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2. DIREITO À NÃO-AUTOINCRIMINAÇÃO

2.7. Direito Comparado

O regime da confissão do ordenamento jurídico está consagrado no artigo 406.º da Ley de Enjuiciamiento Criminal41 e indica que a confissão do arguido não dispensa o juiz de instrução da prática de todas as diligências com o intuito de alcançar a verdade no que toca à prática do delito. Este artigo indica ainda que o juiz deverá interrogar o arguido com a finalidade de obter uma explicação relativamente a todo o crime e “cuanto pueda contribuir a comprobar su confesión, si fue autor o cómplice, y si conoce a algunas personas que fueren testigos o tuvieren conocimiento del hecho.”

Este artigo demonstra que perante uma confissão, o juiz não deverá deixar de tomar as devidas diligências em busca da comprovação do crime e da verdade dos factos confessados pelo arguido.

Nos termos do art. 405.º da referida lei, perante a existência de declarações que se demonstrem contraditórias com as declarações prestadas em momento anterior, o arguido será interrogado novamente com o objectivo de esclarecer o motivo das declarações contraditórias.

Andreia Teixeira Tavares42 indica que o Presidente do tribunal inicia a sessão com a pergunta ao réu se este tem intenções de confessar o delito de que está a ser acusado (art. 688.º da Ley de Enjuiciamiento Criminal) e refere ainda que no caso de o arguido optar por se remeter ao silêncio, a “audiência prossegue de acordo com o art. 698.º da Ley do Enjuiciamento Criminal”, o que não prejudica a leitura às declarações do arguido prestadas em momento anterior à audiência e podendo as mesmas ser corrigidas pela defesa do arguido, conforme o teor do art, 730.º da referida lei.

Atendendo ao exposto, podemos afirmar que caso se encontrem verificadas as advertências prévias que deverão ser feitas ao arguido (nomeadamente quanto ao seu direito a um defensor e ao direito ao silêncio) e para evitar que o arguido utilize o

41 Consultada via online: http://noticias.juridicas.com/base_datos/Penal/lecr.l2t5.html.

42 TAVARES, ANDREIA TEIXEIRA, O novo paradigma da transmissibilidade das declarações

processuais prestadas pelo arguido nas fases preliminares do processo, Dissertação de Mestrado em Ciências Jurídico-Civilistas, Universidade Lusíada, Lisboa, 2015.

40 silêncio para tentar que as primeiras declarações sejam desvalorizadas, a lei espanhola instituiu a norma do art. 730.º que leva a que as mesmas possam sempre ser valoradas como prova.

Fazemos ainda referência ao art. 714.º do mesmo diploma que indica que caso o arguido proceda à confissão do crime pelo qual é acusado em audiência mas decida remeter-se ao silêncio na fase de julgamento, as declarações anteriores poderão valer como meio de prova para o processo em causa.

2.7.2. Brasil

Fazemos uma breve referência a este ordenamento jurídico atendendo à divergência que se verifica entre as normas de processo penal brasileiras e as normas de processo penal portuguesas em matéria de valoração do direito ao silêncio do arguido.

Diferentemente do processo penal português, nos termos do art. 198.º do Código de Processo Penal Brasileiro43, o silêncio do arguido pode constituir “elemento para a

formação do convencimento do juiz”. Isto significa que a ausência de resposta por parte do réu pode ser considerada como parte dos elementos que levaram à formação da convicção do julgador.

Ora, como sabemos, em Portugal não deverá existir qualquer valoração ao silêncio do arguido atendendo aos princípios constitucionais da nossa CRP. Esta situação não se verifica no ordenamento jurídico brasileiro já que o art. 198.º demonstra claramente que o silêncio não deverá ser entendido como uma confissão mas admite a valoração do mesmo como um elemento integrador da formação da convicção do juiz em causa. No sistema em apreço, fazemos ainda referência ao facto do arguido não se encontrar obrigado a prestar juramento que o leve a comprometer-se com a verdade, o que significa que o arguido poderá prestar falsas declarações e a credibilidade das mesmas será aferida pelo juiz.

41 2.7.3. Itália

Ao abrigo das normas do Codice de Procedura Penale44, também o arguido deverá ser advertido quanto aos direitos que lhe estão inerentes, nomeadamente quanto ao direito ao silêncio. Caso seja esta a sua escolha, o processo segue os seus trâmites normais. No entanto, caso o arguido opte por prestar declarações, estas poderão mesmo ter um carácter auto-incriminatório e serem utilizadas em processo penal contra si, na fase de julgamento. Esta possibilidade deverá ser objecto de advertência prévia ao arguido. Caso esta advertência não seja concretizada, a consequência poderá ser a inutilização das declarações prestadas pelo acusado.

À semelhança do ordenamento jurídico espanhol, também em Itália podem as declarações prestadas em fases anteriores ao julgamento ser transmitidas no julgamento, conforme o art. 513.º do Codice de Procedura Penale, ainda que o arguido não responda às questões formuladas (art. 503.º do mesmo diploma)45.

2.7.4. Alemanha

Atendendo ao Estado de Direito Democrático que se vive na Alemanha46, podemos

afirmar que o processo penal italiano se assemelha com o processo penal português. A Constituição da República Federal Alemã consagra igualmente o princípio da dignidade humana como um princípio basilar de garantias de defesa do arguido47.

Também neste ordenamento jurídico temos a protecção do nemo tenetur se ipsum accusare (conforme art. 14.º, n.º 3 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos), pelo que podemos afirmar que o arguido não tem obrigatoriedade de responder às questões que, de alguma forma, possam ter carácter auto-incriminatório tanto no primeiro interrogatório como em todos os outros que se realizem antes da audiência de julgamento e ainda na própria audiência de julgamento.

44 Consultado via online em: http://www.altalex.com/documents/codici-altalex/2014/10/30/codice-di- procedura-penale.

45 TAVARES, ANDREIA TEIXEIRA, O novo paradigma da transmissibilidade das declarações

processuais prestadas pelo arguido nas fases preliminares do processo, Dissertação de Mestrado em Ciências Jurídico-Civilistas, Universidade Lusíada, Lisboa, 2015.

46 Consultado via online: https://www.unifr.ch/ddp1/derechopenal/obrasjuridicas/oj_20080609_13.pdf. 47 Tal como Andreia Teixeira Tavares na obra supra citada, consultámos para o tratamento desta matéria ROXIN, KLAUS, Derecho Procesal Penal, tradução de Daniel Pastor e Gabriela Córdoba, Buenos Aires, ed. Editores del Puerto, 2000, pp. 14 e ss.

42 Um pouco diferente da prática processual penal portuguesa é a protecção que é conferida à testemunha, tendo em consideração que esta pode negar-se a responder às questões que possam contribuir para a sua própria incriminação bem como da incriminação de pessoas que “devido a relações familiares ou de facto se possam recusar a depor”48.

3. A PROVA E O SEU REGIME

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