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2. Tecendo significados entre Educação Ambiental e Direito

2.2. O Direito Ambiental

2.2.2. Os Princípios do Direito Ambiental

Além das leis ambientais, existem os Princípios do Direito Ambiental, que são de extrema importância e amplamente discutidos pela literatura jurídica. Reale (1999) explica que os princípios são:

[...] enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para sua aplicação e integração, quer para a elaboração de suas normas. Cobrem, desse modo, tanto o campo da pesquisa pura do Direito quanto o de sua atualização prática (p. 306-307).

Os princípios jurídicos ambientais podem ser de duas naturezas: implícitos ou explícitos. Implícitos são os que se originam do ordenamento constitucional, mesmo que não se encontrem escritos no texto constitucional; explícitos são aqueles que estão expressos no sistema legal e, essencialmente, na Constituição Federal. O fato de alguns princípios não estarem claramente escritos no arcabouço jurídico não impede que eles tenham positividade, isto é, sejam reivindicados e exercidos (ANTUNES, 1996).

Machado (2002), ao abordar os Princípios do Direito Ambiental considera que tais Princípios são utilizados como fundamento, pois “estão formando e orientando a geração e a implementação do Direito Ambiental” (p.45). Concordamos

com o autor e é em sua obra que nos baseamos para identificar os seguintes Princípios do Direito Ambiental:

O Princípio do direito à sadia qualidade de vida implica no fato de que todo ser humano tem o direito de viver em condições de bem-estar, em um ambiente saudável e com acesso a uma infra-estrutura básica.

A Declaração de Estocolmo de 1972, da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, em seu Princípio 10, traz considerações que corroboram as idéias discorridas anteriormente, sendo estas: “O Homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequada em um meio cuja qualidade lhe permite levar uma vida digna e gozar de bem-estar [...]”.

Para o Princípio do acesso eqüitativo aos recursos naturais, os elementos que compõem a natureza, como a água, o solo, o ar, devem ser utilizados para suprir a necessidade comum de todos os indivíduos.

Em consonância com esse Princípio, a Declaração de Estocolmo, em seu Princípio 5, afirma que: “Os recursos não renováveis do Globo devem ser explorados de tal modo que não haja risco de serem exauridos e que as vantagens extraídas de sua utilização sejam partilhadas a toda a humanidade”.

De acordo com os Princípios usuário-pagador e poluidor-pagador, o uso sem ônus financeiro dos recursos naturais tem significado um enriquecimento ilícito de certos usuários, pois a parte da população que não tem acesso ou que se utiliza dos recursos em menor grau torna-se onerada. Dessa forma, deve haver a imposição ao usuário, de contribuição equivalente ao seu uso dos recursos. O poluidor que se utiliza gratuitamente do meio ambiente para nele despejar produtos poluentes está

degradando um bem comum, devendo, portanto, recuperar o dano causado e/ou pagar por tal prática.

O referido Princípio encontra-se previsto na Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, no seu artigo 4º, como podemos observar a seguir:

A Política Nacional do Meio Ambiente visará dentre outras coisas, o seguinte: VII – à imposição, ao poluidor e ao predador; da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

O Princípio da precaução declara que a degradação ambiental não deve ser apenas reduzida, mas anteriormente a qualquer hipótese, deve ser prevenida para que o dano ambiental seja evitado.

Nessa perspectiva, a Declaração do Rio de Janeiro de 1992, da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em seu Princípio 15, traz que:

De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental. A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança de Clima, em seu Princípio 3, também apresenta idéias em conformidade ao Princípio da Precaução, como:

As partes devem adotar medidas de precaução para prever, evitar ou minimizar as causas da mudança do clima e mitigar seus efeitos negativos. Quando surgirem ameaças de danos sérios ou irreversíveis, a falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para postergar essas medidas, levando em conta que as políticas e as medidas adotadas para enfrentar a mudança do clima devem ser eficazes em função dos custos, de modo a assegurar benefícios mundiais ao menor custo possível.

O Princípio da prevenção vem corroborar o Princípio da precaução, da necessidade de prevenir, evitar o risco de um dano ambiental; entre as medidas preventivas, duas são fundamentais: a prevenção e a conservação dos recursos naturais.

Esse princípio é expresso no artigo 2º da Lei 6.938/81:

A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana [...].

O Princípio da reparação declara que a reparação dos danos causados ao meio ambiente é obrigatória para todos.

Considerando o Princípio da informação, toda informação sobre o meio ambiente deve ser disponibilizada adequadamente à sociedade, devendo haver um cuidado maior a esse acesso quando as informações forem concernentes a risco e dano ambiental.

De acordo com a Declaração do Rio de Janeiro de 1992, em seu Principio 10: “[...] no nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e atividades perigosas em suas comunidades”.

O direito à informação também está previsto no artigo 5º, inciso XXXIII, da Constituição Federal:

Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

O fornecimento de informações aos atores sociais sobre práticas que possam alterar ou impactar o meio ambiente é um Princípio que deve nortear a

gestão do patrimônio ambiental, possibilitando a tomada de decisões e a proposição de ações que visem à tutela desse bem comum (FURRIELA, 1999).

Por fim, o Princípio da participação afirma que a participação popular é fundamental para a conservação e proteção do meio ambiente, devendo ser exercida nas diferentes esferas públicas para a gestão dos interesses difusos, sendo essa uma responsabilidade de todos.

Esse Princípio encontra-se previsto na Declaração do Rio de Janeiro de 1992, em seu Principio 10: “O melhor modo de tratar as questões do meio ambiente é assegurando a participação de todos os interessados, no nível pertinente”. Além disso, o artigo 225 da Constituição Federal preconiza à coletividade o direito de participar, juntamente com o Ministério Público, na defesa e na conservação do patrimônio ambiental.

Pode-se verificar a amplitude e a relevância dos Princípios do Direito Ambiental. Assim, desprezar a sua existência é ter um entendimento errôneo e simplista desse campo jurídico.