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4. CIBERCRIME

4.3. Informática: Um Meio Para a Prática de Crimes

Hoje em dia, a informática assume um papel fundamental como mecanismo ou instrumento que contribui de forma singular para o desenvolvimento da sociedade. O reconhecimento deste facto fez com que nos últimos anos a informática tenha sido

73 tratada cada vez mais ao pormenor em termos legislativos pela União Europeia e os diversos Estados ocidentais.

Como tal, o Direito terá de ser fazer acompanhar desta evolução (e à velocidade que a mesma ocorre) sob pena da criminalidade informática prevalecer nesta chamada Sociedade de Informação, sendo este conceito caracterizado pelo acesso da população à internet com repercussões a nível mundial e sem fronteiras107. Neste sentido, podemos afirmar que o cibercrime utiliza as tecnologias de informação e comunicação (tecnologias estas que são de fácil acesso nos dias que correm), praticando todos os recursos mediante a utilização de meios informáticos. Este fenómeno permite que a economia nacional seja severamente afectada, verificando-se principalmente grandes dificuldades na recolha de prova (como veremos adiante, relativamente ao estudo do carácter transfronteiriço do cibercrime).

Para além do fenómeno da informática trazer várias “facilidades” na prática de crimes que já existem, esta também contribui em grande parte para a descoberta de novos crimes através da adopção de comportamentos ilícitos (já existentes) no ambiente informático e a criação de novos crimes de natureza informática mediante a especificação de sujeitos nos ambientes informáticos.

Deste modo, a legislação referente à criminalidade informática desenvolveu-se a partir da necessidade do legislador acautelar a vida privada tendo em conta a existência de novas possibilidades de armazenamento, recolha, transferência e interconexão de dados pessoais através dos meios informáticos. A partir dos anos 80, o legislador pretendia combater a delinquência económica específica da informática bem como salvaguardar a propriedade intelectual.

Diz o autor A. G. Lourenço Martins108 que podemos considerar que existe ainda a preocupação do legislador no que toca ao combate da criminalidade informática fazendo um apelo ao direito internacional, atendendo ao carácter transfronteiriço inerente a este tipo de criminalidade e por essa razão, um combate a este tipo de crime sem ter em consideração o direito internacional, será um insucesso. Sendo este tipo de crime

107 SIMAS, DIANA VIVEIROS DE, O Cibercrime, Dissertação apresentada para obtenção do grau de mestre do Curso de Ciências Jurídico-Forenses, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, p. 14.

108 MARTINS, A.G. LOUENÇO, Direito da Sociedade da Informação, APDI - Associação Portuguesa

74 caracterizado pelo uso do computador como instrumento primordial e atendendo ao carácter transfronteiriço deste tipo de ilícitos, deixamos a ressalva de que esta possibilidade da prática de crime “sem fronteiras” poderá ser uma das vertentes mais graves da criminalidade informática. Esta consideração deve-se ao facto das práticas e das aptidões informáticas (em especial, da internet) não conhecerem quaisquer fronteiras, potencializando desta forma a internacionalização deste fenómeno que é a criminalidade informática. Não reconhecer - ou pelo menos não admitir a dificuldade que se demonstra em reconhecer - um ponto emissor e um ponto receptor contribui para que as acções praticadas e os criminosos deste tipo de crimes sejam mais difíceis de detectar. Uma inevitável consequência desta “ocultação de praticantes” leva a que sejam cometidos vários crimes por sujeitos que por outros meios não seriam capazes de os praticar.

Para além disto, é relativamente fácil a transposição da prática de crimes informáticos para outros sites da internet, ou seja, mesmo que a prática dos crimes seja detectada num determinado site, não será difícil a prática do mesmo crime noutro endereço da Web, sendo apenas necessário transferir a informação para outro endereço ou alojando esta informação num servidor de um país diferente. Este tipo de ilícitos caracteriza-se pelo não uso da força para obter, normalmente, um ganho financeiro ou até mesmo com vista à ocultação de perdas. Estas são efectivamente as motivações primordiais deste tipo de criminalidade cujos autores são sujeitos com conhecimentos elevados sobre estes campos e, como tal, servem-se destes conhecimentos próprios e do computador (ou outro meio equivalente) para obter proveitos patrimoniais.

Uma das maiores preocupações no combate a qualquer crime é efectivamente a protecção dos direitos fundamentais de um país. No entanto, considerando o grau de exposição informática a que os direitos fundamentais de um país se sujeitam perante uma situação de preparação de atentados a um país, instituição ou até mesmo a governantes de um país, prevenir este tipo de ataques ao sistema digital torna-se cada vez mais importante. Fazemos ainda referência às fraudes desta índole, criminalidade internacional organizada e violação da propriedade intelectual. Face a estas considerações podemos afirmar que a informática invade o direito de forma rápida e evidente, sem existirem ainda meios de combate à criminalidade informática que superem a evolução deste fenómeno.

75 No entanto, existem já algumas medidas actualmente que tentam impedir de certa forma o avanço deste tipo de criminalidade, como por exemplo o controlo de acessos físicos a sistemas informáticos e ao computador com recurso a detecção de características pessoais dos verdadeiros detentores da máquina109. Apesar de ser uma medida infeliz, relativamente à protecção dos dados pessoais, a password continua a ser a ser o eleito, tendo como exigência normalmente o uso de um número igual ou superior a cinco letras e uso de diferentes tipologias de caracteres. Contudo, nesta matéria de protecção de dados pessoais, sabemos que seria mais eficaz a protecção deste tipo de dados se os mesmos estivessem protegidos pela utilização da codificação criptográfica secreta110 que codifica o teor das mensagens trocadas e impede a sua utilização lícita ou modificação das mesmas.

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