos da sociedade. Poderíamos dizer que vivemos hoje, numa outra escala e com outras especificidades, um momento onde as sensibilidades estéticas e políticas garantem à natureza e às questões ambientais um lugar de indubitável notoriedade. A difusão da questão ambiental, seja nas lutas sociais, na prática educativa, ou ainda nas ações de organismos governamentais e internacionais, não deixa dúvidas sobre a visibilidade desta problemática na esfera pública (p. 58).

Nesse contexto de grande visibilidade pública da problemática ambiental, encontramos uma gama diversa de práticas, discursos e interesses que, inevitavelmente, são conflitantes entre si. Assim,

[...] o campo ambiental torna-se, sobretudo, um lugar de disputa entre concepções, interesses e grupos sociais. Neste sentido, mesmo verificando a repetição ad nauseaum de uma retórica genérica sobre a importância do meio ambiente, como discurso comum de parte destes atores sociais, não se pode supor um acordo efetivo, que viabilize uma reorientação consistente das relações da sociedade com a natureza. Mais do que um fenômeno que tende à

convergência e estabilidade, prefiro tomar essa heterogeneidade de práticas e sentidos em torno do ambiental como um campo social instável, contraditório e multifacetado, que constitui um amplo e diversificado ideário ambiental. Este campo comporta um alto grau de heterogeneidade, podendo incluir movimentos sociais de filiações ideológicas diferenciadas, políticas públicas, partidos políticos, estilos de vida alternativos, opções e hábitos de consumo etc. É dentro desse terreno movediço e altamente complexo que o(a) educador(a) ambiental vai inscrever o sentido na sua ação, posicionando-se como educador(a) e como cidadão(a). Daí o caráter não estritamente pedagógico, mas político de sua intervenção (CARVALHO, 2000, p. 59).

A Educação Ambiental constitui-se, então, uma prática social e intencional, devendo ser baseada na participação e no envolvimento da sociedade com as questões ambientais. Acreditamos que ela se concretiza a partir do fortalecimento da cidadania, do engajamento social na proteção ambiental. Dessa forma, estamos nos referindo a uma Educação Ambiental não pragmática, utilitarista, mas que seja pautada na constituição de sujeitos coletivos e em ações transformadoras.

Os problemas ambientais vêm sofrendo um processo de intensificação constante; é o que podemos perceber, principalmente nas metrópoles brasileiras. No sentido contrário, suas soluções morosas tornaram-se publicamente conhecidas pela amplitude de seu dano: um aumento imensurável das enchentes, uma má administração do lixo e seu descarte em áreas inadequadas e, ainda, os impactos da poluição atmosférica sobre a saúde da população (JACOBI, 2003). Diante dessa problemática, é necessário que se multipliquem práticas sociais que contribuam tanto para a construção do espaço público como para sua democratização.

A constituição de cidadãos, como atores sociais ativos, consolida-se em decorrência da transformação das práticas sociais existentes e na sua substituição pela construção de novas formas de relação, centralizadas, essencialmente, na participação (JACOBI, 2002), nos direitos conquistados, reforçando vínculos de solidariedade e de cidadania (JACOBI, 2000a).

Levando-se em conta tais considerações, acreditamos que a Educação Ambiental, enquanto prática social, tem como desafio principal o fortalecimento da cidadania, no sentido de ação política e de responsabilidade coletiva frente aos conflitos socioambientais.

Cabe esclarecermos aqui que:

Cidadania não é uma definição estanque, mas um conceito histórico, o que significa que seu sentido varia no tempo e no espaço. É muito diferente ser cidadão na Alemanha, nos Estados Unidos ou no Brasil (para não falar dos países em que a palavra é tabu), não apenas pelas regras que definem quem é ou não titular da cidadania (por direito territorial ou de sangue), mas também pelos direitos e deveres distintos que caracterizam o cidadão em cada um dos Estados- nacionais contemporâneos. Mesmo dentro de cada Estado-nacional o conceito e a prática da cidadania vêm se alterando ao longo dos últimos duzentos ou trezentos anos. Isso ocorre tanto em relação a uma abertura maior ou menor do estatuto de cidadão para sua população (por exemplo, pela maior ou menor incorporação dos imigrantes à cidadania), ao grau de participação política de diferentes grupos (o voto da mulher, do analfabeto), quanto aos direitos sociais, à proteção social oferecida pelos Estados aos que dela necessitam (PINSKY, 2003, p. 09).

O exercício da cidadania significa atuar na esfera pública; implica em conquistar e garantir direitos, cumprir deveres (SCHERER-WARREN, 2001). Além disso, “a cidadania é uma virtude a ser conquistada no exercício de práticas identitárias; é uma prática em busca do bem comum” (GOHN, 2005, p. 23).

Dentro desse cenário, no qual cidadania e meio ambiente se entrelaçam, entendemos que a Educação Ambiental é

[...] uma práxis educativa que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes capazes de possibilitar o entendimento da realidade de vida e atuação lúcida e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente. Contribui para a implementação de um padrão civilizacional distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação sociedade-natureza (LOUREIRO, 2003, p. 38).

Nessa perspectiva, as relações percebidas entre Direito Ambiental e Educação Ambiental fundamentam-se em aspectos de participação no espaço

público, conquista e exercício de cidadania em termos socioambientais. O Direito Ambiental, portanto, deve pertencer à esfera da Educação Ambiental, por constituir- se um elemento importante para o fortalecimento da coletividade (FARIAS, 2003).

Podemos perceber que a dimensão política apresenta-se como um alicerce comum dessas duas áreas, trazendo para o espaço público um sujeito social detentor de responsabilidades pelo patrimônio ambiental e que se posiciona diante dos conflitos socioambientais. De acordo com Farias (2003), a interface entre o Direito Ambiental e a Educação Ambiental justifica-se nos sentidos impressos a esses dois campos e na sua crescente incorporação às práticas sociais, como busca para a solução das principais preocupações socioambientais contemporâneas.

Segundo Jacobi (2005, p. 08), considerando a realidade socioambiental dinâmica e complexa, exige-se uma internalização, cada vez maior, de um saber ambiental emergente num conjunto de disciplinas, objetivando-se, assim, “construir um campo de conhecimento capaz de captar as multicausalidades e as relações de interdenpência dos processos de ordem natural e social” que estabeleçam as bases e as transformações socioambientais. Nesse campo de conhecimento, cuja formação traduz-se na confluência de diversas áreas, consideramos indispensável à presença do Direito Ambiental.

Devido ao agravamento de situações conflituosas geradas pelos diferentes usos dos bens ambientais, acreditamos que a interface entre o Direito Ambiental e a Educação Ambiental não é somente possível, como é necessária. As lutas ambientais, sociais, jurídicas e políticas em torno da problemática ambiental entrelaçam-se na construção de um ideário comum: a solução dos conflitos socioambientais. A esfera jurídica, portanto, não deve ser a única incorporada à

Educação Ambiental, mas torna-se imprescindível para que suas práticas adquiram bases mais sólidas diante do dinamismo da realidade.

3. DELINEAMENTO DA PESQUISA

Nesse capítulo apontaremos os caminhos buscados para que essa pesquisa adquirisse contornos mais definidos. Dessa forma, dentro do universo das ONGs ambientalistas fez-se necessário uma delimitação do objeto de estudo. Nesse momento, tínhamos o objetivo de escolher uma organização que atendesse certos requisitos para o desenvolvimento do trabalho aqui proposto.

Após a escolha do objeto de estudo, passaremos a discorrer sobre a natureza e os instrumentos de pesquisa, estabelecendo assim, os elementos básicos dessa investigação.