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O direito ao acesso à educação universitária como direito fundamental Para uma melhor compreensão daquilo que seja o direito ao

2 A UNIVERSIDADE COMO CENTRO DO SABER

2.1.1 O direito ao acesso à educação universitária como direito fundamental Para uma melhor compreensão daquilo que seja o direito ao

acesso à educação universitária como direito fundamental, bem como as demais diretrizes estampadas no presente estudo, tem-se que o processo educativo ocorre em todas as fases da vida humana. Portanto, a educação não ocorre somente no ambiente escolar. A aprendizagem acontece em diversos âmbitos, na família, na comunidade, no trabalho, no grupo de amigos, na associação e também na escola. Da mesma forma podemos dizer acerca da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que registra que os processos formativos se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (RIZZI, et al., 2011).

O Estado deve proteger e respeitar todos os tipos de processos formativos de educação, dever compartilhado por todos os atores sociais com total liberdade, “desde que não violem as demais normas de direitos humanos” (RIZZI, et al., 2011). Difere-se a educação do ensino, uma vez que segundo o referido autor, esse último, faz parte integrante da educação e tem regulamentação própria, sendo no caso regulamentado, possuindo currículo e forma de funcionamento previstos em lei, levando certificação a cada etapa da escolaridade (fundamental, média, técnica, superior, etc.), tendo o Estado o dever de promover o ensino, assegurando a todos a oportunidade de acesso à formação escolar.

O direito fundamental à educação é considerado recente, pois, garantido positivamente, remonta ao final do século XIX e início do século XX. Sua proteção legal é consequência dos movimentos sociais assim como os demais direitos sociais. Tal direito é fruto dos processos sociais desencadeados pela classe trabalhadora (CURY, 2002). Vê-se desta forma que mediante a participação e a mobilização social houve um reconhecimento deste direito, havendo a sua positivação legal via legislativa.

A educação encaixa-se em três diferentes grupos de direitos: civis, políticos e sociais, pois, seja por razões ligadas ao indivíduo, a educação era vista como um canal de acesso aos bens sociais e à luta política e, como tal, um caminho também de emancipação do indivíduo diante da ignorância (CURY, 2002). Com a garantia de acesso à educação o cidadão poderia transformar a sua realidade, desenvolvendo seus conhecimentos e garantir uma vida melhor para si e sua família.

Deve ser ressaltada a sua importância, pois considera-se um bem público da sociedade, na medida em que possibilita o acesso aos demais direitos sendo, portanto, reconhecida a educação como um direito muito especial. Pode ser tratado como um direito habilitante ou mesmo direito de síntese, uma vez que a pessoa que passa por um processo educativo adequado e de qualidade pode exigir e exercer melhor todos seus outros direitos (RIZZI, et al., 2011). É reconhecidamente um direito formador e reconhecedor de muitos outros direitos, sendo também apontado como meio de acesso aos mesmos, garantindo ao cidadão os elementos mínimos para que o mesmo possa exercê-los.

Reconhecido também como um direito humano pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, no artigo 26, o direito à educação:

[...] foi fortalecido como norma jurídica internacional, principalmente, pelo Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (arts. 13 e 14), da Convenção Relativa à Luta contra a Discriminação no Campo do Ensino, da Convenção sobre os Direitos da Criança (arts. 28 e 29) e do Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Humanos Econômicos, Sociais e Culturais (art. 13) (RIZZI, et al., 2011, p. 18). Garantida pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu art. 6º, a educação – juntamente com a moradia, o trabalho, o lazer, a saúde, entre outros – é um direito social. Logo mais à frente, em Seção própria, o Estado reafirma seu dever com a educação

nos artigos 205 a 214 da CRFB/88. Reza ainda que o art. 205 da CRFB/88 que:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 2015b).

Desse modo, o Estado, por intermédio da educação, tem como objetivo a redução das desigualdades e das discriminações sociais e possibilitar uma aproximação pacífica entre os povos de todo o mundo. Por esta razão, a universalização de uma educação com qualidade é um propósito civil de uma cidadania universal, garantindo a liberdade e igualdade para todos (CURY, 2002). O Estado deve ser o indutor desse processo, buscando todos os meios necessários para, juntamente com a sociedade, articular as necessidades e demandas e suas respectivas medidas de implementação de ações.

No entanto, antes mesmo de buscar-se a efetiva implementação das políticas públicas voltadas à educação, o Estado deve atentar para mecanismos e instrumentos próprios de incentivo à participação da população na gênese de tais políticas (TERRA, et al., 2014). Somente se reconhecerá a legitimidade dessas políticas públicas quando houver efetivamente a sintonia entre o Estado e a sociedade, cuja ligação é elemento auxiliar na efetivação desse direito social e dos demais direitos estampados na CRFB/88.

A educação é um direito social público subjetivo o qual deve ser materializado mediante as políticas sociais básicas, estando relacionado aos fundamentos constitucionais da República e também aos objetivos primordiais e permanentes do Estado. Esse direito está ligando, umbilicalmente, à busca pela erradicação da exclusão social imposta durante um período histórico de opressão por aqueles que dominavam o poder, garantindo, a formação de uma nação mais livre, justa e solidária (SILVA, 2015).

No entanto, para Cury (2002), toda a positivação do direito à educação nas principais leis de nosso País não significa a sua efetivação. E esse fato ainda ocorre na maior parte dos países que foram colonizados. Explica o autor que:

associadas às múltiplas formas de não-acesso à propriedade da terra, a ausência de um sistema contratual de mercado e uma fraca intervenção do Estado no sistema de estratificação social produzirão sociedades cheias de contrastes, gritantes diferenças, próprias da desigualdade social. A persistência desta situação de base continua a produzir pessoas ou que estão “fora do contrato” ou que não estão tendo oportunidade de ter acesso à postos de trabalho e bens sociais mínimos. Isto explica o enorme número de pessoas que sequer possui educação primária, sendo ainda grande o número de pessoas que possui poucos anos de escolaridade. A pirâmide educacional acompanha muito de perto a pirâmide da distribuição da renda e da riqueza (CURY, 2002, p. 258).

Há um longo caminho a ser trilhado para que as leis de educação sejam efetivadas, tendo em vista que se trata de um problema econômico-social e que não depende apenas do Estado, mas, da sociedade de uma forma geral, a partir de uma gestão pública aberta, que atenda aos anseios e demandas sociais (BRANDÃO, 1995). Enquanto a sociedade não despertar para a necessidade da efetiva universalização do acesso à educação, bem como da sua constante renovação, e buscar meios de exigir junto ao Estado o cumprimento dos ditames constitucionais para a plena garantia desse direito, os atuais problemas tendem a persistir e até avolumarem.

A educação está em todos os lugares e no ensino de todos os saberes, não existindo um modelo único de educação, não podendo ser compreendida a escola como único local onde a mesma ocorre, não sendo o professor o único agente deste processo. Desta feita, pode-se reconhecer a existência de inúmeras educações, cada qual atendendo a sociedade em que a mesma ocorre, uma vez que é a forma de reprodução dos saberes que compõe uma cultura, tendo a educação de uma sociedade uma identidade própria (BRANDÃO, 1995).

As Políticas Públicas podem ser reconhecidas como ferramentas que devem ser utilizadas objetivando a efetivação dos direitos fundamentais sociais, especialmente relacionado ao direito à educação. O artigo 205 da CRFB/88 estipula tratar-se de dever do Estado e da família em garantir o ensino, visando ao desenvolvimento da pessoa para o exercício da cidadania e do trabalho (TERRA et al., 2014). Mais

do que positivado o direito, deve o cidadão poder exercê-lo em toda a sua plenitude, cabendo ao Estado buscar mediante suas atribuições e gestão administrativa, todos os meios e condições e efetivá-lo.

Teixeira (2002) refere neste sentido que:

Quanto à Educação, a descentralização não andou muito. Houve algum avanço, a exemplo da gestão da merenda escolar, mesmo que sem repasse automático de recursos, transferência da rede de escolas técnicas e algumas experiências de descentralização em municípios. Mas permanece a centralização institucional, os recursos centralizados no Fundo Nacional de Educação (FNDE) e na Fundação de Apoio ao Estudante (livro didático e transporte escolar) e utilizados ao sabor das conveniências político-eleitorais e da resistência dos burocratas. A indefinição de competências entre os poderes tem levado os municípios a atuar nos vários níveis, embora a permanência da centralização de recursos contribua para a oferta de ensino inadequado ou de baixa qualidade. Os movimentos sociais precisam retomar a mobilização no setor, devido à importância estratégica que tem a educação, inclusive para a concretização de outros direitos e para atingir um mínimo de equidade social. É preciso garantir e efetivar as conquistas da Constituinte, sobretudo a gratuidade do ensino, a valorização do profissional do ensino, a garantia do padrão de qualidade, gestão democrática e vinculação de recursos. A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) garante a instalação de Conselhos, além de assegurar ao cidadão e entidades representativas o direito de acionar, por negligência, a autoridade que não garantir o ensino obrigatório (TEIXEIRA, 2002, p. 08). No caso em análise o direito à educação é um direito de todos e, perante a sua essencialidade na vida do indivíduo, deve haver uma colaboração do Estado com a sociedade mediante a concretização dessas políticas de modo a efetivar esse direito social de suma importância na vida de qualquer indivíduo (TERRA et al., 2014). No entanto, para que o Estado possa cumprir a sua obrigação é necessária a existência de recursos financeiros para concretizar seu objetivo, ou seja, a garantia de um ensino

de qualidade, tendo o legislador originário garantido na CRFB/88 a disponibilidade de recursos públicos necessários para tal fim.

É somente por intermédio da efetivação das políticas públicas educacionais que se torna possível propiciar a efetivação do direito fundamental à educação para além da simples regulação inserida na CRFB/88. Para que esse direito seja efetivamente concretizado e universalizado foram convocadas as aludidas políticas públicas que auxiliam na materialização dos dispositivos legais e formais, objetivando manter e garantir uma educação de qualidade a todos seus cidadãos (TERRA et al., 2014).

O Estado é responsável por criar políticas públicas objetivando a execução e efetividade de direitos, especialmente no que tange ao acesso à educação. No caso em destaque, indiscutível que à todo cidadão, mediante dos ditames elencados na CRFB/88, é garantido não somente ao acesso à educação, mas também a uma educação de qualidade e, principalmente, a possibilidade de cursar a universidade, tendo a efetivação plena de poder matricular-se em qualquer curso universitário que lhe seja adequado.

No entanto, para fins de melhor compreensão das temáticas e objetivos contidos na presente pesquisa, urge salientar a importância fundamental da pesquisa histórica que envolve o nascimento da universidade na América Latina e também no Brasil, como se desdobrará no tópico abaixo.