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2 REFERENCIAL TEÓRICO

9. Proteção para os Denunciantes: Os indivíduos que trazem à publico informações sobre atos ilícitos – os denunciantes – precisam ser protegidos.

2.4.2 O Direito à Informação no Brasil

Quando se aborda a legislação brasileira acerca desta temática, pode-se dizer que os primeiros passos para construção do direito de acesso à informação pública foram previstos na Constituição Federal brasileira.

Segundo Calderon (2013, p. 37, grifo do autor):

O direito de acessar informações registradas em órgãos públicos faz parte da história recente do País. A Constituição de 1988 foi a que primeiro estatuiu uma garantia para o efetivo cumprimento desse direito, por meio do remédio constitucional do habeas data.

Há um consenso crescente em nível nacional de que o acesso a informação constitui um direito humano, bem como fundamento básico da democracia. Isso fica evidenciado na inclusão do direito à informação entre os direitos e liberdades, garantidos por diversas constituições modernas, assim comoo acentuado aumento do número de países que adotaram legislação que efetiva este direito em anos recentes.(UNESCO, 2009)

Antes de sua promulgação, de acordo com Bastos (2007 apud BATISTA, 2012), não havia uma política brasileira para o tratamento de documentos públicos ou informação reservada, até mesmo de proteção à privacidade individual.

O princípio brasileiro do direito à informação pública é primeiramente regido conforme os normativos constitucionais abaixo apresentados, segundo BRASIL (1988)2: a) artigo 5º, inciso XIV: assegura a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

b) artigo 5º, inciso XXXIII: estabelece que todos tem direito a receber dos órgãos públicos

informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, ressalvadas aquelas

cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

c) artigo 5º, inciso XXXIV: assegura a todos, independentemente do pagamento de taxas, o direito de petição e de obtenção de certidão;

d) artigo 5º, inciso LXXII: garante o conhecimento de informações, relativas à pessoa, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;

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e) artigo 5º, inciso LXXVII: garante a gratuidade de ações de “habeas corpus” e “habeas

data”, e os atos necessários ao exercício da cidadania;

f) artigo7º, § 3º: A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando especialmente:II – o acesso dos usuários a registros

administrativos e a informações sobre atos de governo;

g) artigo 37: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência;

h) artigo 216: dispõe sobre gestão documental e consulta aos acervos pela sociedade.

A partir da citação de Brasil (1988), mesmo que ainda não seja ampla a todos os cidadãos e que dependa de certas condições previstas, pode-se perceber a concretização do direito à informação, bem como a intenção preexistente de normatizar o acesso à informação pública brasileira.

Além da previsão na carta magna brasileira supracitada, existem outras legislações relacionadas ao direito à informação e que deram força para que um dia a Lei de Acesso à Informação viesse a tornar-se uma realidade.

Segundo o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas (2015)3, antes da aprovação da lei que regulamenta o direito de acesso a informações públicas, várias outras leis foram criadas, as quais em sua maioria versam sobre o sigilo de documentos públicos. Outras, embora não tenham o foco em garantir o acesso a informações públicas, determinam sua divulgação. Abaixo estão listadas essas leis e decretos já existentes:

a) Lei 8.159 (08.jan.1991): Estabeleceu as diretrizes da política nacional de arquivos públicos e privados. Assegurou a todos o direito de acesso pleno a quaisquer documentos públicos, mas não disse como se daria tal acesso. Muito menos estabeleceu prazos para que os agentes do Estado forneçam informações quando solicitados. A rigor, a lei de arquivos serviu, sobretudo, para fazer uma ressalva a respeito do acesso a documentos públicos. Ficou estabelecido que o direito de acesso será pleno com exceção de papéis de caráter sigiloso, “cuja divulgação ponha em risco a segurança da sociedade e do Estado” ou exponha indevidamente a intimidade, a vida privada ou a imagem das pessoas. Na prática, portanto,

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essa lei apenas pavimentou o caminho para uma sequencia de decretos presidenciais estipularem as regras de sigilo de documentos públicos.

b) Lei 9.051 (18.mai.1995): Trata da expedição de certidões para a defesa de direitos ou esclarecimentos de situações, determinando que o prazo para a expedição desses documentos é de, no máximo, 15 dias nos órgãos da administração centralizada ou autárquica, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

c) Decreto Presidencial 2.134 (24.jan.1997): Criava as "Comissões Permanentes de Acesso" mas já foi revogado pelo Decreto nº 4.553, de 27 de dezembro de 2002 que regulamentou o art. 23 da Lei nº8.159, de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a categoria dos documentos públicos sigilosos e o acesso a eles, e dá outras providências.

d) Lei Ordinária 9.507 (12.nov.1997): Regula o direito de acesso a informação constante de registro ou banco de dados de caráter público e o procedimento do habeas data.

e) Decreto Presidencial 2.910 (29.dez.1998): Estabelece normas para a salvaguarda de documentos, materiais, áreas, comunicações e sistemas de informação de natureza sigilosa, e dá outras providências. Porém este decreto já foi revogado pelo Decreto nº4.553 de 27 de dezembro de 2002.

f) Decreto Presidencial 2.942 (18.jan.1999): Já revogado, sobre arquivos públicos de caráter privado. Regulamenta a Lei nº8.159, de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados.

g) Decreto Presidencial 4.073 (3.jan.2002): Sobre o CONARQ (Conselho Nacional de Arquivos) e o SINAR (Sistema Nacional de Arquivos). Determina a criação de Comissões Permanentes de Avaliação de Documentos em cada órgão e entidade da Administração Pública Federal. Regulamenta os arts. 7, 11 e 16 da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados e dá outras providências. h) Decreto Presidencial 4.553 (27.dez.2002): Revoga o Decreto 2.134, de 24 de janeiro de 1997, e cria o conceito de sigilo eterno, pois permite a renovação indefinida do prazo máximo de 50 anos para a não divulgação de determinados documentos. Dispõe sobre a salvaguarda de dados, informações, documentos e materiais sigilosos de interesse da segurança da sociedade e do Estado, no âmbito da Administração Pública Federal, e dá outras providências.

Sendo assim,no Brasil, desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, não existira contribuições concretas, em termos de atos normativos, para a disciplina e a legitimação do direito de acesso à informação pública. São os dispositivos supracitados da carta magna que a Lei 12.527 - Lei de Acesso à Informação Pública - também conhecida como LAI, regulamenta, a qual será especialmente abordada a seguir.